CAPÍTULO OITO - NOVAS AMIZADES
- Eriol?
- Tomoyo, sente isso?
- Sentir isso? O quê? Ah, desculpe. – Tomoyo se levantou do corpo caído de um dos convidados que era seu conhecido. Ela se concentrou.
- Uma presença... Mágica e muito forte... Todos esses desmaios e aqueles aplausos foram provocados por algo forte, e está por aqui...
Eriol balançou a cabeça:
- Sim, é verdade. Enquanto a pessoa que provocou isso não desejar, eles não acordarão.
Tomoyo arregalou os olhos:
- O QUÊ? Não... Não acordarão... Para sempre?
Eriol não conteve um sorriso gentil diante da face sofredora da garota.
- Não, não para sempre. Vamos conseguir acordá-los.
Tomoyo sorriu, e em instantes um brilho levemente prateado inundou o salão. O báculo mágico de Tomoyo aparecera.
- Vamos conseguir! Por minha mãe, pelos pais de Hiroyuki e por todos aqui!
Ao mencionar Hiroyuki, Tomoyo percebeu que os olhos de Eriol se estreitaram, e uma mudança de comportamento se operou nele.
- Onde está Hiroyuki?
- Não sei... Eu o chamei, mas não acho que escutou-me.
Eriol refez o percurso de Hiroyuki, saindo do palco, entrando na parte de trás do palco e depois passando no corredor dos camarins. Eriol percebeu que uma porta estava destrancada, a que levava para o exterior do prédio. Mas, estava magicamente protegida. Não se podia passar por ali. Voltou até onde estavam Tomoyo e Ruby Moon. As duas conversavam até a volta dele.
- Tomoyo, será que por aqui existe algum telefone?
- Sim, existe. Tenho um aqui... Espere! Tem um na bolsa da minha mãe! Para quê?
- Contatar Yue, Kerberus e Spinnel Sun.
- Boa idéia! Onde está Eriol?
- Estou aqui.
- Eriol! Vou ligar para os outros três guardiões!
- Tudo bem.
Tomoyo correu até a bolsa da sua mãe, tirou o telefone celular dela e discou rapidamente o número da casa de Sakura. Enquanto isso, murmurou que era um "empréstimo" para a mãe.
- Alô?
- Tomoyo, é bom falar com você!
- Oi Kero! Eu preciso que você, o Yue e o Suppi, digo, Spinnel, venham para o salão de festas e convenções da empresa da minha mãe!
- O que foi que houve?
- Uma coisa horrível! Os convidados estão todos desmaiados! Por favor!
- Sim, estamos a caminho!
- Obrigado. Tchau!
Tomoyo desligou e apagou o último registro de ligação da memória do celular de sua mãe, para que ela não desconfiasse. Em seguida, voltou para onde Ruby Moon e Eriol se encontravam, ambos impassíveis. Ruby Moon parecia tentar encontrar uma resposta para tudo aquilo, mas Eriol tinha o semblante calmo de sempre. Tomoyo lembrou-se de que não era insensibilidade; estava pensando na melhor solução.
Ela examinou o rosto dos convidados. Todos tinham um sorriso no rosto, como se a última lembrança tivesse sido muito bonita ou alegre. Tomoyo não sabia se isso era referente à música que tinha tocado.
Tomoyo sentiu que duas auras diferentes tinham chegado. Na certa, os guardiões restantes, mas só dois deles? Eriol e Ruby Moon também perceberam, e a primeira coisa que fizeram foi correr para a porta. Trancada. Ruby Moon arrebentou o trinco com magia, e a porta se abriu. Yue e Kerberus estavam do lado de fora. Mas, quando Kerberus tentou atravessar a porta, foi jogado para trás com violência.
- AI! O que houve aqui?
Eriol foi mais para a frente, e tocou a barreira. Um sorriso sinistro apareceu em seu rosto.
- Outra vez. Parece que estamos lidando com alguém especialista em barreiras, aqui. Já é a segunda vez que alguém conjura uma barreira mágica.
Todos assentiram com a cabeça, se lembrando do incidente anterior, na casa de Eriol. Ele continuou:
- Isso aqui só irá se desfazer se a fonte do problema for solucionada. Portanto, eu, Tomoyo e Ruby Moon vamos tentar resolver aqui dentro do prédio. Yue e Kerberus vão tentar encontrar o problema do lado de fora. Certo?
- Certo! – murmuraram os cinco em uníssono e deram início ao trabalho.
- Eriol...
