Epílogo - cap 5

Harry Potter e suas personagens pertencem à JK Rolling.



"Ah... Harry Potter."

Todos ficaram em silêncio, apenas escutando, cada um olhando para nada significante, enquanto a voz calma e divertida lia trechos da matéria.

"... batalha final... nananã... Voldemort tinha a mesma varinha... nanã... O Menino que Viveu... ah! Grandioso feitiço, ora vejam só... humm... muita concentração de energia... nananã... oh, sim! Herói de Todos os Tempos, com certeza!", uma pequena risada, falando para si mesmo, "Sempre soube que um dia mudariam o título... ah-hã... o mal não está mais entre nós! Obrigado, Harry Potter!"

Dumbledore depositou o jornal na escrivaninha com um suspiro de contentação, seus olhos azuis brilhando novamente com a antiga alegria, destituída de qualquer malícia, de quem sabe algo mais do que você e se diverte com sua ignorância. Completamente saudável, Dumbledore exibia uma disposição irritantemente grandiosa para um bruxo tão velho. Todos voltaram suas atenções para o diretor de Hogwarts assim que ele terminara de ler a matéria de capa do Profeta Diário.

"Mas quem escreveu isto aqui realmente tem uma imaginação primorosa!", Dumbledore disse, batendo de leve no jornal, "Qualquer um seria facilmente enganado com palavras tão cheias de convicção e certeza."

Minerva McGonagall inclinou-se para frente, com a expressão séria, "Esse é o problema, diretor. Todos estão acreditando nessa mentira!"

"O Herói de Todos os Tempos não existe.", Snape meio que rosnou da poltrona dele, "Se é que ele um dia existiu... Agora vão ficar abanando as orelhas de Potter dando-o o mérito por uma coisa que ele, como sempre, não fez."

"Ora... mas é uma história muito interessante, Severus...", o diretor sorriu, folheando mais uma vez o jornal, "Realmente muito interessante!"

"Pode ser interessante, mas não é a verdade!", McGonagall disse mais uma vez, "Não podemos deixar que uma mentira tão monstruosa como essa se espalhe pelo mundo!"

"Oh, não se preocupe quanto à isso, Minerva...", Dumbledore disse, "Não há um bruxo nesse planeta que já não tenha decorado esse jornal, de ponta a ponta. A mentira já se espalhou, como a mais verdadeira das verdades."

"Então, o que temos que fazer é levar Potter à público para desmentir essas bobagens.", Snape concluiu, impaciente.

Dumbledore olhou-os, ainda com aquele ar de satisfação misterioso, balançando a cabeça negativamente, "Vocês realmente pensam assim?", ele dobrou o jornal, deixando que as palavras 'Profeta Diário: Harry Potter, O Herói de Todos os Tempos', ficassem de frente para os professores, "Essa história, por mais absurda e mentirosa que seja, somente traduz o que as pessoas querem saber. E elas não querem saber a verdade que nós sabemos...", ele acrescentou devagar, "Todos os bruxos e magos querem uma vitória arrebatadora contra o mal. Uma batalha de aventura e heroísmo que possa ser contada para os seus filhos, netos e bisnetos ressaltando, principalmente, o fato do grande vilão ter sido derrotado apenas quando não houvesse mais salvação, quando tudo já estivesse perdido. O herói que eles querem participou com garra e determinação de todas as batalhas, salvou à todos os inocentes, não desistiu quando se viu à beira da morte e, quando venceu, se retirou humildemente para ajudar os feridos, sem fazer estardalhaço sobre sua vitória.", Dumbledore, jogou o jornal na cesta de lixo mágica ao lado da escrivaninha, fazendo-o sumir no mesmo instante, e cruzou as mãos sobre a barba, reclinando-se na cadeira, "Esse lixo não nos interessa, nós sabemos a verdade e já nos contentamos com ela. Mas esse mesmo lixo é o que todos querem. E eles estão felizes e satisfeitos com isso, sendo mentira ou não."

Depois de alguns segundos de silêncio, Snape voltou a falar, cauteloso, "Está querendo dizer que devemos deixar como está? Não vamos desmentir nada?"

"Mas... isso...", McGonagall estava com o cenho franzido, pensativa, "Realmente, eu admito que se contássemos a verdade agora... bem, provavelmente haveria... haveria..."

"Decepção geral.", Dumbledore completou para a professora, sorrindo, "Ficariam todos muito decepcionados e, talvez, até envergonhados por terem acreditado tão facilmente em uma mentira tão linda como essa."

"Não apenas isso... mas descrença na própria magia...", ela continuou.

"Sim, claro. Ao saberem que Voldemort não morreu por meio de feitiços ou poções ou qualquer coisa mágica...", o diretor concordou, "Simplesmente por mãos humanas..."

"... o que poderia provocar um súbito medo generalizado...", ela completou, espantada com sua própria linha de raciocínio, "E até uma desistência e descrença do mundo bruxo!"

Dumbledore sorriu, rindo baixinho, "Oh, sim, algumas poucas pessoas ficariam com medo... mas não acho que chegaria a tanto.", ele disse, "Talvez, realmente, o mundo bruxo finalmente se desse conta da complexidade do mundo muggle... tão forte e poderoso quanto o nosso, do jeito deles, claro. Isso poderia provocar um repentino medo, é possível. Mas, creio, que esse medo se tornará em respeito, o que não seria uma coisa tão ruim assim."

