Ainda estou do seu lado
Estava tudo acabado. A pressão de anos, o tormento e o medo das pessoas... tudo acabou. Em alguns dias, menos de um mês, toda a expectativa de milhares de pessoas, sejam elas boas ou más, alcançou o ápice e... acabou. E tudo o que acabou foi substituído por outros sentimentos. Parecia que o destino queria que nossas mentes nunca descansassem, teria que ter sempre alguma coisa, corroendo-nos por dentro. Seja ela medo ou simplesmente tristeza.
Voldemort fora morto. Acabado. Assim como milhares de outros bruxos e bruxas, sua vida desintegrou-se rapidamente, sem nem um suspiro ou última palavra raivosa. A história, e os livros de história, nunca seriam tão monótonos. O grande e temível lorde das trevas morrera tão pateticamente, atingido pelas costas, sem nenhum feitiço, sem nenhuma honra. Fora rápido e, para o desagrado da maioria, indolor. Mas assim seu assassino quisera.
Agora, que tudo estava acabado, o mundo bruxo lamentava as perdas. Muitas pessoas morreram, muitas ainda estavam gravemente feridas e, aquelas que sobreviveram e estavam bem, ocupavam-se em chorar e curar, restabelecer o que um dia foi um mundo cheio de encanto.
Harry Potter, um dos principais atores dos eventos que se sucederam, chegou à enfermaria cedo. Hogwarts, o lugar mais poderoso e belo do mundo bruxo, continuava intacta. Suas paredes pouco sofreram com os impactos da magia de Voldemort e dos Death Eaters, tremeram, mas não caíram. Mas, agora, era seu interior que estava mudado. Bruxos, dos mais diversos tipos e graus, corriam desesperados de um lado para o outro, entrando e saindo de inúmeras portas, cuidando dos feridos e quase mortos que a escola abrigava.
O próprio Dumbledore estava sendo atendido, mas em seu quarto. Ele quase morrera, estava muito mal, não conseguia nem levantar-se direito e sua fala estava fraca e deficiente, mas seus olhos, para o alívio dos que sobreviveram, ainda brilhavam como os de uma criança. Estava feliz, pois a paz poderia finalmente ser conquistada.
Sim, conquistada. O mal maior foi derrotado, mas isso não quer dizer que a paz viria assim que o mal saísse, pensar assim seria muito simplista e infantil, para não dizer inútil.
Caminhando lentamente até uma das camas, Harry sentiu seu coração apertar- se quando viu a figura deitada, tão calma e quieta, respirando com dificuldade. Ela estava acordada, ele percebeu, mas mantinha os olhos fechados, como se ver fosse um ato que dependesse de muita energia, coisa que ela não tinha.
Ele encostou o corpo junto ao metal da cama e segurou a mão quente, de dedos delicados e fracos, "Hermione?", ele sussurrou.
Os olhos da garota se abriram apenas um pouco, mas, ao reconhecer a figura ao seu lado, se fecharam novamente, "Harry...", ela disse com uma voz rouca. Sua garganta se contraiu e ela continuou com mais firmeza, "Oh, Harry... meu amigo..."
Por entre os olhos fechados, lágrimas começaram a brotar, molhando os cílios e rolando pelas laterais do rosto magro de Hermione. Os dedos dela se mexeram, num movimento quase imperceptível, e Harry apertou a mão dela na dele.
"Está melhor?", ele perguntou, depois de um longo tempo, as lágrimas de Hermione já secas no travesseiro.
A cabeça dela se mexeu negativamente.
"Eu poderia mandar chamar Madame Pomfrey...", ele olhou em volta, procurando a figura ocupada e enérgica da enfermeira, "Ela conseguiria tratar de você...", um leve aperto em sua mão o calou.
"Não...", Hermione o olhava agora, com um olhar de contentamento estranho para a situação, mas que fez o coração de Harry se esquentar, "Devemos respeitar a fila..."
Harry concordou, engolindo em seco. Existia uma lista de nomes, dos casos mais graves aos menos graves, escrita em um longo pergaminho, que estava enrolado, pendurado à cintura de Madame Pomfrey. Hermione não era um dos caso mais graves, portanto, teria que esperar a sua vez de ser atendida. Sim, havia muitos voluntários, mas havia mais feridos, muito mais.
