CAPÍTULO 5 – ACERTANDO OS PONTEIROS

Tomoyo continuava abraçada com Eriol, e algumas pessoas dentro da floricultura apenas olhavam a cena, ou comentavam alguma coisa baixinho, se retirando logo depois. No entanto, essa não tinha sido a reação de duas pessoas que se encontravam lá dentro, atrás de uma das várias estantes.

Nakuru e Kyoshi estavam espionando os dois, para ver o que iria acontecer. Um não tinha notado a aproximação do outro, e ambos se assustaram.

- Ai! – Nakuru falou baixinho.

- Mil desculpas, não a vi. – Kyoshi deu alguns passos para trás, pedindo desculpas e mais desculpas para Nakuru. Por sorte, Tomoyo e Eriol nada ouviram.

- Não, imagina, está tudo bem... – Nakuru se virou para encarar quem quer que tivesse esbarrado nela, e se surpreendeu. A cara dele não era estranha para ela... Onde ela já o teria visto?

- Não te machuquei?

- Não, mesmo. Nós já nos conhecemos?

- Já? Eu não sei.

Nakuru apoiou o rosto sobre as mãos, forçando a memória.

- Hummm... Acho que foi em Tomoeda.

- Talvez. Eu trabalho e moro lá.

- Ah, entendo. Eu morava lá, eu estava indo para o exterior. Mas... – Nakuru olhou para o jovem casal – Acho que não vou mais.

- Não? – perguntou Kyoshi – Por causa dele, não? – Afinal, pensava Kyoshi, não poderia ser Tomoyo a razão para ela ir embora do Japão, no fim das contas.

- É, Eriol. Eu moro com ele, e éramos vizinhos dela.

Kyoshi se lembrou de quem era a garota repentinamente:

- Você é a Nakuru!

- É, sou sim.

- Ah, agora sei de quem está falando. Eu sou Kyoshi Sayuri, professor de Canto Coral, na faculdade de música de Eriol.

- Ahhhhh!!!!!!!! – Nakuru exclamou, daquele jeito que tinha ficado famoso – Agora eu sei porque eu conhecia seu rosto de algum lugar! Por que está aqui?

- Eu acompanho a senhorita Tomoyo. – respondeu ele, em um tom charmoso, mas depois riu – Ela se preocupa muito com seu amigo, veio tentar impedi-lo de voltar para a Inglaterra.

- É, eles se gostam muito... – suspirou Nakuru.

- É verdade... Que bom... Eu acho que eles se acertaram, não?

- Parece...

- Nakuru! Kyoshi!

Os dois se viraram e foram até a direção do casal, meio envergonhados por terem sido descobertos espionando.

Tomoyo estava ainda abraçada com Eriol, mas somente por um braço, agora. Ela tinha um lindo sorriso no rosto, que não exibia há algum tempo, mesmo quando Kyoshi fazia das suas para arrancar sorrisos da sua irmã. Ela não se agüentava em felicidade.

Chegou a pensar que nunca mais veria Eriol, uma pessoa que descobrira ser tão importante para ela. Que nunca mais veria aqueles lindos olhos azuis, que não sentiria mais suas mãos afagando seu cabelo, sua respiração, seu calor, sua voz... Tudo nele. Reparava agora como ele era importante para ela.

Ele, por sua vez, também pensava a mesma coisa. Não que ele tivesse procurado essa situação; ele teve que sair, para ter certeza sobre o que sentia pela sua maior amiga, e esse sentimento agora tomava contornos diferentes. Por outro lado, ele também se arrependia muito das decisões e conclusões precipitadas que fizera. Quase havia machucado Tomoyo naquele dia que a tinha visto com Kyoshi, e jamais queria perder o controle daquele jeito outra vez.

Ele também pensava, com tristeza, que iria perder a visão dos olhos ametista de Tomoyo, sua voz angelical, o modo simples e inteligente que escolheu para levar a vida. Como às vezes, mesmo sendo abatida, recuperava o ânimo e resolvia tudo fantasticamente. Iria perder muito. Talvez, ele se atrevia a pensar, perdesse mais a presença de Tomoyo ao seu lado do que a presença de Kaho.

Mas parecia que agora estava tudo bem. Precisando acertar as coisas, chamaram os dois jovens que estavam espionando-os, com certeza. Mas tinham arruinado o sigilo e tinham sido descobertos quando começaram a falar.

- Estamos aqui! – anunciou Nakuru, sorridente.

- Precisamos conversar... Vamos sentar um pouco na lanchonete, e aproveitar para comer alguma coisa ao mesmo tempo. Vocês dois parecem com fome. – disse Eriol.

