CAPÍTULO DEZ – EMOÇÕES PARALELAS

Como podia ser aquilo? Um carro que os tinha seguido o dia inteiro ter chagado até ali? Não, Tomoyo estava vendo coisas... Olhou de novo, e percebeu que Hiroyuki ainda admirava o céu noturno, não notando nenhum barulho anormal ou até mesmo seus movimentos.

Um carro, um carro... Um carro que só ela pareceu notar. Por quê? Só ela podia ver o carro, então? Será que isso poderia ser uma espécie de... aviso? Para ela, somente ela?

Mas se fosse um aviso, não teria sido perseguida daquele jeito, teria? Quantas dúvidas... Continuando a observar o carro, Tomoyo esfregou os olhos, mas o carro não saiu dali, e entrou numa trilha, na floresta próxima. Ouviu o barulhinho do motor sendo desligado, e o jovem do seu lado nada notava.

Tomoyo estava ficando preocupada e ao mesmo tempo nervosa. O que aquele carro estranho queria? Nesse momento, o jovem se mexeu, e Tomoyo olhou para ele.

- Algum problema, Tomoyo? Parece meio... Preocupada.

- Não, Hiroyuki. É impressão sua. – a garota olhou para a linda Lua de novo, e acrescentou – A Lua daqui é ainda mais linda do que vista da cidade, até mesmo da sua sacada maravilhosa!

Ele riu:

- Sim, aqui não tem nada que atrapalhe o céu noturno. Se não tiver sono hoje, podemos estudar as estrelas. É algo fascinante. E ao mesmo tempo único. É bem mais difícil em Tomoeda.

- Não é preciso de um telescópio ou algo do gênero?

- Não, não é preciso. – Hiroyuki balançou a cabeça negativamente – O céu é tão limpo que apenas um mapa das constelações é tudo o que temos que ter em mãos.

- Então, eu não vejo porque não observar o céu depois do jantar.

- Está combinado. – ele sorriu.

Tomoyo sorriu de volta, se sentando em uma cadeira ali presente. Ela fechou os olhos, e a imagem da Lua estava na sua mente. Ela, ao contrário de muitos, não achava a Lua uma coisa fria e distante, mas sim algo ao alcance de nossas mãos, capaz de nos confortar com luz quando tudo escurecia. Uma visão diferente, decerto, com certeza causada depois que tinha recebido poderes mágicos.

Ouviu um barulho ao seu lado. Hiroyuki acabava de sentar-se, Tomoyo não precisava sequer abrir os olhos para saber disso. Ela ouviu a voz dele novamente:

- A imagem da Lua está em sua mente?

Ela abriu os olhos:

- Da Lua?

- Sim, da Lua. – ela viu que agora era Hiroyuki quem estava com os olhos fechados – A Lua daqui exerce um fascínio maior em algumas pessoas do que o por-do-sol, assim por dizer. E eu acho que esse é o seu caso.

Ela se levantou devagar, se sentando no balcão, pensando nas palavras de Hiroyuki, virada de costas para ele, e de frente para a Lua.

- Sim, é verdade. Você está certo.

Ela o ouviu se levantar, e escutou o barulho de algo que lembrava um riso bem baixo.

- Que coisa incrível. Acho que eu consigo acertar o seu perfil, então.

- Como assim?

- Eu acho que consigo definir sua personalidade e seus gostos, pelo que conheço de você e também através do que a Lua me diz.

- A Lua?

- Sim, essa Lua é especial. Ela hipnotiza as pessoas. Quando as pessoas estão hipnotizadas, elas se abrem interiormente, até a alma, através dos olhos. É possível enxergar algumas coisas, e tentar interpretá-las.

Tomoyo arregalou os olhos, e voltou-se para Hiroyuki.

- Fala sério?

- Depende. Acredita no que eu disse agora?

- Sim e não. Acho que dá para se saber sobre a pessoa através dos olhos, porque eles não mentem. – Sentiu Hiroyuki conter um gesto de espanto quando falou isso – Mas discordo sobre a parte da interpretação. Qualquer um pode se enganar.

Ele sorriu:

- Você é a primeira que não se deixa levar por adivinhações. – ele andou até o lado de Tomoyo.

- Hiroyuki, eu nunca me deixei levar. – Tomoyo tinha um tom de voz suave, mas ao mesmo tempo autoritário.

- Eu acredito. Mas algumas vezes o seu controle tão rígido deve ter sido quebrado. – ele se virou para ela.

- Não tenho um controle rígido, mas sim um controle normal. Mas se quer realmente saber, esse controle já me faltou algumas vezes sim...

- Isso é ótimo... Nem sempre o corpo segue o coração e vice-versa...

Tomoyo se virou para perguntar o que aquilo significava quando sentiu que os braços de Hiroyuki a enlaçavam. Ela não entendeu nada. Ele aproximou os dois corpos cada vez mais, mas não abraçou Tomoyo. Ela não sentiu a cabeça de Hiroyuki encostar em seu ombro, como de manhã.

O perfume do jovem começou a impregnar o ambiente. Tomoyo começou a se sentir embriagada pelo aroma suave dele. Ela fechou e abriu os olhos, para encará-lo.