Hermione fechou os olhos e suspirou, "Fique aqui comigo... só mais um pouco, por favor."
Harry ficou. O dia inteiro. Observou Hermione dormir, acordar, deu de comer à ela, mas não conversou, não falou nada além do mínimo necessário. As coisas que queria conversar com sua melhor amiga não eram apropriadas enquanto ela ainda não estivesse bem. As coisas que queria desabafar, a dor que queria compartilhar... ela não poderia sofrer mais, não poderia ser egoísta a ponto de derramar sobre sua amiga suas tristezas.
De vez em quando, para maior sofrimento de Harry, Hermione tremia, seu rosto se contorcia e seus músculos ficavam tensos e duros como aço. Harry não sabia se eram lembranças que a atormentavam ou os efeitos do que ela sofrera para protegê-lo.
Cruciatus.
Mais de dez varinhas apontadas para ele, somente para ele, todas com o mesmo feitiço proibido, libertando-se de suas pontas e avançando sobre ele. Mas nada o alcançara. Harry sentira que teria sido melhor que os feitiços caíssem sobre ele, diretamente. Seria muito melhor do que ver sua amiga retorcendo-se e gritando no chão, sangue e lágrimas misturando-se em seu rosto. Mesmo inconsciente, ela continuara a gritar e a chorar, seus membros se estendendo e contraindo por conta própria. Os olhos, tão sábios, amigáveis e calorosos... sem vida.
Harry ficara paralisado, em sua mente, sua própria voz gritara dentro de sua cabeça para que se mexesse, que ajudasse sua amiga, não ficasse parado. Mas ele não se mexera. Os gritos de Hermione atravessaram as gargalhadas dos Death Eaters e entraram, como se fossem milhares de pequenos e pontiagudos alfinetes, em seus ouvidos, machucando-o por dentro.
Seus joelhos fraquejaram e ele caíra, arrastando-se até a amiga, como um animal selvagem, irracional, que não sabe o que fazer quando se vê em situação inesperada e não condizente com seus instintos. Quando alcançara Hermione foi que finalmente acordara.
Com um grito de dor, Ron, que segundos atrás estava ao seu lado, fora morto. Ele correra desesperado, cheio de ódio e ira, na direção dos Death Eaters, alcançara dois, mas morrera nas mãos do terceiro. Um Avada Kedavra gritado na última hora, pois o Death Eater não esperava que seus companheiros fossem mortos de maneira tão inesperada.
Ron ficara sua varinha nos corações dos dois Death Eaters anteriores. Ela pingava com o sangue deles quando se aproximara do terceiro que, surpreso e provavelmente com medo, gritou o feitiço para defender a vida do ataque de um homem maluco, dominado pelo ódio.
"Mudblood..."
Harry levantou-se num átimo, olhando para os lados nervosamente, com um súbito tremor de raiva. Seus olhos estreitaram-se ao redor. Tinha certeza que ouvira...
"... mudblood..."
Virou-se na direção da voz. Era um sussurro, uma voz rouca, parecia ser de uma criança doente. Mas como alguém se atrevia a falar esse tipo de coisa num lugar como esse?
"Mudblood, mudblood..."
Duas camas seguidas da de Hermione, no final do corredor de doentes da enfermaria, tinha uma cama que estava envolta por uma cortina. Era de lá que a voz vinha. Por trás da cortina, contra a luz de um candelabro, Harry pôde distinguir a figura de uma pessoa, sentada na cama, balançando-se para frente e para trás.
"ah... pai...", a pessoa parou de se mexer, "Pai... por quê?", ela se mexeu novamente, mas Harry não conseguiu distinguir o que estava fazendo, "Porque são mudbloods!!!", ele gritou de repente, assuntando Harry e as outras pessoas, acordando Hermione, que começou a chorar, nervosa, "Mudbloods! Não valem, não prestam, não são puros! Não são puros!", outras pessoas começaram a chorar, "Mudbloods! Não! São! Puros! Não são nada!"
Harry largou a mão de Hermione, bravo por ver sua amiga chorando, e correu até o final do corredor. Ao afastar a cortina, porém, suas palavras de ultraje pela pessoa calaram-se na garganta.