- Até que não muito... Mas toda essa correria acaba por deixar pelo menos meu estômago roncando, suplicando para que eu me lembre dele.

Todos riram e se dirigiram para a lanchonete do aeroporto. Se sentaram em confortáveis cadeiras, e pediram alguma coisa para beber e comer. Enquanto isso, a chamada para o vôo com destino à Inglaterra era feita.

- Por favor, senhores passageiros do vôo 287 com destino à Inglaterra queiram se dirigir ao terminal para o embarque.

Tomoyo e Kyoshi olharam para os dois, e Nakuru e Eriol tiraram duas passagens para a Inglaterra, ele do bolso e ela da bolsa. Tomoyo enxergou Suppi de relance, dormindo na bolsa de Nakuru.

- Estávamos indo mesmo para a Inglaterra...Mas não comprei as passagens no meu nome, senão poderiam dar a informação de que eu estaria embarcando para a Inglaterra para você pelo telefone.

- Eu tentei isso. – sorriu Tomoyo.

- Eu tinha quase certeza de que faria isso. – Eriol sorriu – No entanto, eu tenho certeza de que esse vôo será cancelado. Nakuru?

- Eu fico!!!!!!! – a jovem quase pulou da cadeira, assustando um pouco as mesas vizinhas.

- Então... Eriol dobrou a passagem que tinha, junto com a de Nakuru e as guardou – Trocamos por outra viagem mais tarde.

Houve um breve momento de silêncio, enquanto ele terminava de ajeitar as passagens no bolso da calça. Mas ele logo recomeçou a conversa.

- Sinto muito por ter tomado medidas tão drásticas, e ter feito você, Tomoyo, e o senhor, professor, terem de vir até aqui. Eu simplesmente compliquei as coisas por uma conclusão precipitada.

- Eriol. Tudo isso não é culpa de uma pessoa só. Eu também me precipitei, e sinto muito por isso. Houveram muitos mal-entendidos, e não tivemos a paciência habitual para discuti-los...Devido a uma antigo problema, que deveríamos ter resolvido há muito. Não demos importância, acho que nenhum de nós dois sabia...

- ... O quanto um era importante para o outro. – disseram os dois juntos.

Ambos se entreolharam e sorriram, meio que como cúmplices.

- Isso mesmo. Não tinha noção de como eu havia machucado você... Tomando aquela atitude na danceteria.

- Você não me machucou, Eriol. – respondeu Tomoyo, com os olhos úmidos. – Eu acho que no fundo, por mais que cobrasse algo de você, eu não queria mesmo uma explicação como sempre recebi... Não que isso seja ruim, não entenda mal... Mas no fundo, no fundo mesmo, o que eu senti conformaram as minhas suspeitas. De que eu realmente queria um sinal físico que comprovasse meus pensamentos e que tirasse minhas dúvidas sobre tudo... Que estava acontecendo entre nós dois.

- Anh... Eu e o Kyoshi vamos buscar um suco, tá? – Nakuru puxou o professor e sumiram de vista, fazendo os dois jovens rirem com um "Segunda chamada, senhores passageiros do vôo 287 com destino à Inglaterra queiram se dirigir ao terminal para o embarque" de fundo.

- Nakuru, Nakuru... Sempre do mesmo jeito. – sorriu Eriol.

- Bom, deixe ela e o Kyoshi.

Eriol ergueu uma sobrancelha. Desde quando Tomoyo chamava os professores pelo primeiro nome?

- A propósito, você não quer saber o que acontece entre Kyoshi e eu? Esse é um dos mal-entendidos.

E também tinha que perguntar desde quando Tomoyo lia mentes... Mas as piadas ficavam para depois. Curioso, fez que sim com a cabeça.

- Ele foi à minha casa perguntar sobre como ele poderia melhorar a disciplina dele na escola e tudo mais, porque as meninas não estavam muito bem...

- Imagino. – sorriu Eriol.

- Aí...Foi um sufoco dizer para ele que o problema era ele ser tão bonito. Mas consegui. Aí, um dia depois da aula, ele me acompanhou e agradeceu o esforço, e você sabe o que se sucedeu.

O outro concordou com a cabeça silenciosamente.

- Pois bem... Mais tarde, naquele mesmo dia, ele estava me esperando em casa. Falou algumas coisas bem estranhas para mim, sobre a minha família, sobre a Sakura, tipos de magia, sobre... O Mago Clow – Eriol se surpreendeu nessa parte – e tudo mais. Aí ele me revelou ter poderes mágicos, que derivavam da sua capacidade mental.

