APUROS EM HONG KONG
– CAPÍTULO TREZE –
Sakura não saberia dizer como a chave foi parar em sua mão. E sinceramente não iria se importar com isso naquela hora. Converteu-a no báculo, e ativou o Escudo bem a tempo de impedir que Eriol e Mai Su fossem atingidos pelo ataque de Yu.
Não tivera tempo também de se perguntar como sabia que os amigos estavam em perigo, se não conseguia vê-los, apenas sentiu isso. Pressentiu que aquilo iria acontecer.
Viu as paredes de água começarem a descer lentamente, enquanto Jiang gargalhava. Ele parou de rir e ficou olhando para o lugar onde Eriol estava.
"Mas como…" – olhou para trás fitando Sakura. A tranqüilidade que ela sentia era tão grande que, estranhamente, não se abalou com o gélido olhar que fora lançado sobre ela – "Como você ainda está de pé?…" – ficou encarando-o por mais algum tempo antes de sorrir triunfante.
"Algum problema, Sr. Yu?" – perguntou ainda sorrindo, deixando-o mais irritado. Fitava-o com grande atenção, seus olhos atentos a cada pequeno gesto, a cada reação que ele tinha.
Yu cerrou os punhos, bufando. No instante seguinte a terra começou a tremer e se partir, ramificando-se a partir do lugar onde ele estava.
Sakura se assustou um pouco quando as fendas começaram a se formar, voltou a ficar calma usando a Alada. Segurou uma carta entre os dedos e a lançou para cima.
"Terra!…" – chamou a carta que começou a tentar fechar as fendas que foram abertas. Não estava funcionando, a carta fechava as brechas, mas elas voltavam a se abrir. Um pandemônio se criou. Um alto ruído vindo das profundezas da Terra foi ouvido. Fumaça e calor saíam pelas fendas criadas por Jiang. Sakura recolheu sua carta e assistiu espantada paredes de lava incandescente jorrando das fendas.
'Por isso não consegui fechá-las…' – pensou desviando de vários pilares que irrompiam o ar. Voava fazendo o máximo para não ser atingida. Acabou por subir saindo do alcance dos gêiseres de fogo.
Ela ficou pairando no ar, apenas observando o rapaz, que a fitava com o rosto cheio de uma cólera sem sentido por ela. Suas expressões se tornando cada vez mais ríspidas, ele não parecia ter controle sobre si. Ergueu as mãos pronunciando ferozmente palavras de uma língua, há muito esquecida pela humanidade. Sakura percebeu que eram palavras de ofensa, ofensa contra o vento, contra a água, contra a luz, contra as trevas. Contra a própria terra.
Sentia a energia do ataque aumentando. Ela lançou um olhar desesperado para Shaoran que estava no chão e voou até ele aceleradamente. Enquanto descia, ativou a Força, e pegou o noivo em seus braços, voltando a subir em seguida. Foi o tempo certo para escaparem de um jato de lava saído das brechas que cobriu boa parte do jardim.
Estava abraçada a Shaoran, os jatos não os atingiriam naquela altura. Ficaram apenas se encarando enquanto flutuavam. Sakura estava ofegante.
"Você está bem?…" – perguntou sem deixar de encarar o noivo.
"Sim… e você?…" – acariciou o rosto rosado da flor. Ela balançou a cabeça.
"Eu quase não consegui te alcançar a tempo…" – sorriu fracamente.
"Não é verdade…" – beijou-a levemente nos lábios – "é melhor voltarmos para o chão… não conseguirá nos suportar aqui por muito mais tempo…".
Sakura olhou para o céu. A lua recuperava lentamente seu brilho. Desceram onde o Escudo estava ativado.
"Vocês estão bem?…" – Eriol deixou Mai Su desacordado de lado e foi até eles.
"Sim,… como ele está?…" – Shaoran perguntou encarando o amigo desmaiado.
"Apenas utilizou muita energia…" – balançou a cabeça – "vai ficar bem…".
"Que bom,…" – Sakura suspirou, olhando para Yu que continuava a invocar as colunas de lava derretida – "Ele está fora de controle…".
"Já percebemos…" – Eriol murmurou.
"O que poderíamos fazer?…" – Shaoran perguntou se aproximando de Sakura, que se voltou para fitá-lo.
"Machucado desse jeito,… o senhor não vai fazer nada!" – o repreendeu com o olhar.
"Mas Sakura…".
"Nada de 'mas'…" – voltou a encarar Jiang – "Eu não sei se é impressão minha,… ou se os poderes dele realmente estão se exaurindo com o término do eclipse…".
"Estão diminuindo sim,…" – Shaoran comentou de olhos fechados.
