APUROS EM HONG KONG
– CAPÍTULO DOIS –
Já eram seis da tarde quando Sakura entrou na biblioteca e viu Wei, que está em seu horário de descanso, sentado ao sofá lendo.
"Deseja alguma coisa jovem Sakura?" – levanta-se assim que a vê.
"Não, não se preocupe!" – dá um sorriso e balança as mãos – "Sr. Wei, você sabe onde está o Shaoran?" – coça a cabeça sem graça.
"Não o vejo desde o almoço" – balança a cabeça, Sakura lhe sorri um pouco triste.
"Tudo bem!… Ah sim, Meilin me disse que há uma sala de treinamento na casa. Será que posso utiliza-la?".
"Mas é claro que sim, jovem Sakura!".
"E onde fica a sala?" – olhou gentilmente para o senhor que lhe sorria.
"É a segunda porta à esquerda da sala de jantar!".
"Muito obrigada!" – fez reverência e se retirou, seguindo para seu quarto, precisava colocar as roupas adequadas para fazer os exercícios.
Cerca de dez minutos depois Sakura adentrava o enorme salão de treinamento. Havia colocado uma calça larga verde-escura, uma blusa regata verde-água e uma sapatilha negra; os cabelos estavam fortemente presos em um alto rabo-de-cavalo.
Observou atenciosamente o salão. Tinha o formato hexagonal, em uma das paredes a única porta do aposento, que estava atrás dela, três paredes possuíam janelas e as outras duas que restaram possuíam prateleiras com uma infinidade de armas, que iam de espadas a clavas.
A alguns passos da porta estavam dispostas, paralelamente, duas estantes com espadas de bambu e madeira, bastões e outros materiais de treinamento.
Ela caminhou lentamente até o centro da sala e tirou sua chave do pescoço, segurando-a com a mão esquerda.
"Chave que guarda o poder da estrela, mostre seus verdadeiros poderes sobre nós e ofereça-os à valente Sakura, que aceitou esta missão. Liberte-se!" – a chave transformou-se em báculo e repousou nas mãos da jovem feiticeira, que jogou uma de suas cartas para o alto – "Mostre sua verdadeira identidade, Luta!".
A figura feminina, vestida de forma excêntrica, apareceu na frente da garota e a cumprimentou assumindo em seguida posição de luta. Sakura utilizou a Flutuação e seu báculo ficou repousando no ar, enquanto ela assumia também posição de batalha.
"Um aquecimento então!" – disse e a carta concordou, partindo para cima de sua mestra com movimentos e ataques lentos. Depois de cinco minutos fazendo um aquecimento leve, com socos, chutes e bloqueios, começaram a aumentar o ritmo e intensidade dos golpes. A carta tinha conhecimento do nível técnico de sua Mestra, há cinco anos que elas vêm treinando juntas, e ela viu a feiticeira se aperfeiçoar em vários tipos de artes marciais durante esses anos. A disputa já dura meia hora e Sakura bloqueia um chute da carta aplicando-lhe rapidamente uma rasteira. A carta cai. Já está na hora de aumentar o nível das técnicas. Quando volta a erguer-se Luta ataca Sakura detendo o punho a centímetros do rosto da mesma. Afastam-se e Sakura volta a tomar posição de batalha, mas desta vez o corpo está mais alongado, as pernas estão mais afastadas e os braços têm um ângulo ofensivo. A Luta faz o mesmo e parte para o ataque.
Sakura sente uma presença e sai de sua posição, erguendo o corpo e abaixando os braços. Ao perceber a atitude da mestra a carta pára. A presença diminui e se mistura ao grande número de auras existentes na cidade de Hong Kong, Sakura olha para a carta que a observa apreensiva.
