CAPÍTULO 4 – DESCOBERTAS

- TOMOYO!!!!!

Eriol levantou-se da cadeira, com um estrondo. A garota o fitava com uma crescente agonia no rosto, parando de respirar lentamente. Sua fala estava difícil, e ele tinha pedido para que ela não falasse.

Quando os funcionários viram o que estava acontecendo, socorreram a garota, a colocando em um dos escritórios ali existentes. Tomoyo foi deitada sobre um sofá, deixada aos cuidados de Eriol e foram chamar um médico.

- E...E-riol...

- Tomoyo, não fale!! Vão buscar o médico! – Ele colocou a mão na testa da garota, acariciando suavemente – Se for importante, tente me dizer com poucas palavras. Falar muito será ruim.

Com uma dificuldade enorme, Tomoyo conseguiu reunir forças o suficiente para lhe transmitir a sua opinião:

- Eriol, o médico não vai poder fazer nada. Isso não é normal, é mágico, eu sinto. – ela parou, e continuou com dificuldade - Preciso dos guardiões e de você para me ajudar. Por favor, senão...Eu não tenho muito tempo...

No momento seguinte, Tomoyo desmaiou, caindo inconsciente. Eriol olhou em volta, com uma expressão decidida no rosto. Ninguém estava a vista, então, reunindo um pouco de sua magia, teleportou a garota para sua casa.

- É aqui, doutor! A garota estava sufocando e... – um dos funcionários abriu a porta da sala, agora vazia, acompanhado de um médico – Que estranho... Os dois estavam aqui agora pouco! Até parece mágica!

De volta a casa de Eriol, os guardiões foram rapidamente convocados. Em instantes, todos estavam em volta da cama de Tomoyo. A sua respiração já estava difícil e falhava com muita freqüência. Ela não iria suportar por mais tempo.

- Ouçam rápido: Tomoyo tem certeza que essa asfixia é mágica. Portanto, devemos fazer um contra-feitiço.

- E qual é, Eriol? – perguntou Kerberus

O garoto abaixou a cabeça. Tanta responsabilidade... E poder também. Agora não adiantava em nada ter a alma de Clow Reed dentro dele.

- Não lembro, Kerberus. Sei que existe um contra feitiço sim. Mas não lembro de qual é. – em seguida ele fechou os olhos.

Todos mergulharam de cabeça em uma profunda aflição. Se Eriol não lembrava, dificilmente algum dos guardiões iria conseguir tal feito. E o tempo urgia. Cada segundo era precioso, e eles eram levados pelo tempo, sem que alguém pudesse fazer algo. Porém, Eriol parecia calmo. Como se soubesse do desfecho todo da história, ou talvez, tentando lembrar do feitiço.

De repente, Eriol pegou a mão inerte de Tomoyo e colocou sobre o pingente em forma de Lua, seu báculo. Então a respiração pareceu parar de vez, e um brilho opaco começou a ser emitido. Então, sobre o lençol de linho, o peito de Tomoyo começou a subir e a descer novamente, respirando outra vez com facilidade e normalmente. Porém, sob a mão da garota, não se encontrava mais o pingente, e sim o seu báculo.

Todos nas sala estavam assombrados com o ocorrido. Tomoyo curara a si própria, às portas da morte. E ela estava inconsciente.

- Eriol, ela...

- Sim, Yue. Ela realizou o feitiço, mesmo inconsciente. Não tenho certeza, mas acho que Mizuki pode não ter sido a responsável.

Todos os presentes se entreolharam.

Ruby Moon colocou a mão na testa da garota:

- Ela parece normal, como se estivesse dormindo, apenas. Meu Deus, o que será que pode acontecer ainda?

Kerberus suspirou. Pode ter sido impressão, mas parecia que o suspiro leve do guardião do Sol despertara a garota.

- Eriol...Kero, Suppi, Ruby, Yue! Que bom vê-los novamente!

- Nós dizemos o mesmo. – Spinnel não pareceu aborrecido ao ver que o apelido inventado por Nakuru tinha sido usado por Tomoyo

- Está se sentindo bem? – Yue tinha leves traços de preocupação no rosto, imperceptíveis para qualquer um, menos aqueles que conviviam com ele durante uma longa data. Tomoyo notou e sorriu:

- Claro, Yue. Ah, me desculpe por ter desmaiado em cima de você...

Todos tiveram a impressão de que o frio guardião da Lua, por um curtíssimo espaço de tempo, teve sua face rosada. Mas não era possível, aquele era o ser que mais tinha suas emoções controladas. Sacudiram a cabeça e ignoraram o ocorrido.

- Não precisa se desculpar. Você não teve culpa de nada.

- Tomoyo. – Eriol começou – pode nos dizer como fez para quebrar a asfixia?