- Sim?
- Por que Spinnel não veio?
- Ele está ocupado. Vai entender depois. Além de tudo, acho que iremos conseguir dar um jeito aqui...
Tomoyo assentiu e começou a andar por entre os corpos caídos dos convidados. Todas as faces estavam sorridentes, sem exceção. O que acontecia ali?
Ela tinha de seguir alguma teoria. Alguma coisa lógica teria acontecido, mas o quê?
As pessoas começaram a agira assim depois do concerto, logo, a música tinha parado. Será que a música... Poderia ser a responsável pelo desastre? Mas... Como isso teria acontecido?
Uma vez, aconteceu de um piano andar, no meio de um ensaio de Tomoyo. Eriol o tinha enfeitiçado. Então, se tivessem enfeitiçado algum instrumento musical ali, as pessoas que escutaram sua música teriam recebido a magia e estariam sob o efeito dela.
Tomoyo caminhou até o piano. Colocando sua mão sobre a superfície do piano, não percebeu nada. O piano era normal. Decidiu vasculhar os arredores.
Nos apoios que usaram para a partitura, Tomoyo percebeu algo. Fraco, muito fraco, mas percebeu que algo poderoso tinha estado ali, ou perto dali. Refez mentalmente as posições do concerto, e se surpreendeu quando percebeu que o que estivera apoiado ali perto fora o violino!
Talvez o violino tivesse sido enfeitiçado!! Sim, Tomoyo correu atrás do instrumento, que tinha sido levado para fora do palco por Hiroyuki. Aliás, onde estaria o belo violinista? Eriol e Ruby Moon o procuravam nos vários andares e compartimentos do prédio. Às vezes, parecia que Tomoyo ouvia a voz de alguém conhecido ecoar em sua cabeça, sussurrando que estava na direção certa de raciocínio. Mas não parecia com a de Eriol. Era... Era... Que estranho! Tomoyo já ouvira aquela voz várias vezes, mas não lembrava agora. Nesse instante, ela irrompeu pelo camarim que dividia com Hiroyuki.
O violino estava ali, sobre a mesa do rapaz. Ela pegou o violino, não parecia nada alterado. Voltou para o saguão com ele, apoiando-o no local onde se encontrava durante a apresentação. Isso Tomoyo fez quase inconscientemente.
Subitamente, o violino, aparente normal, começou a emanar um suave brilho. Parecia que ele tinha algum tipo de magia que agora começava a se revelar.
Tomoyo tocou o instrumento rapidamente, num movimento suave. Percebeu que as expressões dos rostos das pessoas mudaram, de alegria para aparente calma. Tocou uma melodia triste, e os rostos se converteram numa expressão melancólica. Tomoyo começou a entender o que acontecia.
Os pensamentos das pessoas estavam ligados ao instrumento nas suas mãos. O que quer que ela tocasse teria influência direta nos sentimentos das pessoas, e, consequentemente, em suas expressões.
Então, ela teria que cortar essa ligação. Mas como? Este era o grande dilema. Sentiu que Eriol e Ruby Moon retornavam de sua busca pelo prédio. Encontraram Tomoyo sentada, com o violino nas mãos.
- Nada. Atsuhiro não se encontra em nenhum lugar desse prédio.
- Então, deve ter escapado daqui antes que esta barreira surgisse. – opinou Ruby Moon
- Se foi realmente isso, deve estar por perto. Não poderia ter ido tão longe. Aliás... Acho que não teve tempo para sair do prédio. – falou Eriol.
- Ele saiu um pouco antes de mim. – Tomoyo relembrou – e depois não o vi. Chamei, mas não respondeu. Mas se saiu, teve tempo de deixar o violino na sua mesa, no camarim.
- No camarim? – exclamaram os outros dois juntos
- Sim, encontrei isto no camarim. E está diretamente ligado ao que essas pessoas sentem...
Eriol sorriu internamente. Ela melhorava dia após dia, sempre percebendo as coisas com mais agilidade. Entretanto, Tomoyo tinha um único defeito. Confiança excessiva. Eriol não acreditava que todas as pessoas que se aproximavam de Tomoyo eram bem intencionadas...
- ... E tenho que quebrar esta ligação. Como?
- Quebre o instrumento.
Tomoyo e virou para o autor da idéia. Eriol.
- O quê?
- Quebre o violino.
- Mas isso é de Hiroyuki! Não posso!
- Então, lamento dizer, mas não há outro jeito de fazer isso. As pessoas que estão aqui ficarão assim para sempre.
