CAPÍTULO 5 – PROFECIA E DESESPERO

Tomoyo observou que a Lua brilhava mais do que de costume. Aquilo era estranho, muito estranho... A Lua pareceu brilhar mais, mais, mais... E cada raio de luar parecia refletir no seu pingente, que estava por cima da blusa.

A imagem do céu noturno começou a desaparecer lentamente, e ficar embaçada ao mesmo tempo. Tomoyo sentiu-se meio tonta.

- O que...

Um turbilhão se formou, sugando tudo no céu, em um grande redemoinho. Parecia muito com o que aconteceu quando a sua consciência encontrou a da professora Mizuki...

Então apareceu. No céu, na frente da Lua, apareceu a imagem da professora. Ela sorria para Tomoyo.

- Professora... – Tomoyo abriu os lábios, mas deles não saíram som algum. Mas ela teve a impressão de que a professora entendera:

- Tomoyo, eu estou aqui para falar algo para você, muito rápido.

A garota balançou a cabeça, indicando que concordava.

- Tomoyo, você já descobriu como usar sua magia. Pratique, e muito. A pessoa que pode causar dor e sofrimento neste mundo está próxima, Tomoyo. Mais do que você imagina.

A garota arregalou os olhos para a professora. Ela sorriu, com uma expressão triste para Tomoyo e continuou:

- Nem sempre magia é a solução correta. Trás problemas maiores do que achamos que podemos enfrentar; e ao mesmo tempo lhe estende uma mão para ajudar. Não se engane com falsas promessas ou identidades; a única saída está na amizade de verdade...

Dizendo estas palavras, o mesmo turbilhão de imagens sendo apagadas e ao mesmo tempo tendo seu contorno difuso recomeçou. Tomoyo sentiu que era sacudida pelo turbilhão. Parecia que era puxada, com força...

- Não, pare!! – Tomoyo suplicou – O que isso quer dizer?

- Tomoyo! Tomoyo, acorde, por favor!

- Pare...

- Tomoyo! Está me ouvindo?

- Anh?

Tomoyo abriu os olhos devagar. Abrir os olhos? Ela não lembrava de tê-los fechado! Quando o mundo pareceu entrar no foco normal outra vez, achou um par de olhos castanhos vigilantes sobre ela. Encarou os olhos. Eles não queriam sair dali! Mas... Espere um pouco, tinham um nariz, uma boca e duas orelhas... Cabelo também, castanho como os olhos... E era muito familiares...

- Tomoyo! Sou eu, Nakuru! Me reconhece?

A mente de Tomoyo deu um estalo e começou a funcionar. Rapidamente levantou a cabeça, quase batendo a mesma na testa de Nakuru.

Ela se achava sentada no chão, em frente a porta da sua casa. Nakuru segurava os seus ombros para não cair, e um Eriol com traços de preocupação no rosto podia ser encontrado atrás de Nakuru. Ele sorriu ao ver que Tomoyo se recobrara.

- O que houve?

- Eu... Eu não lembro... De nada.

Nakuru olhou para Eriol, que pediu apenas com o olhar que não fizesse mais perguntas para a garota.

- Ah! Vamos entrar?

- Claro! Estamos ansiosos para conhecer sua mãe! – Nakuru deu um pulinho no ar, enquanto Eriol ajudava Tomoyo a se levantar.

- Chegaram há muito tempo?

- Não. – respondeu Eriol – Não faz mais do que dois minutos, acho. Você estava caída aqui, e Nakuru entrou correndo na frente para ajudar você. Nenhum empregado apareceu.

Tomoyo respirou aliviada. Não sabia porquê tinha desmaiado, mas na certa cancelariam o jantar se alguém tivesse visto.

Então ela reparou que Nakuru e Eriol tinham atendido ao seu pedido, e não tinham escolhidos roupas sociais. Nakuru usava um short negro, curto e colado. Na parte de cima, usava uma blusa tomara-que-caia vermelha, mas com uma regata preta aparecendo por baixo, dando um ar alegre e jovial. Acompanhavam meias idênticas as de Tomoyo, só que eram pretas, e sapato tipo boneca preto também.

Por sua vez, Eriol estava usando uma calça preta normal, de jeans. Na parte de cima, usava um abrigo azul celeste de zíper, com um emblema do lado esquerdo do casaco, deixando aparecer uma blusa azul escura por baixo, da cor do bordado do seu abrigo. Tomoyo achava que era a primeira vez que via Eriol desse jeito. E, para maior espanto, o garoto usava um par de tênis ingleses, negros.

