Título: Epílogo - cap 14

Autora: Umi no Kitsune (uminokit@ig.com.br)

Disclaimer: Harry Potter e suas personagens são propriedade de JK Rowling.

Avisos: Se você gostou da fic e a quer em seu site, peça permissão.

"Vamos sair daqui, por favor...", Hermione suspirou dolorosamente, escondendo o rosto no ombro de Harry, que mantinha os braços em volta dela, mas a atenção nas pessoas à sua frente.

Dois aurores passaram correndo por eles, o Ministro da Justiça já estava de pé, exigindo para que algo fosse feito, enquanto um médico aproximou-se lentamente entre a multidão, pedindo licença desesperadamente.

"Ele matou! Estou dizendo! Matou a todos!!!", um chiado agudo, como de um animal acuado, seguiu-se dos gritos, obrigando os presentes a tamparem os ouvidos. Segundos depois, Peter Pettigrew, na forma de rato, caiu inconsciente no chão, sendo recolhido imediatamente pelo médico.

Harry, Hermione, Dumbledore, Snape, Poppy e Draco estavam no salão de entrada do Ministério da Justiça, tinham acabado de chegar quando uma carruagem dos aurores chegou, alertando quem estava no caminho. De dentro dela saiu Peter, sendo empurrado por dois aurores, com uma cara de desolação. Quando viu o grupo de Hogwarts, ele arregalou os pequenos olhos e começou a se debater e a gritar.

Logo os aurores enfeitiçaram-no com um petrificus totalis, mesmo assim, de sua boca ainda saiam acusações e obscenidades diversas. Estava tão descontrolado dos comandos de seu corpo que nem o feitiço o detinha.

Com o canto do olho, Harry viu Draco se encolhendo e fazendo uma careta de dor, buscando discretamente a mão de Snape, que se mostrava impassível diante de Peter. Pela reação de Draco, não sabia se as acusações foram direcionadas a ele ou ao loiro. Hermione ainda estava agarrando-se firmemente no casaco de Harry e não percebeu a expressão conformada de Harry, que concluíra que, óbvio, todas as acusações eram para ele.

"Oh, minha menina, você está bem?", a voz de Poppy assustou tanto Harry quanto Hermione, que olharam a velha enfermeira, confusos, "Querida, não fique assim... venha comigo, vamos lavar esse rosto antes que os interrogatórios comecem."

Logo depois que Hermione e Poppy se afastaram, Dumbledore apareceu ao lado de Harry, com uma expressão séria, atípica no diretor, "Harry... não faça julgamentos precipitados.", antes que houvesse resposta, ele continuou, "Me acompanhe, quero esclarecer algumas coisas com você."

Harry estava cansado. Muito cansado. Tinha trabalhado a semana inteira junto com Hermione e Snape, tentando fazer Draco falar alguma coisa sem o atormentar demais, buscando pistas sobre o paradeiro do fantasma de Victor Malfoy e sobre as condições das mortes de Lucius e Narcissa.

Descobriram muita coisa como, por exemplo, que um fantasma, para matar uma pessoa, precisa entrar no corpo dela e disputar com sua alma o espaço invadido. Que Lucius amava seu filho do seu modo particular e que, dentro dos padrões Malfoys, sempre pensara no melhor para Draco. Também descobriu, para surpresa geral, que Victor Malfoy fora uma exceção na família que pouco usou a magia negra para prejudicar outros, mesmo sendo um especialista nessas artes.

Tudo era muito confuso ainda e, por mais que se esforçassem, mesmo o entusiasmo de Hermione parecia se abalar com tantas informações novas mas nenhuma resposta encontrada.

Sem prestar atenção, preso em seus pensamentos, Harry foi seguindo Dumbledore, se afastando dos outros e percorrendo os inúmeros corredores e escadas da antiga construção bruxa. Só deu conta de que estavam muito afastados quando percebeu dois pares de olhos sobre si e uma varinha apontada para seu peito.

