Notas: Cada capítulo foi escrito individualmente e pode, sem problemas, ser lido separadamente. Ou seja, eu juntei algumas songs e shortfics e montei uma fic. Por isso pode haver algum espaço de tempo entre um capítulo e outro, como também alguns fatos não explicados.

A junção foi feita devido a pedidos pela continuação de "Não sabia" e também pelo começo de "Vendo estrelas". Esta segunda contém cenas NC-17, e quem não gostar desse tipo de gênero pode tranqüilamente pular este capítulo.

As Transições

Capítulo um – Juramentos no silêncio

Música: This I promise you – N'Sync (incompleta)

Ela podia ouvir a gritaria. Podia ouvir pessoas pedindo por socorro, chamando por nomes; desesperadas e amedrontadas. Tapava os ouvidos em busca de proteção das coisas medonhas, mas mesmo assim as imagens não paravam de surgir em sua cabeça: lágrimas, cortes e flashes de luz. Até que Rony abriu uma pequena porta, que ela não conhecia, e a jogou para dentro.

-Não se mexa! – ele sussurrou, antes de trancá-la no escuro. Poderia estar segura naquele lugar que não ousava olhar, mas o que mais queria era morrer...

Dois anos. Esse era o tempo que Lord Voldemort demorou para armar seu plano e para atacar Hogwarts. Fim do sexto ano do mais perseguido: Harry Potter.

Parecia inacreditável ser acordada por mãos a lhe sacudirem, e depois entrar no que pareciam ser campos de guerra: os corredores da escola.

Gina mal sabia o que estava acontecendo, só andava porque Rony lhe puxava e viu cenas que duvidou que algum dia iria esquecer. E agora estava ali, trancada em algum lugar que ela não fazia idéia de onde ficava. Estava em uma escuridão completa.

Até que, por alguns segundos, uma luz invadiu o lugar e ela pôde ver um reflexo platinado. Gina reprimiu um grito e ficou olhando apavorada, enquanto alguém entrava no pequeno esconderijo que ela estava.

Ele se ajeitou perto dela, já que não havia muito espaço. Então a fitou com a pouca claridade que havia no lugar.

-Malfoy? – ela perguntou.

-Sim, garota. Como você sabe? Quem é você? – disse com a voz arrastada de sempre.

-Ninguém aqui na escola tem cabelos iguais aos seus. – ela sussurrou – Eu sou Gina Weasley. E o que você está fazendo aqui? – No momento que terminou, se deu conta do que havia feito: havia se entregado para o inimigo, afinal, Draco Malfoy era o filho de Lúcio Malfoy, e ela colocava a mão no fogo de como o Malfoy pai estava lá, fazendo papel de Comensal.

-Ora, Weasley, o mesmo que você! – agora que sabia tratar-se de uma Weasley, não daria mole – Ou você acha que eu iria ficar dando sopa para aqueles malditos Dementadores?

"Dementadores..." ela pensou. Isso justificava a tristeza que sentia naquele momento. Gina fechou os olhos por um momento e sentiu sua cabeça rodar. "Está tudo errado...".  Com a voz abafada pelas mãos, murmurou:

-Eu quero sair daqui... – ela sentiu uma lágrima quente escorrendo pelo rosto, mas não soltou nenhum soluço ou gemido.

-Saia. – Draco respondeu seco – Garanto que lá fora não está melhor que aqui. Aliás, como você sabia sobre este esconderijo? Apenas os Monitores conhecem esta sala, e só eu sabia deste esconderijo.

-Eu nem ao menos sei onde estamos, seu nojento. Rony me jogou aqui. – suas emoções estavam aflorando a toda, e agora ela havia explodido numa raiva contida – Você acha que eu iria reparar no caminho que seguia, ou em quantos andares descia, com um monte de gente se atacando ao meu redor? Eu mal me lembro com que roupa estou, Malfoy, então não me encha! – desta vez ela começou a soluçar e tremer, e não controlava suas lágrimas.

-Weasley te jogou aqui.... – ele disse raciocinando. Ignorou o choro – Só pode ter sido a Granger que descobriu este esconderijo, maldita. Ninguém o conhecida.

Gina não ouvia o que Draco falava. Ela só conseguia distinguir gritos e gemidos, vozes maléficas de socorro junto com cenas de bruxos desesperados aos prantos, que lhe vinham a toda hora à cabeça. Ela daria tudo para ser cega naquele momento.

When the visions around you

Quando tudo o que você vê à sua volta

Bring tears to your eyes

Trouxerem lágrimas aos seus olhos

And all that surround you

E tudo ao seu redor

Are secrets and lies

São segredos e mentiras

-Se esses exagerados soluços não pararem, vão nos descobrir! – ele sussurrou de um modo áspero e grosso. Queria por demais abrir a passagem e jogar Gina para fora, mas temia ser descoberto.