"Uhum,…" – ficou pensativa por um instante – "Eriol, será que você poderia usar o seu Escudo?…" – perguntou um pouco incomodada.
"Claro…" – o jovem mago materializou um escudo por fora do de Sakura e a carta imediatamente voou até a mão de sua dona.
"Obrigada!…" – olhou pensativa para a lua. Enquanto Jiang tivesse os poderes do Eclipse não conseguiria derrotá-lo – 'É tudo uma questão de tempo,… um tempo que não temos…' – olhou para Eriol com um brilho de expectativa nos olhos – "qual a probabilidade de eu conseguir usar, com sucesso, O Tempo contra ele?…" – Eriol e Shaoran entreolharam-se assustados.
"Não tem muitas chances… e ele precisa estar distraído…" – Eriol sentenciou – "muito distraído…".
"O que pretende fazer Sakura?…" – o jovem chinês fixou seus olhos chocolate na noiva que nem mesmo pareceu escutar a pergunta.
'Que carta eu posso usar?…' – passava suas cartas uma por uma. Arregalou os olhos – 'Já sei…' – deu um passo para sair do escudo.
"Sakura!…" – a chamou. Ela se voltou para encará-lo – "O que vai fazer?…".
"Esfriar um pouco a cabeça dele!…" – piscou para o noivo e saiu.
Sakura ativou o Salto assim que saiu da proteção, pulava de um lado para o outro tentando se aproximar o máximo possível de seu oponente. A sombra que cobria a lua ainda estava sobre mais de três quartos da mesma. Yu expelia uma grande quantidade de energia negativa, dificultando a aproximação da feiticeira. Vendo que não conseguiria chegar mais perto, desviou de um dos pilares de fogo que continuavam sendo 'cuspidos' pela terra e soltou uma das cartas à sua frente.
"Água… Vento… Relâmpagos…" – fechou os olhos e girou seu báculo – "agitem-se formando um turbilhão e neutralizem o poder negro que nos cerca,… Tempestade!".
No mesmo instante, nuvens se acumularam sobre eles, o vento, que soprava a uma grande velocidade, varria tudo em seu caminho. Trovões ressoaram e uma forte chuva se iniciou. A água caía em tamanha quantidade, que os pilares de magma eram resfriados quase que imediatamente após terem brotado da terra. O vento se deslocava formando furacões que impeliam o fogo para si. À medida que absorviam a lava, iam formando pilares de rochas vulcânicas em espiral e desapareciam, surgindo em outros lugares onde um novo gêiser se formava. A água a tudo tocava, os trovões se tornavam mais e mais altos, raios começaram a ser lançados em direção ao solo. Sakura se envolveu na proteção de seu escudo e ficou esperando o momento certo. Esperava que Yu se distraísse vendo os pilares de fogo sendo pouco a pouco inutilizados. De fato o conseguiu. O rapaz olhava com fúria para os tufões. Tentava fazer com que seus urros soassem acima dos trovões. Aumentava cada vez mais a quantidade de energia a ser utilizada com o sortilégio do fogo.
"Não vai conseguir me derrotar!…" – gritava para os céus. Sakura balançou pesadamente a cabeça.
'Isso é muito triste… ele não percebe o mal que está causando a si próprio…' – pensou suspirando. Colocou todos os seus sentidos em alerta, teria uma chance, uma única chance de usar O Tempo e precisava aproveitá-la. Concentrou-se fechando os olhos.
Yu começou a negligenciar a magia do tempo, utilizando apenas o fogo. Os pilares pararam de ser expelidos, e toda a energia agora se concentrava sobre ele. Esse era o momento.
No salão de festas…
Meilin e Tomoyo estavam sentadas lado a lado em silêncio, apenas vendo o movimento dentro do salão.
"Daqui a pouco eles vão começar a desconfiar…" – a chinesa murmurou, respirando pesadamente.
"Sim,… eu sei…" – Tomoyo respondeu de cabeça baixa, e começou a rir.
"O que foi?…" – Meilin olhou curiosamente para a amiga japonesa.
"Devem estar pensando que nós duas fomos abandonadas por nossos acompanhantes,… e agora estamos aqui…" – a garota de olhos rubi sorriu.
"Consolando uma a outra…" – completou, Tomoyo concordou com a cabeça. Meilin parecia incrédula – "eu ainda não consigo acreditar que Mai Su possui magia…" – comentou.
"Tem certeza disso Meilin?… Quer dizer,… pode ter sido um mal entendido e…".
"Tomoyo!" – chamou a amiga.