- Eu? Quebrar o feitiço? Mas não fui eu, ou...- Tomoyo levantou-se e viu o báculo na sua frente – Não...Não sei como aconteceu!

- Bom, ao que parece, você usou seus poderes inconscientemente.

- Ei! Sakura! Sakura já fez isso uma vez! Ela transformou a carta Sonho enquanto dormia!

- É verdade, - ponderou Eriol – mas foi diferente. Mas o que importa é que você está salva. Acho melhor marcamos o começo do treinamento para amanhã.

Ela assentiu, e Kero e Yukito disseram que viriam ali no dia seguinte. Quando Yukito estava saindo do aposento, sorriu para Tomoyo. Ela não entendeu direito, mas se pudesse adivinhar algo, diria que Yue ficaria furioso com sua identidade falsa em alguns momentos. Isso se Yue demonstrasse sentimentos alguma vez naquela vida.

- Bom Tomoyo, acho melhor ir para sua casa, não? Sua mãe deve chegar daqui a pouco.

- Certo!

Tomoyo foi acompanhada até o portão pelos três moradores do local, despediu-se e foi embora. Nakuru e Suppi entraram rapidamente, e Eriol ficou parado no portão. Ele ainda não entendia o ocorrido com aquele báculo, nem sobre os poderes dela. Como que num estalo, saiu correndo de casa, sem avisar onde ia.

- Eriol? – Suppi virou-se e viu a figura de seu mestre correndo pela rua, enquanto a tarde morria para dar lugar a noite.

- EEEERIOOOL!!!!! Hunf, esquece! Ele não escutou. Vai saber onde foi desse jeito... Bom, eu vou terminar de guardar a louça, senão não poderemos ir amanhã na casa da Tomoyo, quer valer quanto?

- É, você está com razão, pelo menos uma vez na vida.

- Ahhh, seu boneco de pelúcia "made inTawain"!!! Para com isso ou eu não te levo!

- Que medo...

Brigando, os dois entraram na casa. Ao mesmo tempo, Eriol chegou à sorveteria onde tinha estado com Tomoyo ainda naquela tarde. Dirigindo-se a mesma mesa, viu que um dos funcionários estava arrumando o local. Ele pediu o sorvete daquela tarde, perguntando se podia levá-lo. O pobre homem da sorveteria tinha uma expressão confusa, mas assentiu. Eriol pegou o sorvete, completamente derretido, e foi embora.

Voltando para sua casa, ele se trancou na biblioteca. Se valendo de vários recursos científicos e mágicos, ele examinou as substâncias que se encontravam no sorvete. Estranhamente, nada de anormal estava ali, apenas os ingredientes da sobremesa. Então, como Tomoyo teria se asfixiado?

Sacudindo a cabeça, com muitas dúvidas, Eriol desceu até a cozinha e começou a preparar o jantar, ajudado por Nakuru.

Tomoyo tinha acabado de jantar quando sua mãe chegou em casa. Ela veio correndo até a filha:

- Ah, Tomoyo, minha filha! Você já jantou?

- Eu? Sim, mãe. Por que pergunta?

- Hiroyuki queria conhecer você antes do concerto, sabe? Eu também acho mais racional isso, assim vocês já têm uma idéia melhor um sobre o outro. Aí ele queria saber se você já tinha chegado em casa e jantado, e mandou um carro da casa dele para nos apanhar e lavar-nos até lá. Está disposta?

- Bom, eu tinha marcado de me encontrar com Eriol amanhã cedo. Depois eu vinha ajudar no jantar aqui em casa para ele, então tem que ser muito rápido.

- Certo. Vamos então.

Tomoyo e Sonomi saíram, e a mãe da garota deixou recomendações para que deixassem o jantar dela pronto.

Entraram no carro e se surpreenderam em como era bem cuidado, além de caro. Sonomi tinha um sorriso no rosto. Ela gostava de gente que cuidasse das coisas, não importando o nível financeiro.

Depois de algum tempo, até que relativamente curto, chegaram a uma imponente mansão. As duas desceram e foram recepcionadas pelo próprio Hiroyuki Atsuhiro em pessoa, pelo que Tomoyo pôde perceber pela voz.

- Boa noite, senhora Sonomi. – o garoto, que devia ter a mesma idade de Tomoyo, beijou a mão da mão de Sonomi – Seja bem-vinda!