Gina continuou a chorar, e cada vez mais ele se irritava. Até que ouviram um barulho. Era certeza de que a sala dos Monitores havia sido invadida e se ela não parasse seriam descobertos.

-Malf... – começou, a voz chorosa.

Ele colocou a mão sobre sua boca, num gesto nada delicado e ela não se mexeu. Por instantes, Draco imaginou que nada aconteceria, que continuariam ali sem serem descobertos, quando tudo se iluminou.

-Ora, ora! Dois ratinhos! – começou um bruxos de vestes negras inconfundíveis: um Comensal da Morte. – Já fui Monitor aqui, conheço isto!

-Pois então, tchau! – Draco falou – Meu pai mandou-me aqui, dê o fora! – ele parecia passar mais coragem do que tinha, mas ninguém precisava saber disso.

-Oh, se não é o precioso filho do Malfoy! Você deveria estar lutando, garoto, vamos! E quem é essa? – disse apontando para Gina.

Pela primeira vez Draco pode ver Gina claramente. O cabelo ruivo bagunçado e molhado pelas lágrimas, os olhos inchados e vermelhos, a boca tremendo. Ele pôde ver em seus olhos como ela o odiava, mas como também estava pedindo por socorro naquele momento. Sentiu o peso daquele pedido silencioso de clemência, mas sentiu mais ainda o brilho que os olhos castanhos estava lhe oferecendo. Draco não saberia explicar como tendo o rosto pálido e triste, poderia ter os olhos tão vivos. Ficou fascinado.

-Você pode – ele começou, ainda a encarando.

Gina percebendo o que ele iria dizer, abaixou a cabeça novamente; estava pronta para se entregar. Mas então Draco não teve certeza de nada. Ele queria por demais ver novamente o brilho daquele olhar. Sabia nunca ter se sentido tão estranho por um par de olhos.

-Fale, garoto! Não temos tempo  - o bruxo do lado de fora gritou.

-Pode cair fora! – ele decidiu – Nós vamos ficar aqui porque meu pai mandou. – mentiu – Ela e eu. – foi preciso realmente escutar sua voz para ter certeza de que estava fazendo aquilo.

O bruxo assentiu. Poderia até ser humilhação tudo aquilo, mas ele preferia se redimir diante de um garoto, a ter que aturar depois Lúcio Malfoy.

-Faça algum feitiço para que ninguém abra isso! Seja esperto! – disse enquanto fechava a passagem.

"Está feito. Salvei uma Weasley" ele pensou enquanto voltava à escuridão.

I'll be you strength

Eu serei sua força

I'll give you hope

Eu lhe darei esperança

Gina piscou no escuro. Ou havia batido com a cabeça enquanto Rony a trazia, ou ela tinha mesmo acabado de ver Draco Malfoy salvando-a de um Comensal. Enxugando as lágrimas de seu rosto com a manga de sua capa, Gina perguntou-se se aquele era mesmo Draco Malfoy. O Draco Malfoy que sempre abominara Weasley's e grifinórios, o Malfoy que brigava com seu irmão Rony desde que eles haviam entrado em Hogwarts, o Malfoy que ela sempre odiou.

"Por que ele fez isso?" perguntou-se. Abaixou a cabeça novamente, escondendo seu rosto entre as vestes. Não, ela não o odiava mais. Era impossível odiar alguém que lhe salva a vida, impossível não começar a achar que a pessoa era alguém bom de coração, alguém amigo.

Ela quis agradecer. Parecia o certo a se fazer, já que se ele tivesse denunciado quem ela era, provavelmente o Comensal a teria levado, e sabe se lá o que teria feito com a jovem Weasley, filha de um dos que mais abominava as artes das trevas.

-Obrigada, Mal... – ela começou.

-Cale a boca, Weasley. – Draco interrompeu – Será que você não percebeu que por sua culpa quase fomos pegos? – Gina quis dizer que ele que estava fazendo barulho naquele momento, mas a voz do garoto parecia tão feroz que ela se calou. – Não fique agradecida por eu tê-la livrado daquele Comensal, eu ainda posso te jogar fora daqui.

Bem, agora Gina não achava que Draco poderia ser alguém com um bom coração, definitivamente não. Agora ela o achava um estúpido, grosso, insensível, arrogante e idiota, além de querer lhe quebrar a cara. Mas o restinho de agradecimento que lhe restava por ele tê-la acobertado, a fez controlar um pouco seus nervos.

-Faça isso, Malfoy. – ela sussurrou – Então eu irei até seu pai e direi que o filhinho dele está se escondendo de medo, fugindo igual a uma garotinha.

Se ele não a tivesse tratado mal, Gina lhe seria grata pelo resto da vida, mas aprendera com seus seis irmãos que não se levava para casa um desaforo daqueles e muito menos um de Draco Malfoy.