Professor Snape estava inclinado sobre a cama, abraçando um garoto, que Harry não sabia exatamente quem era, mas parecia-lhe muito familiar. A forma ainda imponente e arrogante de seu antigo professor tirava-lhe a visão do rosto do rapaz, que o abraçava de volta, fechando suas mãos em punho nas roupas de Snape.
"Pai...", o garoto parou de gritar, voltando a sussurrar, "Por quê? Por quê?"
Antes que Snape dissesse qualquer coisa, Madame Pomfrey entrou no espaço reservado pela cortina empurrando Harry e inclinando-se sobre o rapaz.
"Merlim, o que aconteceu aqui?", ela perguntou em tom de censura para Snape, "O que você disse à ele, Serverus?! Todos os pacientes estão assustados por causa dessa gritaria!"
Snape e Pomfrey travaram uma batalha de mãos e olhares para ver quem tocava no rapaz, "Se ele está atrapalhando, deixe-me levá-lo para as masmorras."
"Já disse que ele fica aqui!", Pomfrey quase gritou de raiva. Harry percebeu que esse deveria ser um assunto antigo entre os dois.
"Eu posso muito bem cuidar dele nas masmorras.", Snape disse entredentes, "Lá ele irá receber o tratamento que merece!"
Pomfrey ergueu-se e colocou as mãos na cintura, olhando com uma raiva incontida para Snape, "Ele não sai daqui, Serverus. Mas, se você continuar a insistir e atrapalhar o meu serviço, é você quem irá sair.", com uma pompa e superioridade que Harry nunca pensara em ver na enfermeira, ela sussurrou um feitiço sobre o garoto e saiu para atender seus outros pacientes.
"Maldita velha...", Snape levantou-se e saiu também, passando por Harry sem nem ao menos perceber sua presença.
Finalmente sozinho, Harry aproximou-se do desconhecido.
Agora ele estava dormindo, o lençol desarrumado entre suas pernas, os cabelos loiros espalhados pelo rosto pálido e travesseiro. Suas sobrancelhas se movimentavam, franzindo-se e acalmando-se. Harry não podia acreditar no que estava vendo, mas, ao olhar o escudo bordado no pijama do rapaz, ele não poderia ter mais dúvidas.
"Malfoy?"
Continua...
Estava tudo acabado. A pressão de anos, o tormento e o medo das pessoas... tudo acabou. Em alguns dias, menos de um mês, toda a expectativa de milhares de pessoas, sejam elas boas ou más, alcançou o ápice e... acabou. E tudo o que acabou foi substituído por outros sentimentos. Parecia que o destino queria que nossas mentes nunca descansassem, teria que ter sempre alguma coisa, corroendo-nos por dentro. Seja ela medo ou simplesmente tristeza.
Voldemort fora morto. Acabado. Assim como milhares de outros bruxos e bruxas, sua vida desintegrou-se rapidamente, sem nem um suspiro ou última palavra raivosa. A história, e os livros de história, nunca seriam tão monótonos. O grande e temível lorde das trevas morrera tão pateticamente, atingido pelas costas, sem nenhum feitiço, sem nenhuma honra. Fora rápido e, para o desagrado da maioria, indolor. Mas assim seu assassino quisera.
Agora, que tudo estava acabado, o mundo bruxo lamentava as perdas. Muitas pessoas morreram, muitas ainda estavam gravemente feridas e, aquelas que sobreviveram e estavam bem, ocupavam-se em chorar e curar, restabelecer o que um dia foi um mundo cheio de encanto.
Harry Potter, um dos principais atores dos eventos que se sucederam, chegou à enfermaria cedo. Hogwarts, o lugar mais poderoso e belo do mundo bruxo, continuava intacta. Suas paredes pouco sofreram com os impactos da magia de Voldemort e dos Death Eaters, tremeram, mas não caíram. Mas, agora, era seu interior que estava mudado. Bruxos, dos mais diversos tipos e graus, corriam desesperados de um lado para o outro, entrando e saindo de inúmeras portas, cuidando dos feridos e quase mortos que a escola abrigava.
O próprio Dumbledore estava sendo atendido, mas em seu quarto. Ele quase morrera, estava muito mal, não conseguia nem levantar-se direito e sua fala estava fraca e deficiente, mas seus olhos, para o alívio dos que sobreviveram, ainda brilhavam como os de uma criança. Estava feliz, pois a paz poderia finalmente ser conquistada.
