Epílogo - cap 6
Harry Potter e suas personagens pertencem à JK Rolling.
O castelo estava bem mais vazio. No quarto dia após a derrota de Voldemort, apenas algumas pessoas transitavam pelos intermináveis corredores, na sua maioria parentes de alunos e ex-alunos se preparando para partir. Na Enfermaria, as camas estavam todas lotadas, mas no seu número habitual de camas. Não havia mais a necessidade de voluntários e, conforme Poppy, os últimos pacientes não precisariam ficar mais do que um ou dois dias no castelo.
Um castelo mais vazio significa um castelo mais silencioso. E muito mais tranqüilo, principalmente para alguém que queira pôr os pensamentos em ordem, ou simplesmente pensar. Apesar de ser um ambiente perfeito para Harry, ele não estava aproveitando, mesmo que seu exterior indicasse o contrário.
Harry abriu a porta do quarto e entrou silenciosamente, sem ao menos pronunciar uma palavra. Na sua cama de casal, que ele mesmo mal usara, Hermione e Remus dormiam. A primeira tranqüilamente, um sono sem perturbações podendo-se perceber pela sua expressão relaxada. O segundo, com o cenho um pouco franzido, respirava com dificuldade, suas mãos inquietas buscavam alguma coisa no próprio peito. Apesar de estarem na mesma cama, pareciam estar em mundos diferentes.
Agora Harry entedia a insistência de Snape em querer Malfoy perto dele. Obrigara Hermione a se deitar junto com Remus, podendo manter as duas pessoas mais importantes para ele sempre por perto, sempre seguras. Ele, por sua vez, ficara com o largo, mas incômodo e duro sofá no canto do quarto, observando os dois dormirem, acudindo quando qualquer perturbação os afligisse. Poderia muito bem mandá-los para a Enfermaria, mas nem falara com Poppy, temendo que ela tirasse-os de perto dele, o que seria uma bobagem, um medo infantil.
Caminhando até Remus, Harry pegou em sua mão, apertando-a delicadamente na sua, sentindo os finos ossos sob a pele magra e fria. Imediatamente Remus respondeu ao toque, mostrando sua pequena e inconstante força, segurando na mão de Harry junto ao peito, como se fosse um tesouro do mais precioso.
"Professor... está tudo bem...", Harry sussurrou baixinho, afastando a franja de cabelos brancos da testa enrugada, "Está tudo bem..."
A outra mão de Remus, trêmula e magra, ergueu-se e alcançou a cabeça de Harry, puxando-o para si. O rapaz apoiou a cabeça no peito ofegante, sentindo os dedos finos nos seus cabelos, permitindo-se fechar os olhos durante aquele cafuné carinhoso, uma coisa tão rara para ele.
Mesmo sabendo ser aquele um momento triste, Harry não pôde deixar de sentir uma estranha alegria, momentânea e quente, dentro de si. Aquilo era sua única família, tão anormal e frágil, como ele mesmo esperava que fosse, podendo partir-se a qualquer instante. Sempre sem grandes esperanças de participar algum dia de um lar típico de novela, essa pequena família que conseguira já era mais do que o suficiente.
"Sirius... meu grande amigo Sirius...", Remus murmurou durante o sono, rouco e fraco, "Obrigado, Sirius... por estar ao meu lado, obrigado.", ele continuou a aninhar Harry, que percebeu estar fazendo o papel não de Sirius, mas de Padfoot, quando sentiu os dedos de Remus irem automaticamente para trás de sua orelha.
Com um estalo, Harry abriu os olhos, mas não se mexeu. Não era Padfoot nem Sirius. Assim como não era o herói que salvara o mundo bruxo, se é que foi realmente salvo. Ele sentiu seu coração batendo forte contra o peito de Remus e, segurando as mãos dele, afastou-se lentamente, para que não o acordasse. Mesmo sem o calor dele, Remus não se mexeu mais, caindo em um sono mais tranqüilo.
Ao se aproximar do outro lado da cama, observando Hermione dormindo pequena e tranqüila debaixo das cobertas, Harry foi surpreendido por uma pequena risada.
Com um olhar infantil, um sorriso no rosto, Malfoy encolhia os ombros e segurava-se para não rir mais. Estava parado na porta, ainda de pijamas e descalço, mas com um grosso casaco de pele dessa vez, protegendo-o do frio.
"Mudbloods...", ele disse baixinho, como confessando algo. Balançando a cabeça negativamente, o loiro fez uma pequena careta, "Não pode misturar..."