Mas aquilo não o irritou.

-Língua afiada, hein? Preferia quando você fazia o papel da vítima condenada à morte. Combina muito mais com a imagem de santa que você tenta passar ao Potter.

-Eu não tento passar imagem nenhuma. Eu simplesmente – ela parou. Não iria dizer justo ao Malfoy, que quando ficava perto de Harry, não conseguia pronunciar uma palavra inteira ou não conseguia controlar direito suas mãos. – Não enche...

Ficaram em silêncio. Logo os sons das batalhas que ocorriam fora podiam ser ouvidas e Gina começara a sentir novamente o clima tenso que inundava Hogwarts inteira. Uma tristeza dominava seu coração, e ela desejava estar perto de Rony, de seus amigos. O efeito que a presença dos Dementadores provocavam era terrível, e fortes sentimentos de terror começaram a lhe perturbar.

-Estou com medo... – ela conseguiu soltar, baixinho.

Draco ouviu o apelo de Gina, mas ele tentou deixar de lado. Já bastavam seus tormentos e aflições, agora precisaria agüentar mais aquilo? "Se eu tivesse uma boa barra de chocolate, resolveria o problema..." desejou. Até que teve uma idéia. Começou a se mexer no escuro, procurando a pequena porta para sair.

-Malfoy? – Gina chamou.

-Que foi, garota? – ele se perguntava por que não havia entregado aquele monte de cabelos vermelhos para o Comensal. Ela estava lhe dando nos nervos. "Ah sim, por causa de um maldito brilho diferente no olhar você acha que pode aturar uma Weasley... Está ficando idiota, Draco?" recriminou-se.

-Você vai sair?

Ele notou um vestígio de choro na voz da garota. "Por que garotas tendem a chorar em momentos tensos? Será que não podem controlar o fluxo de lágrimas em situações torturantes? Ou não podem expressar sua angustia de outro modo que não seja tão irritante?".

-Eu preciso de chocolate. – ele murmurou irritado. – Senão essa maldita melancolia causada pelos Dementadores me trará uma ira tão grande que eu poderei perder a paciência com esse seu choro insuportável!

Gina ignorou o último comentário e fez uma anotação mental de que nunca mais deveria fazer julgamentos precipitados sobre um Malfoy. "De onde eu tirei a idéia de que ele me ajudou por ser alguém bom?" perguntou-se.

-Posso ir junto? – ela disse em um fio de voz, tendo certeza de que ele não a levaria.

Draco poderia inventar mil desculpas: de que a sua capa da invisibilidade era pequena demais para duas pessoas (o que era mentira), ou de que não a suportaria chorando ao seu lado (o que era verdade), ou poderia simplesmente dizer que depois de pegar o chocolate, iria atrás do pai.

Mas de algum modo ele se sentia responsável pela garota. Havia evitado uma vez que ela fosse capturada, agora a deixaria ali para que continuasse chorando e fosse pega por outro daqueles nojentos servos de Voldemort? "Bom, isso não seria uma má idéia...". Mas o pouco vestígio de que Draco não era igual ao pai, prevaleceu. Ele levaria a garota escandalosa em sua busca.

-Escute, – disse aproximando-se de Gina, antes que mudasse de idéia – vamos até a cozinha com minha capa. Provavelmente ela ainda não foi invadida, então poderemos pegar algumas barras de chocolate e assim conseguiremos fugir daqui sem que o efeito deprimente dos Dementadores nos domine, entendeu?

-Eu... Eu não posso deixar Rony para trás. Ele está no meio disso tudo e...

-Bom, então fique aí. – Draco dera as costas para Gina e iria abrir a porta, quando cegamente ela lhe pegou pelo braço.

-Espere. – pediu – Como você pensa em sair do castelo?

-Há uma passagem secreta para Hogsmeade. – ele começava a ficar impaciente.

Gina sabia dessa passagem. Ela mesma já havia caminhado por ela em seus raros momentos sozinha com Harry. Aliás, em seu único momento sozinha com o moreno, onde ela ficou o tempo inteira calada e tropeçando no escuro. Ela sabia que não era hora para questionários, mas estava curiosa em saber como Draco conhecia uma passagem que Harry jurava poucos conhecerem.

-Como você sabe disso? – perguntou.

Draco fez menção de não responder e sair de lá, largando a garota, mas acabou dizendo:

-Alguns sonserinos roubaram um mapa da sala de Filch que contêm várias saídas de Hogwarts. Satisfeita?

Ele nem a esperou responder. Agarrou sua mão e os cobriu com a capa, saindo pela porta. Não perceberam, mas toda vez que conversavam a angústia que os Dementadores causavam parecia diminuir.