Quando os abriu, encontrou os olhos de Hiroyuki a menos de centímetros dos seus, com a ponta dos narizes quase se tocando. Ela sentiu sua face esquentar, mas ele não tinha nenhum traço de mudança aparente na sua face, apenas um sorriso leve e encantador.

Aproximando-se mais, Tomoyo não fechou os olhos, porém ainda mais corada. Então sentiu algo que ela jamais esqueceria.

Os lábios de Hiroyuki encontraram os seus. Ela sentiu uma sensação cálida, que ia preenchendo lacunas no seu corpo, frio do sereno da noite. E a sensação aumentava, cada vez mais. Um misto de prazer, nervoso, ansiedade, curiosidade, culpa, estranheza e muito mais circulava pelas suas veias, ao invés de sangue, como pensava Tomoyo.

Ela sentiu que as mãos dele dançavam no seu cabelo, agora solto, com carinho. Era um sentimento bom, mas parecia ter algo de errado nisso. Tomoyo não conseguia analisar aquilo direito, sempre tendo sua consciência nocauteada pelo suave perfume de Hiroyuki. Ela quase não oferecia resistência.

Hiroyuki a puxava para junto dele, sempre, em um beijo longo. Involuntariamente, Tomoyo passou seus braços pela nuca de Hiroyuki, sem soltar-se dele. Ela estava em um estado de espírito tão estranho que não conseguia pensar. Não conseguia falar. Não conseguia se mover direito. Não conseguia separar-se dele. Não conseguia parar com aquele beijo. De vez em quando, Tomoyo lembrava-se de respirar.

Com um movimento brusco, Tomoyo soltou Hiroyuki, e eles se afastaram. A consciência retomou seu lugar, e com um estalido, todas as funções básicas de Tomoyo voltaram a funcionar. Sua mente clareou, e ela se pôs a pensar novamente.

Ofegante, ela assustou-se quando percebeu o que a tinha separado de Hiroyuki. A presença de Eriol.

O rapaz sorriu, caminhou até Tomoyo e colocou a mão direita no rosto dela, com suavidade, olhando nos olhos dela por alguns instantes. Tomoyo recuou um pouco, mas ele logo virou-se de costas e saiu do quarto.

Tomoyo escorregou para o chão da sacada, ainda respirando pesadamente. Primeiro, recapitulou a sensação do beijo.

O beijo... Tomoyo tinha sido beijada daquele jeito pela primeira vez.

A primeira vez.

A primeira vez, a que nós nunca esquecemos.

A primeira vez, a que nós nunca esquecemos, porque é algo único.

Único?

Será mesmo? Tomoyo colocou o dedo indicador e médio sobre os lábios. Ainda podia sentir o calor dos lábios de Hiroyuki. Tentou analisar aquela sensação.

Era uma mistura de tudo da vida. Mas, por que havia um ou outro sentimento negativo?

Segundo o que conhecia e ouvia sobre o primeiro beijo, era algo que só trazia coisas boas. Mas alguns sentimentos como culpa, remorso, até alguma raiva estavam presentes... Então havia algo errado ali.

E por que não tinha conseguido pensar direito? Por quê? Na teoria, aquilo não deveria ter acontecido. Ela deveria ter sentindo o beijo, tudo bem, mas não ao ponto de não conseguir pensar e se separar dele, ao ponto de quase esquecer de respirar.

Então lembrou do fato que a fez recobrar os sentidos, e praticamente fazer com que voltasse a si. A presença. Mas não de qualquer um. De Eriol.

Mas por que ele? Ela levantou-se. A presença já tinha sumido novamente, aparecendo e sumindo tão rápido quanto no almoço daquele dia. Eriol... Estava imaginando coisas ou aquela presença realmente estivera ali?

E o carro? O carro que ninguém parecia ver, mais a presença. Pareciam estar interligados. Toda vez que Tomoyo via um, sentia o outro. Achou melhor descer e verificar se um carro realmente estava ali. Se fosse sua imaginação, bem... Achava que teria que contratar um analista. Tomoyo não riu dessa observação. Era bem sério. Nunca a magia tinha trazido problemas antes, não haveria de começar agora.

Se levantou e caminhou para dentro do quarto, se largando na cama imensa. Olhando para o teto, deixou a consciência fluir. Era bom não pensar em nada para refletir. Nada...

- Tomoyo!

Mas não conseguiria pensar em nada agora, com a sua mãe chamando...

Elas se sentou devagar, focando os olhos na porta, na figura de sua mãe, e começou a falar:

- O que foi, mãe?

- Telefone. É a Nakuru. - sua mãe começou a rir sozinha, como sempre, quando mencionava Nakuru. Tomoyo se levantou para pegar a extensão do telefone.

- Obrigada, mãe. Posso fazer uma pergunta?

- Po-pode sim, fi...Filha.

- Por que você veio me avisar que era a Nakuru, não alguém da casa?

- Uma das moças vinha aqui. Mas como eu queria ver você e era a Nakuru... Eu aproveitei. Bom, mande lembranças minhas para ela!

Sonomi virou-se, fechou a porta do quarto e desceu as escadas, segundo deduziu Tomoyo, pelo barulho. Pegou o fone, pensando em como sua mãe ficava estranha quando falava com Nakuru. Era algo parecido com um descontrole... Não, era uma máscara. A máscara de seriedade de Sonomi caía quando Nakuru aparecia.