Fechando os olhos, Harry virou o rosto, dizendo a si mesmo que Remus e Hermione o olhariam reprovadoramente se perdesse a calma agora. Os dois sempre convenciam Harry que ignorar esse tipo de insulto era a melhor saída.
"Onde está Snape, Malfoy?", ele perguntou, controlando a voz, sentindo que mal movera a boca ao falar.
Prendendo a respiração, o loiro olhou para trás, para fora do quarto e fechou a porta logo depois.
Harry soltou uma pequena risada de irritação, mas continuou calmo, "Ele não sabe que você está invadindo o meu quarto?"
Malfoy fez uma careta de aborrecimento enquanto aproximava-se da cama. Olhou atentamente as figuras quietas de Hermione e Remus, abaixando o olhar por alguns segundos, sem dar mostras de querer continuar a conversa anterior. Inclinando-se brevemente sobre Remus, ele disse, "Mudblood..."
Quando Harry estalou a língua para responder, abrindo os olhos e virando-se para Malfoy, quase perdeu a respiração vendo-o tão próximo de seu ex- professor. Um medo repentino de que ele fizesse alguma coisa com Remus mal subiu pela sua garganta quando o loiro ergueu-se e correu até a janela, deixando-o assustado e sem reação por um momento.
Tentando se controlar e culpando-se por não prestar mais atenção, Harry ergueu-se também de onde estava, ao lado de Hermione, e limpou a garganta, tentando recuperar a voz, "O que está fazendo?", ele perguntou ao ver o outro inclinando-se no parapeito da grande janela.
Sem responder, Malfoy voltou, segurando algumas flores murchas na mão, ajeitando-as em um buquê simples, retirando as folhas secas e galhos retorcidos que vieram junto. Não era grande coisa, apenas alguma planta que nascia entre as pedras, do lado de fora do castelo. Harry ficou sem entender por um minuto, vendo o loiro agachar-se ao lado de Remus, ajeitando o pequeno buquê em seu peito.
Com movimentos quase mecânicos, Draco ajeitou o corpo de Remus, retirando o cobertor e endireitando os membros em uma posição mais reta. Pegando as duas mãos pálidas e ossudas, ele abriu os dedos, estirando-os, espalmando- as sobre o buquê e o peito de Remus, mexendo nele como se fosse uma boneca sendo preparada para alguma brincadeira.
Quando Harry percebeu o que ele estava fazendo não sentiu nem ouviu nada, apenas se viu do outro lado da cama, empurrando bruscamente Malfoy e desmontando a posição de defunto que o loiro criara, cobrindo seu ex- professor novamente, passando a mão suada nos cabelos brancos enquanto sentia seu coração brigando contra o espaço apertado de seu peito.
Sentindo a respiração mais calma, mas não menos bravo, Harry virou-se para Malfoy, que continuava caído no mesmo lugar em que fora empurrado, sussurrando entredentes, "Saia daqui, Malfoy."
Como se notasse somente agora a presença de Harry, Draco ergueu os olhos, olhando-o surpreso. Estava em uma posição incômoda no chão, meio sentado, meio deitado, entre uma cômoda e uma pequena estante. Voltando a olhar para Remus, ele respondeu, calmamente, "Vai morrer..."
"Não vai!", Harry retrucou de imediato, "Ele não vai morrer!", diante da falta de cooperação do outro, ele deixou escapar um grunhido de raiva ao levantar Malfoy do chão, segurando-o pelo casaco, "Saia daqui! Eu não quero você aqui me atormentando com essas besteiras..."
"Vai morrer...", Draco repetiu, como tentando explicar para uma criança algo óbvio, interrompendo Harry, que mesmo assim não parou de carregá-lo para fora do quarto.
Alcançando a porta, Harry empurrou o loiro para fora, fechando-a atrás de si, gritando finalmente, "Ele não vai morrer, Malfoy!"
Soltando um suspiro de impaciência infantil, rolando os olhos em deboche e pondo cruzando os braços, Draco ergueu uma sobrancelha, dizendo infantilmente, "Não é da sua conta."
Snape, mostrando que não perdeu o tino para surgir nas horas mais impróprias, testemunhou o momento em que Harry, perdendo a paciência de uma vez, acertou um soco em Malfoy lançando o rapaz contra o chão. Bufando, com a lente dos óculos embaçada, Harry deu meia-volta e entrou no quarto, batendo a porta com força, mal ouvindo as acusações de Snape.