Ela abriu a porta e convidou os dois a entrarem. Assim que entrou na sala, Tomoyo apresentou os dois à sua mãe.

- Mamãe, estes são Eriol Hiiragizawa e Nakuru Akizuki – apontou Tomoyo, respectivamente – Eriol, Nakuru, esta é a minha mãe, Sonomi Daidouji.

Eriol, Nakuru e Sonomi se cumprimentaram, e logo depois, os quatro foram até a sala, sentaram e começaram a conversar.

Sonomi era muito atenciosa e solícita com Eriol e Nakuru. Eles contaram e relembraram muita coisa dos tempos de quinta série de Eriol e de Tomoyo, e muitas outras coisas sobre o cotidiano, como é a vida na Inglaterra, sobre a faculdade dos dois – Sonomi deu os parabéns por Eriol também ter entrado junto com Tomoyo, devido às suas boas notas – e por aí foi.

Mais ou menos por volta de nove horas, eles se sentaram e começaram a comer. Eriol e Nakuru não pouparam elogios à comida, deixando Tomoyo muito feliz. Depois de também degustarem as sobremesas decoradas e de encher os olhos feitas pelas cozinheiras e Tomoyo, Sonomi retirou-se com Nakuru para lhe mostrar a casa toda. Tomoyo ficou de mostrar a Eriol o que interessasse à ele. Nessa hora, algumas partes do que causou o seu desmaio há pouco tempo foram aparecendo na sua mente. A garota ficou inquieta, imaginando o que seria tudo aquilo, e se era um aviso.

Eriol percebeu que Tomoyo estava aflita, e decidiu que gostaria de visitar os jardins. Tomoyo o guiou através dos canteiros, do pomar, da horta, do jardim principal e estufas. Depois de alguns minutos, Eriol pediu se Tomoyo não poderia sentar em um banco na frente de um dos canteiros de flores mais bonitos de todo o jardim.

Eriol nem precisou tomar a iniciativa de perguntar sobre o ocorrido, porque Tomoyo contou tudo o que lembrara sem hesitar:

- Eriol... Eu estou tão aflita!

- Pode me contar o que quiser, Tomoyo. Eu vou escutar, prometo.

Tomoyo se surpreendeu com o tom gentil e reconfortante da voz de Eriol. Ela começou a contar que tinha visto algo mudar na paisagem, mas não lembrava com nitidez. Alguém apareceu, conhecido, e disse algo parecido com uma profecia. Mas Tomoyo não conseguiu lembrar de uma única linha do que ouvira. Ela não sabia explicar, mas agora que relatara o que vira, parecia que já tinha visto aquilo antes, embora achasse que nunca tinha visto aquela aparição ou o nome que aquilo tivesse.

Eriol sorriu bondosamente, e disse que Tomoyo lembraria de tudo na hora certa. Estava tudo no subconsciente, como Eriol tinha dito naquela manhã. Em seguida, deu outro de seus sorrisos próprios.

Tomoyo não pôde conter uma lágrima, que escorregou pelo seu rosto, brilhando quando a luz da Lua era refletida. Ela se inclinou e deu um forte abraço em Eriol.

O garoto não se espantou tanto desta vez. A garota soluçava baixinho, com a cabeça no ombro de Eriol. Ele tranqüilizou-a, afagando seus longos cabelos negros, sempre escovados e sedosos.

Tomoyo sempre tivera contato com magia, mas nunca de modo tão direto e nem com tanta intensidade. Ele decidiu que iria contar tudo à Sakura no dia seguinte, de um modo indireto. Tomoyo tinha o direito de contar à sua amiga depois, com detalhes.

- Eriol...

- Sim, Tomoyo?

A garota sentou-se de novo. Enxugou as lágrimas de seus olhos e sorriu:

- Acho melhor voltarmos. Daqui a pouco minha mãe volta com Nakuru, e se não nos encontrarmos na sala, vai ficar preocupada.

- Claro, vamos lá.

Os dois se levantaram e caminharam calmamente até a sala de estar. Sentaram, e Tomoyo agradeceu a Eriol:

- Muito obrigada por tudo, Eriol.

- De nada, Tomoyo. Eu quero que saiba que sempre que tiver problemas, me procure. Sempre estarei disposta a escutá-la, não importa se parece algo sem importância para você. Combinado?

A garota sorriu radiante:

- Claro!

Tomoyo mal tinha terminado de falar quando os dois escutaram risadas. Descendo a casa, Nakuru e Sonomi riam, muito a vontade.

- Pronto. Já mostrei a casa inteira para... A Nakuru. – Sonomi tinha uma lágrima no rosto, de tanto rir.

