APUROS EM HONG KONG
– CAPÍTULO UM –
Shaoran estava particularmente mal-humorado naquela manhã. Não dormira direito e parte da conversa que teve com Daidouji no dia anterior ainda estava bem viva em sua memória.
*… o Sr. Kinomoto foi participar de uma escavação, e Sakura… bem, Sakura foi viajar. Mas não me pergunte para onde… ela não me disse!…*.
Touya há dois anos que não morava mais com eles, por isso, não tinha ninguém em casa. Mas desde quando Sakura deixa de contar algo para Tomoyo?… É claro que ela sabia onde Sakura estava.
'Tomoyo estava me escondendo alguma coisa. Ela sabe onde a Sakura está, eu tenho certeza disso!' – pensou enquanto se preparava para começar o treinamento com a espada que fazia todas as manhãs – 'Mas por que ela mentiria? Será que Sakura conheceu algum rapaz? Não, isso não! Droga de curso de inverno!' – Shaoran afastou ligeiramente os pensamentos de sua mente e tratou de iniciar o treinamento.
Shaoran era agora um jovem de 19 anos, continua com os cabelos rebeldes o que dá um charme especial ao comportamento sério que lhe é bem característico. O fato de ser o futuro líder do clã Li já faz com que um bando de mercenárias e interesseiras se joguem aos seus pés, e ele ainda era lindo com o corpo esculturalmente moldado por anos de treinamento, na maioria das vezes por ele mesmo impostos, fazia com que as mesmas simplesmente beijem o chão por onde ele passa. Mas todos os pensamentos dele são para uma japonesinha de olhos verde-esmeralda. Sua namorada, cuja alta sociedade chinesa não tem conhecimento.
Faz seis anos desde que ele e Sakura começaram a namorar, depois da captura da última Carta Clow. Nesses últimos seis anos eles, basicamente, se viram apenas nas férias. Falavam-se uma vez por semana por telefone, com tolerância na semana do aniversário de ambos para uma segunda chamada. Na realidade se encontrar nas férias de verão e de inverno era quase uma questão de "vida ou morte". Mas neste inverno tudo mudou nesse compromisso que tinham um com o outro. Era a vez de Shaoran ir para o Japão, mas eis que apareceu um curso de aperfeiçoamento para a faculdade de Administração nos Estados Unidos. E Shaoran Li foi um dos poucos selecionados para participar. Ele pensou em não aceitar, mas quando falou para Sakura ela insistiu que ele deveria ir. O curso duraria de duas a três semanas. Teriam apenas uma semana para se encontrar e ele ligaria assim que voltasse para avisar que estava a caminho de Tomoeda.
Ele voltou do dito curso e ligou para a namorada na noite passada, ninguém atendeu na casa dos Kinomoto. Ligou para a casa de Tomoyo e desde então estava terrivelmente irritado. E pra ajudar Meilin ainda sumiu. Ele sempre buscava auxílio e conselhos com a prima.
Terminou o treino com a espada mais cedo que o costume, além do cansaço que estava sentindo pelas horas que passou dentro de um avião, não descansou durante a noite e não conseguia se concentrar. Resolveu ir tomar o café da manhã.
"Bom dia jovem Shaoran!" – Wei como sempre sorridente servia seu café da manhã.
"Bom dia Wei!" – disse respirando fundo, não queria deixar transparecer que estava irritado, mas era meio impossível – "E Meilin onde está?".
"Deve estar tomando café em sua casa. Há uma semana que não aparece por aqui!" – terminou de servi-lo – "Deseja que eu a chame?".
"Não,… eu vou até lá assim que terminar aqui!" – tomou o café pensativo. Não era comum de sua prima ficar tanto tempo sem aparecer – 'O que será que está acontecendo aqui?'.
Enquanto isso no outro lado da propriedade dos Li…
"Ai, você não muda mesmo, não é?" – Meilin gritava com sua visita que corria de um lado para o outro se arrumando – "Continua se atrasando para seus compromissos!".