"Você não devia ter feito isso!", a voz de Hermione alcançou-o, acordando-o de seus pensamentos raivosos, em um tom visível de censura que o pegou desprevenido.
Harry olhou-a surpreso, sem entender do quê exatamente ela estava falando, mas ficou mais surpreso ainda quando sua amiga pegou as flores murchas de Malfoy, que estavam jogadas no chão, recolocando-as nas mãos de Remus. Hermione ajeitou-as de forma que o buquê voltasse a ficar mais apresentado, apesar de algumas pétalas já estarem perdidas.
"Hermione...", Harry tentou falar, mas sua mente estava tão confusa que não conseguiu formular nada coerente. Ficou apenas parado, em pé em frente à cama, com um olhar perdido, já sem zanga nenhuma.
"Você não é mais um aprendiz, Harry! Como pôde se comportar tão infantilmente assim?", Hermione finalmente disse, virando-se para o amigo com os braços cruzados. Sem dar tempo de que Harry respondesse, ela continuou, mostrando toda sua indignação com a atitude dele, "Todo mundo nesse castelo sabe que o Malfoy está com problemas mentais, que precisa de ajuda e, principalmente, paciência para lidar com ele. Eu não acredito que você foi capaz de levantar a mão pra uma pessoa assim!"
Mesmo estando atônito com a reação inesperada da amiga, Harry sentia-se era muito mais injustiçado, abrindo a boca para defender-se, "Hermione, você não--"
"Ele está tão indefeso como uma criança, Harry, e só queria ajudar!"
"Ajudar?!", ele quase gritou, perdendo a paciência, apontando para Remus, ainda deitado na cama, "Ele poderia ter matado Remus! Não viu o que ele fez?"
"Harry, por favor!", Hermione se aproximou do amigo, batendo na testa dele, que afastou bruscamente a cabeça, "Pare e pense um pouco. Não reconhece as flores na mão de Remus?"
Imediatamente, Harry desviou o olhar dos olhos de Hermione para as flores murchas. Desconfiado, ele aproximou-se devagar, analisando-as, tentando buscar qualquer informação na sua memória que tenha relação com esse tipo de flor. Mas não adiantou, para ele, eram apenas flores murchas, sem beleza ou atrativo algum. Apenas uma brincadeira de mau gosto de Malfoy.
"Não... não vejo nada demais nelas.", ele respondeu suspirando, já mais calmo.
"Remus não acordou, percebeu? Mesmo com toda essa algazarra que fizemos.", Hermione disse, também mais tranqüila, ficando ao lado dele, "Réquiem, Harry... Réquiem...", ela disse, balançando a cabeça negativamente, vendo que o amigo não conseguiria se lembrar.
Finalmente, erguendo as sobrancelhas ao escutar as palavras de Hermione, ele lembrou, muito vagamente.
"Sexto ano, segundo mês após o início das aulas, Herbologia avançada.", Hermione quase cantou as palavras, satisfeita consigo mesma, "Flores de Réquiem: nascem nos lugares mais impróprios, onde quase nenhuma outra planta conseguiria sobreviver. Sua aparência pode enganar os leigos, porém...", ela fez uma pausa, vendo uma sombra de culpa passar pelo rosto de Harry, "Porém, podem ser necessárias na medicina, prolongando a vida daqueles que sofrem de um mal cuja cura não foi encontrada ainda."
Fechando os olhos, Harry suspirou, sentindo-se cansado e envergonhado, "Vai morrer...", ele sussurrou, encaixando a nova informação com as palavras de Malfoy.
"Sim... um dos dois."
Ele prendeu a respiração, mantendo os olhos fechados, "O quê?", perguntou calmamente.
"O nome Réquiem não foi dado à toa, Harry. É a vida de Lupin e dessas flores, indo e vindo, de um corpo para o outro... um deles vai morrer. É só ter esperança de que Remus vença."
Sentindo-se irritado, Harry se afastou da cama e de Hermione, pegando um casaco, cachecol e luvas, vestindo-se apressado, "Então é isso?", ele disse, com raiva novamente, "Vai morrer... exatamente como Malfoy disse.", na pressa, ele acabou rasgando uma das luvas, ao vesti-la, praguejando em voz alta.
"Harry!"
"Não precisamos dessas flores para saber que Remus vai morrer, Hermione.", ele virou para a amiga, "Ele quer morrer! Isso só vai apressar o desejo dele."
Hermione arregalou os olhos e ia protestar, mas Harry já estava pronto, resmungando sem prestar atenção nela, batendo a porta do quarto ao sair.