- Alô?

- Oi, Tomoyo!

- Nakuru! Tudo bom? Como me achou aqui?

- Minha amiga, temos meios de achar você até da Lua!

- Tudo bem, tudo bem... Me diga, algo em especial?

- Hum-hum. Quantos dias vai ficar com Hiroyuki? – Tomoyo sentiu um certo desespero na voz de Nakuru.

- Dois dias. Volto sábado de manhã.

- SÁBADO??

- É, sábado.

- Ah, Tomoyo! Quanta sorte você tem!

- Calma, Nakuru! O Touya está aí, lembre-se!

- Ah, ele é meu desde o início dos tempos! Eu estou preocupada com a minha outra propriedade particular!

- Propriedade particular?

- Sim, o deus grego do Atsuhiro!

Tomoyo quase caiu. Quase.

- Nakuru!

- Anh... Que aflição!

- Olha, eu cuido dele direitinho, está bem?

- Tá, eu confio em você... – Nakuru tinha um tom choroso.

- Obrigado. – Tomoyo sorriu, mesmo que Nakuru não visse. Então notou – Como as coisas estão quietas por aí...

- Sim, estão. Eu dei um jeito em tudo!

- Como? – Tomoyo escutou barulho de algo estalando. Madeira.

- O Suppi tá bêbado. Então ele para quieto.

- Para os seus parâmetros. Mas e o barulhinho de madeira estalando?

- É da gaveta.

- Gaveta?

- É. O Suppi tá trancando lá dentro.

- Nakuru... – Tomoyo olhou o relógio – Meu Pai! Tenho que descer para jantar, Nakuru.

- Tudo bem. Boa noite, então, Tomoyo!

- Para você também. Dê boa noite aos outros também!

- Ah! Aproveite as estrelas! Dizem que é maravilhoso aí!

- Como sabe?

- A telefonista me contou. Boa noite.

- Boa noite!

Tomoyo desligou, pensando em Nakuru. Propriedade particular... Essa era nova....Bom, era hora de jantar, e encarar Hiroyuki... Arrumou-se melhor, ajeitando a roupa e desceu.

Dirigiu-se para a sala de jantar, mas não encontrou ninguém, apenas a mesa posta. Dando um tapa na própria testa, lembrou que todos deveriam estar na sala de estar. Quando refez o caminho e seguiu até a outra sala, ela queria que não tivesse de entrar ali.

Todos já se encontravam ali, e conversavam. Mas, quando Tomoyo entrou, todos olharam para ela com uma expressão de alegria difícil de ser escondida, por mais que tentassem. Hiroyuki era exceção, calmo e com um belo sorriso, apenas. Mas parecia que todos os adultos já sabiam do ocorrido. Mas... Como? Hiroyuki já adiantara-se tanto?

Kazuaki levantou-se e pediu para que o acompanhasse até a sala de jantar, onde todos tomaram seus lugares e sentaram. O jantar foi servido, e enquanto os empregados da casa passeavam por entre pratos fumegantes e copos de bebidas, eles conversavam.

- O que Nakuru queria, filha?

- Saber quando eu retornava para Tomoeda. – respondeu Tomoyo, rapidamente apanhando um copo com água para beber e desviar o olhar de Hiroyuki, focado nela durante todo o jantar.

- Hum... Entendo. Como ela vai?

- Muito bem.

- Mande os nossos cumprimentos a ela, da próxima vez que a vir, Tomoyo, por favor. – pediu Ayumi.

- Claro, senhora Ayumi. Eu farei isso. Com licença. – Tomoyo se levantou da mesa.

- Já terminou tudo? – perguntou Kazuaki.

- Sim, tudo estava ótimo, obrigada. Eu vou subir para o meu quarto. Boa noite.

Saiu da sala e subiu para o seu quarto, caminhando elegantemente. Que raiva estava sentindo daquele olhar de Hiroyuki... Era muito penetrante, parecia que ele podia enxergar a sua alma... Lembrava muito o que Eriol exibia naturalmente. Eriol...

Abriu a porta e se jogou na cama, tentando voltar seus pensamentos antes do telefonema de Nakuru. Fechou os olhos, pensando outra vez em Eriol.

Mas que coisa interessante de ser notada... Tomoyo pensava com uma freqüência constante nele, de tal forma que parecia sentir a presença do jovem mago ali perto. Mas que absurdo...

De repente, com um estalo, lembrou que precisava falar com Sakura. Fazia quase uma semana que não ligava para a amiga. Estava tão confusa, precisava do apoio dela.

Discou o número de Sakura. Depois de algum tempo gasto com telefonistas e outras coisinhas, alguém atendeu, em chinês. Tomoyo rapidamente retrucou em japonês, e a pessoa do outro lado mudou para o japonês imediatamente.

- Residência do clã Li.

- Por favor, a senhorita Sakura Kinomoto se encontra?

- Sim. Um momento, por favor. Quem deseja?

- Tomoyo Daidouji.

Tomoyo esperou alguns minutos. Nesse meio tempo, ela ouvia várias vozes de mulheres, provavelmente das irmãs de Shaoran, pelo que lembrava delas. Finalmente, alguém pegou o fone.

- Tomoyo?

- Sakura! Há quanto tempo!