- Não! Não é verdade!! Deve... Deve haver um outro jeito...
- Tomoyo, me escute. Eu sei que você gosta muito de Hiroyuki. Porém, o violino dele está impregnado de magia, e fez várias pessoas ficaram nesse estado, sem consciência. Tem que destruir essa ligação. Destrua o violino. Ele poderá muito bem comprar outro.
- SERÁ QUE VOCÊ NÃO PERCEBE?
Eriol recuou com o grito de Tomoyo. Lágrimas estavam presentes nos olhos dela, com visível indignação e agonia.
- Eriol, o instrumento musical é, para um músico, sua vida! Este violino é a vida para Hiroyuki! E jamais, escute, jamais há substituição para um artefato assim na vida!!!! – ela sentou no chão – Eriol, você não me entende... Estaria mutilando Hiroyuki, privando-o de algo precioso... E ele está sofrendo... Em algum lugar.
Eriol balançou a cabeça. O que Tomoyo falava era pura verdade, ele também tocava piano, ou ela se esquecera? Mas ali, a vida de várias pessoas estava em jogo, em troca de um sentimentalismo em relação a um objeto.
- Tomoyo... Você acha que um objeto vale mais do que a vida de todos aqui?
Tomoyo olhou o salão, repleto de pessoas inconscientes. Todas com a expressão de tristeza no rosto, causada pela última melodia que tocou. Ela se surpreendeu defendendo Hiroyuki, como se ele fosse culpado.
É, parecia que não havia jeito. O violino teria de ser quebrado. Que situação... Nessas horas, Tomoyo desejava que a magia nunca tivesse entrado em sua vida, como agora, ou, que pelo menos tivesse Sakura ao seu lado. Ela saberia encontrar a melhor solução.
Eriol não entendia nada sobre tudo aquilo. Nada. Tomoyo estivera seguindo os conselhos de Eriol como um cachorrinho obediente, sem parar para sequer refletir sobre tudo. Será que só por ser a reencarnação do mago mais poderoso que já esteve neste mundo, ele não errava? Afinal, antes de tudo, Eriol era humano. Humano. Que nem todos.
E se o violino fosse quebrado, mas mesmo assim nada adiantasse? E para explicar o problema todo a Hiroyuki? Aquele simples ato parecia que teria um grande papel no futuro.
"Tomoyo..."
Ela ouviu a voz que sussurrava estar no caminho certo outra vez. Não era de Eriol, então valia ver se o que propunha era aceitável.
"Tomoyo, pense bem... São muitas vidas em jogo..."
Outra vez, o mesmo conselho! Que coisa!
"Não é egoísmo, Tomoyo... Mas saiba que se não acabar com isso agora, tudo no futuro será inútil..."
A voz se silenciou. Ela reconheceu a voz. Era da professora Mizuki.
Como poderia... Então, ela deveria quebrar aquela bela peça em nome das vidas...
De repente, uma fagulha se acendeu na mente de Tomoyo. O que era um instrumento comparado àquilo? Se Hiroyuki tivesse poderes mágicos, ele não hesitaria em sacrificar o próprio instrumento para salvar as pessoas ali presentes! Como ela tinha sido patética!
E ainda tinha brigado com Eriol! Ele sempre esteve tentando ajudá-la nos momentos difíceis, até quando teve uma crise de raiva por seu pai... Causada por Hiroyuki.
Tomoyo inflou-se de ódio por Hiroyuki. Afinal, se o violino era dele, era muito bem feito pela dor que tinha causado à ela!
Ruby Moon e Eriol se assustaram quando Tomoyo levantou do chão, com os olhos ardendo. Eriol podia ver fagulhas de ódio nos olhos da garota. Quando se está em um estado emocional descontrolado, a magia pode ser desastrosa. Pode-se perder o controle sobre ela. E isso era perigoso.
Ela apontou o báculo para uma cadeira, onde estava o violino. Eriol se alarmou. Antes que ele pudesse fazer algo, uma rajada de fogo saiu da gema em forma de Lua do báculo de Tomoyo, atingindo o violino. A cadeira e o violino começaram a queimar, cada vez mais forte. Tomoyo caiu no chão exausta.
Fumaça. Foi tudo o que Tomoyo viu quando abriu os olhos. Pôde distinguir duas outras formas através da fumaça, que começava a se dissipar.
Uma forma tinha o cabelo curto, azul escuro, e usava óculos. Parecia bem preocupado, assim como a outra forma, de cabelo castanho e curto. Parecia que uma das faces pertencia a uma mulher, e a outra a um homem.