"Não se preocupe.", Dumbledore o tranqüilizou, "Só querem saber se você está com algum feitiço de disfarce."

Estavam em um corredor estreito, úmido e mal-iluminado. Harry imediatamente lembrou-se da descrição que Sirius lhe fizera sobre sua cela em Azkaban, mas a presença do diretor de Hogwarts e dos dois aurores conseguiram tirar essa imagem de sua mente. Sem saber os planos de Dumbledore, Harry entregou sua varinha e seguiu um dos bruxos.

"Hei...", uma voz vagamente familiar sussurrou enquanto Harry atravessava o primeiro corredor, "Potter? É Harry Potter?"

Sem dar muita atenção, Harry continuou andando, seguindo o Auror, que parecia indiferente aos sussurros. Mas uma outra voz, mais familiar ainda, gritou estridente, ecoando pelas paredes de pedra.

"Potter está aqui!!!"

O silencioso corredor encheu-se de burburinho, pequenos gemidos, cochichos indignados e uma multidão pareceu tomar forma naquele estreito labirinto. O som  de algo batendo contra o metal tornou-se constante, como se fossem as batidas do suposto coração daquele lugar. Tanto Harry quanto o Auror viraram-se para a cela de onde veio o grito.

"Saudades de mim?", Pansy perguntou, abrindo um sorriso satisfeito.

Seus olhos estavam vermelhos e olheiras escureciam pesadamente o rosto magro. Mesmo assim, podia-se perceber que Pansy ainda mantinha muito bem sua aparência, pois, apesar da condição da cela em que estava, ela estava limpa e com roupas quentes e confortáveis.

"Parkinson!", o Auror interviu antes que Harry pudesse expressar seu espanto.

A garota apenas abriu a boca indignada, arregalando os olhos dramaticamente, "Somos colegas de escola! Estou apenas querendo relembrar os velhos tempos!"

"Você só relembra os velhos tempos, Parkinson.", ele respondeu, acenando para Harry, que o seguiu sem olhar pra trás.

"Não! Potter!", Pansy gritou, esticando o braço através da minúscula grade o máximo que pôde, "Maldição! Malditos abortos!", ela resmungou, batendo os punhos contra a porta de metal maciço enfeitiçado, que brilhou levemente deixando o espaço entre as barras mais estreito, para completar a frustração da morena.

Harry não iria dar mais atenção à garota, estava curioso com o que Dumbledore queria mostrar, porém, quando ia entrar em outro corredor, escutou uma voz sussurrando para Pansy, a primeira que tinha escutado quando entrara.

"Não vamos conseguir saber nem de Draco nem de nada se você continuar com esses ataques."

"Eles nem me escutaram!", Pansy respondeu num muxoxo indignado, continuando a reclamar incessantemente, mas a voz dos dois sumiram completamente depois de mais alguns passos de Harry dentro do labirinto de corredores.

"Não se preocupe com ela...", o Auror disse, após um tempo, "É muito mimada e ainda não percebeu seu estado...", ele completou com um tom de voz diferente.

Harry olhou-o de soslaio, notando a estranha mudança no tom de voz do jovem Auror. O tom impessoal e profissional tornara-se algo quase... penoso. Negando seus próprios pensamentos com a cabeça, ele perguntou, "O que ela faz aqui?"

"Você não sabia?", com mais um aceno negativo, o Auror continuou, novamente profissional, "Todos os alunos de Hogwarts e jovens Death Eaters estão aqui... mas não são todos. Apenas aqueles que não usaram feitiços proibidos ou que se entregaram ao Ministério."

Após alguns segundos de silêncio, Harry comentou, "Imagino que ela tenha se entregado?"

O Auror suspirou, "Sim. Aliás, fui eu quem a prendeu. Ela chegou na minha ca--", ele interrompeu-se, corrigindo o discurso, "Ela chegou até mim tremendo e chorando; não dizia coisa com coisa... Quando eu parti sua varinha, no entanto, ela teve um momento de arrependimento... fez um belo estrago no saguão do Ministério."