- É mesmo, amiga! Como vão as coisas em Tomoeda? Você, meu pai, meu irmão, o Kero, o Yukito e o Yue...

- Todos vão muito bem, Sakura, não se preocupe! – Tomoyo sorriu – Estamos todos com saudades!

- Eu também... Mas eu prometo voltar logo, logo... Se não fosse pelo acidente da Meilin!

- É, o Shaoran me contou. Que horror! Ela melhorou?

- Hum-hum. Ela não gosta muito do hospital, mas está convivendo... – as duas garotas riram - Ela não suporta ficar ali parada.

- Acho que você também não gostaria, não é?

- É verdade! E o Eriol?

- Eriol?

- Sim. Ele não está mais na Inglaterra, acabei de descobrir. Ele agora é seu vizinho!

- Como soube?

- Eu não fazia idéia até ele me contar. E você não me disse nada! – Sakura começou a rir, seguida por Tomoyo.

- Era uma surpresa, Sakura... Mas você já descobriu...

- Ah, nesse caso, me desculpe então!

- Não, está tudo bem!

- Que bom! – Sakura animou-se – É legal a casa onde você está?

- Anh?

- A casa onde você está agora... Você não viajou com um amigo?

Tomoyo nem pensou em quem tinha contado isso à Sakura. Se Nakuru sabia, ou Eriol tinha contado ou ela tinha descoberto. Dava tudo na mesma, no final das contas...

- Eriol te contou isso também?

- Sim! Mas me fala, como é esse menino?

- O Hiroyuki?

- Isso! Eu não lembrava o nome dele, uiui!

- Ele é muito gentil, educado... Além de um ótimo violinista!

- Shaoran me disse que ele já tocou aqui.

- É, ele me contou.

- E as irmãs dele gostaram muito dele. Eu não sabia que elas gostavam de música clássica.

Tomoyo riu:

- Sakura, acho que você não deve ter visto uma foto ou descrição dele, mas Hiroyuki Atsuhiro é um rapaz muito bonito. Pergunte para Nakuru.

- Ah é? Eu não sabia dessa...

- Agora sabe.

- Mas nada supera o meu Shaoran! – as duas riram de novo.

- E o que vão fazer hoje? Ou o que já fizeram, não sei. Me conta, vai! – Sakura retomou a conversa, ainda rindo.

Tomoyo engoliu em seco, mas a amiga não percebeu.

- Não fizemos nada de importante até agora, só conheci a casa e desfiz as malas. Combinamos de estudar as estrelas de noite, no balcão da sacada do meu quarto. É o melhor lugar para isso.

- Nossa, que romântico, Tomoyo!

- Sakura!

- Não me leve a mal, é apenas um ponto de vista...

- Eu entendo... Mas aqui é muito bonito. O céu é mais claro, e as estrelas, assim como a Lua, são muito mais brilhantes.

- O interior deve ser de tirar o fôlego!

- Ah, isso eu posso garantir!

- Acredito. Bom, Tomoyo, eu tenho que ir tomar banho, aiaiai...

- Tudo bem, Sakura.

- Depois eu ainda vou comer alguma coisa... Não jantei hoje.

- Não?

- Não, estava sem fome. Mal estar.

- Está melhor agora? – a voz de Tomoyo tinha um tom de preocupação com a amiga.

- Sim, falar com você me fez muito bem!

- Imagine! Fez bem para mim!

- De qualquer jeito, obrigado, Tomoyo. A gente se fala, né?

- Claro que sim!

- Então tá. Boa noite e espero que tenha um bom estudo das estrelas com o seu amigo!

- Obrigado. Dê boa noite para todos aí, especialmente para a senhora Yelan e para o Shaoran!

- Está bem. Tchauzinho!

- Tchau!

Tomoyo desligou, e deitou-se na cama. Era tão bom falar com Sakura! Encostou no travesseiro e fechou os olhos por alguns momentos, mas os abriu rapidamente quando escutou o barulho de um graveto sendo partido ao meio.

O barulho tinha sido distante, isso era certo, mas intrigou Tomoyo do mesmo jeito. Ela se levantou e se debruçou no balcão, de onde tinha uma visão ampla do local, e olhou invariavelmente para o lugar onde o "misterioso" carro se encontrava, da última vez que o tinha visto. E tomou um susto.

No meio do mato, tinha uma tênue linha de fumaça, subindo em direção ao céu. Tomoyo achou que via alguns clarões pequenos, como os que são produzidos por uma pequena fogueira.

Então os ocupantes do tal carro resolveram acampar... Que interessante...

Tomoyo tomou todo o cuidado do mundo para ver se ninguém a observava e colocou a mão no pingente, com o báculo nas suas mãos logo em seguida. Ela se sentia bem com ele, dava uma sensação de apoio, vinda com certeza da professora Mizuki. Ela invocou a sua magia para descer até o solo, silenciosa e graciosamente. Segundo depois, o seu báculo já estava na forma de pingente, e ela começava a caminhar para a direção de onde achava ter visto uma fogueira.

Seria bom se ela tivesse um jeito de não fazer barulho. Claro! Podia tentar uma magia que silenciasse seus passos, mas... Não. Não iria usar magia. Iria perder a graça da "pequena" aventura que tinha arranjado.