- Obrigada! – Sonomi entrou, e aí sim Tomoyo pôde ver Hiroyuki. Era um jovem um pouco mais alto que ela. Tinha os cabelos negros, um pouco compridos, que estavam presos em um rabo. Sua face estava sorridente e era de um tom pálido, semelhante ao de Tomoyo. Suas roupas lembravam muito o jeito de Eriol se vestir, pois eram quase idênticas. Seus olhos eram negros, muito profundos também. Dezenas das garotas da sua escola dariam tudo para que aquele rapaz estudasse ali. Mas Tomoyo... Estranho, Tomoyo não sentia nada de mais perante ele. Ela poderia até dizer que sentia uma certa "aversão" por Hiroyuki. Estranho, muito estranho. Deveria ser uma impressão, só isso.

- Prazer em conhecê-la, senhorita Tomoyo. – ele também tomou a mão da garota e a beijou – Espero que possamos ser grandes amigos.

Tomoyo inclinou a cabeça e sorriu:

- Obrigada, senhor Hiroyuki.

- Por favor, sem formalidades. Me chame apenas de Hiroyuki, certo?

Tomoyo consentiu e entrou. O hall de entrada era todo adornado com pinturas, tapeçarias e enfeites caros. Ele ofereceu o braço para Tomoyo, que educadamente aceitou. Os dois chegaram à sala, onde algumas pessoas os esperavam.

Sentados em um charmoso sofá, estavam sua mãe, que conversava com outras duas pessoas. Assim que ela e o jovem violinista adentraram o cômodo, os três pararam de falar. Hiroyuki soltou o braço de Tomoyo suavemente, e os estranhos voltaram-se para ela.

- Ah, senhorita Daidouji! – uma mulher, muito semelhante fisicamente a Hiroyuki levantou e caminhou até Tomoyo – Por favor, sente-se. Sou Ayumi Atsuhiro, mãe de Hiroyuki.

- E eu, Kazuaki Atsuhiro. Sou o pai de Hiroyuki. E muito prazer, senhorita Daidouji.

Tomoyo notou que os olhos daquele rapaz eram idênticos aos de Hiroyuki. Então, ela se sentou em um outro sofá, ao lado de sua mãe. Mas, ao invés do jovem sentar ao lado dos pais, ele sentou ao lado de Tomoyo, causando uma grande surpresa na garota.

Conversa vai, conversa vem, Sonomi, Ayumi e Kazuaki não cansavam de conversar sobre cotações, alianças, mercados consumidores... Tomoyo já não estava agüentado mais quando sentiu uma mão sobre a sua:

- Hiroyuki?

- Tomoyo, sei que é sua mãe e tudo, mas não estou mais conseguindo suportar esse tipo de conversa. Será que não gostaria de conhecer o resto da casa ou fazer algo de seu interesse?

- Tudo bem, então. – Tomoyo sorriu

- Ótimo! – ele respondeu ao sorriso de Tomoyo e, após pedir permissão para sair, ofereceu novamente o braço para Tomoyo. Eles saíram da sala e Tomoyo foi guiada pelo garoto.

- Aonde deseja ir primeiro?

- Não sei, pode escolher.

- Então, à varanda principal!

Eles subiram uma belíssima escada, com um lindo tapete vermelho, que ligava o térreo com o andar superior. Após um pouco de caminhada por corredores extensos, ele abriu uma porta. Uma ventania veio de dentro do cômodo, fazendo tanto o cabelo de Tomoyo quanto o de Hiroyuki voar. Ele sorriu e levou a garota para dentro.

Estava tudo escuro, a não ser uma porta de vidro, que era iluminada pela luz da Lua. Ele abriu a porta e deram em uma sacada imensa, com um balcão ricamente detalhado. Tomoyo podia jurar que aquilo tinha um ou dois séculos de vida.

- Que linda Lua!! – Tomoyo soltou-se com suavidade do braço do jovem, rodopiando na sacada, para em seguida sentar no balcão.

- Gosta da Lua, não? – Hiroyuki tinha vindo por trás e sentando ao lado de Tomoyo.

- Sim, muito. É tão... Bela e misteriosa... – Surpreendentemente, pareceu a Tomoyo que esta descrição da Lua combinava com o formoso Guardião da Lua.

- Com certeza. E carrega uma no pescoço.

- Anh? Ah sim, o pingente! – Tomoyo o ergueu na mão – Ganhei de um dos sócios de minha mãe, juntamente com estes brincos. – Tomoyo afastou o longo cabelo para que Hiroyuki pudesse ver as pequenas luas esculpidas em diamante que adornavam o brinco.

- São lindas. Mas me parecem diferentes do pingente.

- Ah sim! Não são do mesmo conjunto. Tenho outro de luas. Gosto de corpos celestes.

Quando Hiroyuki ia dizer algo para Tomoyo, um telefone tocou dentro da casa. Hiroyuki pediu para que Tomoyo esperasse e foi atender.

- Tomoyo? Um dos empregados pediu para avisar que sua mãe está de saída, e está chamando você. Me acompanha até a saída?

