Epílogo - cap 12

Harry Potter e suas personagens pertencem a JK Rowling.



Há dois meses Harry foi chamado pela primeira vez ao Ministério da Magia para testemunhar no processo em torno do ressurgimento e morte de Voldemort. Desde aquele dia, várias datas de julgamento dos bruxos acusados de envolvimento com os death eaters foram mudadas.

O julgamento de Severus Snape, como um exemplo, foi adiado mais de três vezes, sendo que somente agora o professor de poções de Hogwarts pode se considerar quase absolvido de todas as acusações. Tendo Dumbledore, Potter e alguns outros nomes influentes ao seu favor, não seria muito difícil para que ele logo se visse gratificado até, pelo seu trabalho como espião.

Em uma semana, porém, iria recomeçar outro julgamento. A Família Malfoy estaria sendo julgada, Draco Malfoy entre eles, e Harry teria que testemunhar contra o rapaz, pois, apesar de seu estado atual, não conseguia lembrar-se de nada que pudesse absolver seu ex-colega.

E como se sentia estranho ao mero pensamento de tentar absolver Malfoy. Mas, nos últimos dois meses, as poucas oportunidades que estivera com o rapaz foram suficientes para convencê-lo. De quê exatamente, Harry ainda não estava certo, mas, como Hermione insistia em lhe dizer quando o assunto vinha à tona, não seria justo uma pessoa no estado de Malfoy ser condenada aos calabouços de Azkaban.

"Hermione.", ele tentou argumentar na primeira vez, "Ele pode melhorar. Pode lembrar-se de tudo, voltar a ser o antigo Malfoy, cometendo as mesmas maldades de antes. Isso não é impossível."

"É claro que não. Mas, Harry, pense bem... Nós nunca demos uma chance ao antigo Malfoy porque sempre tivemos certeza de que ele nunca mudaria.", ela respondeu com os olhos brilhando, com um discurso já pronto na ponta da língua, "Eu acho que se ele realmente melhorar, e eu espero que isso aconteça, nós deveríamos dar a chance que nunca pensamos em dar. Porque, Harry, é muito improvável que ele simplesmente esqueça a ajuda que nós estamos dando agora.", ela disse com cuidado, já erguendo a mão, calando o amigo.

"Estamos falando do Malfoy--", Harry calou-se obedientemente diante do olhar de Hermione.

"Sim, estamos falando do Malfoy. Mas você não pode negar que ele sofreu algo muito terrível durante a guerra. Nem Snape e Dumbledore querem nos contar o que aconteceu, se é que eles realmente sabem o que aconteceu. Uma pessoa que fica no estado dele... nunca mais será a mesma.", ela sorriu, continuando, "Você e eu, a família do Ron, até mesmo Snape e McGonagall... todos mudamos depois da guerra. Mesmo que os motivos dele possam ser menores do que os nossos ele foi o que mais abalado ficou."

Harry ficou encarando a amiga por alguns segundos, tentando achar mais argumentos, alguma falha no discurso dela, mas, como sempre, as palavras de Hermione eram as últimas, "Como você consegue?", ele perguntou por fim, deixando-a confusa, "De onde tira tanta vontade de ajudar os outros?"

Como prometera, Harry buscou em sua memória todos os fatos relacionados ao Malfoy e sua família, tentando colocá-los em sua mente de forma que não pudessem ser usados de forma a acusarem mais ainda o envolvimento dele com Voldemort. Uma tarefa muito difícil, diga-se de passagem.

Assim sendo, admitindo ser incapaz de juntar mais fatos que absolvam Malfoy, Harry foi andando, com passos firmes e determinados até a décima sétima porta do primeiro corredor à direita do segundo andar da Ala Sul do castelo. Pomfrey estava lá dentro e ficou mais que encantada ao ver Harry.