Seguindo sem usar magia, apenas com seus esforços, Tomoyo entrou na orla da pequena floresta próxima. Notou algumas vozes, bem baixas. Mas não estavam longe, as pessoas estavam conversando baixo.

Parou para tentar identificar quantas pessoas falavam. Contou duas, uma voz masculina e uma outra feminina. Conversavam aos sussurros, e Tomoyo teve que chegar mais perto.

Tomando cuidado com galhos no chão e folhas secas, Tomoyo avançou um bom pedaço, até chagar perto o suficiente para ver o tal carro misterioso estacionado, com os vidros obscuros. O carro também era negro, e não dava para ver maiores detalhes da posição de Tomoyo.

Andando mais para a esquerda, ela pode vislumbrar um tecido amarelo fosforescente, de uma barraca de acampar. Dessa vez, as vozes estavam mais próximas, mais ainda à sua esquerda.

Caminhando com a proteção da vegetação local, Tomoyo conseguiu chegar perto o suficiente para ouvir a conversa. Notou que mais um barulho podia ser ouvido, como um murmúrio, mas não pertencia a nenhuma das duas vozes anteriores. Deveria existir um terceiro ocupante do carro. Ou mais.

Ela se deitou devagar no chão fofo, coberto de folhas secas, e se pôs a escutar a conversa. Meu Deus, como falavam baixo...Tinha chegado perto o bastante e não conseguia captar a conversa por inteiro. Existiam momentos em silêncio, era verdade, mas mesmo assim...Tomoyo entendia apenas algumas frases picotadas.

- ... Fizemos bem.

- Fique calmo. Eu sempre sei o que estou fazendo.

Tomoyo não ouviu palavras, mas sim um barulho que supôs ser um protótipo de uma risada silenciosa. Trocaram algumas palavras inaudíveis para Tomoyo, e retomaram a conversa em um tom mais acima.

- ... Mantê-los sozinhos?

Tomoyo ergueu uma sobrancelha. Manter o quê ou quem sozinhos?

- Acho que sim. Embora eu ache que isso não é nada educado, será o jeito mais fácil de ninguém perceber a nossa presença. – completou a voz masculina.

Tomoyo pensou triunfante que eles não tinham mais aquele segredo. Fossem quem fossem, alguém já sabia da idéia deles. Deveria avisar a presenças dessas pessoas para os seguranças da casa? Era estranho que eles não tivessem percebido nada...

Ela se mexeu um pouco, um tanto desconfortável da posição anterior. Porém, fez alguns ruídos, o suficiente para ouvirem.

- Escutou isso?

- Escutei. Acho que devemos parar com a idéia de mantê-los a sós, olha no que já está dando...

- Finalmente... Mas não acho que o barulho seja o que está pensando.

- Não?

As vozes ficaram subitamente conhecidas para Tomoyo. Não sabia de quem eram exatamente, mas estavam muito familiares. Ela não agüentou, se levantou e resolveu encarar quem quer que ali estivesse.

- Quem são vocês e o que fazem aqui??

Tomoyo adentrou a pequena clareira de olhos fechados e com voz autoritária. Quando abriu, deixou escapar um pequeno grito de surpresa.

- TOMOYO? – exclamaram as pessoas que ali se encontravam.

- Eu... Não acredito que vocês estão aqui...

Tomoyo olhou a pequena roda em torno da fogueira. Eriol, Yuki e Nathalia se encontravam ali, sentados. E ela ainda viu que outras duas figuras se encontravam por perto, acabando de retornar ao círculo, carregando lenha. Sakin e um rapaz alto e loiro, parecido com Nathalia, de olhos verdes. Era dono de traços bonitos de se olhar, e o abrigo que vestia deixava escapar a vista de um corpo bem trabalhado. Os feixes de lenha caíram imediatamente no chão.

- O que vocês estão fazendo aqui, na propriedade de campo dos pais do Hiroyuki?

Tomoyo cruzou os braços, esperando uma resposta. Os cinco jovens se sentaram, sorrindo, mas com caras culpadas.

- Sente-se, Tomoyo. – ofereceu o rapaz que acompanhava Sakin – Aliás, não nos conhecemos. Eu sou Vincent O'hana, irmão de Nathalia.

- Prazer, Tomoyo Daidouji. – os dois apertaram as mãos, e Vincent cumprimentou Tomoyo à moda da América, dando um beijo no rosto de Tomoyo. – Feliz por conhecê-lo, mas decerto, não AQUI.

Todos se entreolharam. Então, Yuki tomou a palavra.

- Tomoyo, minha amiga. Nossa amiga. Eu soube que iria passar dois dias com Hiroyuki...

- Interessante. Prossiga. – Tomoyo se esforçava para ser o mais séria possível, porque não se agüentava por dentro. As caras dos cinco eram tão cômicas que não rir parecia impossível.

- Daí eu liguei para todo mundo, e resolvemos combinar um passeio também...Anh...Coletivo.

- Sei...

- E aí que aconteceu uma coisa horrível...Nos perdemos!

- Não me diga!

- Seguimos um carro escolhido a dedo, e chegamos aqui. Veja só que coincidência, logo na propriedade onde você estava, na casa do Hiroyuki!