A garota desceu do balcão, se despedindo rapidamente da Lua, das estrelas e do céu noturno, que parecia enfeitado por pequenos brilhantes. Então, atravessou o quarto que continuava imerso na escuridão e saiu com o jovem de longos cabelos negros.

Enquanto desciam as escadas, Tomoyo agradeceu pelas partituras:

- Se não fosse por você, não poderia apresentar a peça! E iria ser uma pena, porque minha mãe a adora.

Ele sorriu:

- Fico feliz em saber que fui útil. Se precisar de algo, chame, certo?

- Claro!

Conversando e com sorrisos estampados no rosto, os dois chegaram ao hall. Os pais de Hiroyuki tinham nos olhos um brilho, destinado a Tomoyo, com toda a certeza.

- Bom, nos vemos na segunda-feira de manhã, na empresa, senhor Kazuaki. Até logo, senhora Ayumi, e boa noite para você, Hiroyuki.

Tomoyo despediu-se dos pais do jovem, e quando ia despedir do violinista...

- Não. Faço questão de acompanhá-la até o portão.

Ela sorriu, e saiu, andando um pouco atrás de sua mãe. Quando estavam chegando perto da saída, ele disse:

- Seria incômodo para você se ensaiássemos antes da apresentação, talvez na segunda?

- Segunda-feira... Hum, acho que não! Posso ensaiar sim. – respondeu Tomoyo.

Ah, Hiroyuki! – Sonomi estava esperando o carro da mansão dos Daidouji, que chegaria em pouco tempo com as suas seguranças – Pode ensaiar em casa, se desejar!

Tomoyo podia jurar que sentira uma presença mágica no momento em que sua mãe fez a proposta, mas depois sumiu. Ela balançou a cabeça, estranhando aquela sensação rápida de novo. E não tinha boas lembranças. Da última vez ela sufocou...

- Algo errado, filha?

- Hum? Não, imagina mãe! Estava apenas pensando.

Para um estranho alívio de Tomoyo, o carro chegou e tiveram de se despedir.

- Boa noite, Hiroyuki. Até segunda-feira. – Tomoyo entrou primeiro no carro, seguida por sua mãe.

- Boa noite, meu querido. – despediu-se Sonomi

- Até logo! Até segunda-feira, um longo tempo terá se passado! – ele sorriu de um modo encantador e entrou na casa.

Durante o caminho de volta, Sonomi e Tomoyo conversavam:

- Que garoto cortês e elegante... Ayumi e Kazuaki o educaram bem.

- Sim, é verdade.

- Onde estiveram?

- Em uma sacada imensa, no andar superior! Mãe, o balcão deveria ter sido trabalhado há um século ou dois! E dava para ver uma grande parte do céu e da cidade, durante a noite...

- Que lindo! Sabe Tomoyo, os pais de Hiroyuki adoraram você!

Tomoyo segurou um suspiro. Era sempre a mesma coisa. Bastava que alguma amigo, sócio, conhecido, pessoa influente ou ilustre que conhecesse Sonomi e tivesse um filho, solicitava a visita de Tomoyo. Em dezessete anos, a garota perdeu a conta de quantos pais tinham "a adorado". Isso queria dizer que pensavam em casar Tomoyo com o filho.

- Fico honrada.

A mãe de Tomoyo sorriu:

- Você já teve dezenas de pretendentes... Sempre eram educados, ricos, bonitos, corteses... Já pensou nisso?

- Sim, e Hiroyuki é mais um nessa lista.

Sonomi olhou para a garota. Ela nunca havia respondido daquela maneira. Ela tinha leves suspeitas de que alguém especial tinha aparecido.

Para alívio de Tomoyo, o carro chegou antes que Sonomi fizesse qualquer pergunta a respeito da nova resposta. Elas entraram, e Tomoyo despediu-se da mãe, dizendo que teria que levantar cedo no dia seguinte, devido ao encontro com Eriol. Cansada, subiu para seu quarto.

Depois de alguns minutos, Tomoyo trocou de roupa. Logo que deitou na cama, o sono lhe veio rapidamente, e ela dormiu logo. Não se lembrou do sonho que teve quando acordou, mas era algo rápido e turbulento. Mas sobre o que tinha sido, ela não fazia a menor idéia.

Levantou-se, tomou seu banho costumeiro e desceu para comer alguma coisa. O horário marcado com Eriol para seu treino estava próximo, e um atraso era a última coisa que Tomoyo desejava. Porém, chegar antes também não é muito educado, uma vez que era um sábado de manhã e Nakuru ou Suppi poderiam estar dormindo até mais tarde.

Após ter escolhido uma calça azul-marinho e uma blusa de gola alta, mas sem mangas, azul celeste e ter prendido o cabelo com uma fivela, Tomoyo saiu de casa mais cedo. Ela estava aproveitando o tempo extra para passear um pouco naquela linda manhã ensolarada. Claro, com o seu pingente em forma de lua sempre com ela.

