APUROS EM HONG KONG

– CAPÍTULO TRÊS –

    Ela respirou fundo e abriu lentamente os olhos, observou demoradamente o quarto onde encontrava-se, sorriu e levantou-se. Ás vezes custava a acreditar que não estava sonhando. Foi até a janela e olhou para o imenso jardim da mansão.

Shaoran encontrava-se fazendo seu treino matinal, estava sem camisa e tinha o cabelo, suado, grudado na testa. Movia-se com a astúcia e agilidade de um gato enquanto fazia movimentos com a espada. Deteve-se a observá-lo durante algum tempo, depois foi tomar um banho e se arrumar.

Desceu a escadas e entrou na sala de jantar.

"Bom dia Wei!" – sorriu para o mordomo que arrumava a mesa para o café.

"Bom dia jovem Sakura! Vejo que acordou mais cedo do que o de costume hoje!".

"Hahaha! Pois é!" – ficou envergonhada com a observação – "Shaoran ainda está no jardim?".

"Não, o jovem Shaoran já terminou o treinamento e foi se arrumar. A senhorita tem correspondência, acho que é a respeito do noivado. E o café estará pronto dentro de alguns minutos!".

"Ah, sim! Obrigada!" – saiu da sala de jantar e foi até o balcão no corredor, onde eram deixadas as correspondências – "Hum!… O que temos aqui?" – pegou um maço de cartas que tinham o seu nome  – "Sr. e Sra. Terada, Yamazaki, Mihara, Yanagisawa, Daidouji, Hiiragizawa, Amamiya. Carta do papai e do Touya também!" – sorriu ao conferir as respostas para os convites de noivado enquanto retornava para a sala de jantar.

Passaram-se duas semanas desde que Shaoran pediu-a em casamento. Enviaram os convites dois dias depois. A festa estava marcada para dali a três semanas e ambos faziam questão da presença dos amigos de infância. Haviam decidido fazer uma celebração simples, em relação aos 'padrões Li'.

"Bom dia minha Flor! Qual a razão desse sorriso?" – Shaoran perguntou vendo a noiva entrar na sala com um bolo de cartas na mão.

"Bom dia Shaoran!" – se aproximou do jovem chinês mostrando o que trazia – "Recebi a confirmação de presença do pessoal de Tomoeda!".

"Mas que bom!" – abraçou a noiva e deu-lhe um beijo na testa e um rápido beijo nos lábios, pois sua mãe acabara de entrar no aposento.

"Bom dia a todos!" – disse a matriarca da família olhando curiosamente para o filho que abraçava a noiva pelos ombros.

"Bom dia, Senhora!" – disseram Wei e os outros criados em uníssono.

"Bom dia Sra. Yelan!" – Sakura respondeu sorrindo.

"Bom dia Mãe!".

"Vamos nos sentar!" – sentou-se à mesa e os criados começaram a servi-los.

Mais tarde na biblioteca…

"Como vão os preparativos para o seu noivado Pequeno Lobo?".

"Está tudo certo, Mãe! Não haverá nenhum problema e amanhã sairá uma pequena nota no jornal falando sobre o fato!" – Shaoran desviou o olhar de sua mãe para a noiva, que  o olhava espantada, e sorriu – "Não se preocupe amor, é só precaução para que não ocorram boatos com relação a sua identidade".

"Sabe, eu ainda não estou acostumada com essa história de imprensa." – sorriu um pouco constrangida.

"Isso é normal, mas não se preocupe, você se acostuma!" – Yelan sorriu – "Diga-me Sakura, tem se preparado para retornar à faculdade amanhã?".

"Sim, e tenho treinado bastante o idioma! Creio que não terei muitos problemas com os textos e Meilin tem me ajudado bastante também!" – respirou fundo e sorriu um pouco sem graça – "Mas acho que ainda não estou pronta para me separar definitivamente do dicionário!".

Todos riram do comentário e ficaram conversando, ora sobre o noivado, ora sobre a faculdade, ora sobre o cotidiano.

Yelan observava a maneira com que seu caçula tratava a jovem Mestra das Cartas e lembra-se, feliz, da decisão de enviar o filho para o Japão, mesmo sabendo que Clow já havia escolhido um sucessor e que nada poderia mudar isso. Ela de fato estranhou muito a decisão de Shaoran de permanecer em Tomoeda após o Juízo Final e, mesmo ele tendo dito que coisas estranhas estavam acontecendo e que envolviam Lead Clow, ela sentiu que existia um outro motivo, se bem que, de acordo com Wei, nem mesmo ele tinha conhecimento de seus sentimentos na época. Lembra-se também de quando filho voltou para Hong Kong, de como andava deprimido. Não foi difícil encontrar a razão para ele agir dessa forma, pois não foram poucas às vezes em que ela o pegou distraído, com o olhar perdido na direção da grande cerejeira que existe no jardim ou então que o presenciou falando de maneira tão entusiasmada e carinhosa ao lembrar-se da Flor de Cerejeira.