- Sim, de fato uma coincidência. Mas é estranho que tenham parado no mesmo restaurante que nós, que não pedissem ajuda na imensa casa que está logo ali na frente e que viessem pela a mesma estrada... E podemos considerar o fato de que você mente muito mal, Yuki.

Risadas gerais, e todos se descontraíram. Os homens acabaram assumindo a fala, e explicaram que tinha sido idéia de Yuki seguir Tomoyo e Hiroyuki para ver no que daria. Seria bastante divertido, e todos também aproveitariam o restinho das férias.

Tomoyo explicou que viu o carro deles o tempo todo atrás do carro onde ela tinha viajado, e achava tudo isso muito estranho. Contou que o fato que mais chamou a atenção foi a fogueira, e Vincent e Sakin quase partiram pra cima de Nathalia, que os tinha feito pegar lenha para nada, já que não poderiam acender a fogueira mais tarde para não despertar curiosidade em ninguém da casa. Porém, os dois não pareciam nem um pouco arrependidos de terem gasto o seu tempo...

Conversaram normalmente por algum tempo, e Tomoyo pôde conhecer melhor a todos, principalmente Vincent. Quando Nathalia estava fazendo uma emocionante narrativa de quando visitara um safári na África com sua família e Sakin, ouviram passos e vozes.

Alguns segundos depois, a face de Sonomi, Kazuaki e Hiroyuki eram iluminadas pelo resto do fogo e por lanternas de alguns seguranças, que apontavam para o grupo.

- Mas o que está havendo aqui...?

Hiroyuki tinha um sorriso nos lábios, causando um suspiro mínimo em Nathalia. Ele e Eriol desviaram os olhares assim que estes se encontraram. Sonomi e Kazuaki tinham expressões divertidas.

- Ora... Boa noite para todos.

Tomoyo levantou-se e conversou rapidamente com os três, que dispensaram os seguranças. Depois, todos se sentaram, e Yuki tratou de dar a história verídica desta vez. Sonomi e Kazuaki riram muito, assim como Hiroyuki, mas parecia que os três estavam ligeiramente desconfortáveis com a presença de tanta gente, por alguns segundos.

- Bom, acho que todos são bem-vindos nesta casa. Há quartos de sobra e tenho certeza que poderemos acomodá-los bem. Me acompanhem.

Os jovens seguiram Sonomi, Kazuaki, Hiroyuki e Tomoyo até a casa. Horas depois, todas as malas estavam nos quartos dos respectivos donos, e o carro devidamente estacionado. A barraca tinha sido desmontada, e todos conheceram a casa depois de uma rápida refeição. Logo depois, todos se dirigiram para os quartos e foram dormir.

Não se comentou outra coisa na casa a não ser sobre a chegada daqueles adolescentes sem aviso prévio. Eles passaram os dois dias lá, nadando, fazendo trilhas, jogando várias coisas nas quadras, observando o céu de noite e tudo mais a que tinham direito.

Isso foi uma surpresa que tirou uma grande angústia de Tomoyo. Desde a chegada de todos, ela não tinha mais como ficar sozinha com Hiroyuki, e isso era muito bom. Depois de ser beijada daquela forma, ela não apreciava a pessoa de Hiroyuki menos de três metros dela, e sem ninguém por perto. Graças a Eriol, Tomoyo e ele deram várias indiretas e jogaram Nathalia e Hiroyuki várias vezes perto um do outro.

No sábado de manhã, todos já tinham as malas prontas e acomodaram tudo nos carros. Tinha sido uma excelente viagem, para Tomoyo, pelo menos. Ela não tinha tido mais que suportar olhares por parte de sua mãe ou dos Atsuhiro. Graças.

A viagem de volta foi sem paradas, e correu muito mais rápido do que a de ida. Assim que chegaram em Tomoeda, o grupo se dispersou. Todos foram para as suas casas se arrumarem e descansaram para a noite.

Tomoyo desfez as malas e foi direto para o banho. Selecionou a roupa que tinha comprado na quarta-feira, e a vestiu. Perfeito! Tirou, colocou uma roupa qualquer e desceu para almoçar. No meio da refeição, recebeu um telefone de Sakin, avisando que todos se encontrariam às seis da tarde, em frente a casa de Hiroyuki, o melhor lugar para todos.

Eram por volta de três da tarde, e a garota fez tudo o que podia ser adiantado. Por fim, subiu, vestiu a roupa combinada e maquiou-se levemente. Fez três tranças que se juntaram em uma só depois, dando um penteado exótico. Apanhou uma bolsa, colocou dinheiro, documentos e etc., e já ia saindo quando tocou o telefone, com Eriol pedindo se ela podia acompanhá-lo.

Os dois caminharam até a casa de Hiroyuki, e encontraram todos já prontos. Sakin vestia uma calça larga, preta, com uma blusa de manga longa, branca. Os cabelos estavam presos com fivelas, brancas e pretas. Os rapazes tinham poucas alterações no vestuário, sendo que apenas a cor mudava. Todos usavam calça preta, sendo que na parte de cima, as camisas mudavam ligeiramente de tom, com verde para Vincent, que combinava com seus olhos e ressaltava o tom de seu cabelo, preto para Hiroyuki, que estava maravilhoso, e azul para Eriol, que também dava um contraste bonito com seus olhos. Yuki atrasou-se um pouco, e vestia uma saia vinho, com uma blusa solta cor-de-rosa claro, com sandálias.