- Ah, que casa linda! Eriol, quando eu disse que tínhamos que ter consultado gente séria para decorar a casa, você não me escutou! Agora perdemos a chance de pedir para que a Sonomi ajudasse a gente! Nossa casa ia ficar linda!!

As duas riram de novo, e com gosto. Tomoyo e Eriol se entreolharam. Ambas desfrutavam de uma intimidade bem grande, e tinham se conhecido há pouco tempo. Tomoyo se perguntava se não tinham colocado álcool na bebida das duas.

Nakuru e Sonomi sentaram, e os quatros conversaram bastante. Quando questionada para onde Tomoyo tinha levado Eriol, Nakuru tinha o brilho estranho nos olhos outra vez. Por fim, já tarde da noite, eles se despediram, na frente do portão:

- Bom, até amanhã, Nakuru! – Tomoyo deu um abraço na garota e um beijo na face – E até amanhã também, Eriol. – a garota repetiu o processo feito com Nakuru.

Os dois se despediram de Sonomi, também:

- Boa noite, senhora Daidouji. – Eriol e Sonomi apertaram as mãos, sorrindo.

- Ah, até outro dia! – Nakuru e a mãe de Tomoyo se abraçaram e trocaram olhares, caindo na risada em seguida. Depois da euforia ter serenado, os visitantes caminharam em direção à mansão vizinha e entraram. Tomoyo e Sonomi fizeram a mesma coisa.

Sonomi se despediu de Tomoyo, dizendo que deveria trazer os dois em casa mais vezes. E entrou no quarto dela, rindo outra vez.

Tomoyo estava mais alegre do que o normal. Em parte porque tinha feito um bem inestimável contar tudo o que lhe angustiava a Eriol; e também porque sua mãe parecia ter se divertido como nunca.

Com lembranças boas daquele dia, a garota rapidamente trocou de roupa e adormeceu rápido, num sono calmo e tranqüilo.

Quando amanheceu, Tomoyo espreguiçou-se demoradamente na cama, e em seguida levantou, para tomar seu banho e comer algo antes do seu treinamento.

Enquanto toda essa rotina era feita, Tomoyo cantarolava baixinho para si mesma. Percebeu, surpresa, que quase todas as músicas eram da sua infância, muitas delas quase esquecidas. A que cantava agora era Yoru no Uta.

Tomoyo gostava daquela música porque, além de muito bonita, lhe trazia a lembrança de um dia que mudou a sua vida, o dia em que Eriol regressara a Tomoeda. Certamente, ela lembraria aquela linda canção da noite para sempre.

Desceu depois de algum tempo, com um vestido azul-turquesa, de alças, que ia até um pouco depois dos joelhos, com um decote discreto em cima. Usava um rabo-de-cavalo simples, com o pingente por cima. Para usar lá fora, escolhera um par de sapatilhas azuis, que ganhara de presente de Meilin.

Às oito e meia em ponto, Tomoyo encontrava-se na porta da casa de Eriol. Outra vez entrou sem fazer barulho, pois tinha certeza de que ninguém gostaria de ser acordado tão cedo em um final de semana. Quando chegou à porta, ficou surpresa ao ser recepcionada por ninguém menos que Yue.

Os dois subiram para a mesmíssima sala do dia anterior. Yue lhe explicou que Eriol estava absorto em alguma pesquisa no seu escritório, e que iria ver os progressos mais tarde. Quando os dois iam começar a treinar, Suppi irrompeu pela porta.

- Bom dia, Yue, Tomoyo.

- Bom dia, Spinnel. – Yue não tinha nenhuma emoção na voz. Na verdade, nem Suppi nem Yue demonstravam qualquer sinal aparente de emoções quando falavam, ao contrário de Ruby Moon e Kero.

- Bom dia, Suppi! Por que não foi ontem em casa?

- Ah... A idéia de ficar enclausurado em uma bolsa de alguém pouco responsável não é uma idéia que me agrada, se é que me entende.

- Sim, eu compreendo. Outro dia convido você para ir lá, sem que ninguém esteja. Aí pode conhecer a minha casa tão bem quanto Kero.

- Ah, por falar no outro guardião, era por isso que eu tinha vindo até aqui. Tomoyo, faria o favor de dizer a ele que eu bati o recorde dele no videogame? Diga que ele precisa jogar muito para chegar ao meu nível. Até mais. – e saiu pela porta.

Tal comportamento causou um suspiro de exasperação por parte de Yue e um ponto de interrogação na cara de Tomoyo.