Ao passar em frente a loja de instrumentos musicais do bairro onde ela freqüentemente encomendava várias coisas para a sua faculdade ou simplesmente vinha conversar com a balconista, muito amiga sua, sentiu que alguém a estivera chamando. Quando olhou para trás, Yuki, a balconista, lhe acenava:

- Tomoyo! Bom dia! Será que pode vir aqui um instante?

- Bom dia, Yuki! Claro, estou indo.

A garota voltou e entrou na loja. Estava vazia naquele momento, e Yuki ofereceu uma cadeira para Tomoyo, que aceitou. Em seguida, a própria balconista sentou, segurando um envelope.

- Tomoyo, outro dia, um amigo meu me entregou isto. – ela tirou um maço de folhas sulfite grampeadas – E achei estranho.

Yuki mostrou o conteúdo do envelope para Tomoyo, e esta quase caiu da cadeira. Nas mãos de Yuki, se encontrava a sua partitura perdida!!

- Yuki... Como esse amigo seu achou a minha partitura?

- Bom, tem um carimbo na contra capa dela, dizendo que pertencia a nossa loja. E estava nesse envelope. – Yuki mostrou a frente do envelope, onde estava escrito "Tomoyo Daidouji" – ele escreveu para ter certeza de que iria chegar a você, creio eu.

- Ah, Yuki, agradeça a esse seu amigo por mim! O rapaz que vai tocar comigo me mandou uma cópia da dele, mas a minha estava cheia de anotações. Senti falta! – Tomoyo teve um impulso de olhar no relógio, e percebeu que tinha que ir até a casa de Eriol – Yuki, muito obrigada, mas eu tenho que ir.

- Claro, Tomoyo! – as duas se levantaram das cadeiras, e Yuki acompanhou Tomoyo até a porta – Tchauzinho, Tomoyo!

- Tchau! – Tomoyo acenou e começou a fazer o caminho para a casa do jovem mago.

Após alguns minutos rápidos, ela se encontrava na frente do portão. Quando fez menção de tocar a campainha, o pesado portão negro se moveu sozinho, sem nenhum ruído. Tomoyo suspirou aliviada e entrou. A última coisa que queria era que tivesse que acordar Nakuru ou Suppi.

Caminhou até a porta da casa, e esta já se encontrava aberta. Tomando isso como um convite, a garota entrou e fechou a porta com cuidado. No instante seguinte, Eriol apareceu, vindo do andar de cima, ainda descendo as escadas.

- Bom dia, Tomoyo!

- Bom dia, Eriol. Desculpe ir entrando desse jeito, mas achei que os outros poderiam estar dormindo.

- É, estão mesmo. Fico grato por não ter usado o interfone e nem a campainha. – em seguida sorriu, aquele sorriso que só ele sabia dar. Tomoyo então reparou que Eriol estava trajando as vestes negras do Mago Clow.

- Eriol? Por que está usando as vestes?

- Hum? – Eriol parecia não ter notado – Ah! Sim, é por causa de ontem. Venho trabalhando em uma...Experiência. Às vezes, quando é intensa, uso esta roupa. Não sei ao exato porquê, mas me ajuda. Bom, vamos começar?

- Claro! Onde vamos?

- Ao quarto próprio para isso, com isolamento para que não acorde os nossos queridos amigos dorminhocos. – Eriol indicou a escada e os dois subiram. Era logo depois do escritório de Eriol. Eles pararam na porta.

- Bom, agora, preciso explicar no que realmente consiste o treinamento. É para que você possa reconhecer as presenças, controlar o báculo e descobrir que tipo de poderes você tem. Acho que de início vai ser mais difícil, mas depois, com a prática, você não precisará recorrer a mim ou ao seu professor. – Eriol abriu a porta, e, parado em frente a uma imensa janela com as cortinas esvoaçantes, estava Yue.

A garota ficou boquiaberta. Em seguida falou:

- Yue?

O guardião se virou, desviando-se da janela e se voltando para a garota de longos cabelos negros e olhos violeta que o chamara.

- Sim, sou eu.

- Por que... Por que se ofereceu para me ajudar?

Yue suspirou:

- A minha... – Yue fez uma expressão engraçada, como se escolhesse as palavras - Outra parte implorou. Ele gosta muito de você, Tomoyo.

A garota abriu um enorme sorriso:

- Obrigada, Yue!! – em seguida caminhou até o guardião e lhe deu um forte abraço – Muito obrigada mesmo! Eu nunca iria conseguir sozinha!