- Parecidos com os seus, por sinal.

- Sim. E aí ele me mostrou o registro dele. O nome de verdade dele é Kyoshi Daidouji! Ele é meu irmão! – sorriu Tomoyo.

Eriol estava perplexo. Irmão?

- Nunca iria imaginar isso.

- Nem eu. Agora ele está morando lá em casa, mas temos que fingir ser namorados para podermos andar juntos, sabe como é. Se ele assumir o verdadeiro nome, pode ter encrencas das boas...

- Compreendo. E o conselho da faculdade aceitou?

- Hum-hum. Se basearam na posição da professora Maeda. Ela gosta do... Hiroyuki, e permitiram um relacionamento entre eles, se as notas não forem afetadas... Aí ele se sentiu amparado.

- Compreendo. Bom, minhas desculpas por esta parte.

- Imagina. Desculpas aceitas. Agora... Acho que te devo as minhas por ter gritado com você tantas vezes, e ser tão gelada... E é sempre você quem me tirava dos apuros que eu passava. Você e Yue.

- Yue... Ele foi a peça fundamental, não?

- Anh?

- Para você me achar. Aparentemente, Kerberus e Yue devem ter falado sobre a cesta de flores, não?

- Ah, sim... Eu devo dizer que fiquei lisonjeada ao saber que desejava ser encontrado, devo admitir.

Ele sorriu de um modo muito meigo, do mesmo jeito que costumava fazer quando estava na 5a série.

- Bom... E então?

- Aí o Kero expôs a teoria dele... E a do Yue foi parecida, mas muito mais detalhada e complexa, e ele só me decifrou o aviso, não a pista.

- Yue me conhece muito bem... Acho que não conseguiria esconder nada dele.

- É, também acho. – sorriu a garota.

- A propósito... Você não acha que ele está diferente?

- Yue?

- Sim.

- Não, não notei nada diferente.

- Então preste atenção da próxima vez. Mesmo com Sakura, Yue sempre foi uma pessoa distante, desde a morte do Mago Clow. – Era engraçado Eriol falar isso, e Tomoyo engoliu um possível riso – No entanto, embora parecesse desconfortável com você no início, ele se acostumou com a idéia de estar sempre te auxiliando, e você pode perceber que a relação de vocês tem um clima muito bom. E, note, várias vezes ele dá o esboço de um sorriso, quando não sorri de fato. Ele gosta muito de você Tomoyo.

Ela parou para pensar um pouco, enquanto o alto falante chamava os passageiros do vôo 287 pela última vez. É, até que podia ser mesmo.

- Bom... De minha parte... – começou Tomoyo – Eu acho que lhe devo desculpas quanto ao beijo... – ela ficou ligeiramente corada.

- Por quê? O culpado seria eu, não é mesmo?

- Não, não mesmo. Você... Tomou aquela atitude porque... Porque...

- Porque gosto de você, da sua pessoa. – Eriol falou de uma maneira tão direta que Tomoyo corou furiosamente.

- Bom... Eu... Ah, me desculpe.

- Mas você não tem culpa. – Eriol sorria de uma maneira tão linda que Tomoyo foi voltando ao normal pouco a pouco.

- Será? Ah, é que sempre que estávamos juntos... Eu achava que você via a Kaho em mim... Não eu mesma... Apenas uma pessoa que era um reflexo dela. E que você podia aproveitar para ver um pouco dela.

- Tomoyo, no começo eu realmente pensei desse jeito. Mas assim como eu consigo separar eu mesmo de Clow, consigo separar você de Kaho. E tenho certeza de que me confundi um pouco, mas hoje não mais.

- Eriol... Eu...Não sei o que falar...

- Tudo bem, tudo bem... Não precisa dizer nada... – Eriol abraçou a menina, que parecia prestes a explodir outra vez em lágrimas, como na floricultura.

- Ah, me desculpe... Por tudo, tudo tudo tudo mesmo....

- E você também...

- Desculpado.

- O mesmo de você.

Ambos sorriram, felizes por terem conseguido acertar os problemas que vinham enfrentando durante tanto tempo, desde o fatídico dia na danceteria.

Ambos se olharam por algum tempo, e notaram uma risada ao longe. Se viraram para o balcão principal da lanchonete, meio longe deles, e Nakuru ria com gosto de alguma coisa que Kyoshi acabava de dizer. Olhando desse jeito, ao longe, parecia que eles estavam se dando muito bem.

"Maninho!" – Tomoyo quase gritou telepaticamente com ele.