- Esses dois... Nunca vão parar de brigar... – comentou Yue

- É verdade. – Tomoyo fez o báculo aparecer – Mas eles me lembram você e Kero há sete anos.

Tomoyo esperava uma reação sem emoção de Yue, mas ficou muito surpresa ao ver que ele sorria docemente, como algum adulto que lembra de períodos agradáveis de sua vida ou infância.

- Sim, eu concordo. Mas a nossa convivência melhorou muito, desde então. Bom, vamos treinar.

Yue estava decidido a ver as capacidades defensivas de Tomoyo. Começou com ataques fracos, mas quando a garota superou esse nível de poder, foi preciso um lugar maior para treinar. Então, os dois passaram ao jardim da casa de Eriol, onde nenhum olho humano podia ver o que estavam fazendo.

Tomoyo parecia usar um tipo de proteção que muitas vezes lembrava o efeito da carta Escudo. Porém, algumas vezes ela improvisava, como quando girou o báculo para criar uma camada de ar que impediu os cristais de gelo de a acertarem. Depois de algum tempo, Yue desceu ao nível do solo.

- Sua defesa está ficando boa, Tomoyo.

- Obrigada, Yue. Não sabia que podia girar o báculo desse jeito. – Tomoyo fez o seu báculo voltar a ser um pingente de cristal.

- Talvez seja mais um de seus conhecimentos do subconsciente, não?

- É, talvez esteja certo.

Ainda conversando, os dois moveram-se para dentro da sombra da casa, que foi muitíssimo bem recebida. Nesse momento, Nakuru apareceu, saltitando pela cozinha.

- Acabaram por hoje? Ah, que chato, eu não pude ver o treino!

- Não se incomode. Vai poder ver daqui a alguns dias. – disse Yue

- Aceitam algo para beber? – sugeriu a jovem de cabelos e olhos castanhos.

- Pode deixar que eu faço algo! – adiantou-se Tomoyo, e foi para a cozinha.

Nakuru viu se Tomoyo não estava ouvindo, e comentou com Yue:

- Ela tem potencial, não?

- Muito. Eu nunca vi Kaho ter manifestado tanto poder. Ela não deve ter usado na minha frente, mas estou surpreso. Se ela obtiver domínio sobre eles, será difícil de derrotá-la.

- Credo! Até parece que vai haver uma batalha, do jeito que você fala.

- Vai haver uma batalha, Nakuru. Só que isso foi dito para Ruby Moon.

- Anh... Que chato, eu não tenho as lembranças completas dela, sempre fica meio... Embaçado.

- É, eu sei bem.

- Pronto!!

Tomoyo voltava com uma enorme bandeja nas mãos, com um chá gelado recém preparado. Junto com o chá, que estavam em três copos e uma jarra, havia um pratinho cheio de biscoitos.

- Tomei a liberdade de usar algumas coisinhas, espero que Eriol não se importe.

- Ah, imagina, Tomoyo! – a garota tomou um gole do chá – Humm... Aprovado, Tomoyo! Isto está delicioso!

- Obrigado.

- Heh, Yue? Não vai beber?

- Não, obrigado. Eu nunca como ou bebo.

- Mas faz um esforço! A Tomoyo fez tudo isso na cozinha e você mal agradece? Ah, pelo menos seja legal e finja que está tomando!

Tomoyo sufocou uma risada:

- Não se preocupe, Nakuru. Estou acostumada com isso. Lembre-se que conheço Yue há sete anos.

- É verdade... Ah, não sabe o maravilhoso e refrescante chá que está per...

Nakuru não chegou a terminar a frase, porque de súbito, o piso da cozinha pareceu tremer muito forte.

Os três na cozinha se entreolharam, com expressões de confusão no rosto. Saíram para o jardim, antes que o tremor piorasse. Podiam ouvir o barulho dos copos e da jarra caindo no chão, depois de provavelmente serem derrubados da mesa devido ao tremor. Num instante, Nakuru desaparecera e Ruby Moon tinha assumido seu lugar.

- O que está havendo aqui? – Apareceu Suppi

- Sabemos tanto quanto você. – Ruby deu de ombros, indiferente.

- Espere um pouco! – Yue fechou os olhos – A presença! Tem uma presença mágica muito forte aqui!

Tomoyo não pensou duas vezes, e logo o báculo prateado estava em suas mãos. Olhava de um lado para o outro, procurando uma coisa responsável pelo forte tremor. Enquanto isso, tudo continuava tremendo. Lançou um olhar para a casa vizinha, sua casa. Espantou-se ao ver que ela não parecia estar sofrendo nenhum abalo.