Continua...
Harry Potter e suas personagens pertencem à JK Rolling.
O castelo estava bem mais vazio. No quarto dia após a derrota de Voldemort, apenas algumas pessoas transitavam pelos intermináveis corredores, na sua maioria parentes de alunos e ex-alunos se preparando para partir. Na Enfermaria, as camas estavam todas lotadas, mas no seu número habitual de camas. Não havia mais a necessidade de voluntários e, conforme Poppy, os últimos pacientes não precisariam ficar mais do que um ou dois dias no castelo.
Um castelo mais vazio significa um castelo mais silencioso. E muito mais tranqüilo, principalmente para alguém que queira pôr os pensamentos em ordem, ou simplesmente pensar. Apesar de ser um ambiente perfeito para Harry, ele não estava aproveitando, mesmo que seu exterior indicasse o contrário.
Harry abriu a porta do quarto e entrou silenciosamente, sem ao menos pronunciar uma palavra. Na sua cama de casal, que ele mesmo mal usara, Hermione e Remus dormiam. A primeira tranqüilamente, um sono sem perturbações podendo-se perceber pela sua expressão relaxada. O segundo, com o cenho um pouco franzido, respirava com dificuldade, suas mãos inquietas buscavam alguma coisa no próprio peito. Apesar de estarem na mesma cama, pareciam estar em mundos diferentes.
Agora Harry entedia a insistência de Snape em querer Malfoy perto dele. Obrigara Hermione a se deitar junto com Remus, podendo manter as duas pessoas mais importantes para ele sempre por perto, sempre seguras. Ele, por sua vez, ficara com o largo, mas incômodo e duro sofá no canto do quarto, observando os dois dormirem, acudindo quando qualquer perturbação os afligisse. Poderia muito bem mandá-los para a Enfermaria, mas nem falara com Poppy, temendo que ela tirasse-os de perto dele, o que seria uma bobagem, um medo infantil.
Caminhando até Remus, Harry pegou em sua mão, apertando-a delicadamente na sua, sentindo os finos ossos sob a pele magra e fria. Imediatamente Remus respondeu ao toque, mostrando sua pequena e inconstante força, segurando na mão de Harry junto ao peito, como se fosse um tesouro do mais precioso.
"Professor... está tudo bem...", Harry sussurrou baixinho, afastando a franja de cabelos brancos da testa enrugada, "Está tudo bem..."
A outra mão de Remus, trêmula e magra, ergueu-se e alcançou a cabeça de Harry, puxando-o para si. O rapaz apoiou a cabeça no peito ofegante, sentindo os dedos finos nos seus cabelos, permitindo-se fechar os olhos durante aquele cafuné carinhoso, uma coisa tão rara para ele.
Mesmo sabendo ser aquele um momento triste, Harry não pôde deixar de sentir uma estranha alegria, momentânea e quente, dentro de si. Aquilo era sua única família, tão anormal e frágil, como ele mesmo esperava que fosse, podendo partir-se a qualquer instante. Sempre sem grandes esperanças de participar algum dia de um lar típico de novela, essa pequena família que conseguira já era mais do que o suficiente.
"Sirius... meu grande amigo Sirius...", Remus murmurou durante o sono, rouco e fraco, "Obrigado, Sirius... por estar ao meu lado, obrigado.", ele continuou a aninhar Harry, que percebeu estar fazendo o papel não de Sirius, mas de Padfoot, quando sentiu os dedos de Remus irem automaticamente para trás de sua orelha.
Com um estalo, Harry abriu os olhos, mas não se mexeu. Não era Padfoot nem Sirius. Assim como não era o herói que salvara o mundo bruxo, se é que foi realmente salvo. Ele sentiu seu coração batendo forte contra o peito de Remus e, segurando as mãos dele, afastou-se lentamente, para que não o acordasse. Mesmo sem o calor dele, Remus não se mexeu mais, caindo em um sono mais tranqüilo.
Ao se aproximar do outro lado da cama, observando Hermione dormindo pequena e tranqüila debaixo das cobertas, Harry foi surpreendido por uma pequena risada.
Com um olhar infantil, um sorriso no rosto, Malfoy encolhia os ombros e segurava-se para não rir mais. Estava parado na porta, ainda de pijamas e descalço, mas com um grosso casaco de pele dessa vez, protegendo-o do frio.
"Mudbloods...", ele disse baixinho, como confessando algo. Balançando a cabeça negativamente, o loiro fez uma pequena careta, "Não pode misturar..."