- Ai, Tomoyo... – Kyoshi retomou a telepatia – "Estamos indo."

"Tá!".

- O que foi?

- Podemos voltar.

- Ótimo, vamos, vamos!

Os dois se juntaram ao resto, e decidiram sair do aeroporto.

- Bom, vamos para casa!

- Sim, mas hoje está um pouco tarde... Acho melhor irmos amanhã cedo. – opinou Tomoyo.

- De fato. Onde estão hospedados?

- Até que não é muito longe. Querem ficar lá?

- Acho que é uma boa idéia.

- Certo, vamos pegar um táxi e levar as bagagens para o hotel, então.

- Vamos!

Os dois homens foram indo na frente, e Nakuru e Tomoyo ficaram para trás, de propósito.

- Tomoyo, me diz... O que o Kyoshi veio fazer até aqui com você?

- Ah, você ainda não sabe... Estamos namorando!

- Anh?? – a cara de interrogação de Nakuru foi uma das melhores já vistas – Mas você e o Eriol não... Não...

- Brincadeira! Bom, mais ou menos... Pergunte para o Eriol ou para o Kyoshi a história toda, mas ele é meu irmão. Estamos namorando apenas perante a diretoria do colégio, para que ele possa continuar dando aulas lá, e para ter uma desculpa para ir a minha casa. Mas ninguém sabe disso, hein?

- O quê? Que o professor é seu irmão? Quem é que sabe?

- É mesmo! Estranho, né? Esses boatos...

As duas riram muito da bobeira repentina, e se apressaram para entrar no táxi junto com os rapazes.

No hotel tudo correu bastante tranqüilamente, sem muitos problemas com a reserva. Os quartos acabaram sendo vizinhos, e eles decidiram ir aproveitar a noite de Tóquio na quinta-feira, mas nada que extrapolasse os horários. No fim das contas, eles iriam voltar às aulas somente no sábado, ou no horário justo para a aula de sexta-feira.

- Humm... Gente, vocês acham que compensa voltar amanhã para Tomoeda?

- Não sei... Eu vou telefonar para a minha mãe. – Falou Tomoyo.

- Que coisa, a mãe não é só sua!! – Kyoshi ficou irritado falsamente.

- Tá, tá, nossa mãe.

- Melhorou.

Nakuru, Eriol e Kyoshi estavam sentados no saguão do hotel, enquanto Tomoyo telefonava. Quando ela voltou, comunicou que era melhor ficaram lá até sexta, e voltassem no sábado. Recomeçariam as aulas na segunda-feira mesmo, não tinha problema. Afinal, Eriol e Tomoyo eram excelentes alunos. E Kyoshi certamente seria substituível por alguns dias, embora ele negasse e dissesse ser imprescindível para o bom andamento das aulas, e que ninguém faria seu trabalho tão bem quanto ele. Eram as suas já famosas crises de modéstia, sempre de brincadeira, claro.

Durante os dias que ficaram em Tóquio, os quatro aproveitaram para fazer de tudo e mais um pouco na capital japonesa. Nakuru adorou as lojas de roupas e de cosméticos, além das belíssimas propagandas que passavam na televisão sobre moda, que não eram exibidas em Tomoeda. Kyoshi gastava muito tempo nas lojas de música, e, quem diria, em lojas de perfumes!

- Kyoshi! Que covardia!

- Anh? Do que está falando, Tomoyo?

- Ah, você atrai olhares sem fazer esforço, e se você colocar um...

- O que acha desta fragância?

- Hummm... Gostei mais daquela outra que você me mostrou antes. Mas como eu ia dizendo, se você usar perfume é injusto!

- Hum-hum, e eu sou o primeiro-ministro japonês.

- Não é não, e sabe muito bem do que falo.

Os dois se viraram. Todas as vendedoras da loja olhavam para eles, ou melhor, para Kyoshi. Ser bonito dá problemas, às vezes. Ou de vez em sempre.

Tomoyo e Eriol gastavam bastante tempo nos parques e também em lojas voltadas para música. Tomoyo também se fascinava por moda e loja de tecidos, e sempre lembrava de Sakura nessas horas. Outro lugar que visitavam muito eram as livraras e bibliotecas. Todos gostavam de ler ali, exceto Nakuru. Eles inclusive chegaram a comprar coisas para Suppi, que vivia apertado na bolsa de Nakuru.

No dia anterior a partida deles, no domingo, eles decidiram visitar a Torre de Tóquio. Era realmente um lugar muito bonito, que chamava a atenção. Fazia muito tempo que nenhum dos quatro visitava a Torre.