"Aiaiai… estou atrasada, estou atrasada!" – era tudo o que dizia a garota atrapalhada que nem sequer ouviu o comentário da amiga.
Foram tomar o café da manhã.
"Srta. Kinomoto, o motorista já a está aguardando para levá-la até a universidade". – uma das empregadas da casa disse assim que as garotas entraram na sala de jantar.
"Anda logo Sakura, ou você não vai conseguir a transferência para a mesma universidade em que eu e o Shaoran estamos!" – enquanto Meilin falava, Sakura enfiou uma fatia de pão na boca e saiu correndo sobre os olhares espantados dos empregados, a chinesinha respirou fundo e balançou a cabeça – "Eu espero que ela chegue a tempo para o teste!".
Mais tarde…
Meilin estava lendo um dos livros que Tomoyo lhe enviou, por intermédio de Sakura, sentada em um dos bancos do enorme quintal. O banco ficava embaixo de uma enorme árvore. Sentiu que alguém se sentou ao seu lado, sorriu e marcou o parágrafo que estava lendo fechando o livro.
"Desculpe, não queria te interromper!" – disse quando a prima colocou o livro de lado.
"Não!… Se você não quisesse me interromper teria ficado longe" – fez cara de inocente fazendo o primo rir – "Está tudo bem, quer alguma coisa?".
"Só queria saber onde você estava ontem que não veio receber o seu primo que chegou de viagem" – Shaoran olhou para Meilin como quem pergunta: estava saindo com o namorado?
"Eu estava no Shopping, fui fazer compras com uma amiga!".
"Meilin, você foi fazer compras no dia que viajei!" – Shaoran indagou de maneira incrédula.
"Sim, mas minha amiga precisava de um banho de loja!" – Meilin riu lembrando-se da cara de brava que Sakura fez quando ela lhe disse precisava de roupas novas.
"E que amiga sua era essa que precisava de um banho de loja?" –Shaoran viu Meilin hesitar para dar a resposta, ela abriu a boca várias vezes, mas não falava nada.
'Droga! Kinomoto me mata se eu contar pro Shaoran que ela está aqui!' – Pensou tentando encontrar uma saída.
Shaoran abriu um sorriso e ia cantando vitória. Já ia perguntar o nome do rapaz com quem a prima estava saindo quando ouviu alguém gritando.
"MEILIN, Meilin!" – Sakura entrou correndo no jardim e passou a procurar a amiga, tamanha era sua alegria que nem se lembrava mais do plano de fazer uma surpresa a Shaoran no jantar dessa noite. De onde estava podia ver apenas metade do banco onde Meilin estava sentada. Shaoran era escondido pela árvore. Aproximou-se correndo da amiga chinesa – "Eu consegui, Meilin, eu consegui! Quase cheguei atrasada, mas consegui passar no teste e fazer minha trans…". Parou de falar assim que viu Shaoran e os dois ficaram se encarando como se nunca tivessem se encontrado na vida. Shaoran se levantou ainda em choque. Sakura sentiu suas faces esquentarem de vergonha pelo escândalo que estava fazendo. Meilin se levantou tirando-os do transe em que se encontravam.
"Era essa amiga que precisava de um banho de loja!" – Meilin disse fazendo Sakura lhe lançar um olhar fulminante.
"Eu já disse que não estava precisando de um banho de loja! Foi você que me arrastou para aquele Shopping ontem!" – disse dando um cascudo na amiga.
"Ai Sakura! Essa doeu!" – passou a mão na cabeça no lugar onde recebeu a pancada – "Eu não sou aquele bichinho de pelúcia para você ficar me dando cascudos e achar que eu não sinto nada!" – Li riu do comentário da prima. Meilin prestou reverência ao primo e se afastou do banco indo na direção de sua casa – "Vou para casa! Depois eu mando as suas coisas para casa da tia Yelan, Sakura, então não se preocupe!".