Todos se dirigiram para a danceteria que Sakin e Yuki tinham escolhido. Era uma das mais badaladas do momento, e tinham comprado os convites na quarta-feira.

Chegaram. Era um local agitado, com várias luzes. Na entrada, Sakin e Yuki já estavam dançando, até mesmo do lado de fora, ao som do altíssimo volume da música.

Lá dentro da boate, o grupo se dispersou. Porém, como numa partida de vôlei, Eriol e Tomoyo já tinham um esquema muito bem definido.

Yuki tinha desaparecido de vista, e eles não precisaram se preocupar. Restava mandar Vincent e Sakin para um lado, Hiroyuki e Nathalia para outro.

- Eu estou com sede... – murmurou Sakin para Tomoyo, piscando um olho, que só foi percebido por ela mesma e Eriol.

- Eu vou pegar alguma coisa, então.

- Não, o que é isso, Tomoyo! Os rapazes servem para quê? – Indagou Sakin, olhando para Vincent.

- Já recebi a mensagem. Vou comprar as bebidas, mais alguém quer?

Todos sacudiram a cabeça negativamente, e Vincent e Sakin sumiram no meio da multidão para comprar as bebidas. Ela apoiou-se no braço dele, e rindo, se foram.

Restavam agora Nathalia e Hiroyuki. Eriol e Tomoyo sabiam que Hiroyuki tinha captado o jeito que tinham usado para separar os outros dois do grupo, então, não podiam dar na vista.

Desceram para a pista de dança, e todos seguiram ali por algumas músicas, sempre conversando animadamente e sem intenções aparentes de alguma separação no grupo.

Tomoyo estava adorando. Havia anos que ela não se divertia, e era a primeira vez numa danceteria. Ela foi guiada por Sakin e Yuki para se cuidar lá dentro, e tinha aprendido rápido. Claro, ela tinha estudado um pouco sobre o local e tinha descoberto algumas coisas úteis, como, por exemplo, que o lado esquerdo e o lado direito do pavimento superior não se comunicavam, mas a impressão era o contrário. Era tudo o que precisava para que Nathalia e Hiroyuki se perdessem de Vincent e Sakin que estariam do outro lado...

- Nathalia!!

A jovem em questão olhou para cima, e viu seu irmão acenando. Ele gesticulou, devido ao alto volume da música, e ela entendeu que tinha que subir para falar com ele. Ela já ia saindo quando ouviu que Hiroyuki devia ir também.

Ela perguntou por que, e Eriol e Tomoyo se entreolharam. Tinham que ter arranjado um álibi perfeito para que Hiroyuki acreditasse e fosse junto com a garota para o andar de cima, justamente para onde não existia acesso.

A cara de Sakin apareceu, apontando para o bar do piso de cima, e disse que precisava que uma pessoa guardasse os lugares enquanto o restante ia pegar a comida, devido ao número espantoso de freqüentadores da casa noturna.

Surpreendente, os dois aceitaram e subiram, sem contestar nada. Eriol e Tomoyo, após verificaram que estavam fora do alcance de vista de qualquer um, suspiraram aliviados.

- Conseguimos!

- É verdade... – Eriol enxugou uma gota de suor do rosto –Será que podemos nos sentar um pouco?

- O quê? - Tomoyo não ouviu nada.

- Será que podemos nos sentar um pouco? – Eriol falou mais alto.

- Ah, claro! Mas aqui?

- É, eu queria, mas acho que não temos lugares vagos na pista...

Os dois começaram a se locomover para fora da pista de dança, levando alguns empurrões no meio do caminho, aos quais não deram importância. Quando conseguiram um lugar com um menos trânsito de pessoas, pararam para pensar.

- Ah! Lembrei que aqui no fundo existe uma sala que dá para os fundos da boate, e dá para uma...

- Cachoeira artificial.

- Como sabe?

- Eu também pesquisei, Tomoyo. – respondeu o garoto sorrindo.

Os dois decidiram ir para o fundo, e realmente, estava tudo mais calmo. O barulho da pista estava mais longe, e não havia ninguém por ali. Os dois desabaram em um sofá muito fofo, lado a lado.

- Quatro músicas seguidas... Achei que Sakin não fosse se lembrar do trato!

- É verdade... – respondeu um Eriol sorridente. – Eu achei que teríamos de ficar lá a noite inteira!

- Não seria uma má idéia...

- Ah, tenho minhas dúvidas.

- Anh?

Eriol virou-se para Tomoyo, com um semblante terno. Tomoyo sorriu. Eriol raramente demonstrava esse tipo de afeto tão explicitamente. Deveria haver um motivo especial.

- Eu queria que Sakin desse logo o sinal porque preciso falar com você a sós, Tomoyo.

- Comigo? A sós?

Eriol não respondeu. Apenas colocou seus braços ao redor do corpo de Tomoyo, trazendo-o mais para perto do seu.

- E-Eriol...

- Me desculpe, Tomoyo... Por favor, me desculpe...

Tomoyo sentiu que Eriol apoiava a cabeça no seu ombro. Ela abraçou o rapaz, que parecia para ela, naquele momento, desprotegido, frágil, nem de longe semelhante ao grande mago Clow. Ela sentia que ele chorava.