Tomoyo ficou lembrando muito de seu tempo na 5a série, e todas as aventuras. No entanto, se sentia cada vez mais preocupada ao constatar que a falta de Sakura não a incomodava tanto como antes. Na verdade, ela estava dando tão mais importância para Eriol que sua amiga quase acabava sendo esquecida.

Então Tomoyo lembrou que ela própria havia sido ligeiramente esquecida quando Sakura se apaixonou por Shaoran. Tomoyo concluiu rapidamente que não conseguiria se afastar de Eriol por muito tempo, e acabou por se acostumar a sempre estar com ele, que ficar sem a presença dele era quase que insuportável. Aprendera a tolerar a falta de Sakura, mas a de Eriol, tinha certeza, por mais que tentasse não conseguiria.

Eriol notou que Tomoyo estava quieta demais, olhando para baixo, com o rosto apoiado nas mãos e um semblante misto de dúvida e de culpa. Andou silenciosamente até a garota, enquanto Kyoshi e Nakuru observavam a cidade dos telescópios disponíveis, sempre querendo usar o mesmo, e brigando de mentirinha.

- Tomoyo?

- Ah, Eriol! – ela sorriu calmamente, afastando a expressão de antes.

- Algum problema? Não parece se divertir muito.

- Não, é que descobri uma coisa... E fiquei um pouco... Chateada por isso.

- É mesmo?

- É verdade, com Sakura.

- Se eu puder ajudar, me fale.

- Claro! Mas acho que não pode.

Eriol concordou com a cabeça e logo foi arrastado por Nakuru, que queria porque queria um sorvete de pêssego, porque sentia muito a falta do seu "Touyazinho". Eriol replicou no meio do caminho, dizendo que ela se divertindo mais com Kyoshi do que jamais conseguira com Touya, e isso pareceu calar Nakuru por alguns instantes.

Tomoyo permaneceu parada por algum tempo, até ser acidentalmente empurrada por alguém que passava por ela com uma pressa notável. Tomoyo se desequilibrou, e teria parado no chão se não tivesse sido segurada por seu irmão.

- E Kyoshi salva o dia mais uma vez!

- Obrigada, Kyoshi.

- Que tombaço, hein? Já ia caindo...

- É, eu vi. Se não fosse por você...

- Quem foi a delicada pessoa que não te ajudou aqui? Eu achei que pelo menos deveria pedir desculpas e tudo mais...

Então Tomoyo notou uma moça próxima a ela, com um folheto turístico escondendo seu rosto. Até aí, tudo bem, mas o problema era que o panfleto estava de cabeça para baixo.

- Acho que foi ela quem me derrubou sem querer.

- Vou lá falar com ela!

- Kyoshi...

- Tomoyo! Ninguém faz uma coisa dessas sem se desculpar! – e ele foi andando até a mulher, deixando uma Tomoyo perplexa parada.

- Com licença.

Quando a mulher abaixou o folheto, ambos tomaram um susto.

- Professora Arakami!

- Boa tarde para vocês dois... – ela estava bastante corada.

- Boa tarde... Mas, o que faz aqui? – perguntou Kyoshi.

- Ah, eu tirei alguns dias do colégio... Sabem, eu precisava descansar um pouco... Os meninos não andam tirando muito proveito da minha aula, precisava sair para ter uma idéia de como melhorar... – falou a professora, e dessa vez Tomoyo estava ao lado de Kyoshi. Tomoyo tinha quase certeza de que tinha visto a professor lançar um olhar frustrado para Tomoyo, mas ela não entendeu. Teria feito algo?

- Ah, compreendo. Tive o mesmo problema, só que com as minhas alunas. – ele olhou de esguelha para Tomoyo, e depois sorriu – Mas Tomoyo me ajudou a resolver tudo muito bem, não é mesmo?

Ela captou que tinha que parecer um pouco apaixonada, e se apoiou no braço de Kyoshi:

- Ah, não foi assim, sabe disso, Kyoshi. Eu dei apenas uma dica. Eu vou até onde estão Eriol e Nakuru, até mais tarde. Até mais, professora Arakami.

- Até mais, senhorita Daidouji.

- Tchau, Tomoyo!

Tomoyo se retirou, mas não foi encontrar Eriol. Sentou-se em um lugar de onde podia vigiar Kyoshi e Kazumi. Eles conversavam normalmente, e Tomoyo não entendia o olhar que a professora tinha lhe dado.