Sakura ainda ficou acompanhando a amiga com os olhos enquanto esta se afastava. Já Shaoran, observava sua namorada.
Estava bem diferente do que era na época em que começaram a namorar. Sempre que ia para Tomoeda, ou quando ela vinha para Hong Kong, ele via uma Sakura diferente cada vez mais encorpada, ela foi deixando de ser criança a olhos vistos e assumindo formas de mulher. Ela deixou os cabelos crescerem, agora eles estavam na cintura, o que a deixa muito parecida com a mãe. Sempre se veste de maneira a esconder suas formas, e é por isso que Meilin vive dizendo que ela precisa mudar o guarda roupa e mostrar que cresceu, ele, no entanto gosta do jeito conservador dela. Não foi apenas de corpo que ela mudou, no entanto, sua personalidade sofreu algumas alterações também, embora às vezes perca o controle sobre o jeito espevitado e alegre que possui, como quando era criança, amadureceu e consegue controlar com mais facilidade as emoções como a ansiedade ou nervosismo. Ele mesmo já foi prova de seu autocontrole, adquirido através das artes marciais, que ela começou a praticar aos catorze anos. Tomoyo lhe disse certa vez que Sakura estava se esforçando em ser a melhor em tudo por causa de uma matéria que leu em uma revista sobre os clãs chineses e o fato de os anciões decidirem os casamentos que ocorrem ou não dentro da família e escolherem a noiva dos membros mais importantes do clã. Ela tinha medo de a rejeitarem e de não ser boa o suficiente para ser noiva dele.
Quando Shaoran percebeu Sakura estava parada na sua frente olhando fixamente para ele.
"No que estava pensando?" – perguntou quando ele sorriu e lhe abraçou.
"No que mais eu poderia estar pensando senão em você?" – ela sorriu e se beijaram. Um beijo demorado, intenso no qual foi depositada toda a saudade que eles estavam sentindo. Afastaram-se e ele a puxou para mais perto, ela enterrou o rosto no peito dele.
"Humm!" – Sakura adorava ser beijada por Shaoran daquela forma, toda vez que se beijavam era como se fosse a primeira vez.
Shaoran nunca se cansaria daqueles lábios. Os únicos lábios que ele já provara em toda a sua vida, mas sabia que eles eram os mais doces do universo. E o melhor de tudo, eles eram só dele.
"Sakura?" – ela levantou a cabeça e encontrou os olhos dele – "Que negócio é esse de você ter passado em um teste? Que teste foi esse?".
"Ai é mesmo!" – ela se afastou dele e o puxou até o banco sentando-se e fazendo-o sentar-se também – "Eu vou te contar tudo desde o começo!".
"Tudo bem, comece!" – como ele adorava aquele sorriso.
"Depois que você me ligou, falando do curso que ia fazer nos Estados Unidos, eu decidi ir com a Tomoyo para a casa de campo do nosso bisavô. Eu estava lá sem fazer nada na biblioteca, quando vi em uma revista uma matéria que me chamou atenção: "Transferência para a faculdade de Educação Física exige teste de admissão em Hong Kong!". Eu comecei a dar uma folheada na revista que já estava até um pouco ultrapassada. Era de três anos atrás mesmo assim eu li a matéria. Lá dizia que a universidade de Hong Kong tem um dos mais conceituados cursos de Educação Física do mundo, estando os alunos formados entre os melhores profissionais da área e como o número de transferências para o curso aumentou devido a sua qualidade e etc, etc, foi estabelecido um teste de conhecimento e habilidade para as transferências. Fui conversar com a Tomoyo e ela decidiu ligar para a Meilin perguntando se ainda era feito esse teste para transferências, como ela não soube responder na hora ficou de ligar dizendo, abre aspas: o resultado de uma pesquisa que ela ia fazer sobre o assunto, fecha aspas, palavras de Meilin – Shaoran riu com a brincadeira de Sakura e estava com o coração acelerado, tinha a impressão de já ter entendido o final da narrativa – Ela ligou no dia seguinte e falou que o teste ainda era realizado e a data do teste seria dentro de duas semanas. Eu vim para Hong Kong dois dias depois que você viajou e passei os últimos dez dias estudando com Meilin. Ontem ela teve uma idéia meio louca de me arrastar para o Shopping, e me manteve lá até as dez da noite, por causa disso eu acordei atrasada hoje de manhã e quase perdi a prova. Mas consegui fazer e passei. Assim sendo, eu terminarei o curso de Educação Física aqui em Hong Kong. Eu sei que não preciso, mas eu pedi a autorização de meu pai para poder vir para cá. Ele aceitou e como eu não quis deixá-lo sozinho o Kero ficou lá com ele. Ah é, Meilin me disse que…".