"É,… tem razão!" – suspiraram pesadamente ao mesmo tempo – "A professora Mizuki costumava dizer que 'apenas existe o inevitável nesse mundo'…" – se entreolharam – "pelo menos agora, não haverá oposição quanto ao relacionamento de vocês…" – Meilin sorriu.
"Eu não imaginei que Shaoran pudesse ser amigo de Mai Su,…" – faz uma careta – "meu primo e a mania dele de não contar nada para ninguém…".
"Sakura pareceu já conhecê–lo…" – comentou.
"Ah,… mas é claro que para Sakura ele contaria…" – respirou fundo. Ficaram em silêncio, pensativas por um momento.
"Eu não estranhei o fato de Eriol voltar para o jardim…" – a garota de olhos violeta disse pensativa – "mas teve algo que ele disse antes de sair que foi preocupante…".
"O que foi que ele disse?…" – Meilin perguntou apreensiva.
"Ele falou: 'Não posso permitir que nada de ruim aconteça com a Sakura… não agora… não nessas condições!'…" – balançou a cabeça – "Eu sei que Eriol é habituado a proferir frases misteriosas, mas essa eu realmente não entendi…".
"Mai Su também me deixou perturbada quando falou que Shaoran ia perder as duas pessoas mais importantes da vida dele se…" – pára de falar subitamente – "o que foi que Hiiragizawa falou?… Nessas condições?…" – perguntou espantada, para uma Tomoyo idem.
"Ah… Kami Sama!…" – tampou a boca. Meilin começou a rir com a mão na cabeça. Entreolharam–se e riram alto, realmente os rapazes tinham razão por estarem preocupados.
"Isso explica tudo!… Shaoran ficar preocupado com Sakura na hora do desmaio,… não era problema de pressão, mas sim magia…" – Meilin começou.
"Ele ficou preocupado não só com Sakura, mas com o bebê!... E os dois não nos contaram nada, mas a Sakura vai me ouvir quando voltar..." – se entreolharam e pararam de rir.
"Será que… ela vai conseguir?…" – perguntou Meilin, lendo a preocupação nos olhos violeta da amiga.
"Sakura é forte, e com todos eles a protegê–la,... é quase impossível que ela não volte!…" – sorriu tristemente – "Conhecemos bem todos os outros… principalmente Shaoran… Ele é superprotetor demais para deixar algo acontecer…".
"Tem razão!…" – disse quietamente – "De qualquer maneira,… não podemos fazer nada a não ser esperar que eles retornem!".
"É…" – voltaram a ficar caladas, torcendo para que todos voltassem bem.
Sakura desfez seu escudo e pousou no alto de um dos pilares de magma cristalizado, reuniu sua energia, segurando uma de suas cartas na frente do rosto. Fechou os olhos.
A energia que Yu concentrava em si começou a se materializar. Então das cinzas que se encontravam sob seus pés um pássaro de fogo surgiu. Começou a sobrevoar em círculos o quintal e subiu até onde se concentravam as nuvens, enfraquecendo-as e diminuindo aos poucos a intensa chuva.
A feiticeira abriu os olhos e jogou a carta para o alto, sua insígnia apareceu sob seus pés. Tocou a carta com o báculo utilizando todo o poder que havia concentrado.
"Carta que controla a passagem do tempo,… antecipe os minutos e termine com a sombra que paira sobre nossas cabeças…" – respirou fundo – "através dos poderes concedidos pelo planeta Plutão,… Tempo!".
A carta brilhou intensamente, ofuscando a visão de todos. A sombra do eclipse se movia mais rápido, em instantes ela não mais existia. Toda a energia que circundava o quintal foi absorvida por algo semelhante a um buraco negro que se formou no céu e, simplesmente, esvaeceu.
A ave de fogo lutava contra a tempestade criada pela feiticeira, havia reduzido a tormenta a uma simples nuvem. Soltou um escárnio de dor e se retorceu toda antes de desaparecer.
Sakura caiu de joelhos e ofegante sobre a pilastra. Apesar de ter utilizado o poder do planeta que guarda os 'Portões do Tempo', gastou muito de sua própria energia também. Sentiu o pilar que estava sob si agitar-se e começar a descer lentamente. A terra estava fechando suas feridas, com algum auxílio da magia de Eriol.
Logo, os pilares que estavam espalhados pelo jardim desapareceram, deixando ali apenas as marcas do uso desenfreado do poder que um mago, seguidor do Caos e da Morte, possuía.
Estendeu suas mãos para o ar e A Tempestade e O Tempo, repousaram sobre elas, em suas formas de carta.
"Sakura… você está bem?…" – Shaoran se aproximou dela correndo.
"Sim… não se preocupe…" – sorriu fracamente – "Acabou?…" – olha para todo o jardim se levantando.