Tomoyo notou que seu irmão, por mais que negasse e não fizesse nada, agia de um modo muito perturbador para as garotas, porque, mesmo sem querer, realçava ainda mais sua beleza. Kyoshi podia ser comparado a Hiroyuki. Ambos se portavam de um jeito que era impossível não suspirar por eles.

Quando Kyoshi ajeitou um pouco do cabelo, do jeito que estava sendo acostumado a fazer por Tomoyo, ela notou que Kazumi tremeu ligeiramente. Algum tempo depois, ela percebeu tudo: Kazumi gostava de Kyoshi! E não deveria ter gostado da notícia de que ele e Tomoyo "estavam juntos". Satisfeita com a sua dedução, Tomoyo foi de fato atrás de Eriol.

Não o encontrou na parte onde alimentos eram vendidos, e não o achava em lugar algum, inclusive Nakuru. Ela não entendia. Onde teriam ido?

Caminhando por entre as pessoas, Tomoyo começou a notar que parecia mais fácil andar entre os presentes. Era uma sensação esquisita, como se as coisas estivessem esperando-a para continuar sua rotina, ou parando e perdendo velocidade.

Tomoyo parou repentinamente. O burburinho de vozes também ficava mais e mais devagar, até que teve a nítida sensação de que tudo estava parado. De repente, sentiu uma forte presença, a mesma de sempre, e compreendeu que Eriol e Nakuru há muito deveriam ter notado alguma coisa e deveriam ter sumido de vista para um local mais seguro.

As pessoas ao seu lado estavam imóveis. Todos haviam sido transformados em estátuas!

Correndo até seu irmão, quase trombou nele, porque ambos tinham notado o ocorrido e procuravam um ao outro.

- Kyoshi! Todo mundo está congelado!

- É, eu vi! Tomoyo, só nós dois não estamos parados no tempo também!

- Não, mais duas pessoas, não, três, escaparam também.

No momento seguinte, Eriol, Ruby Moon e Spinnel Sun apareceram. Ambos com expressões sérias.

- A mesma pessoa, de novo, até aqui em Tóquio.

Tomoyo e Eriol fizeram seus báculos aparecerem, e todos foram até a janela mais próxima da Torre. Kyoshi quebrou-a, apenas olhando para ela, e os cinco saíram para a área onde nenhum turista deveria jamais tentar ir.

A cidade inteira de Tóquio estava praticamente congelada, até onde era possível ver.

- Toda Tóquio está... Parada! – exclamou Kyoshi.

- É, é verdade... – confirmou Tomoyo, segurando firmemente seu báculo – Dessa vez... Que tipo de barreira usaram?

- Deve ser uma barreira diferente das anteriores... – murmurou Ruby Moon, que recebeu uma confirmação feita com a cabeça por Eriol em resposta.

- Dessa vez... O alcance é maior do que o normal, e afetou todas as pessoas.

Todos ficaram em silêncio por um determinado momento. De certo modo, tudo aquilo parecia familiar e novo ao mesmo tempo.

- Parece... Na minha opinião... – começou Kyoshi – Que esta é mais uma barreira sim. E parece que ela impede o movimento dentro dela, de quem não possui poderes mágicos...

- Hum... Pode ser. – concordou Spinnel.

- No entanto, essa barreira tem que ter sido lançada por alguém, e esse alguém não pode ter sumido. Temos que procurar essa pessoa.

- Já tentamos isso, e o responsável fugiu por um triz.

- Além do mais... Se essa barreira atingiu apenas Tóquio... Muitas pessoas devem ter notado, fora dela.

Todos confirmaram a afirmação de Tomoyo com a cabeça. Parecendo que tinham combinado previamente, todos fecharam os olhos e se concentraram ao máximo no lugar onde estavam, e onde a presença tão conhecida deles parecia estar mais forte.

Tomoyo inclinou-se de leve para a frente, com um aperto no coração. Levou a mão na altura do peito, e parecia que uma dor incessante começava. Era uma preocupação ruim, sobre alguém muito próximo dela, que passava por terríveis problemas.

Ela abriu os olhos, e notou que todos os outros tinham percebido algo diferente. A expressão no rosto de Kyoshi, Ruby e Spinnel era de intriga. Mas na face de Eriol, a expressão era bastante semelhante a de Tomoyo: dor.

- O que aconteceu?

- Não sentem? Dor, angústia... Sofrimento!

- De quem , Tomoyo? – o irmão da garota não parecia entender, muto menos Ruby ou Spinnel.

- Alguém próximo e querido... – continuou Eriol.

- E isso vem daqui da torre! – exclamou Tomoyo – A barreira começou daqui e vai até onde podemos ver.

- Vamos descer!