"Eu acho que basta por hoje!" – Luta acata a ordem, presta reverência e volta a sua forma de carta indo para as mãos de Sakura. Esta vai até onde seu báculo estava flutuando e assim que o pega Flutuação também se transforma em carta. Fecha os olhos e seu báculo volta a ser uma chave. Coloca novamente a chave no pescoço e senta-se no centro do salão com as pernas cruzadas, costa ereta, regulariza lentamente sua respiração e começa um exercício de meditação.
São inúmeras as auras mágicas de Hong Kong. Por que aquela lhe chamou tanta atenção? Não é a primeira vez que uma presença se altera nessas duas semanas que está na cidade, mas em nenhuma das vezes anteriores isso a desconcentrou como aconteceu há pouco.
'É melhor deixar isso de lado por enquanto, se algo estiver para acontecer a Sra. Yelan certamente haverá de falar alguma coisa!' – pensa encerrando a meditação. Abre os olhos e se coloca de pé virando-se em seguida para a porta, onde um par de olhos castanhos a observava. Sorri.
"Está aí há muito tempo?".
Ele nega com a cabeça e entra no salão – "Você está linda!".
"Ah, claro!" – balançou a cabeça discordando enquanto tentava, em vão, fugir do namorado que a abraçou – "Me solta, eu estou grudando!" –disse enquanto se debatia.
"Só solto com uma condição!" – ela ergueu a sobrancelha – "Ou melhor, duas condições!".
"Que condições?" – parou de se mexer e ficou encarando-o.
"A primeira é você ir jantar comigo hoje!".
"Tudo bem, eu aceito! E qual é a segunda condição?" – passou os braços pelas costas de Shaoran.
Ele a puxou para mais perto de si, a encarou aproximando seus rostos e a beijou com paixão. Depois que se separaram Sakura se esquivou dos braços dele e se dirigiu para a saída.
"Agora eu tenho que tomar um banho antes que você decida colocar mais condições para me deixar ir!". Ele a ficou observando enquanto se afastava, ela sempre detestou que ele a abraçasse quando ela está suada. Balançou a cabeça com um tímido sorriso e fechou os olhos sentindo os vestígios da presença dela que ainda estavam na sala.
Meia hora mais tarde, Shaoran bate na porta do quarto de Sakura.
"Pode entrar!".
"Com licença!" – ele abre a porta e entra no quarto fechando-a em seguida.
Sakura estava sentada na frente da penteadeira enquanto escovava o cabelo, mas pára assim que Shaoran entra no quarto e fica analisando-o. Ele estava usando terno em tom grafite, com uma camisa vermelha, gravata em dois tons de cinza com uma textura linear discreta e os cabelos eternamente rebeldes.
'Ele fica simplesmente lindo vestido dessa forma, pena que use tão pouco esse tipo de roupa' – pensou terminando de pentear os cabelos e prendendo-os com uma presilha de modo que uma mecha caísse sedutoramente sobre a face. Em seguida se levantou deixando Shaoran boquiaberto com a imagem que via a sua frente.
Ela estava usando um vestido longo, tomara-que-caia, preto, justo que desce em corte reto a partir do quadril, uma discreta fenda até os joelhos no lado direito e flores de cerejeira bordadas na barra com um fino fio prateado.
Ela ficou envergonhada pelo jeito com que Shaoran a observava.
"É uma das criações da Tomoyo, e foi a Meilin que escolheu para eu usar!" – foi até a cama, pegou a pequena bolsa que lá estava e seguiu em direção à porta – "Mas eu achei um pouco exagerado…".
"Está perfeito!" – interrompeu a sentença abrindo a porta para que ela passasse, agora envergonhada com o comentário – "Vamos indo!".
Quarenta e cinco minutos mais tarde uma limusine estava parando na frente de um dos restaurantes mais caros da ilha de Hong Kong. O chofer abriu a porta e Shaoran desceu primeiro estendendo a mão para sua acompanhante, entrando no restaurante logo em seguida. Foram encaminhados até uma mesa para duas pessoas e Shaoran pediu que o garçom trouxesse uma garrafa de Champagne e o prato que haviam combinado por telefone quando ele fez a reserva.