"O que você quer que façamos, afinal?", Snape interrompeu-os, bravo, "Contamos ou não a verdade?"

"Ora, Severus... mas quem sou eu para decidir isso?", Dumbledore sorriu, travesso, diante da expressão frustrada do professor, "Quem deve decidir se quer contar a verdade ou não é Harry, afinal, é o nome dele que está em jogo aqui."

Imediatamente, todos os olhos voltaram-se para a figura silenciosa e desanimada, sentada na primeira poltrona da esquerda, que brincava, sem muita animação, com o pequeno filhote de fênix, que tentava bicar o seu dedo.

"Harry?", Dumbledore o chamou novamente.

"Potter!", Snape rosnou, conseguindo apenas que o alto rapaz contraísse os ombros, para o seu desgosto.

Harry suspirou e voltou os olhos para Dumbledore, recostando-se na poltrona, "Eu não sei, sinceramente, por que não me perguntaram isso antes...", ele disse sério, mas sem nenhum tom de reprovação ou queixa, "Era apenas a coisa mais óbvia a se fazer."

"Ora!", Snape levantou-se, cruzando os braços, "Então, diga logo de uma vez, Potter, o que vai fazer?"

Sem pressa, Harry olhou longamente para seu ex-professor, retirando prazer da impaciência dele, "Interessa mesmo a você?"

McGonagall olhou-o com seriedade, impedindo Snape de retrucar, "Potter, isso é um assunto sério. Por favor, responda, que eu tenho certeza que todos nós estamos nessa sala somente para saber isso."

"Bem... ", ele franziu o cenho brevemente, acariciando mais uma vez o filhote de fênix, "Apesar de todas as conseqüências relacionadas por Dumbledore e pela senhora...", ele voltou o olhar para Snape, "Devo concordar com o professor Snape de que eu não posso ser conhecido por uma coisa que não fiz. Principalmente se eu não quero ser conhecido.", ele conteve uma risada sarcástica quando viu seu antigo professor de poções o olhar incrédulo.

"Se é assim...", o dito professor disse, depois de se recuperar, "Com licença, diretor.", ele se despediu apenas de Dumbledore, ignorando McGonagall e Harry.

Quando a porta do gabinete foi fechada, Harry suspirou, murmurando, "Sim... agora você está livre para cuidar do seu precioso Malfoy... deixe que os outros cuidem do Potter..."

McGonagall virou-se para Harry, surpresa, enquanto Dumbledore abria uma balinha de limão, tranqüilo de tudo, "O que você sabe sobre o senhor Malfoy, Potter?"

Erguendo-se da poltrona, Harry pegou uma balinha de limão, oferecida silenciosamente pelo diretor, pois este estava de boca cheia, sorrindo novamente, "Eu sei exatamente o que a maioria neste castelo sabe, professora.", ele deu de ombros, jogando a balinha verde na língua, sem se importar em falar com a boca cheia, "Praticamente nada. Mas o que eu sei, eu sei graças ao professor Snape e à Madame Pomfrey, que fazem questão de criarem um escândalo em cima dele pelo menos uma vez por dia."

"Oh, Merlim! Eu não sabia disso!", a professora tomou sua postura rígida, que nos últimos dias falhara muito, e virou-se para o diretor, "Severus não deve ficar alardeando em cima do rapaz, Albus! Isso pode piorar o estado dele!"

Antes que Dumbledore pudesse falar, ou ajeitar a balinha em um canto da boca para falar sem se enrolar, a risada de Harry preencheu todo o gabinete, alta e debochada, "Você acha mesmo que ele pode piorar?", ele disse depois, um pouco ofegante, "Já viu o estado dele? Malfoy está completamente pirado! Virou uma criança dependente e sem noção alguma do que acontece à sua volta!", seu tom foi ficando menos debochado e mais raivoso, "Ele está tão interessado nas picuinhas entre Snape e Poppy quanto eu estou com a reação do maldito mundo bruxo quando souberem que foi um simples muggle que matou Voldemort!", rindo de repente, ele acrescentou, pressionando o dedo indicador contra a lateral da cabeça, pontuando cada palavra, "Ele está doido, pirado, maluco, doente! Já tentaram conversar com ele, por acaso?"

"E você já, Harry?", a voz calma e alegre de Dumbledore o interrompeu, silenciando-o momentaneamente.

Deixando os ombros caírem, ficando mais calmo, Harry admitiu, "Sim... ", e, parecendo perdido, olhando para os lados, ele continuou, um pouco nervoso, "Mas isso não importa... eu... eu vou embora.", Harry quase correu até a porta, mas parou, acrescentando antes de, literalmente, fugir, "Vou ainda hoje na redação do Profeta Diário, diretor..."

"Boa sorte pra você, Harry...", Dumbledore disse enquanto a porta de seu gabinete se fechava.

McGonagall olhou incrédula para o diretor, estreitando os olhos, "É impressão minha ou, segundo Harry Potter, não é apenas o senhor Malfoy que está...", ela fez uma careta ao falar, "... pirado?"

O velho diretor riu, abrindo outra balinha de limão, "Impressão sua, Minerva... impressão sua..."

"Oh, sim!", ela retrucou sarcástica, "Engano meu. Estamos todos pirados!"

Dumbledore preferiu apenas sorrir e chupar tranqüilamente sua balinha de limão.



Continua...