"Geralmente isso acontece quando se quebra uma varinha...", Harry pensou alto, absorvendo as informações, lembrando das vezes em que ele mesmo partira as varinhas dos Death Eaters derrotados.

"Dizem que é uma dor tão forte que..."

"... muitos preferem a morte...", Harry completou, cansado, a frase que já decorara de tanto ouvir, sem nem perceber a nova mudança no tom de voz do guarda especial. Lembrou, por um instante, de Sirius, de que a varinha dele tinha sido quebrada quando fora preso e da expressão de dor que seu padrinho fez ao narrar o acontecimento. Mas forçou a esquecer-se dele por hora, já que não era o momento.

"Chegamos... Não fique muito perto da porta...", o Auror disse, quando alcançaram o final de um corredor, "Ele estava em Azkaban, mas foi trazido para cá somente por causa do julgamento dos Malfoys, portanto... não se espante se ele lhe parecer louco."

Ignorando o conselho, pois não o ouvira realmente, Harry aproximou-se da porta, procurando na escuridão da cela algum vestígio de vida.

"Ah!!!", Peter Pettigrew, com seu rosto magro e amarelado, olhos esbugalhados e cheio de baba escorrendo pela boca rachada apareceu de repente, "Potter! Potter! O Salvador! Potter!", ele bufou excitado no rosto de Harry.

"Eu disse para ficar longe da porta!", o Auror puxou-o pelo casaco, bravo, "Não chegue perto dele!", erguendo a varinha, ele fez com que o metal da porta se transformasse, preenchendo o vão entre as barras e deixando apenas um pequeno retângulo por onde Harry via os olhos e a boca de Pettigrew.

Ainda espantado, Harry perguntou, sem esconder a indignação pelo tratamento exagerado, "Por quê tudo isso?"

"Porque ele é mais perigoso do que se pensa.", veio a resposta seca, "Ele é tão desesperado que qualquer oportunidade, mesmo mínima que seja, é válida para atitudes extremas. O que você espera de alguém que viveu como um rato por mais de dez anos?"

Harry não respondeu, sabia muito bem como funcionava a mente de Peter. Ou, pelo menos, achava que sabia.

O Auror o deixou dizendo que voltava em meia hora e saiu sem fazer barulho algum. Puxando uma cadeira velha que estava encostada no final do corredor, Harry sentou-se e olhou para a boca sorridente e babona de Pettigrew, tentando adivinhar o que Dumbledore queria que ele visse.

"Salvador... Harry... Potter... Harry…", Peter disse num tom quase infantil, que, mesmo a contragosto, fez Harry lembrar-se de Draco. A baba escorrendo pela pele seca e enrugada de Peter fez a comparação esmaecer por completo segundos depois. Draco era infantil e não... selvagem? Seria justo classificar Peter dessa forma?

De repente, Harry lembrou-se da reação dele quando o viu no saguão de entrada. Tinha achado que era por sua causa, mas... As palavras de Dumbledore vieram-lhe à mente. Realmente, analisando os fatos com mais calma, quase não se encontrara com Pettigrew durante a guerra, nem quando encarou Voldemort.

Aliás, como conhecia Peter, poderia imaginar que ele já estaria muito longe e bem escondido quanto a verdadeira guerra começasse.

"Por quê salvador?", ele perguntou de repente, deixando o preso confuso.

"Porque... Harry Potter não mata... Harry Potter salva..."

Harry suspirou, tentando esconder a raiva que sentia por ouvir tal afirmação, mas, ansioso por saber mais, disse, "Então porque você disse que eu tinha matado a todos?"

"Oh, oh!! Não... Harry Potter não... Harry Potter não mata! Salva! Salva!"

De alguma forma, não sabia e não queria saber o porquê, desejava que a resposta não fosse Draco. Infelizmente, também sabia que talvez estivesse procurando justamente isso, "Sim, sim... mas quem mata, então?", ele perguntou, fingindo curiosidade extrema.