O austero guardião da Lua espantou-se com o gesto da garota, mas não foi de todo inesperado. Afinal, deveria ser horrível passar pelo que Tomoyo estava passando. Ele flexionou os lábios, numa sombra de um sorriso – Vamos começar, então.

Eriol fechou a porta. Estava sorrindo também. Se existia alguém no Japão que pudesse quebrar o gelo com Yue, descontando Touya, seria Tomoyo. Eriol achou que os treinos seriam bons tanto para Tomoyo como para Yue ficar mais... Humano.

- Eriol? Por onde quer começar?

- Pelo báculo. Tomoyo, onde está o pingente?

- Aqui. – a garota tirou a corrente de dentro da blusa

- Certo. – Eriol se aproximou um pouco mais dela – Todas as vezes que você usou o báculo até agora, seja para transformar o pingente em báculo ou o inverso, você...Falou alguma coisa em especial?

- Não, nada.

Eriol sorriu. Ótimo. Algo novo, criado por Kaho. Não precisava de um discurso nem nada, como ele e Sakura. Provavelmente apenas o pensamento.

- Então, segure o pingente na sua mão. Em seguida, pense no báculo, e que você precisa usá-lo. Vamos ver o que acontece.

A garota fechou os olhos, sendo que cada atitude sua era seguida com atenção por Yue e Eriol. Depois de visualizar o báculo transformado em sua mente, Tomoyo pensou em uma urgência, como se...Sakura estivesse em perigo, e ela tinha que retribuir tudo que a amiga fez por ela durante o quarto e quinto ano. Ela precisava do báculo, ele tinha que aparecer!

Do nada, a mesma luz prateada apareceu, e no lugar do pingente, o báculo. Eriol sorriu em aprovação:

- Muito bem! Já descobrimos como fazer para que o báculo apareça.

- É verdade. – agregou Yue – Vamos ver como ela tem de fazer para retornar o báculo no seu pingente.

- Ah, eu já descobri. Apenas penso que quero guardá-lo.

Yue e Eriol ergueram uma sobrancelha:

- Já fez isso? Quando?

- Logo depois que eu ganhei este báculo! Assim: - ela estendeu a mão, fechou os olhos por um momento e a luz apareceu novamente. Na sua mão, a corrente e a minúscula Lua pendurada.

- Muito bom! – elogiou Yue

Tomoyo sorriu radiante.

- Acho que é melhor começarmos a testar o seu tipo de poder. Desconfio que você possa criar o que quiser, sem ter de usar uma carta, como Sakura – disse Yue – Concorda comigo, Eriol?

- Sim, exatamente como Mizuki fazia. Bom, eu tenho que acordar Nakuru e Spinnel. Já volto. Por favor, continuem praticando.

Eriol saiu silenciosamente do aposento. Tomoyo pensou no seu báculo e ele novamente surgiu. Então, não tendo a menor pista do que fazer, a garota fechou os olhos. Então, a mesma vozinha que a chamara para dentro do báculo falou com ela. A consciência de Mizuki:

- Tomoyo, você já descobriu que palavras não são necessárias para você. Apenas os seus pensamentos. Pense no que quer fazer e acontecerá, desde que no limite de seus poderes. Agora, você só poderá executar coisas simples e iniciar seu treinamento com os elementos. Quanto mais praticar, mais domínio você vai ter e conseguirá realizar grandes encantamentos...

Tomoyo abriu os olhos, examinando o aposento. Hum... Ah, claro! Vamos tentar uma magia para voar. Se viesse a enfrentar aquela pessoa a quem a professora Mizuki se referiu, ela precisaria saber fazer isso. A garota andou até a janela, olhou para cima e subiu no parapeito.

- Tomoyo? O que você vai...

Mas antes que Yue terminasse a frase, Tomoyo se jogou do segundo andar da casa de Eriol. Ela teve o cuidado de deixar a mente livre, apenas pensando em flutuar, e sobrevoar a copa das árvores. Yue pulou no encalço dela, mas antes que chegasse ao chão, o corpo de Tomoyo contrariou as leis da gravidade e começou a subir, subir, subir e subir. Ela parou um pouco abaixo da altura da janela em que ela pulara momentos antes.

Yue estava perplexo. Ele pairava no ar na mesma altura de Tomoyo, mal acreditando no que via. Atrás da blusa azul da garota, era como se uma sombra de um par de asas surgisse. Não havia asa nenhuma, mas... Um tipo de brilho. Uma leve camada de purpurina acompanhava os movimentos da garota.

- Ah, eu consegui!! – Tomoyo virou-se e deu uma voltinha no ar – Isso é tão bom!

- Vocês estão bem?

Yue e Tomoyo olharam para cima. A cabeça de Nakuru estava apoiada na janela. Os dois subiram e entraram na sala.