"Hoje, se Merlim permitir, será o último dia que Severus terá que ir até o Ministério... estou exausta de ficar cuidando sozinha dele...", a velha enfermeira lhe disse num muxoxo, "Claro que não é cansativo e, na verdade, Draco não dá muito trabalho. Mas ficar trancada nesse quarto somente com a presença dele vinte e quatro horas por dia durante uma semana inteira cansaria qualquer um.", ela rodopiou a varinha, fazendo surgir uma bandeja com lanche, "Quer um pouco de chá, Harry?"

"Não, obrigado."

"Umas torradas? Não?", ela se serviu, voltando a falar logo depois, "Oh, é muito bom ter companhia de vez em quando. Você devia aparecer mais, só fica escondido naquele quarto ou então, como Severus e Albus, indo e vindo daquele infame Ministério. Hermione vem aqui com certa freqüência... vocês têm a mesma idade, deveriam tentar ficar juntos. Digo, com os jovens."

"Tentarei, senhora.", ele disse, paciente, tentando voltar a falar, mas Pomfrey continuou.

"Olhe agora...", ela parou de comer, apontando para Draco, que estava sentado no chão, varinha em mão, cuidando do vaso com a flor de réquiem, já não mais botão.

"Não sabia que ele tinha voltado a usar a varinha.", Harry comentou baixinho.

"Oh, sim... ele não se lembra de todos os feitiços e encantamentos, mas volta e meia aparece alguma coisa nova.", ela respondeu, também em voz baixa, "Bem, essa não é a varinha dele... pelo menos a primeira.", seu tom ficou um pouco melancólico, "Quando ele chegou aqui, mal tinha roupa no corpo... foi Severus quem comprou essa nova. Sabe, apesar de tudo, aquele homem tem um coração muito maior do que pensa... deve ser por isso que não fica dentro do peito, não é?", ela terminou rindo.

Harry percebeu a mudança repentina de assunto e tentou insistir, "Como foi que ele chegou aqui?"

A velha enfermeira piscou, como que saindo de um transe, e o olhou seriamente, "Ora, como todos os outros."

"Sim, mas--"

"Oh, vejam só!", ela o interrompeu, levantando-se e chamando a atenção de Draco, "Está quase na hora do seu banho, meu rapaz!", e virando-se para Harry, "Se puder nos dar licença, senhor Potter?"

"Uh... bom, ele não toma banho aqui no quarto, não é?"

"Mas é claro que não. O mesmo que o senhor usa, creio eu, o banheiro dos monitores."

"Então não se preocupe. Eu cuido dele enquanto a senhora prepara o banho.", Harry disse, sentando-se confortavelmente em uma poltrona próxima de Draco.

Depois de olhá-lo com desconfiança, Pomfrey acabou concordando, não encontrando realmente nenhuma razão para não deixá-los sozinhos. Logo depois que a enfermeira fechou a porta, Harry ergueu a varinha, murmurando o feitiço mais elaborado de travamento que pôde se lembrar.

Draco assistiu a tudo em um misto de interesse e falta do que fazer. Mas, sua expressão tornou-se um pouco mais defensiva quando Harry abaixou-se em frente a ele.

"Muito bem, Draco.", ele começou, mas, ao perceber um certo medo nos olhos do rapaz, ele quase implorou, "Não, não precisa ter medo... Eu não vou fazer nada, prometo. Veja, estou guardando minha varinha. Está vendo? Não vou te machucar. Só quero que me diga algumas coisas. Eu quero que você me ajude."

Sentindo-se mais relaxado, Draco disse, devagar, "Ajuda."

"Sim, ajuda. Você me ajuda e eu te ajudo. Tá bom assim?", diante da cara de confusão do loiro, Harry resolveu apenas continuar, "Eu quero que você me diga o que aconteceu com você. Você se lembra quem te machucou?"

"Harry Potter.", Draco respondeu imediatamente, apontando para ele.