Shaoran a beijou, interrompendo a frase. Sakura foi pega meio de surpresa, mas logo correspondeu o beijo e o abraçou pelo pescoço. Separaram-se ele perguntou.
"E por que Tomoyo me disse que não sabia onde você estava?".
"Eu pedi!" – a expressão de interrogação no rosto de Shaoran fez Sakura rir – "Eu queria fazer uma surpresa, e desde que Tomoyo começou a namorar com o Eriol não tem conseguido guardar segredo, ultimamente quando ela se empolga acaba dando com a língua nos dentes. Se ela namorasse com ele na época que estávamos na quinta série eu certamente saberia através dela que você gostava de mim" – a voz dela tinha indignação.
"É tão séria a situação?" – Shaoran perguntou contendo o riso. Sakura confirmou com a cabeça.
"E também,…" – abaixou levemente a cabeça – "eu acho que não ia te contar sobre o teste se eu não passasse".
"E por que?" – perguntou levantando o rosto dela até que seus olhos se encontrassem.
"Porque eu não iria querer que você soubesse que eu tive a oportunidade de estar perto de você e falhei" – ele a encarou com carinho – "E isso era uma probabilidade, eu ainda não me acostumei com o chinês e poderia errar na hora de interpretar as questões, você sabe disso! Também era um problema para você quando estudava em Tomoeda!".
"É verdade!" – ele a apertou contra o peito e sorriu – "Mas, você passou e é isso o que importa agora!" – ela concordou com a cabeça e o abraçou forte – "Onde você vai ficar enquanto estiver na faculdade?".
Ela o soltou e olhou para o chão rindo.
"Quando Meilin disse a Sra. Yelan que eu ia fazer o teste ela mandou prepararem um quarto para mim no mesmo instante!" – ela parou de rir e o encarou em tom de púrpura – "Eu vou ficar no quarto ao lado do seu!".
Shaoran arregalou os olhos. Isto era uma permissão de casamento que sua mãe estava lhe dando. Sorriu e pensou que seria melhor se Sakura entrasse na faculdade como sua noiva e não como namorada. Ele já havia conversado sobre isso com o Sr. Fujitaka há três anos e desde aquela época recebera o consentimento do mesmo. Sim, ele a pediria em casamento. E faria isso ainda hoje.
Continua…*************************************
N/A - Ele vai fazer isso ainda hoje,... mas não vai ser nesse capítulo...
Como eu sou má... hehehe... Espero que estejam gostando e que lembrem-se de colocar um review após ler essa nota...
Desculpem os absurdos e coincidências (encontrar uma revista com uma matéria falando sobre transferência para Hong Kong, justamente na área que Sakura está cursando, não é grande coisa)... E pedindo deculpas à quem estiver por um acaso cursando Administração e Ed. Física, gente eu nem saí do Ensino médio... então desculpem as gafes que esta criatura cometer...
Agradeço primeiramente ao Ale, que se não tivesse reclamando do beijo do "Adolescência Vazia" eu não me sentiria impulsionada a escrever o que coloquei como prólogo. Valeu!!... E para os meus amigos que estão sempre me apoiando um grande abraço!!...
Um grande beijo a que está lendo e até a próxima!!...
Yoruki.