- É impressão minha ou... Só aqui está tremendo?

- Pode ser, mas...

- É tão estranho...

De repente, quando estava convocando sua magia para poder voar, sua mente deu um estalo:

- Eriol!!!

- O que tem Eriol?

- Ruby Moon! Mestre Eriol está lá dentro! – Imediatamente uma pantera negra com asas de borboleta surgiu, no lugar do antigo bichinho de pelúcia – eu já volto!

A pantera deu a volta na casa, voando. Os dois guardiões e Tomoyo esperaram no mesmo lugar, tentando descobrir de onde aquilo estaria vindo. Tomoyo tinha acabado de ganhar as suas asas, na verdade, apenas sombras de asas, feitas de purpurina. A garota estava voando na direção da sua casa, quando...

- Ai!

- O que foi, Tomoyo?

- Aqui... Eu bati em alguma coisa! – Tomoyo estendeu a mão, e encostou em um tipo de parede invisível. Tomoyo segui a misteriosa barreira, e descobriu que ela ia acabar num ponto em cima da casa de Eriol, por sinal, seu ponto mais alto. Era de um feitio redondo, mais lembrando uma redoma.

- O que será isso?

- Não sei, Ruby Moon. De qualquer jeito, esta coisa parece...

- Estar isolando a casa dos terrenos em volta da cidade. – Eriol apareceu caminhando para fora da casa, acompanhado de Spinnel. – Isso é uma barreira mágica, ninguém entra, ninguém sai. E só aqui acontecem os tremores.

- Mas o que significa tudo isso, Eriol? A casa começa a tremer do nada, uma presença forte aparece e somos trancados junto com ela. E agora?

Como que respondendo à pergunta da Guardiã da Lua, uma imensa fenda abriu-se no chão, deixando a mostra imensas galerias de rocha, além do alicerce da casa de Eriol. Das profundezas da fenda, uma torrente de lava saiu, com uma pressão fortíssima.

- Parece uma erupção vulcânica!!! – Gritou Tomoyo, que tinha voado para o lado esquerdo da fenda, assim como Eriol. Os três guardiões se encontravam de frente para eles, mas a barreira de lava se interpôs, e não conseguiam enxergar o outro lado.

- É verdade, Tomoyo. Mas...

A fria voz de Yue foi cortada por um murmúrio de espanto. A lava tinha alcançado o teto da cúpula, e parou. Meio que instantaneamente, a lava endureceu, formando uma barreira que separava os dois lados.

- Hunf! Agora isto não parece uma erupção! – a voz irritada de Ruby Moon foi ouvida – O que é isto?

- Fique calma, Ruby Moon. Temos que tentar primeiro descobrir de onde vem o poder que está controlando isso tudo – a voz de Spinnel era ouvida agora.

Eriol consentiu:

- Certo, Spinnel. Temos que destruir a fonte de tudo isso, para que a barreira invisível e a barreira de lava desapareçam.

Todos fecharam os olhos, procurando um lugar onde a magia estivesse mais forte. No entanto, antes que alguém pudesse descobrir alguma coisa, uma forte ventania deu-se do lado de Eriol e Tomoyo, mas nada aconteceu ali. Porém, do outro lado...

Os dois jovens puderam escutar os gritos de dor que vieram das três criaturas presas do lado direito. Em seguida, um baque surdo foi ouvido.

- Yue! Ruby Moon, Spinnel Sun!!

A voz de Tomoyo soara aflita e desesperada por uma resposta, uma confirmação de que eles estavam bem. Mas esse sinal, que seria um alívio para ela e Eriol, não veio.

Então, a aura de Yue, Ruby e Spinnel desapareceu.

- Eriol... Eu... Eu não sinto a aura deles!!

- Nem eu, Tomoyo.

Os dois desceram novamente ao nível do solo, mas Tomoyo sequer ficou de pé. A sombra do seu par de asas desapareceu, e ela caiu de joelhos no chão, uma lágrima furtiva escorrendo pela sua face. Eles haviam sumido.

- Yue... Ruby... Suppi... Todos... Se foram! Eriol!

A jovem reencarnação do Mago Clow aproximou-se de Tomoyo, e ajoelhou ao lado dela. Tinha um bondoso sorriso no rosto.

- Tomoyo. Eles não se foram. Apenas estão inconscientes.

- Mas... Mas...As auras deles! Eu não as sinto! – a garota virou a cabeça, soluçando.

- Tomoyo, me ouça. – Eriol virou a cabeça de Tomoyo suavemente, na direção dele – Eu tenho certeza de que eles estão bem. Nada ia acabar com eles tão facilmente assim.