'Esse cabeça-dura!' – pensa enquanto os jovens conversam sobre alguns fatos da época em que caçavam as cartas – 'Nunca o vi sorrir de maneira tão sincera antes de conhecê-la. Definitivamente tenho um débito para com a Pequena Flor, pois ela o ensinou a ver quais são as coisas que realmente tem valor na vida de uma pessoa, algo que eu nunca consegui fazê-lo enxergar!'.

"Mãe ..." – Shaoran toca o ombro de sua mãe, fazendo-a despertar de suas lembranças.

"O que?" – o encara meio assustada.

"A senhora está bem?" – Sakura a olha de maneira preocupada.

"Sim! Não se preocupem, estava apenas lembrando-me de algumas coisas!" – diz sorrindo.

"Tudo bem,…" – olhou meio desconfiado para a mãe, mas decidiu deixar isso de lado – "mas o que a senhora acha da decoração do salão ser feita com flores?".

"Se vocês querem que o salão seja decorado com flores então está tudo bem! Só digam-me quais serão para que eu possa mandar encomendá-las!".

"Creio que isso não será necessário!" – Sakura sorriu para Yelan que se mostrou espantada – "Afinal, para que Clow criou a Carta Flores? Eu pedirei para que ela  distribua as flores na manhã de Sábado para que a Senhora possa ter tempo de organizar a decoração como combinamos!".

"Seria bastante útil, de fato!" – levantou-se da poltrona onde estava sentada, sendo imitada pelos jovens – "Com licença, tenho assuntos a resolver!" – e retirou-se os deixando sozinhos.

Ambos estavam em pé observando a Sra. Li se retirar, assim que ela saiu Shaoran se virou para Sakura e enlaçou-a pela cintura.

"Agora que estamos sozinhos posso fazer uma coisa que teria feito mais cedo se minha mãe não estivesse presente!" – sorriu enquanto a noiva ergueu uma sobrancelha.

"E o que seria essa coisa?" – passou os braços pelo pescoço dele e afagou o cabelo de sua nuca.

Os rostos se aproximaram, fecharam os olhos e os lábios se encontraram em um beijo apaixonado.

No final da tarde…

Sakura estava, mais uma vez, na sala de treinamento fazendo seus exercícios. Estava ali há quase meia hora, e a Carta Luta já não conseguia defender os golpes de sua mestra naquele ritmo. Sempre que precisavam aumentar o nível dos golpes, significava que o treinamento estava acabando. Sakura imobilizou a Luta, após ter defendido um chute alto que a mesma tentara aplicar, puxando seus braços para trás em um ângulo de 15 graus. Estando a carta caída no chão de costas para ela, não conseguiria se levantar. Soltou-a e ficaram frente a frente sorrindo, cumprimentaram-se e a carta voltou a sua 'forma humilde'. Após ter convertido o báculo em chave, Sakura colocou-se no centro do salão em posição de meditação. Regularizou a respiração e passou a buscar clareza em quais deveriam ser suas metas a partir de agora, em como agir diante de outras pessoas, o que poderia e o que não poderia fazer. Ela sempre soube que para fazer parte da família Li, teria que abrir mão de muitas coisas.

'Mas é um preço válido a se pagar quando se trata de realizar o meu maior sonho!' – foi como concluiu a meditação. Quando já havia levantado-se sentiu a mesma presença de duas semanas atrás, depois ficou tonta e caiu no chão desmaiada.

Na biblioteca, Shaoran e Wei discutiam alguns últimos detalhes técnicos do noivado, uma vez que as aulas seriam retomadas no dia seguinte ele não teria muito tempo para lidar com isso.

"Os familiares de Sakura e nossos amigos de Tomoeda deverão chegar em Hong Kong na sexta-feira à noite e retornar ao Japão no domingo. Todos eles já confirmaram a presença, então lembre-se que devem ser marcadas passagens de ida e volta para 13 pessoas, nos nomes contidos nesta lista, todas de primeira classe!" – Shaoran recomendava entregando uma folha de papel ao seu fiel amigo – "E também…".

Ele pára de falar ao sentir uma presença estranha e percebe que a energia de Sakura diminuiu consideravelmente. Levanta-se e saí correndo em direção ao salão de treinamento, sabendo que ela encontrava-se ali naquele horário. Wei foi atrás do jovem mestre assim que ele saiu da biblioteca.

Shaoran fica desesperado ao entrar na sala de treinamento e ver a jovem caída no chão.

"Sakura!" – grita e vai até ela.

"O que foi que aconteceu?" – Wei pergunta chegando à porta do salão de onde Shaoran saía carregando a noiva desmaiada em seus braços.