- Tomoyo?
Tomoyo reconheceu a voz. Era de sua mãe. Se levantou devagar, assim que os dois rostos tivessem se afastado rapidamente.
- Mãe... O que aconteceu?
- Ah, você está bem, filha! – Tomoyo foi levantada num abraço pela mãe. Percebeu que a outra figura a observava. Era Eriol.
- Sim, estou ótima, mas o que houve?
- Um incêndio. Depois da sua apresentação, um incêndio começou. A fumaça fez com que todos desmaiassem. Parece que algum dos convidados deixou um cigarro aceso cair sobre a cadeira onde o violino de Hiroyuki estava.
- O violino!! E agora?
- Ele disse que acidentes acontecem. Aliás, ele é que chamou os bombeiros, que deram um jeito aqui e acordaram as pessoas. Batalhão eficiente. Mas até tinham ido embora quando acordei, porque Hiroyuki se dispôs a tomar conta de todos aqui.
Tomoyo começou a se levantar devagar, sendo amparada por Eriol e Sonomi. O canto do salão onde ateara fogo estava cheio de destroços do incêndio recente e a parede estava negra. Ela se firmou em pé, e comunicou que iria arrumar as coisas no camarim.
Ela foi seguida por Eriol, e constatou que nada ali havia sido danificado. Nakuru estava deitada sobre um sofá, e Hiroyuki estava sentando ao seu lado. Notou que ela parecia não ter acordado.
- Tomoyo? Ah, que bom que levantou!
O violinista sorriu para a garota, que retribuiu o sorriso.
- Como está Nakuru?
Ela e Eriol se aproximaram da garota, que parecia dormir.
- Bem. Apenas inconsciente. Ela já balbuciou algumas palavras, e eram o seu nome e o de Eriol. Depois, se aquietou e está assim há alguns minutos.
Tomoyo olhou apreensiva para a amiga. De repente, sentiu a mão de Eriol no seu ombro.
- Sim?
- Eu vou lá fora. Tenho que fazer um pequeno telefone, tudo bem?
- Tudo. Eu vou ficar aqui até Nakuru acordar.
Eriol confirmou silenciosamente com a cabeça e saiu, não fazendo mais barulho do que um gato. Ela tornou o seu rosto para Nakuru.
Dois minutos depois, Nakuru começou a se mexer, e despertou.
- Nakuru! – Tomoyo sorriu, aliviada.
- Tomoyo! Hiroyuki... Nossa, o que houve?
- Um incêndio. Um descuido de um dos convidados acabou por intoxicar todos com a fumaça do incêndio provocado por ele. Além disso, queimou o meu violino.
- O seu violino? Mas, Hiroyuki... – Nakuru tentou levantar, mas foi impedida por Hiroyuki e Tomoyo.
- Não tem importância. É apenas um instrumento, contra muitas vidas.
Tomoyo suspirou, aliviada. Que bom que não tinha havido nenhuma conseqüência dos atos dela... Todos achavam que havia sido um mero acidente, nada mais, onde Hiroyuki recebera todos os méritos... Mas... Onde se encaixava Hiroyuki na causa do verdadeiro incêndio? Como ele poderia ter chamado o corpo de bombeiros se aquela hora o fogo não tinha ao menos começado?
Eram muitas perguntas estranhas, muitas mesmo. Mas ela não tinha tempo de pensar em respostas para elas agora, ou consultar Eriol. Eriol... Ela tinha tido, há horas atrás, ódio suficiente para lhe fazer algo ruim. Decerto, ela deveria pensar melhor sobre as pessoas... Ela confiava demais nos outros... Talvez ser mais desconfiada como Li trouxesse maiores resultados.
- Eriol!
Tomoyo despertou de seus devaneios com o súbito grito de Nakuru:
- Nakuru! Que bom que acordou!
Eriol caminhou até Nakuru, e, Tomoyo presenciou um dos raros momentos de emoção para com Nakuru. Eriol parecia realmente feliz de vê-la, e a abraçou com tanta força que quase a sufocou.
- Muito... Muito obrigado, Eriol, mas você está me sufocando!
- Ah, me desculpe, Nakuru. – ele soltou a garota – Vamos para casa?
- Sim, vamos... Eu quero tomar um banho e dormir.
Nakuru se levantou, apoiada em Eriol.
- Mas, como vão embora? Nakuru veio com Hiroyuki, e você veio comigo, Eriol! Estão sem carro!