Sim, conquistada. O mal maior foi derrotado, mas isso não quer dizer que a paz viria assim que o mal saísse, pensar assim seria muito simplista e infantil, para não dizer inútil.
Caminhando lentamente até uma das camas, Harry sentiu seu coração apertar- se quando viu a figura deitada, tão calma e quieta, respirando com dificuldade. Ela estava acordada, ele percebeu, mas mantinha os olhos fechados, como se ver fosse um ato que dependesse de muita energia, coisa que ela não tinha.
Ele encostou o corpo junto ao metal da cama e segurou a mão quente, de dedos delicados e fracos, "Hermione?", ele sussurrou.
Os olhos da garota se abriram apenas um pouco, mas, ao reconhecer a figura ao seu lado, se fecharam novamente, "Harry...", ela disse com uma voz rouca. Sua garganta se contraiu e ela continuou com mais firmeza, "Oh, Harry... meu amigo..."
Por entre os olhos fechados, lágrimas começaram a brotar, molhando os cílios e rolando pelas laterais do rosto magro de Hermione. Os dedos dela se mexeram, num movimento quase imperceptível, e Harry apertou a mão dela na dele.
"Está melhor?", ele perguntou, depois de um longo tempo, as lágrimas de Hermione já secas no travesseiro.
A cabeça dela se mexeu negativamente.
"Eu poderia mandar chamar Madame Pomfrey...", ele olhou em volta, procurando a figura ocupada e enérgica da enfermeira, "Ela conseguiria tratar de você...", um leve aperto em sua mão o calou.
"Não...", Hermione o olhava agora, com um olhar de contentamento estranho para a situação, mas que fez o coração de Harry se esquentar, "Devemos respeitar a fila..."
Harry concordou, engolindo em seco. Existia uma lista de nomes, dos casos mais graves aos menos graves, escrita em um longo pergaminho, que estava enrolado, pendurado à cintura de Madame Pomfrey. Hermione não era um dos caso mais graves, portanto, teria que esperar a sua vez de ser atendida. Sim, havia muitos voluntários, mas havia mais feridos, muito mais.
Hermione fechou os olhos e suspirou, "Fique aqui comigo... só mais um pouco, por favor."
Harry ficou. O dia inteiro. Observou Hermione dormir, acordar, deu de comer à ela, mas não conversou, não falou nada além do mínimo necessário. As coisas que queria conversar com sua melhor amiga não eram apropriadas enquanto ela ainda não estivesse bem. As coisas que queria desabafar, a dor que queria compartilhar... ela não poderia sofrer mais, não poderia ser egoísta a ponto de derramar sobre sua amiga suas tristezas.
De vez em quando, para maior sofrimento de Harry, Hermione tremia, seu rosto se contorcia e seus músculos ficavam tensos e duros como aço. Harry não sabia se eram lembranças que a atormentavam ou os efeitos do que ela sofrera para protegê-lo.
Cruciatus.
Mais de dez varinhas apontadas para ele, somente para ele, todas com o mesmo feitiço proibido, libertando-se de suas pontas e avançando sobre ele. Mas nada o alcançara. Harry sentira que teria sido melhor que os feitiços caíssem sobre ele, diretamente. Seria muito melhor do que ver sua amiga retorcendo-se e gritando no chão, sangue e lágrimas misturando-se em seu rosto. Mesmo inconsciente, ela continuara a gritar e a chorar, seus membros se estendendo e contraindo por conta própria. Os olhos, tão sábios, amigáveis e calorosos... sem vida.
Harry ficara paralisado, em sua mente, sua própria voz gritara dentro de sua cabeça para que se mexesse, que ajudasse sua amiga, não ficasse parado. Mas ele não se mexera. Os gritos de Hermione atravessaram as gargalhadas dos Death Eaters e entraram, como se fossem milhares de pequenos e pontiagudos alfinetes, em seus ouvidos, machucando-o por dentro.
Seus joelhos fraquejaram e ele caíra, arrastando-se até a amiga, como um animal selvagem, irracional, que não sabe o que fazer quando se vê em situação inesperada e não condizente com seus instintos. Quando alcançara Hermione foi que finalmente acordara.