"Não sei!" – diz passando por ele com uma expressão preocupada e seguindo em direção as escadas – "Vou levá-la para o quarto, por favor, vá chamar minha mãe Wei!".

"Sim!".

Shaoran chegou ao quarto de Sakura e colocou-a delicadamente sobre a cama, sentou-se ao seu lado e ficou acariciando o rosto dela.

"O que foi que aconteceu meu anjo?" – sussurrava olhando para ela com carinho e medo – "O que houve? Que presença era aquela?".

"O que aconteceu filho?" – Yelan estava na porta do quarto observando Shaoran, que estava apreensivo, e o corpo desfalecido da flor de cerejeira, que era sempre tão cheio de vida. Ele virou-se para a mãe.

"Entre! A senhora sentiu aquela presença agora pouco?".

"Sim!" – se aproximou da cama e analisou Sakura um pouco preocupada, mas depois sorriu – "Não se preocupe! Ela despertará dentro de poucos minutos!".

Dito e feito. Em pouco mais de dez minutos Sakura começou a despertar.

"O que aconteceu?" – perguntou um pouco desnorteada ao perceber que estava em seu quarto.

"Você está bem minha flor?" – Shaoran se ajoelhou ao lado da cama e pegou a mão de Sakura – "O que aconteceu?".

"Eu estava terminando o treinamento, senti uma presença se destacar e não me lembro de mais nada ..." – Shaoran sentou-se na cama continuando a segurar a mão de Sakura.

"Eu senti a mesma presença e quando cheguei ao salão você estava desmaiada" – ela abaixa a cabeça e tenta forçar um pouco a memória, Shaoran simplesmente a abraça firmemente enquanto sussurra algumas palavras ao seu ouvido – "Você não sabe como eu tive medo de te perder, eu te amo tanto Sakura!".

Ele afasta-se e ela o fita com carinho.

"Eu também te amo Shaoran!" – o abraça – "Eu te amo, te amo muito!".

Eles ficam envolvidos naquele abraço durante alguns minutos.

"Vamos descer e jantar?" – Shaoran se levanta.

"Tudo bem, mas antes eu vou tomar um banho. Você não quer que eu vá jantar assim não é?" – ele riu e balançou a cabeça negativamente – "Acho que vão acabar jantando sem a gente, vou pedir para trazerem o jantar aqui no quarto, o que você acha?".

"Tudo bem!" – sorriu e viu Shaoran sair do quarto.

"Volto dentro de…" – olhou para ela segurando a porta e ergueu a sobrancelha – "dentro de uns trinta minutos?".

Ela concordou com cabeça e ele saiu do quarto, fechando a porta.

Sakura havia acabado de se arrumar quando Shaoran bateu na porta do quarto.

"Entre!".

"Com sua licença, senhorita!" – entrou no quarto carregando uma bandeja com a janta para os dois.

"Uhm, que cheiro bom! Eu estou faminta!" – arrumou um lugar na mesa que ficava próxima à janela para que ele colocasse a bandeja.

"Vou começar a pensar que não te alimentam direito nessa casa!" – disse rindo em tom zombeteiro enquanto depositava a bandeja sobre a mesa.

"Bobo!" –  abraçou-o e encostou a cabeça no seu peito ouvindo as batidas do coração dele. Shaoran retribuiu o abraço e aspirou o aroma floral que ela exalava.

"Vamos comer antes que esfrie!" – ela soltou-o e sentou-se a mesa.

"Sim, temos que ir dormir logo!" – fez o mesmo – "Amanhã teremos aulas!".

'Sem contar que os repórteres ficarão me perseguindo durante o dia todo para saber detalhes sobre o casamento!' – pensou Li um pouco melancólico – 'Mas, ao contrário do que aconteceu nas outras vezes que saíram notícias sobre o meu casamento no jornal, dessa vez é verdade e é com a única mulher com quem eu gostaria de me casar, a mulher que eu amo!'.

Serviram-se do jantar e ficaram conversando. Quando eram onze horas Shaoran despediu-se de Sakura e foi para o próprio quarto.

O dia seguinte seria extremamente cansativo. E, apesar de fingir que esqueceu a misteriosa presença que sentira pela primeira vez mais cedo, o desmaio de Sakura ainda preocupava-o, mas sua mãe havia dito para ele acalmar-se. Então, por enquanto, ele faria isso.

Continua …

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N/A – O que será que está acontecendo?… Por que ela desmaiou?… O que será que Yelan sabe, para manter-se tão calma?… Por que eu estou fazendo estas perguntas, se sou eu quem tem que responde-las?…

A quem enviou seus reviews, muito obrigada!… Obrigada também a Cherry que revisou este capítulo e a Miaka. E se você está acompanhando a fanfic, mas não posta seus reviews, valeu por estarem perdendo seu tempo com esta minha pequena diversão!!…

Até a próxima…

Yoruki.