- Não se preocupe. Eu chamei um táxi. Nos vemos amanhã, então, Hiroyuki.
Tomoyo estranhou:
- Amanhã?
- Sim, amanhã. Aliás, nos vemos todos amanhã. Uma reunião para todos da escola foi convocada. As aulas começam segunda, mas querem dar uma prévia de tudo amanhã.
- É mesmo! Minha mãe me tinha falado de alguma coisa, mas não tinha dado atenção.
- Bom, vamos indo. Boa noite para todos.
Nakuru e Eriol saíram, depois se despedirem corretamente de Hiroyuki e Tomoyo. Esta virou-se para o jovem sentado ao seu lado.
- Acho que também devemos ir...
- Decerto. Posso lhe oferecer uma carona?
- Não, muito obrigada. Minha mãe está de carro, e vai me levar. Bom, eu vou indo. Até amanhã, Hiroyuki.
- Até amanhã, Tomoyo. A propósito, meus parabéns. Sua performance foi maravilhosa!
- Obrigada, mas a sua também foi espetacular!
- Imagine. Me diga só mais uma coisa: aprendeu piano por quê?
Tomoyo parou para pensar. Por que tinha aprendido piano? Porque tinha de saber tocar um instrumento musical para ingressar na faculdade, era um fato, embora gostasse mais de cantar. Mas... Por que o piano?
- Tive de aprender um instrumento para entrar na faculdade. Acho que é isso... Hiroyuki, eu realmente tenho que ir. Até
Tomoyo deu um beijo rápido na face do rapaz, e saiu apressada do quarto. Se dirigiu para onde a mãe já a esperava. Sonomi já tinha recolhido todos os pertences de Tomoyo, e tão logo ela chegou, as duas embarcaram no carro de volta para casa.
- Tomoyo! O concerto foi um sucesso!! Você e Hiroyuki tocaram com muita habilidade! Parabéns, filha! – Sonomi abraçou Tomoyo dentro do carro.
- Obrigado, mãe. Mas... E o incêndio?
Sonomi tinha uma expressão estranha, mas respondeu:
- Bom, acho que não vão comentar. Ninguém sabe porquê, mas desconfio que Hiroyuki fez algo para que isso tudo não chegasse aos ouvidos da imprensa. Não foi um grande incêndio, mas deixou gente desacordada.
- Entendo. Mãe, por que não me avisou que tinha reunião na escola amanhã?
- Você tem? Não é uma reunião para os pais?
- Eriol e Hiroyuki disseram que não, é para os alunos. Eu não lembro de você ter me falado sobre ela...
- É, realmente acho que me enganei... Mas as aulas só começam na segunda-feira, não?
- Sim, é verdade. Estranho. Não tivemos essa reunião em anos anteriores...
Conversando sobre coisas cotidianas, as duas chegaram na casa de volta. Já era extremamente tarde, e Tomoyo não perdeu tempo. Subiu, trocou de roupa e logo dormiu.
De manhã cedo, percebeu que estava tudo nublado. O tempo tinha fechado, e parecia que uma tempestade iria cair a qualquer momento. Tomou banho e colocou o uniforme da escola. Era uma saia azul, com uma blusa branca. Era a mesma roupa para os meninos, só que com uma calça no mesmo tom da saia. Nos dias frios, um casaco muito bonito, também azul, era aceito. Ia saindo do quarto quando notou algo estranho. A presença da magia que Eriol usou para "consertar" a porta e a parede tinha sumido. Então Tomoyo entendeu porque Suppi não tinha dado as caras no seu concerto, nem aparecido quando Eriol chamou os guardiões. Ele estava em serviço. Coitado...
Desceu rapidamente para tomar seu café. Sua mãe já tinha saído, como lhe informaram. Tudo bem, iria sozinha à escola. Afinal, era o único lugar onde as suas guarda-costas não a seguiam, por ser tão perto. Tomoyo não sabia, mas elas as seguiam sim, de longe.
Arrumou rapidamente sua mala e apanhou um guarda-chuva, e deu início à sua caminhada para a escola. Não tinham se passado dois minutos, um temporal desabou. Ela abriu o guarda-chuva, e continuou seu trajeto. De repente, ouviu um barulho de passos crescentes atrás dela. Tomoyo se virou, para encontrar Eriol, na sua frente. O garoto estava... Encharcado até os ossos. Água escorria pelas lentes de seus óculos e todo o seu cabelo estava caído sobre o rosto. Tomoyo não pensou muito para achar que ele ficava muito melhor assim.