- O que foi aquilo? Desde quando você sabe voar, Tomoyo?

- Desde alguns minutos. – Yue respondeu pela garota – Ela se jogou da janela, e aprendeu.

Tomoyo tinha uma felicidade nítida no rosto:

- Me desculpe pelo susto, Yue. Apenas segui o que achei que daria certo. Eu só precisei pensar!

Nakuru assobiou, expressando seu espanto, no exato momento em que Eriol entrava na sala – Formidável, Tomoyo! Parece que você só precisa dos seus pensamentos para executar sua magia!

A garota assentiu, em seguida apertou o báculo prateado e se sentou, em um dos vários sofás macios e luxuosos da casa de Eriol:

- Mas se a minha magia depende de meus pensamentos, eu tenho que estar consciente para fazê-la. E ainda não entendi o que aconteceu direito quando eu me sufoquei... Eu estava desmaiada, não estava?

- Sim, Eriol. Esta é uma boa pergunta. Ela tinha desmaiado... – Nakuru estava cheia de dúvidas – E mesmo assim, conseguiu se curar?

- Se querem saber a minha opinião, - todos se viraram para Yue, que estava em pé ao lado de Tomoyo – acho que alguém, e não somos nós, está guiando Tomoyo, dando as primeiras explicações, no caso, Mizuki. O nosso papel é guiá-la aqui, dando o apoio de que ela precisa e supervisioná-la. Aquele dia, mesmo que Tomoyo estivesse sem os sentidos, o subconsciente dela estava ativo. Acredito que o pensamento de se curar partiu dele.

Todos olharam admirados para Yue, até mesmo Eriol. Era verdade. Os dois lados do cérebro podiam dar ordens.

- Então... Isso que dizer que também posso fazer coisas involuntárias, isto é, comandadas pelo subconsciente! E pode ser perigoso! – Tomoyo virou aflita para Eriol

- Não creio. No subconsciente humano, está guardado tudo aquilo que nós julgamos desnecessário ou achamos que não prestamos atenção. Numa hora de desespero, por exemplo, essas informações costumam ser "destravadas" de lá. É provável que Tomoyo soubesse como fazer o contra feitiço para a melhoria dela. Mas achava que não sabia.

Todos se espantaram com a revelação, e prosseguiram durante toda a manhã incitando Tomoyo a fazer o que era pedido, com cuidado para que ela não se cansasse. Ela começou a controlar os elementos principais. Percebeu que água e vento eram muito mais fáceis do que terra e fogo. Esses dois últimos elementos pareciam resistir ao comando de Tomoyo, mas parece que cederam com o tempo. Eriol não tinha permitido que ela usasse Luz ou Trevas ainda.

Por volta da hora do almoço, Yue sentiu-se esgotado, e retornou a sua identidade falsa. Todos saíram para almoçar, sendo que Nakuru levou um Suppi amordaçado em sua bolsa. Ela não desperdiçava uma chance de brincar com Suppi, ou melhor, brigar com Suppi. Ela estava zangada porque ele tinha colocado um grampo no telefone, para interromper as conversas de Nakuru quando ela tinha o que fazer.

Depois de um farto almoço, sobretudo para Yukito, que estava morto de fome, cada um se despediu e rumou para a sua casa, não antes de marcar a próxima sessão de treinamento para Tomoyo, no mesmo lugar, às oito e meia. Logo que Tomoyo chegou em casa, apressou-se em colocar um avental e ajudar na preparação do jantar para Eriol.

A garota passou a tarde inteira na cozinha com as cozinheiras. Toda a "equipe" produziu um verdadeiro jantar, mas Tomoyo pediu para que não fosse nada muito formal. Ligou para a casa de Eriol, sendo que Suppi atendeu. Ela passou os recados para ele, dizendo o horário e avisou que era algo informal. Tinha acabado de desligar quando sua mãe chegou:

- Boa tarde, filha! O jantar para os vizinhos está pronto?

- Acabei de terminar há algum tempo. Acho que deve estar delicioso, mas sabe como é, não fiz um jantar formal. Eriol é meu amigo, e não gosto da idéia de muitas formalidades. Conheço-o há bastante tempo.

- Então está tudo bem. Tomoyo, eu vou subir para tomar um banho e trocar de roupa, desço daqui a pouco. E... E eu tenho alguma coisa para te falar da faculdade. – Tomoyo arregalou os olhos. Sua mãe percebeu, e continuou – Não, não é nada sério. Mandaram um aviso sobre o seu horário e também... Ah! Sobre o início do ano letivo. Vejo você daqui a pouco!

Sonomi subiu apressada, e Tomoyo decidiu ligar para Sakura. Estava morrendo de saudades da amiga, e queria contar tudo à ela. Mas Eriol disse que ele faria tudo, então...