Ela olhou no rosto do garoto, que sorria calmamente. Ela não entendia como que ele conseguia sorrir diante de algo tão doloroso, mas estava certa de que se ele disse que estavam bem, eles estavam bem.

Tomoyo afastou as lágrimas com as mãos rapidamente, e sorriu para Eriol:

- Me desculpe por desistir tão fácil. Sakura nunca fazia isso e tinha sempre um sorriso no rosto! Vai dar tudo certo!

Tomoyo convocou outra fez a magia para poder voar. Subiu um pouco, com a mente clara, desta vez. Como ela tinha desistido tão rápido? Dessa vez ia ser diferente! Ia procurar o que machucou seus amigos, e tinha certeza que iria exigir algumas boas explicações. Estava muito envergonhada de possuir tanto poder e parar de cara.

Forçou a barreira. Era dura como pedra! Que estranho, aquilo foi lava pura! Tinha que cortar aquilo, mas como? A mente de Tomoyo deu um estalo, e, subitamente, lembrou de como Sakura transformava seu báculo em uma espada, muito forte, que cortava qualquer coisa! Sabendo que só precisava pensar firmemente no que queria, uma linda espada, um florete, apareceu no lugar do báculo prateado.

A garota subiu até o teto da cúpula invisível. Tomou alguma distância, em seguida partindo com toda a força em direção a parede de lava, fazendo um corte desde lá de cima até o solo.

Eriol observava. Durante alguns instantes, nada aconteceu. Mas, de repente, uma linha brilhante apareceu onde Tomoyo tinha cortado com a sua espada, e a parede se dividiu em duas, ruindo até o chão. Misteriosamente, toda aquela lava fria começou a descer pela fenda que tinha sido aberta há alguns minutos, e sumiu de vista. Logo depois, a fenda se fechou, com um pequeno tremor.

Quando tudo parou e voltou ao normal, a espada de Tomoyo sumiu, para dar lugar novamente ao báculo. Eriol sorria radiante para Tomoyo, e os dois jovens correram na direção de três corpos desmaiados.

Yue, Ruby Moon e Spinnel Sun estavam deitados no chão, os três sem sentidos. Eriol e Tomoyo rodearam os três por algum tempo, procurando ferimentos graves ou algo do tipo. Mas, não encontrando nada, ficaram muito mais aliviados.

- Acho que falta pouco para que despertem.

Tomoyo apertou o báculo nas mãos:

- Eu espero. Ainda bem que nada aconteceu de grave com eles.

Eriol assentiu com a cabeça.

- Porque se tivesse acontecido... Eu nunca ia me perdoar, por desistir tão fácil!

Ele sorriu para Tomoyo novamente, acalmando a garota.

- Você quase não tinha tido nenhum treinamento, devia estar muito nervosa. A coisa mais importante a fazer nessas horas é ficar calma e pensar no que deve fazer. Quando você pensou melhor, não descobriu um meio de quebrar aquela barreira enorme de lava?

Ela repassou mentalmente tudo o que tinha feito, e concluiu que antes, aflita e desesperada pelos seus amigos como estava, não teria feito nada a não ser chorar.

- É verdade... Caso contrário teria ficado chorando por eles.

Eriol afirmou com a cabeça:

- Eu sei. Mas às vezes, por mais que pareçamos insensíveis, como eu sou várias vezes, estamos tentando encontrar o melhor modo de ajudar as pessoas queridas em volta. Ficar desesperado não ajuda em nada, nem a nós, nem aos nossos amigos. Por isso, controlar as emoções é um jeito muito eficaz de usar magia.

Tomoyo refletiu por um momento. Era verdade, várias pessoas não demonstravam aflição ou outras emoções durante seus problemas... A mãe de Shaoran, a professora Mizuki, Eriol... Todos eram detentores de grandes poderes, mas Tomoyo nunca os viu desesperados, ao contrário de...

- Mas e a Sakura?

Eriol suspirou profundamente:

- Sabe Tomoyo, eu até hoje me surpreendo com a Sakura. Ela não controla as emoções e os sentimentos dela são a parte vital para que as magias dela sejam concretizadas com sucesso. Talvez pelo caráter dela. Ela é totalmente uma exceção, no que diz respeito ao campo da magia.

A garota balançou a cabeça e baixou os olhos para os três guardiões ainda deitados. Ela e Eriol estavam ajoelhados ao lados dos três, esperando que acordassem. Eriol falou subitamente:

- Tomoyo! Vamos levá-los para dentro, agora!