- Eriol! – Tomoyo cobriu o rapaz com seu guarda-chuva – Como você sai de casa com um tempo assim?
Eriol tomou fôlego, e sorriu para Tomoyo:
- É um mal dos homens. Eu sempre carrego um comigo, mas hoje tive alguns problemas, e não peguei o meu.
Rindo, os dois fizeram o percurso até a escola. Quando chegaram, Eriol deu um "jeitinho" para se secar. Os dois entraram na sala de aula.
A sala da faculdade lembrava demais a classe onde tiveram todo o ensino fundamental. As carteiras eram dispostas mais ou menos da mesma forma, e os alunos circulavam por elas livremente antes do início das aulas. Tomoyo e Eriol se apropriaram de duas cadeiras, na mesma posição que haviam usado na quinta série. Hiroyuki chegou pouco depois, e sentou-se ao lado de Eriol, na posição que Shaoran ocupava. E, no lugar antigo de Sakura...
- Yuki!
- Tomoyo!
As duas se abraçaram, sorrindo. Depois, Yuki, a balconista da loja de música que Tomoyo visitava com freqüência, sentou-se ao lado de Tomoyo.
- Por que não me contou que iria fazer a faculdade de música comigo?
- Porque não queria estragar a surpresa!
- É, realmente estou surpresa. Conhece alguém daqui?
- Sim, duas meninas. Aquela, de cabelo curto, preto. Sakin Iwano. E aquela outra, de cabelo loiro, mais ou menos no ombro, Nathalia O'hana. Nathalia é americana. Mas fala bem o japonês. Ela e Sakin são amigas, acho.
Tomoyo observou as duas. Pareciam ser muito legais, garotas comuns. Mas antes que pudesse chegar a qualquer conclusão, a professora entrou e todos silenciaram.
A professora, de nome Kazumi Arakami, aparentava ser mais ou menos jovem. Muito bonita, tinha cabelo liso e longo, bem negro, assim como seus olhos. Tinha uma pele clara, e lembrava Tomoyo de alguns jeitos. Usava uma blusa de gola alta sem mangas e uma saia na altura do joelho, ambas as peças azul marinho. Alguns alunos ficaram subitamente interessados no que a professora tinha para dizer.
- Bom dia a todos. Hoje é apenas uma prévia das aulas, com o sistema de avaliação, códigos de ética para a conduta correta de vocês e minha aqui dentro e mais alguns avisos.
A classe concordou silenciosamente.
- Ah, sim! Vocês terão vários professores, cada um ensinando uma matéria diferente. Mas eu serei a responsável por ensinar a maior parte correspondente à música, propriamente dita. E também fui designada para ser a tutora desta classe.
O resto da aula transcorreu sem maiores problemas, com todos os avisos que tinham de ser dados. Algum tempo considerável depois, um sinal bateu, indicando um intervalo para os alunos.
Eriol, Tomoyo, Yuki e Hiroyuki saíram para um imenso pátio, muito iluminado. Agora o Sol tinha saído, e, embora tivessem áreas cobertas, os quatro preferiram sentar embaixo da sombra de uma árvore, como há muitos anos. Estavam na faculdade, onde havia um refeitório e tudo, mas o velho espírito de criança ainda os dominava.
- Então, o que acharam da nossa tutora?
- Ela é bonita. – disse Hiroyuki
- Só isso? Bonita? Isso não é tudo o que conta numa professora, é? – argumentou Yuki
- Claro que não. Mas é um fator que conta muito para alguns alunos prestarem atenção. – contemporizou Eriol.
- E as garotas, como ficam? – atacou Yuki.
- Nós somos mais aplicadas, Yuki. Não precisamos de estímulos extras para prestar atenção.
Risadas gerais. Parecia que um novo grupo de amigos estava se formando. Yuki correspondia à Sakura, Hiroyuki a Shaoran, e Eriol a Eriol mesmo, assim como ela, embora mudanças sensíveis tivessem se operado nos dois. Para completar, a amizade de Eriol e Hiroyuki era muito parecida com a de Eriol e Shaoran: cheia de desconfianças.
O sinal tocou, e todos voltaram às aulas. Mais avisos, mais esquemas, e, até que em fim, foram liberados. Tudo só começaria mesmo segunda-feira.
Os quatro caminhavam juntos pala rua. Tinham conseguido convencer Sonomi deixar Tomoyo tomar um sorvete, junto com o novo grupo de amigos. Bem, não tão novo assim.