"Nossa!" – Sakura estava encantada, Shaoran já a levara para jantar outras vezes, mas eram restaurantes mais simples – "Quanto luxo, mas qual é a ocasião que estamos comemorando?".
"Primeiramente: você ter passado no teste e ter vindo morar aqui comigo!" – pegou a mão de Sakura e a beijou – "E o segundo motivo, é uma surpresa!".
"Ah é?" – levantou a sobrancelha enquanto ele confirmava com a cabeça.
O garçom trouxe o Champagne e serviu os jovens que fizeram um brinde. Enquanto esperavam o prato ficar pronto, eles conversavam sobre os mais variados assuntos até que alguém os interrompeu.
"Não acredito, Shaoran Li jantando com uma garota e não é sua prima, mãe nem uma de suas irmãs!" – Um rapaz com terno e gravata pretos, com uma camisa branca, olhos negros, cabelos castanho-claro compridos presos em uma fina trança e com um excelente físico se aproximou da mesa, fazendo Shaoran fechar o incomum sorriso que até o momento mantinha no rosto – "O que foi Li? Não está feliz em ver seu amigo aqui? Além disso,…" – encarou Sakura, que se manteve incrivelmente calma sob os olhares gulosos do garoto, e sorriu maliciosamente – "… quem é a gracinha?".
Shaoran cerrou os pulsos e encarou o rapaz com olhos de fogo.
"Desde quando você é meu amigo Jiang Yu?" – Shaoran apontou para a namorada – "E esta é Sakura Kinomoto, minha namorada! É bom que você tenha mais respeito para com a futura matriarca do clã Li!".
"Kinomoto? Ela é japonesa!" – o chinês de olhos negros fez uma expressão de espanto – "Você acha que os anciões vão aceitar que o líder do clã se case com uma estrangeira, Li?".
Sakura aparentemente não havia se abalado com o comentário de Jiang Yu, mas isso foi como uma flechada certeira no seu coração, afinal, de todos esse era o seu maior medo.
Shaoran apenas sorriu com o comentário de Yu, fato que este estranhou.
"Isso não é de sua conta!" – disse apenas. Alguém se aproximou da mesa onde eles estavam e interrompeu a discussão.
"Com licença, Jiang Yu" – uma garota vestindo um vestido comprido de veludo, azul marinho, com o cabelo preso em um coque, olhos castanhos e cabelos negro prestou reverência ao rapaz – "Desculpe-me pelo atraso!".
"Você não se atrasou Xuejie Hu!" – a cumprimentou com a cabeça e apontou para o Li – "Lembra-se de Shaoran Li?".
Os olhos da menina simplesmente brilhavam enquanto encarava Shaoran, fato que Sakura não deixou passar desapercebido, e a fez corroer-se de ciúmes.
"Mas é claro que me lembro!" – fez reverência a ele e sorriu – "Boa noite Li!".
"Boa Noite!" – Shaoran respondeu com a cara amarrada.
Hu voltou a erguer-se com um sorriso que desapareceu assim que reparou em Sakura, forçou um sorriso – "E você quem seria?".
"Sakura Kinomoto, muito prazer!" – respondeu curvando-se ainda sentada.
"A Srta. Kinomoto é namorada de Shaoran, Xuejie!" – Yu disse em tom satírico, ao que ela simplesmente ergueu as sobrancelhas em sinal de exclamação – "Vamos para a nossa mesa! Com licença Li, Srta. Kinomoto!".
Afastaram-se e sentaram-se em uma mesa um pouco afastada, mesmo assim, ainda era possível ouvi-los rir e comentar sobre a japonesa.
Shaoran olhou para a namorada que estava com a cabeça levemente abaixada, e viu, apesar de todo autocontrole que ela estava tentando apresentar, uma lágrima se formar em seus olhos. Ele levantou o rosto dela para que seus olhos se encontrassem.
"Está preocupada com o que ele disse a respeito dos anciões?" – ela suspirou e confirmou com a cabeça.