"Eu?", ele perguntou confuso, "Mas... eu... Oh, não, não, Draco. Não é isso. Quem te machucou antes!", ele continuou, vendo o outro pensativo, "Muito antes... antes de você chegar aqui... lembra?"

Draco inspirou profundamente, prendendo a respiração e arregalando os olhos. Negando com a cabeça ele foi se afastando de Harry, enquanto este, ao contrário, tentava cobrir a distância entre os dois.

"Não... escute, Draco, eu preciso saber quem fez isso com você. Me escute."

"Não! Não!!", Draco afastou as mãos de Harry, batendo nelas, erguendo-se e fugindo para o outro extremo do quarto, "Mudbloods... não são puros..."

Culpando-se pela completa falta de tato, Harry continuou sentado ao lado da poltrona, tentando não assustar mais ainda o loiro.

"Draco.", ele recomeçou, devagar e calmamente, "Seus pais detestavam... mudbloods. Não é?"

Assentindo com a cabeça, Draco justificou do melhor modo que sabia, "Mudbloods não são puros..."

"Sim, não são puros.", Harry concordou, observando atentamente cada reação do outro, "O sangue é uma mistura: muggle e bruxo. Não é uma coisa muito boa, não é?"

"... não são puros..."

"É... seu pai achava isso certo?", ao aceno afirmativo, ele continuou, "Mas, se pensarmos bem, com tantos mudbloods que apareceram no mundo bruxo, aqui em Hogwarts... existiam alguns que não gostavam do seu pai. Quer dizer, provavelmente, eles invejavam a pureza do seu sangue e a riqueza que vocês tinham.", dessa vez, Draco apenas desviou o olhar, "Bom... eles, esses mudbloods, alguma vez... já te machucaram?"

Draco respondeu enfaticamente, balançando a cabeça de um lado para o outro com rapidez, fazendo com que seu cabelo se desgrenhasse facilmente. Isso deixou Harry confuso, para não dizer frustrado. Não esperava uma resposta assim. Porque não imaginava qual outro inimigo a família de Draco poderia ter tido.

Ao olhar mais uma vez, viu Draco sentado no chão, admirando a própria varinha sem estar prestando atenção mesmo nela.

Por que a família estaria sendo julgada? Se está morta?

"Oh... assustando a pequena criança!", uma voz acusadora soou acima da cabeça de Harry, "Tenho certeza que um certo professor de poções muito, muito, muito paternal ficará muito, muito, muito bravo quando souber disso...", Peeves disse, rindo ao sumir pela parede lateral.

"Maldito fantasma!", Harry ergueu-se, praguejando e tirando a varinha do bolso, desfazendo o feitiço na porta. Se Peeves encontrasse Pomfrey antes de Snape, também não hesitaria em contar o que viu. E, mesmo não tendo tantos receios quanto com relação ao professor de poções, a velha enfermeira sabia ser assustadora quando queria, "Draco, eu--"

Harry guardou a varinha no mesmo instante, achando que ela era a causa do pavor que estava estampado no rosto do loiro. Draco tinha a boca aberta em um grito silencioso, os olhos cinzas quase brancos de tão arregalados em horror. Seu corpo todo tremia, encolhido contra a parede. Estava mais assustado do que quando Harry o achou nos calabouços. Muito mais assustado. Em estado de pânico.

"Meu Deus...", Harry sussurrou, correndo até Draco, mas com medo de tocar nele, "O que eu fiz? O que eu fiz?"



Continua...

N/A: O nome escolhido foi............ Victor Malfoy. Agradeço muito a Daphne que me indicou o site Behind the Names, onde eu achei, na lista dos 100 nomes masculinos mais populares entre 1900-1909, mais precisamente o 79º, o nome Victor. Não sei quanto a vocês, mas, depois de vasculhar a lista, eu fiquei embasbacada com alguns nomes... como alguém pode dar o nome de Pink ou Rose para o próprio filho?@_@