Ao entrarem na sorveteria, encontraram Nathalia e Sakin. As duas conversavam animadamente, e convidaram os quatro para se sentarem. Todos aceitaram, e, depois de pegarem os sorvetes, sentaram.
- Tudo bem? Sou Sakin Iwano.
- E eu Nathalia O'hana.
- Prazer. Tomoyo Daidouji.
- Hiroyuki Atsuhiro, muito prazer.
- Eriol Hiiragizawa.
- E eu me recuso a me apresentar!
Sakin e Nathalia riram junto com Yuki, mas logo começaram a conversar. Em pouco menos de uma hora, todos já se falavam como se fossem amigos há muito tempo. Sakin disse que ficou impressionada sobre o concerto de Hiroyuki e Tomoyo, que agradeceram. Disse que sua mãe tinha sido convidada e lhe dissera que foi fantástico! Por outro lado, Nathalia e Eriol conversavam um pouco em inglês, embora houvesse um pequeno problema para a compreensão total de Yuki.
Duas horas depois, Tomoyo comunicou que tinha de ir. Eriol decidiu acompanhá-la, e os dois se despediram. No caminho para as respectivas casas, os dois analisaram as garotas novas.
- Gosta delas?
- Bastante. São muito inteligentes e educadas.
- Me lembram Chiraru e Rika, de uma maneira geral.
- É verdade, Tomoyo. Ah! Me diga uma coisa: você e Hiroyuki estavam bem compenetrados na conversa de Sakin?
- Bem, eu sim, mas por várias vezes eu vi Hiroyuki olhando estranho para Nathalia. Acho que tentava entender a conversa. Senão me engano, ele sabe inglês, mas só o básico, e não fluente, como o de vocês.
Eriol sorriu misteriosamente, o que levou Tomoyo a indagar o porquê do sorriso.
- Nada, Tomoyo, nada. Mas é que... Bom, se me entende, Hiroyuki é um rapaz muito atraente.
Tomoyo processou a informação recebida em segundos, e começou a rir.
- Então era por isso que vocês falaram em inglês!
- Sim, era por isso.
Em instantes, os dois se despediram e entraram cada um na sua casa.
- Tomoyo?
- Sim?
Tomoyo ia subindo a escada, mas foi chamada e voltou. Na sala, encontrava-se... Sua mãe?
- Mamãe? O que está fazendo aqui? Não ia trabalhar hoje?
- Sim, mas acabei voltando. Era seu primeiro dia na faculdade... Me diga, como foi, filha?
Tomoyo se sentou. Tinha impressão de que sua mãe não se lembrava que ela já tinha 17 anos, quase 18. Mas, tudo bem.
Ela contou detalhadamente sobre a escola, sobre a professora, sobre os novos amigos. Relatou sobre o que tinha achado de Sakin e Nathalia, e sua mãe reconheceu o sobrenome de Sakin. A mãe de Sakin é uma das grandes "secretárias" de Sonomi. Bem, não exatamente uma secretária. É empregada como tal, mas é confidente e amiga de Sonomi também. Tomoyo não sabia que ela tinha uma filha da idade dela.
- Você nunca me falou sobre Sakin!
- É mesmo, querida... Ah sim! Sakin passou estes últimos três anos no exterior. Eu não a vejo há anos! Se eu tivesse sabido que tinha retornado, teria a convidado para o concerto.
Conversaram um pouco mais, e Tomoyo decidiu ir ao seu quarto, para arrumar algumas coisas. Sonomi concordou, e a garota desapareceu de vista.
Depois de terminar seus afazeres, Tomoyo se jogou em uma cadeira na varanda. Olhou o céu da tarde, e seus olhos pousaram no telefone. Estava com vontade de sair... Era uma quarta-feira, mas será que a nova "turma" aceitaria sair sábado ou sexta? Hummm... Talvez...
Então ela lembrou: Sakura! A quanto tempo não falava com a amiga? Isso era tão estranho, a pessoa a quem Tomoyo mais amava na vida era esquecida por ela própria. Mas... Por quê?
Tomoyo não conseguia compreender. Ela tinha sentido muita falta de Sakura durante todos esses anos, mas depois da chegada de Eriol, ela não pensava com tanta freqüência na amiga... Por mais que Tomoyo fosse esperta, não conseguia entender por que...
Andou rapidamente até o telefone, mas antes que pegasse no mesmo, ele tocou. Ela atendeu:
- Tomoyo Daidouji falando.