Fechando os olhos, Harry virou o rosto, dizendo a si mesmo que Remus e Hermione o olhariam reprovadoramente se perdesse a calma agora. Os dois sempre convenciam Harry que ignorar esse tipo de insulto era a melhor saída.
"Onde está Snape, Malfoy?", ele perguntou, controlando a voz, sentindo que mal movera a boca ao falar.
Prendendo a respiração, o loiro olhou para trás, para fora do quarto e fechou a porta logo depois.
Harry soltou uma pequena risada de irritação, mas continuou calmo, "Ele não sabe que você está invadindo o meu quarto?"
Malfoy fez uma careta de aborrecimento enquanto aproximava-se da cama. Olhou atentamente as figuras quietas de Hermione e Remus, abaixando o olhar por alguns segundos, sem dar mostras de querer continuar a conversa anterior. Inclinando-se brevemente sobre Remus, ele disse, "Mudblood..."
Quando Harry estalou a língua para responder, abrindo os olhos e virando-se para Malfoy, quase perdeu a respiração vendo-o tão próximo de seu ex- professor. Um medo repentino de que ele fizesse alguma coisa com Remus mal subiu pela sua garganta quando o loiro ergueu-se e correu até a janela, deixando-o assustado e sem reação por um momento.
Tentando se controlar e culpando-se por não prestar mais atenção, Harry ergueu-se também de onde estava, ao lado de Hermione, e limpou a garganta, tentando recuperar a voz, "O que está fazendo?", ele perguntou ao ver o outro inclinando-se no parapeito da grande janela.
Sem responder, Malfoy voltou, segurando algumas flores murchas na mão, ajeitando-as em um buquê simples, retirando as folhas secas e galhos retorcidos que vieram junto. Não era grande coisa, apenas alguma planta que nascia entre as pedras, do lado de fora do castelo. Harry ficou sem entender por um minuto, vendo o loiro agachar-se ao lado de Remus, ajeitando o pequeno buquê em seu peito.
Com movimentos quase mecânicos, Draco ajeitou o corpo de Remus, retirando o cobertor e endireitando os membros em uma posição mais reta. Pegando as duas mãos pálidas e ossudas, ele abriu os dedos, estirando-os, espalmando- as sobre o buquê e o peito de Remus, mexendo nele como se fosse uma boneca sendo preparada para alguma brincadeira.
Quando Harry percebeu o que ele estava fazendo não sentiu nem ouviu nada, apenas se viu do outro lado da cama, empurrando bruscamente Malfoy e desmontando a posição de defunto que o loiro criara, cobrindo seu ex- professor novamente, passando a mão suada nos cabelos brancos enquanto sentia seu coração brigando contra o espaço apertado de seu peito.
Sentindo a respiração mais calma, mas não menos bravo, Harry virou-se para Malfoy, que continuava caído no mesmo lugar em que fora empurrado, sussurrando entredentes, "Saia daqui, Malfoy."
Como se notasse somente agora a presença de Harry, Draco ergueu os olhos, olhando-o surpreso. Estava em uma posição incômoda no chão, meio sentado, meio deitado, entre uma cômoda e uma pequena estante. Voltando a olhar para Remus, ele respondeu, calmamente, "Vai morrer..."
"Não vai!", Harry retrucou de imediato, "Ele não vai morrer!", diante da falta de cooperação do outro, ele deixou escapar um grunhido de raiva ao levantar Malfoy do chão, segurando-o pelo casaco, "Saia daqui! Eu não quero você aqui me atormentando com essas besteiras..."
"Vai morrer...", Draco repetiu, como tentando explicar para uma criança algo óbvio, interrompendo Harry, que mesmo assim não parou de carregá-lo para fora do quarto.
Alcançando a porta, Harry empurrou o loiro para fora, fechando-a atrás de si, gritando finalmente, "Ele não vai morrer, Malfoy!"
Soltando um suspiro de impaciência infantil, rolando os olhos em deboche e pondo cruzando os braços, Draco ergueu uma sobrancelha, dizendo infantilmente, "Não é da sua conta."
Snape, mostrando que não perdeu o tino para surgir nas horas mais impróprias, testemunhou o momento em que Harry, perdendo a paciência de uma vez, acertou um soco em Malfoy lançando o rapaz contra o chão. Bufando, com a lente dos óculos embaçada, Harry deu meia-volta e entrou no quarto, batendo a porta com força, mal ouvindo as acusações de Snape.