- Shaoran falando.

- Li? Tudo bem? É a Tomoyo!

- Tomoyo! Que surpresa agradável!

- Obrigada. Como vão as coisas por aí?

- Tudo bem, graças... Mas a Meilin não está muito bem...

- Sério?

- É, é verdade... Eu acho que Sakura queria falar, mas eu acabei contando... Meilin se esforçou demais em uma competição aqui na escola. Ela foi tentar praticar salto com vara, sabe como é...

- Ah, sim, eu sei. Imagino o que deve ter acontecido.

- Bom, ela nunca praticou aquilo, e fez questão de escolher uma grande altura. – Tomoyo podia imaginar a carranca de Shaoran do outro lado do telefone. Ele odiava quando Meilin tentava fazer algo que não sabia em grandes proporções – Não verificou a vara direito. Quebrou no meio do salto, antes de chegar no colchão.

- Nossa!! Como ela está?

- Bom, ela fraturou alguns ossos, foi uma queda e tanto... Mas ela é bastante resistente, vai ficar bem. Está provisoriamente em um hospital aqui perto, mas vai vir para casa logo. Todos nós nos revezamos para fazer companhia. E, lamento dizer, mas está na vez da Sakura.

Tomoyo riu:

- Tudo bem, Shaoran! Eu ligo outro dia, e espero pegar a Sakura em casa. Mas, voltando à Meilin, quanto tempo vai demorar para que ela se recupere?

- Umas duas semanas a mais. Vamos atrasar exatamente duas semanas para chegar aí do que tínhamos previsto. Meilin acha...

O telefone caiu com uma baque surdo da mão de Tomoyo. Duas semanas... Ela tinha achado que isso ia acontecer... Ela tinha que prestar atenção em qualquer coisa que sonhasse ou achasse, porque poderia ser verdade. Ela apanhou o telefone, e Shaoran pareceu não notar o ocorrido, e continuava falando normalmente.

- ...A tranqüilizou, dizendo que a culpa não foi dela e tal... Mas se ela tivesse olhado antes...- Shaoran suspirou.

- Tudo bem. O importante é que nada grave aconteceu, não é?

- É, você está certa Tomoyo...

- Li, eu tenho que desligar. Eriol e Nakuru vêm aqui em casa hoje, e eu tenho que trocar de roupa.

- Na sua casa, aquele garoto? – Tomoyo podia sentir uma raiva contida na voz do garoto.

- Minha mãe o convidou.

- Ah, ele... Nada, esquece! Bobagem minha. Então, nós nos vemos, certo?

- Claro. Até mais Li!

- Tchau!

Tomoyo desligou e subiu para se trocar. Cantarolava alegremente, pensando no que Li quis dizer, mas não deu muita importância. Escolheu uma blusa branca, de mangas três quartos. Colocou uma saia pregueada preta que ia até o joelho. Depois prendeu o cabelo em uma longa trança, prendendo na trança uma fita preta. Colocou o pingente por cima da blusa. Pegou as meias, sete oitavos, brancas, e desceu. Era uma roupa simples, mas bonita. E não era um jantar formal.

Sua mãe se encontrava sentada no sofá da sala, lendo alguma coisa. Tomoyo foi até ela:

- Pronta, mãe?

- Sim, Tomoyo. Seus amigos virão logo, não é?

Tomoyo assentiu com a cabeça, e percebeu que a mãe tinha atendido o seu pedido para se vestir informalmente. Usava uma saia até o joelho e uma blusa de gola alta e mangas longas, ambos vermelhos. Tinha um lenço amarrado em volta do pescoço amarelo. Sua mãe tinha um jeito de se vestir mais... Social, mas não tinha exagerado.

- Sobre o que queria falar da faculdade?

- Ah, sim! – Sonomi se virou para Tomoyo – Suas aulas começam no primeiro dia de fevereiro! E o seu horário com as aulas chegou de manhã, pelo correio. Você estava fora, então uma das moças recebeu e colocou no meu escritório.

A garota supervisionou o fim das arrumações, se certificando que a comida estava pronta para a mesa, a decoração da sala de jantar estava em ordem e tudo mais. Quando faltavam apenas dois minutos para que as visitas chegassem, Tomoyo correu, apanhou os seus sapatos e saiu, para esperá-los do lado de fora da porta. Mas ao sair, sua atenção foi desviada para a Lua...

FIM DA QUARTA PARTE

Hoe! Mais um capítulo! Espero que estejam gostando! Agradeço a todos o apoio que recebi e por favor, sempre que quiserem falar, pedir algo ou qualquer outra coisa, mandem um e-mail, certo? O e-mail é mari-chan.mlg@bol.com.br.

Um super beijo para todos vocês,

Mari-chan.