Com um grito de dor, Ron, que segundos atrás estava ao seu lado, fora morto. Ele correra desesperado, cheio de ódio e ira, na direção dos Death Eaters, alcançara dois, mas morrera nas mãos do terceiro. Um Avada Kedavra gritado na última hora, pois o Death Eater não esperava que seus companheiros fossem mortos de maneira tão inesperada.
Ron ficara sua varinha nos corações dos dois Death Eaters anteriores. Ela pingava com o sangue deles quando se aproximara do terceiro que, surpreso e provavelmente com medo, gritou o feitiço para defender a vida do ataque de um homem maluco, dominado pelo ódio.
"Mudblood..."
Harry levantou-se num átimo, olhando para os lados nervosamente, com um súbito tremor de raiva. Seus olhos estreitaram-se ao redor. Tinha certeza que ouvira...
"... mudblood..."
Virou-se na direção da voz. Era um sussurro, uma voz rouca, parecia ser de uma criança doente. Mas como alguém se atrevia a falar esse tipo de coisa num lugar como esse?
"Mudblood, mudblood..."
Duas camas seguidas da de Hermione, no final do corredor de doentes da enfermaria, tinha uma cama que estava envolta por uma cortina. Era de lá que a voz vinha. Por trás da cortina, contra a luz de um candelabro, Harry pôde distinguir a figura de uma pessoa, sentada na cama, balançando-se para frente e para trás.
"ah... pai...", a pessoa parou de se mexer, "Pai... por quê?", ela se mexeu novamente, mas Harry não conseguiu distinguir o que estava fazendo, "Porque são mudbloods!!!", ele gritou de repente, assuntando Harry e as outras pessoas, acordando Hermione, que começou a chorar, nervosa, "Mudbloods! Não valem, não prestam, não são puros! Não são puros!", outras pessoas começaram a chorar, "Mudbloods! Não! São! Puros! Não são nada!"
Harry largou a mão de Hermione, bravo por ver sua amiga chorando, e correu até o final do corredor. Ao afastar a cortina, porém, suas palavras de ultraje pela pessoa calaram-se na garganta.
Professor Snape estava inclinado sobre a cama, abraçando um garoto, que Harry não sabia exatamente quem era, mas parecia-lhe muito familiar. A forma ainda imponente e arrogante de seu antigo professor tirava-lhe a visão do rosto do rapaz, que o abraçava de volta, fechando suas mãos em punho nas roupas de Snape.
"Pai...", o garoto parou de gritar, voltando a sussurrar, "Por quê? Por quê?"
Antes que Snape dissesse qualquer coisa, Madame Pomfrey entrou no espaço reservado pela cortina empurrando Harry e inclinando-se sobre o rapaz.
"Merlim, o que aconteceu aqui?", ela perguntou em tom de censura para Snape, "O que você disse à ele, Serverus?! Todos os pacientes estão assustados por causa dessa gritaria!"
Snape e Pomfrey travaram uma batalha de mãos e olhares para ver quem tocava no rapaz, "Se ele está atrapalhando, deixe-me levá-lo para as masmorras."
"Já disse que ele fica aqui!", Pomfrey quase gritou de raiva. Harry percebeu que esse deveria ser um assunto antigo entre os dois.
"Eu posso muito bem cuidar dele nas masmorras.", Snape disse entredentes, "Lá ele irá receber o tratamento que merece!"
Pomfrey ergueu-se e colocou as mãos na cintura, olhando com uma raiva incontida para Snape, "Ele não sai daqui, Serverus. Mas, se você continuar a insistir e atrapalhar o meu serviço, é você quem irá sair.", com uma pompa e superioridade que Harry nunca pensara em ver na enfermeira, ela sussurrou um feitiço sobre o garoto e saiu para atender seus outros pacientes.
"Maldita velha...", Snape levantou-se e saiu também, passando por Harry sem nem ao menos perceber sua presença.
Finalmente sozinho, Harry aproximou-se do desconhecido.
Agora ele estava dormindo, o lençol desarrumado entre suas pernas, os cabelos loiros espalhados pelo rosto pálido e travesseiro. Suas sobrancelhas se movimentavam, franzindo-se e acalmando-se. Harry não podia acreditar no que estava vendo, mas, ao olhar o escudo bordado no pijama do rapaz, ele não poderia ter mais dúvidas.
"Malfoy?"
Continua...