- Tomoyo! Sou eu, Yuki!
- Oi, Yuki! Tudo bem?
- Claro, já voltei para a loja... Me diga, Tomoyo, não quer sair comigo, Nathalia, Sakin, Eriol e Hiroyuki no sábado?
- Claro que sim! Eu tinha pensado a mesma coisa, Yuki!
As duas riram, e Tomoyo retomou:
- Claro, eu vou. Já falaram com todos?
- Bom, mais ou menos... Sabe, a Sakin e a Nathalia estão confirmadas, assim como você e eu. Mas os garotos... Bem, você é quem mais os conhece, sabe? Então... Será que... Bem...
- Quer que eu os convide? Não tem problema para mim.
Yuki respirou aliviada:
- Obrigada, Tomoyo! Você não imagina como estou contente!
- De nada!
- Ah sim! O irmão da Nathalia... Um outro americano... Ele também pode vir? Ele é um pouco mais velho do que nós, idade do Hiroyuki e do Eriol.
- Pode sim. Mas por que esse tom de voz?
- Ah, Tomoyo... Ele é lindo!! Maravilhoso! A Nathalia tem o irmão mais bonito que eu já vi!
Tomoyo avaliou Yuki: ela sempre estava atrás de rapazes bonitos, e isso era um dos grandes defeitos dela. Ela não tinha noção de quão chato isso pode ser. Como amiga, Tomoyo devia dar um toque a ela, mais tarde.
- Entendo, entendo...
- Só que... – Tomoyo já conhecia esse tom de voz da amiga
- Quem está com ele?
- Ninguém, mas... A Sakin já vem suspirando por ele há muito tempo... Sem contar que os dois se conhecem desde que Nathalia e ela viraram amigas!
- E qual o nome dele?
- Vincent O'hana.
- O sobrenome eu sei, não precisa falar, Yuki!
As duas riram de novo. Depois, Tomoyo e Yuki se despediram e desligaram.
Ela ligou para Eriol e Hiroyuki, e, surpreendentemente, foram os dois que atenderam as ligações. Eles se mostraram muito contentes e aceitaram rapidamente. Eriol discutiu rapidamente um plano para deixar Hiroyuki e Nathalia a sós. Sakin ira se divertir com Vincent. O problema seria Yuki.
- Ah... Não se preocupe! Você não a conhece!
- O quê quer dizer com isso?
- Que Yuki fica muito ocupada com passeios noturnos. Vai esquecer da gente, aposto. Portanto, temos mais problemas com Nathalia, mesmo. Sakin vai sacar na hora, você vai ver.
- Bom, eu realmente não arrisco prever os movimentos de uma mente feminina, mas você tem prática. Veremos no sábado se nossas hipóteses e planos darão certo.
- Sim, está certo. Nos vemos sábado, então.
- Ou antes.
Tomoyo sorriu:
- Ou antes, também.
- Até logo, Tomoyo.
- Até mais, Eriol.
Tomoyo pousou o telefone, e decidiu que iria comprar algo novo para usar no sábado. Não era dada a esse tipo de capricho, mas de vez em quando...
Saiu calmamente, ainda com o uniforme da escola. Foi para o centro da cidade, onde as melhores lojas se encontravam, principalmente a sua favorita. Não tinha levado mais do que quinze minutos para fazer o caminho e já estava observando a vitrine quando levou um grande encontrão em alguém.
Tomoyo recebeu as desculpas em inglês, e, quando se virou, achou Nathalia, bem ao seu lado, se desculpando. Tomoyo a tranqüilizou em seu idioma, e as duas sorriram, entrando na loja juntas.
- E então, Tomoyo? O que acha desta? – Nathalia exibia uma linda saia preta, reluzente.
- Nathalia, perfeita! Vai ficar bem com a blusa sim! – Tomoyo pegou o cabide que a amiga segurava – Muito obrigada! Agora já tenho a roupa!
- E eu também, graças ao seu senso de moda! – Tomoyo agradeceu e rindo, as duas foram para o caixa. Tomoyo tinha comprado uma blusa de manga três quartos violeta, cor de seus olhos, mais a saia preta, com um cinto. Nathalia tinha escolhido uma calça com efeitos na barra dourados, mas uma frente única cheia de contas douradas.
Enquanto pagava, Tomoyo percebeu uma mão no seu ombro. Era de Nathalia. Olhou para a garota. Os olhos dela não tinham pupilas...
FIM DA OITAVA PARTE
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Mari-chan.