"Uhum,… você conseguiu…" – acaricia o rosto dela, recebendo um sorriso. Ela se apóia sobre ele por um instante, assustando-o – "O que houve?…".
"Nada…" – sorriu balançando a cabeça – "apenas uma tontura…".
"Você está muito fraca, Minha Flor…" – ele a encarou preocupado.
"Em poucos dias recuperarei minha energia…" – ela arregala os olhos – "onde está Yu?".
Os dois olharam todo o quintal procurando-o. Eriol ajudava Mai Su, que ainda estava fraco, apoiando-o em seus ombros a chegar até a casa principal. O escudo que envolvia a Mansão foi abaixado e vários membros do clã, os anciões e Yelan saíram no jardim, ficando assombrados com o estado em que ele se encontrava.
Yu estava caído no chão desacordado e quase sem nenhuma energia. Shaoran e Sakura se aproximaram dele com receio. Ele havia utilizado mais energia do que possuía quando invocou a fênix para derrotar a magia que a feiticeira havia feito, por esse motivo é que não suportou o término do eclipse. Ficaram observando o rapaz sem saber como agir a seguir.
"Ele ainda está com os poderes da Pequena Flor em sua posse…" – Yelan se aproximou calmamente.
"Nós sabemos…" – Shaoran olhou para a mãe – "mas não sabemos como recuperá-la…".
"Acho que posso cuidar disso…" – a mulher sorriu – "aproxime-se Sakura…" – assim que a garota chegou mais perto ela apontou o leque em direção ao corpo estendido do rapaz, fechou os olhos uma barreira de luz foi vista sobre ele. Um pequeno ponto luminoso foi visto no peito do rapaz. Em segundos o cristal apareceu e ficou flutuando ante eles – "pegue o que lhe pertence…" – disse para Sakura. A feiticeira tocou o cristal, sua insígnia apareceu sobre seus pés enquanto a energia se unia ao seu corpo.
Sakura respirou pesadamente.
"Estou bem melhor agora…" – sorriu.
"O que faremos agora?…" – Shaoran perguntou observando o rapaz desmaiado.
"Vamos levá-lo para dentro…" – Sakura disse um pouco triste.
"Tem certeza?…" – perguntou. A garota confirmou com a cabeça, ele respirou fundo – "A Senhora se encarrega disso mãe?…" – voltou-se para a mulher que sorriu.
"Pode deixar comigo…" – chamou alguns dos membros da família e se voltou para fitar os dois – "Acho melhor vocês se trocarem e voltarem para o salão… ainda tem uma festa ocorrendo e todos estão sentindo a falta dos noivos…".
Os jovens se entreolharam um pouco cansados. Shaoran abraçou a noiva e seguiram em direção à mansão.
"Sabe,… eu acho que Mai Su nos deve explicações…" – Shaoran comentou enquanto caminhavam.
"Eu acho que nós devemos agradecimentos a ele…" – Sakura riu e recebeu um beijo no rosto – "…convide-o para passar a noite na mansão… amanhã nós conversamos com ele…".
"É isso mesmo que irei fazer…" – olhou para a noiva com carinho – "estou orgulhoso de você,… mas fiquei com muito medo do que poderia te acontecer… e não só a você…" –Sakura o calou com um beijo.
"Eu também fiquei com medo,…" – segurou o rosto dele com as duas mãos – "não foi fácil enfrentá-lo,… mas eu tinha uma razão a mais para continuar seguindo em frente…" – sorriu.
"Eu te amo…" – sussurrou antes de capturar os lábios de Sakura em outro beijo.
"Eu também te amo…" – sorriu após se separarem. Continuaram seguindo para dentro da mansão, onde teriam uma festa para enfrentar.
Continua…****************************
N/A - Finalmente a batalha terminou,... não foi nada fácil,... e geralmente a precisão é mais importante que a força...
Tudo o que tem para ser explicado estará no próximo capítulo... que é por sinal o nosso último capítulo...
Eu sei que a luta pode ter acabado um tanto sem graça... que poderiam estar esperando por algo a mais... mas eu realmente não consigo fazer cenas de ação... nem sei por que insisto... Mas fiz meu melhor… e isso é que importa!…
Miaka... novamente me salvando... valeu por suas idéias...
Andréa... ter conversado com você realmente me ajudou... valeu pelas dicas...
Rô... valeu pela força...
Atlantte... (se reclamar por causa do nick dessa vez vai levar)... eu agradeço por me ajudar…
A todos que deixaram review, muito obrigada pela sua força...
Beijos e até o ultimo capítulo de Apuro em Hong Kong...
Yoruki.