"Você não devia ter feito isso!", a voz de Hermione alcançou-o, acordando-o de seus pensamentos raivosos, em um tom visível de censura que o pegou desprevenido.
Harry olhou-a surpreso, sem entender do quê exatamente ela estava falando, mas ficou mais surpreso ainda quando sua amiga pegou as flores murchas de Malfoy, que estavam jogadas no chão, recolocando-as nas mãos de Remus. Hermione ajeitou-as de forma que o buquê voltasse a ficar mais apresentado, apesar de algumas pétalas já estarem perdidas.
"Hermione...", Harry tentou falar, mas sua mente estava tão confusa que não conseguiu formular nada coerente. Ficou apenas parado, em pé em frente à cama, com um olhar perdido, já sem zanga nenhuma.
"Você não é mais um aprendiz, Harry! Como pôde se comportar tão infantilmente assim?", Hermione finalmente disse, virando-se para o amigo com os braços cruzados. Sem dar tempo de que Harry respondesse, ela continuou, mostrando toda sua indignação com a atitude dele, "Todo mundo nesse castelo sabe que o Malfoy está com problemas mentais, que precisa de ajuda e, principalmente, paciência para lidar com ele. Eu não acredito que você foi capaz de levantar a mão pra uma pessoa assim!"
Mesmo estando atônito com a reação inesperada da amiga, Harry sentia-se era muito mais injustiçado, abrindo a boca para defender-se, "Hermione, você não--"
"Ele está tão indefeso como uma criança, Harry, e só queria ajudar!"
"Ajudar?!", ele quase gritou, perdendo a paciência, apontando para Remus, ainda deitado na cama, "Ele poderia ter matado Remus! Não viu o que ele fez?"
"Harry, por favor!", Hermione se aproximou do amigo, batendo na testa dele, que afastou bruscamente a cabeça, "Pare e pense um pouco. Não reconhece as flores na mão de Remus?"
Imediatamente, Harry desviou o olhar dos olhos de Hermione para as flores murchas. Desconfiado, ele aproximou-se devagar, analisando-as, tentando buscar qualquer informação na sua memória que tenha relação com esse tipo de flor. Mas não adiantou, para ele, eram apenas flores murchas, sem beleza ou atrativo algum. Apenas uma brincadeira de mau gosto de Malfoy.
"Não... não vejo nada demais nelas.", ele respondeu suspirando, já mais calmo.
"Remus não acordou, percebeu? Mesmo com toda essa algazarra que fizemos.", Hermione disse, também mais tranqüila, ficando ao lado dele, "Réquiem, Harry... Réquiem...", ela disse, balançando a cabeça negativamente, vendo que o amigo não conseguiria se lembrar.
Finalmente, erguendo as sobrancelhas ao escutar as palavras de Hermione, ele lembrou, muito vagamente.
"Sexto ano, segundo mês após o início das aulas, Herbologia avançada.", Hermione quase cantou as palavras, satisfeita consigo mesma, "Flores de Réquiem: nascem nos lugares mais impróprios, onde quase nenhuma outra planta conseguiria sobreviver. Sua aparência pode enganar os leigos, porém...", ela fez uma pausa, vendo uma sombra de culpa passar pelo rosto de Harry, "Porém, podem ser necessárias na medicina, prolongando a vida daqueles que sofrem de um mal cuja cura não foi encontrada ainda."
Fechando os olhos, Harry suspirou, sentindo-se cansado e envergonhado, "Vai morrer...", ele sussurrou, encaixando a nova informação com as palavras de Malfoy.
"Sim... um dos dois."
Ele prendeu a respiração, mantendo os olhos fechados, "O quê?", perguntou calmamente.
"O nome Réquiem não foi dado à toa, Harry. É a vida de Lupin e dessas flores, indo e vindo, de um corpo para o outro... um deles vai morrer. É só ter esperança de que Remus vença."
Sentindo-se irritado, Harry se afastou da cama e de Hermione, pegando um casaco, cachecol e luvas, vestindo-se apressado, "Então é isso?", ele disse, com raiva novamente, "Vai morrer... exatamente como Malfoy disse.", na pressa, ele acabou rasgando uma das luvas, ao vesti-la, praguejando em voz alta.
"Harry!"
"Não precisamos dessas flores para saber que Remus vai morrer, Hermione.", ele virou para a amiga, "Ele quer morrer! Isso só vai apressar o desejo dele."
Hermione arregalou os olhos e ia protestar, mas Harry já estava pronto, resmungando sem prestar atenção nela, batendo a porta do quarto ao sair.
Continua...