"Não se preocupe, minha flor!" – ele sorriu fitando-a carinhosamente – "Eu deixo de ser o líder do clã antes de ter que me separar de você!".
Sakura sorriu, aliviando o coração do jovem chinês.
Pouco tempo depois o jantar foi servido. Durante o jantar o ânimo dos dois voltou ao estado inicial, fazendo o resto da noite muito agradável.
Depois de terem jantado, Sakura achou que iam direto para casa, mas Shaoran a convidou para dar uma volta na beira do mar, à luz da lua, antes de retornarem para a mansão.
Eles caminhavam abraçados.
"Sabe o que eu acabei de me lembrar?" – Shaoran perguntou sentando-se na areia e convidando-a a fazer o mesmo.
"O que?" – sentou-se ao dele e encostou a cabeça no seu ombro.
"De quando estávamos na quarta série, e fomos para a praia nas férias de verão!" – beijou a testa da namorada – "Lembra-se que ficamos conversando na beira da praia, porque não conseguíamos dormir?".
"Uhum! Foi uma noite antes de capturarmos o Apagar!" – Sakura ergueu a cabeça e fitou Shaoran nos olhos – "Foi a primeira vez, não foi?".
Ele ficou com uma expressão de interrogação.
"A primeira vez que ficamos conversando sem uma carta estar, necessariamente, envolvida!" – sorriu e olhou para a lua que se refletia na água do mar – "Você era muito desconfiado!".
"Era? Eu ainda sou!" – abraçou Sakura que encostou a cabeça em seu peito. Sakura riu do comentário. Ficaram abraçados, vendo a lua em silêncio, por alguns minutos. Depois decidiram fazer o caminho de volta. Caminhavam em silêncio até que Sakura lembrou-se de algo.
"E aquela surpresa de que você falou no restaurante mais cedo?" – Sakura parou de caminhar e Shaoran ficou de frente para ela. Ele respirou fundo e sorriu um pouco constrangido.
"Sabe, eu já imaginei várias maneiras de fazer isso, já treinei milhões de formas de falar. Ensaiei desde textos inacabáveis a frases que chegam a ser ridículas de tão curtas, mas… nenhuma delas era boa o suficiente, não para você!" – Sakura não estava entendendo o que Shaoran estava dizendo até que ele se ajoelhou à sua frente e retirou uma pequena caixa preta de veludo do bolso abrindo-a. Dentro da caixa, duas alianças de ouro-branco, incrustadas com duas pequenas pedras, um diamante e uma esmeralda, escrito Sakura & Shaoran, dentro de ambas – "Sakura, eu… eu seria o homem mais feliz de todo o universo, se você aceitasse se casar comigo!" – Shaoran pegou uma das alianças e colocou no anelar direito dela.
Ela abriu um sorriso enorme, e lágrimas de felicidade vieram aos olhos da menina.
"Será mesmo que eu preciso responder a essa pergunta?" – se joga nos braços de Shaoran, derrubando-o na areia. Ele a abraça com força e depois a beija. Depois Sakura pega a outra aliança da caixa e coloca também no anelar de Shaoran e se beijam novamente.
Eles se levantaram e continuaram o caminho até o carro, seguindo para a mansão Li, onde anunciariam seu noivado para todos da família, mas apenas no dia seguinte.
Continua…
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N/A – Aqui está o segundo capítulo… para quem estiver se perguntando quem são esses tais de Jiang Yu e Xuejie Hu?… Isso será revelado mais à frente!… Desculpe, mas… se eu contar estrago a surpresa!!… Queria agradecer a quem está lendo e também a Cherry, Felipe e ao Ale, que novamente leu o texto e fez suas típicas reclamações e críticas… Apesar de achar que você vai me deixar irritada com isso… só me ajuda a não cometer erros, sabia??… hehehe…
Por favor, deixem um review!…
Beijos e até o próximo capítulo…
Yoruki.