Todos deduziram que nada funcionava, assim como as pessoas, e tiveram que descer usando magia. Deram a volta, na base da torre, e deram de cara com a porta dela. Na frente, alguém bastante conhecido se encontrava.

Yue.

Com os braços abertos e os olhos brilhando em um intenso azul sobrenatural e que dava medo, ele parecia ser a fonte de tudo. Era dele que vinha aquela presença de sempre, mas, ao mesmo tempo, parecia ser dele também o terrível sentimento de dor que Tomoyo e Eriol sentiam.

- Yue! – gritou Tomoyo – Como pode isso estar acontecedo...?

- Ele foi possuído... – murmurou Kyoshi, sendo que Spinnel concordou com a cabeça.

- É verdade. Ele está sob o controle da pessoa que procuramos... Mas ele tem consciência disso, tanto que vocês estão conseguindo perceber alguma coisa, não é, mestre Eriol?

Eriol concordou com a cabeça. De repente, Yue deixou de ser estático, e voltou a cabeça para os cinco. Juntou as duas mãos, e uma rajada da mesma cor de seus olhos saiu do meio de suas mãos, e os cinco foram obrigados a se separar. Aquela parecia ser a origem da barreira.

- Yue!

- Não adianta gritar, ele não vai responder.

- Mas então vamos fazer o quê?

- Desculpem por essa análise, mas o normal seria matá-lo... Toda a barreira seria cancelada... – Kyoshi falou.

- Eu sei! Mas não podemos tirar a vida dele! – Tomoyo estava ao ponto de cair em desespero.

- De jeito algum Yue será morto. – Eriol tinha a expressão calculista e parecia pensar em uma saída. No entanto, Tomoyo sempre demorava para lembrar que ele não estava sendo insensível; apenas estava controlando as emoções para pensar melhor.

Yue começou uma série de novos ataques, mais rápidos e tiveram que se desviar como podiam. No final das contas, os cinco acabaram separados. Isso era ruim, agora estariam mais vulneráveis do que antes.

Tomoyo estava no topo de um edifício, um pouco para trás da porta da torre. Lembrou-se do antigo incidente da loja, onde fora atacada mais ou menos daquele jeito, e teve que guiar as pessoas das trevas da sua consciência. Mas... Será que isso daria certo com Yue? Toda a força daquele inimigo desconhecido deles estava no corpo de Yue, e não tinha certeza se seria tão fácil assim. Teria que tentar.

Com o báculo a postos, Tomoyo começou a rondar a torre em busca do guardião da Lua. Ela sabia que ele estaria em algum lugar por perto, sentia a presença.

Outra coisa um tanto estranha era que, durante esse tempo todo, compreendia-se que Yue perseguisse apenas um do cinco de cada vez, mas ele não parecia apto a ser afastar da torre. Ele tinha uma espécie de limite, e parecia que era de um raio de alguns metros.

Tomoyo avistou o guardião, que estava travando uma briga com Ruby Moon, lembrando bastante a batalha que tiveram quando Sakura transformou as duas últimas cartas Clow.

- Ruby! Deixe comigo!

Yue imediatamente mudou de alvo, ao ouvir a voz da menina, deixando Ruby Moon em paz. Ela se afastou um pouco, de modo que pudesse ajudar Tomoyo se precisasse. Tomoyo notou que Spinnel também estava junto de Ruby.

Tomoyo estava parada no ar, enquanto Yue avançava em uma velocidade frenética. Ela começou a se mover para trás, de frente para o guardião, até o local onde fosse seu limite.

Após alguns metros, Tomoyo notou que Yue parou. Ele não era mais capaz de atacá-la, nem persegui-la, tudo que podia fazer era observá-la. Ela aproveitou que ele não tinha ainda mudado de alvo, e se aproximou o máximo que era seguro dele.

- Yue. Me escute, eu sei que você está aí dentro.

Ele pareceu mais bravo, como se quisesse pegar Tomoyo ainda mais, mas terminou frustrado.

- Você sabe que está confuso, que tem medo de onde está. Lembre-se, você não está sozinho.

Nesse momento, Yue parecia escutar as palavras da garota, mas Eriol surgiu com Kyoshi atrás dele, e ele imediatamente deixou Tomoyo para atacá-los, por estarem na sua área de alcance.

- Eriol! Kyoshi! Saiam de perto da Torre, vão para junto de Ruby e Spinnel e me deixem aqui!

- Mas você será atingida!

- Não, Kyoshi! Yue não ataca nem prossegue a partir de um determinado ponto da Torre. Vão, eu consigo lidar com isso!