Ela não fez perguntas, sabia que não era hora para isso. Afagava o cabelo de Eriol suavemente, ao mesmo tempo que o acalentava, apertando o seu corpo contra o do rapaz.

Não sabia se tinha conseguido transmitir a sensação de segurança e conforto que ela sentia quando os papéis eram invertidos, mas ficaram assim por algum tempo. Às vezes, a garota balançava suavemente, como que embalando o jovem rapaz. Tão forte, tão fraco.

Minutos depois, o choro baixinho que Tomoyo julgou ouvir tinha cessado. Eriol voltou com o corpo lentamente para trás, e Tomoyo, já acostumada com o abraço, quase se assustou.

Então, olhou para o rosto de Eriol. Lágrimas tinham manchado toda a sua face, mas ele tinha um leve sorriso no rosto. Ela delicadamente tirou os óculos dele, dobrou-os e colocou em uma mesinha próxima, tirando um pequeno lenço bordado de sua bolsa.

Ela delicadamente enxugou o rosto do rapaz, a o abraçou novamente, acalmando-o e confortando-o, mesmo sem saber a razão da tristeza do jovem. Ela também não sabia por que, mas não gostava da idéia de perder o calor do corpo do amigo. Amigo?

Será que era realmente amizade o que sentia por Eriol?

Parecia algo diferente do que sentira por Shaoran, do que sentia por Hiroyuki, Vincent, Yamazaki...

Então Eriol se separou de novo dela. Tomoyo sentiu que o ar tinha ficado mais frio, mais triste.

- Obrigado...

Eriol falou tão baixou que Tomoyo quase não ouviu. Ele sorria. Sorria luminosamente, sem dor. Era uma linda visão. Tomoyo também sorriu ao contemplá-la.

- Imagine. É o mínimo que posso fazer para retribuir.

Ele balançou a cabeça negativamente:

- Não é verdade, você sabe. Já me deu muitas alegrias... Não está em débito comigo, e nunca estará. Eu é que lhe devo muito... – Eriol falava com um fiozinho de voz.

- Bobagem.

- Não é. Me permite pagar uma parte de minha dívida?

- Se quiser...

Tomoyo achou que Eriol iria lhe dar um terceiro abraço, mas não foi isso. Foi muito mais do que isso. Mais do que Tomoyo podia imaginar.

Em vez da cabeça de Eriol desviar de seu rosto, ela não mudou seu trajeto. Foi na direção da face de Tomoyo.

Tomoyo sentiu, quase ao mesmo tempo, as mãos de Eriol atrás, nas suas costas, puxando-a para si, enquanto um calor diferente começava a penetrar no seu corpo, pelos seus lábios. Ela sentia o calor do corpo de Eriol em comunhão com o seu, através da boca do rapaz.

Tomoyo piscou por algumas vezes, fechando os olhos em seguida. Não relutou em também abraçar o rapaz, como se não quisesse perder de jeito algum o novo calor adquirido.

Através daquele contato, daquele beijo, era como se Tomoyo tivesse sido elevada a um estado emocional e espiritual acima do normal. Ela sentia que todos os bons sentimentos, as boas lembranças, tudo que ela já havia conhecido ou nem fazia idéia que já existia; tudo que ela pensava ser possível e ao mesmo tempo longe da realidade; tudo o que lhe dava várias sensações, num misto de prazer, alegria, felicidade, realização...

Era algo muito bom...Mas ao mesmo tempo, ela desejava que aquilo nunca acabasse, que aquele momento perdurasse até o fim dos tempos... Não importava quem estivesse ao redor, se é que alguém realmente estava por perto.

Ela percebeu que uma das mãos de Eriol agora subia e descia com movimentos suaves pelo seu rosto, sem ousar interromper aquele contato que mantinha unidos dois corpos, dois seres, duas almas e várias emoções e reações além do que uma pessoa era capaz de prever.

Então lembrou-se que precisava respirar. Não porque não podia fazer aquilo, como da outra vez, mas sim porque não queria estragar aquele momento. Por incrível que pareça, os dois pararam simultaneamente, devido a um único fator.

O estardalhaço de uma taça que acabava de alcançar o chão.

FIM DA DÉCIMA PARTE

A-CA-BEI!!!!!!!!!!!!!!!!!

Gomen, eu não podia deixar de dizer isso... A 1a parte do Rumos Inesperados acaba aqui! ^^

Nessa hora, eu agradeço sinceramente a todos que me apoiaram, a todos que foram obrigados a me ouvir, empolgada, contar sobre o próximo capítulo, que agüentaram todos os meus e-mails.

E hoje, ao ver todo esse trabalho concluído, eu tenho apenas uma palavra, não muito grande para dizer:

Obrigado.

Adoro todos vocês. Mesmo! Valeu pelo apoio, e espero vê-los em breve!

Até o nosso próximo encontro!

Nota: eu fiz um documento especial para esclarecer certas coisas sobre a 1a fase. Portanto, a 2a fase virá DEPOIS desse documento, e não tão já, porque eu vou dar uma parada com os fics, breve, prometo.

Realmente, para maiores informações, vide o meu "documento especial", o Warning!, como apelidei o coitado...

Sayounara!

Kisses, Mari-chan.