- Está bem!

Com alguma dificuldade, porém rapidamente, os dois moveram os guardiões para o piso da cozinha. Os copos e a jarra que ouviram quebrar estavam no chão, melando todo o soalho com o chá. Tomoyo apressou-se em juntar todos os pedaços de vidro e limpar o chão, para reparar a sua bagunça. Eriol bem que tentou impedir, mas não obteve nenhum resultado.

- É uma pena. O chá parecia delicioso.

A garota sorriu:

- Tem mais na geladeira. Mas... Eriol, acho que a sua casa inteira está cheia de coisas que despencaram, quebraram e entortaram, devido àquele tremor!

Ele suspirou:

- Tudo bem... Bom, assim que Nakuru e Spinnel se recobrarem, vão me ajudar a arrumar tudo isso. Afinal, descansaram por um bom tempo, não acha?

A garota sorriu, e percebeu que o báculo que estava em suas mãos sumira, e apenas o pingente se encontrava. Estranhou um pouco aquilo, mas se tinha feito aquilo inconscientemente, queria dizer que não precisaria mais dele.

Ela tinha acabado de pensar nisso quando ouviu alguns murmúrios. Virou-se rapidamente para os três que estavam desmaiados, e reparou que tinham recobrado a consciência ao mesmo tempo. Eriol lançou um olhar para o quintal.

- Vocês três! Estão melhor?

- Anh? Tomoyo? Eriol? – Ruby Moon tinha uma expressão confusa no rosto – E a barreira?

- Sim, o que houve? – Yue já tinha levantado, com sua pose habitual, sem emoção. Parecia profundamente abalado por ter sido socorrido por Tomoyo e Eriol.

- Tomoyo conseguiu dar um jeito, cortando-a com uma espada.

- Inteligente, senhorita Tomoyo. – aprovou Spinnel

- Bom, acho que por hoje já tivemos aventuras que chegue. Por favor, retornem as suas identidades falsas para descansarem um pouco.

Os três seguiram imediatamente a ordem de Eriol. Yukito desculpou-se por qualquer coisa e despediu-se de todos, dizendo que tinha algumas coisas para fazer na sua casa. Sorriu para Tomoyo e chamou a garota para um canto:

- Tomoyo, sabe... – ele deu um sorriso – Obrigado por hoje. Eu sei que o outro eu está com o orgulho ferido, mas não tem coragem de dizer obrigado para você.

Então se virou e saiu. Como podia, Yue e Yukito eram completamente opostos! Será que o guardião da Lua nunca ia ser mais caloroso?

Voltando para a cozinha, onde os outros ainda se achavam, ela encontrou Nakuru resmungando:

- NÃO É JUUUSTO!!! Eriol, nós fomos a nocaute e você quer que a gente arrume tudo isso? – a garota lançou um olhar exasperado em volta, vendo a bagunça generalizada que estava ali.

- Nakuru, você já descansou bastante por hoje. Ficou um bom tempo dormindo, sabia? Esperamos bastante, até que você acordasse!

- Mas... Eu acabei de recobrar os sentidos e você quer que eu o ajude? Por que o Suppi não faz algo também? Ele é muito protegido! – Nakuru pulava na cozinha, com raiva de Suppi, que assistia à cena, entediado.

- Olhe para mim e diga se eu posso fazer algo!

- Pode sim! Não pode, Eriol?

O jovem mago deu um suspiro e falou em seguida:

- Os dois, quietos. Cada um tem as suas limitações, mas todos podem ajudar! Vamos logo, e podemos terminar isso cedo. Se vocês colaborarem, vamos almoçar em um restaurante na cidade.

O rosto de Nakuru iluminou-se:

- Pode deixar, Eriol! Vem, seu bichinho de pelúcia! – e saiu pela casa que nem uma doida, arrumando tudo o que encontrava pelo meio do caminho. Suppi protestava atrás dela, mas a garota parecia não ouvir.

Eriol balançou a cabeça:

- Esses dois...

- Esquece, Eriol. Eles se dão muito bem. É uma amizade forte, embora eles briguem sempre. Bom, eu ia me oferecer para ajudar, mas já é hora do almoço, e acho melhor voltar para casa e ver a minha mãe. Quem sabe não arrumou um jantar de última hora...

- Vamos, eu te acompanho até o portão.

Os dois saíram da cozinha, passaram para as salas e chegaram ao portão, do lado de fora. Tomoyo abraçou Eriol e desculpou-se pela confusão, e agradeceu seu apoio quando ficou tão nervosa. Ele retribuiu com um sorriso.