Os dois concordaram, e seguiram para perto dos outros dois guardiões. Eriol lembrou-se também do incidente, e compreendeu que Tomoyo tinha chegado a uma solução.

- Yue!

O guardião voltou novamente até onde estava a garota, e dessa vez parecia ter uma expressão ligeiramente intrigada ou confusa. Ele não sabia porque tinha retornado até a menina novamente.

- Você tem que ir para o ponto de luz que está a sua frente... O lugar onde há luz.

Tomoyo encostou as suas mãos nas de Yue, palma com palma, e as segurou firmemente. Por sorte, ela não poderia ser atacada desse jeito, pois ele necessitava juntar as duas para efetuar um disparo de energia.

- Eu te ajudo. Venha comigo para onde está claro, Yue. Vamos.

Ela viu que o guardião parecia querer relutar em seguir o que ela falava, e irritado por ter as suas mãos presas. Tomoyo notou que a presença dentro de Yue estava muito forte, e não deixava que a consciência dele assumisse.

Ele tentou se afastar, mas Tomoyo segurou firmemente as mãos claras do guardião, e não deixou. Ela percebeu que a grande dor que ela sentia tinha melhorado um pouco. Era provável que o sofrimento que Yue tinha estivesse um pouco melhor, devido ao fato de Tomoyo estar encontrando uma saída.

- Por favor... Confie em mim.

Tomoyo falou essas cinco palavras com tamanha confiança e veracidade que o brilho dos olhos de Yue saiu daquele azul maníaco e sobrenatural, voltando para o tom normal, azul bem claro e prateado.

Nesse momento, o guardião tremeu, e um risco prateado cruzou o céu, da ponta da torre na direção do corpo de Yue, sendo que um risco preto deixou o corpo do guardião e fez o caminho inverso ao risco prateado.

- Yue!

O guardião parecia de volta ao normal, e tinha um sorriso sofrido. Toda a dor dele parecia ter se convertido em culpa e alívio.

- Tomoyo!

Nessa hora, os dois se abraçaram. Yue tinha recuperado a consciência, e a garota podia jurar que ele seria capaz de chorar agora. De felicidade, devido a sua expressão.

- O que houve? Por que demorou tanto para retornar? Sua consciência parecia estar longe para responder... – os outro quatro vinham retornando, enquanto isso.

Yue quebrou o abraço e voltou ao tom sério que sempre usava.

- Não foi como aquela vez naquela loja. A minha consciência não estava no meu corpo, eu era uma marionete na mão de alguém. A minha consciência estava trancafiada no corpo do nosso inimigo. Houve uma inversão de corpos.

Todos ouviram com atenção. Então, Kyoshi deduziu por todos.

- Então aqueles dois riscos que vimos...

- Foram vocês dois destrocando os corpos! – exclamou Ruby.

Yue afirmou com a cabeça, e todos viram que a barreira estava lentamente sendo quebrada. Na verdade, havia sido quebrada desde que eles puderam se abraçar, mas agora ela se desfazia cada vez mais rápido. Iam ser percebidos em breve.

- Vamos subir o mais rápido possível! A pessoa ainda pode estar lá!

Os cinco foram que nem balas para o topo da torre, aproveitando que estavam protegidos pelos vestígios da barreira.

Ao chegarem lá em cima, o corpo de um jovem estava estendido na minúscula parte plana que havia, quase despencando torre abaixo. A roupa do jovem tinha um capuz que escondia seu rosto, e ele parecia desacordado.

Quando Kyoshi se abaixou para tirar o capuz e conhecer o rosto da pessoa que os perseguia por tanto tempo, o indivíduo se levantou rapidamente e uma ofuscante luz branca se seguiu.

Quando todos puderam abrir os olhos novamente, trataram de voltar ao solo, e se esconderem rapidamente em um beco próximo, das pessoas que transitavam, normalmente, pelas ruas.

No entanto, ninguém lembrava de mais nada, desde que haviam alcançado o topo da torre...

FIM DA QUINTA PARTE

Konnichiwa, minna! Eu espero que estejam gostando do fanfic, ne? ^ ^Eu prossigo pedindo desculpas pela demora, e espero poder atualizar mais rápido. Afinal, como eu agora não gasto mais tempo bobo na internet, eu tenho mais tempo para escrever o Rumos!

Peço que enviem suas críticas por mail para mari-chan.mlg@bol.com.br ou então postem uma review, para que eu possa melhorar sempre esse trabalho, que é feito para vocês!

Obrigada, e até o próximo encontro,

Mari-chan.