Diante da pergunta, Peter encolheu-se e seu rosto sumiu do retângulo de comunicação. Mas sua mão, ossuda e trêmula, apareceu, segurando-se na borda do metal.

"Peter?"

"Mal... tão mal quanto o pai..."

Apesar de tudo, Harry não se espantou, apenas mordeu os lábios antes de falar, "Está falando de Draco Malfoy?"

A mão contorceu-se contra o metal e Peter gemeu, "Chegou matando tudo... tudo... tudo..."

"Draco?"

Ao ouvir o nome novamente, a mão de Peter sumiu e ele reapareceu, chorando e babando, "Não fale! Não fale!!!"

"Certo. Certo... não vou falar o nome dele...", Harry garantiu, tentando demonstrar calma na voz, mas sentindo um leve tremor na espinha ao ver a expressão contorcida de medo do outro.

Depois de alguns minutos em silêncio, Peter voltou a falar, sussurrando para si mesmo, "Matou tudo, tudo..."

Harry esperou até que o silêncio reinasse novamente para perguntar devagar, "Onde foi que aconteceu isso?"

"Na mansão... pensávamos que estavam vivos... estavam mortos... Matou tudo..."

"Quem estava morto, Peter?"

"... ele....", respondeu vagamente, fazendo uma careta de nojo, "E... e... e ela...", sua expressão transformou-se, ganhando um olhar quase romântico, não fosse a baba que ainda escorria por sua boca, "Tão bonita... tão bonita..."

Encontrando um caminho mais confortável para fazer suas perguntas, Harry continuou, "Quem era ela?"

"Narcissa... tão linda...", Peter assumiu um olhar distante.

Sem perder a corrente lógica que estava se formando em sua mente, ele insistiu, ignorando o fato absurdamente ridículo de Peter ser apaixonado pela mãe de Draco, "E quem fez isso com ela, Peter?", diante do silêncio, Harry completou, "Eu... eu poderia ajudar...", ele gaguejou, formulando uma pequena mentira, "Eu poderia ajudar se soubesse mais coisas."

Finalmente, Peter respondeu, "... Ele... tão mal quanto o pai..."

"O que ele fez depois que você chegou lá?"

"Matou tudo... tudo..."

"Matou o quê, Peter?", Harry insistia mais, apesar de perceber claramente o desconforto de Pettigrew com o assunto, mas já tinha ido muito longe para pensar em parar.

"Tudo... tudo!"

"Peter... você precisa me dizer! Quais foram as pessoas que Draco matou?", com um gemido alto, Peter desapareceu do retângulo deixando apenas que o som de seu choro atravessasse a porta. Harry levantou-se da cadeira e foi até o pequeno retângulo, detestando-se por suas mentiras, mas usando-as de qualquer jeito, "Peter!! Me diga o que aconteceu! Eu posso dar um jeito no Malfoy, mas eu preciso saber o que aconteceu!!"

"Malfoy... matou tudo, tudo...", foi a única resposta que teve, sussurrada e gemida, do fundo da cela.

"Na verdade...", a voz do Auror disse ao lado de Harry, capturando sua atenção, "... Malfoy, por enquanto, é suspeito apenas de matar os pais."

Vendo que não conseguiria mais nada lá, Harry levantou-se, suspirando, "Então, o que ele está falando?"

"Isso é o que queremos descobrir... porque, até onde sabemos, ninguém mais morreu naquela casa."

Harry apenas acenou com a cabeça e ficou de pé novamente, dando um longo suspiro. Enquanto o Auror voltou a andar, caminhando na direção da saída, Harry olhou mais uma vez para o pequeno retângulo da porta da cela de Peter de onde ainda saiam gemidos baixinhos. Não estava entendendo a si mesmo... tinha mentindo, mesmo que para alguém como Peter, mesmo assim, tinha mentindo.

E sabia a razão de ter agido assim... o que não o espantava, relembrando seu comportamento nas últimas semanas. Tinha feito isso para tentar salvar Malfoy. Draco Malfoy.

Continua...