No momento em que Tomoyo saía da casa de Eriol, percebeu que a forte presença que sentira quando a barreira de lava surgiu não tinha ido embora, mas estava tão preocupada com seus amigos que esqueceu-se dela. Eriol pareceu notar isso, como se pudesse ler os pensamentos da garota.

- Eriol... Por que será?

- Não sei, Tomoyo. Talvez ainda não tenha acabado de fazer o que queria.

- Não quero pensar em um outro desastre no seu quintal! Todas as mudas de flores que plantamos iriam ficar arruinadas! As estufas não são a prova de terremotos!

Os dois riram com vontade. De repente, a presença mágica diminuiu muito, ficando muito fraca.

- Bom, eu tenho que ir. Me avise se algo acontecer aqui fora do comum, está bem?

- Claro, Tomoyo. Até logo.

- Até!

Tomoyo caminhou lentamente para sua casa, e ouviu Eriol fechar o portão às suas costas. Quando estava entrando na casa, pareceu-lhe que toda a presença se fora. Bem, podia ser que a magia dela finalmente tivesse se esgotado. Tanto melhor, pensou Tomoyo. Agora não teria tantos problemas.

Entrou em casa, normalmente, como sempre fazia. Sonomi estava sentada na sala, lendo calmamente uma revista, num raro momento de descanso. Assim que Tomoyo entrou, ela apressou-se em abraçar a filha:

- Que bom que voltou, querida! Estava pensando onde você tinha ido hoje de manhã!

- Estive passeando. – mentiu. Não queria que a mãe começasse a desconfiar de algo, passando tanto tempo na casa vizinha.

Sonomi sorriu:

- Está com fome, Tomoyo?

- Sim, bastante, para dizer a verdade. Tomei café cedo, e mais tarde, um copo de chá gelado.

- Bom, os Atsuhiro nos convidaram para almoçar, hoje. Fiquei pensando se gostaria de ir comigo. Hiroyuki vai ficar muito feliz. Aliás, parece que ele estava passeando de manhã também. Chegaram a se encontrar?

- Não, não nos encontramos.

- Bom, vou telefonar agora? Você quer?

- Por mim, tudo bem.

Sonomi assentiu com a cabeça e pegou o telefone, do lado do sofá. Discou rapidamente alguns números e tratou de tudo rapidamente.

- Tomoyo... Hum... Acho que sua roupa está boa, é informal. Mas, me diga uma coisa: está usando esse pingente outra vez?

- Ah, sim! Gosto muito dele, nunca o tiro!

- Entendo. Bom, veja se precisa levar alguma coisa, saímos dentro de dez minutos para o restaurante!

- Que restaurante?

- Um de comida italiana. O preferido de Ayumi e Kazuaki.

- Certo.

Tomoyo subiu as escadas correndo, para apanhar uma bolsa ou mochila, para levar suas coisas. Achou uma linda mochila azul, adornada com um bordado prateado. Não lembrava-se de tê-la comprado ou ganho. Apanhou seus pertences e desceu até a cozinha, para tomar um copo d'água. Logo depois se dirigia para o carro, onde uma das guarda-costas estava ao volante, esperando apenas a sua mãe. Sonomi chegou em poucos momentos depois, e partiram.

Em pouquíssimo tempo chegaram ao restaurante, enfeitado por dentro e por fora com fitas verdes, vermelhas e brancas, pelo que Tomoyo pôde perceber. Os Atsuhiro não tinha chegado ainda, mas havia uma mesa para cinco pessoas reservada. Sonomi e Tomoyo preferiram não sentar e esperá-los.

Porém, antes que eles chegassem, Eriol e Nakuru entraram. Se espantaram ao ver que Tomoyo e Sonomi estavam ali. Cumprimentaram-se, tanto Eriol como Nakuru fingindo que não tinha visto Tomoyo naquela manhã. Elas explicaram o convite dos Atsuhiro, e disseram que Eriol e Nakuru poderiam sentar junto com todos.

Então os Atsuhiro chegaram. Todos entraram, mas Eriol e Hiroyuki se encararam por um tempo, assim que seus olhos se encontraram. Tomoyo os apresentou. Ela tinha certeza de que a tinham escutado, mas não desviavam o olhar um do outro...

FIM DA QUINTA PARTE

Olá para todos! Estou muito contente de ter chegado até aqui com o fanfic, isso graças ao apoio de vocês. Por favor, não parem de me escrever, não importando o assunto, de críticas a elogios, para mari-chan.mlg@bol.com.br!

Super beijos para todos vocês,

Mari-chan.