Logo que saíram no corredor, seus corações gelaram. Não havia muito sangue, pois lutas de bruxos e ainda mais com Comensais, tendem a ser diretas: morte. Felizmente, ela via que a maioria apenas gemia de algum mal, ou gritava por dor, mas estavam vivos. Porém, duas ou três vezes, Gina cruzou o olhar com corpos que ela tinha certeza que estavam sem vida, e quase hesitou. Mas a mão de Draco que a puxava fortemente lhe dava um restinho de força e um pouco de coragem para seguir pelos corredores escuros, que já não tinham mais Comensais, só os vestígios do terror que haviam provocado.

Keeping you faith when it's gone

Manterei sua fé quando você a perder

The one you should call

O único que você chamaria

Was standing here all along

Estarei aqui por todo tempo A todo momento Gina tropeçava ou reprimia um grito de horror. Sempre Draco a puxava e a levava pelo braço, até que vendo que isso não adiantaria, a pegou pela mão e continuou a escapar furtivamente pelos corredores. O movimento de pessoas era pouco, deixando o ar sombrio. Eram alguns Aurores feridos, rastejando em busca de ajuda, ou até algum aluno assustado correndo. Ninguém raciocinava lucidamente. O efeito causado pelos Dementadores era claro. Mas não se podia saber exatamente se os feridos deveriam comemorar a solidão ou esperar por algo pior. Silêncio nem sempre é sinal de abandono.

Apesar de todo esse clima, Draco não desistia de continuar a fugir. Pensou duas ou três vezes em largar o braço de Gina e deixá-la sozinha, mas quando a pegou pela mão, sentiu cada pelo de sua nuca arrepiar, e não pôde mais soltar. Ficou dizendo a si mesmo que continuava a levá-la porque não queria uma morte na consciência, mas sabia que só continuava porque estava gostando de estar ligado à ruiva.

And I will take you in my arms E eu a pegarei em meus braços

And hold you right where you belong

E a abraçarei aonde quer que você for

'Til the day my file is through

Até o ultimo dia da minha vida

This I promise you

Isto eu lhe prometo

Finalmente chegaram à cozinha. Estava vazia, mas muitos utensílios podiam ser vistos no chão. Gina sentiu uma leve tristeza, pensando no que poderia ter acontecido com os elfos-domésticos.

-Você acha que há chocolate aqui? – ela sussurrou. Queria loucamente se agarrar a alguma coisa, pois estava tremendo de medo daquela escuridão sombria. Mas seus sentidos indicavam que Malfoy não era o tipo do garoto sensível que gostava de proteger garotinhas medrosas – apesar dele tê-la pegado pela mão e a conduzido bravamente até ali. Ela poderia estar enganada.

-Claro – ele cortou – Estamos perto da Páscoa, você acha que a escola não teria chocolate para o feriado? – "Bom, talvez esse ano não haja feriado na escola, talvez não haja escola...".

-Eu não sei se é seguro começarmos a procurar. Talvez possa haver Comensais por aí, escondidos. -  tão grande era o medo de Gina, que nem havia notado que ainda segurava a mão de Draco, e que a apertava fortemente.

Porém, por mais que o louro estivesse incomodado com aquele contato íntimo, não conseguia soltar a mão de Gina. Era como se tivesse assumido um compromisso para protegê-la, como se no momento em que a salvou do Comensal, sua vida lhe pertencesse.

Draco a puxou e começaram a procurar alguma barra de chocolate pelos armários. Tentativas frustradas, angústias aumentando.

-Droga! Não tem um maldito doce por aqui? – ele reclamou.

-Podemos conjurar um chocolate. – ela disse, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia e eles não haviam pensado nela antes.

-Não dá. Para dar o efeito certo é necessário o doce não conjurado, real, compreende?

-Sei.

-Sei o quê?

-Ah, Malfoy, não enche! – ela deu um sorriso a meio fio.

-Viu? Eles já estão indo embora. Você conseguiu sorrir. – ele fechou a boca o mais rápido que pode. Por que fora comentar que a vira sorrir? "Droga" pensou. Tinha que evitar palavras calorosas. "Foi esse aperto de mãos, eu não posso ter intimidades com uma Weasley...".

Gina corou. Por meros dois segundos se esqueceu que poderia morrer e entregou suas emoções ao pequeno e descuidado comentário de Draco. Ora, por que ela estava corando? Sorrira sim, e daí? "Gina Weasley, se não tivesse escuro eu te tacava um Avada... Se Draco Malfoy te visse corar eu te matava...".

-Bem, então não precisamos do chocolate. Vamos embora.

Draco a olhou. Seu rosto era quase imperceptível na escuridão, mas conseguia ter uma visão suficiente dos olhos de Gina para saber que a força que ela colocava nas palavras não era verdadeira. Sim, ela ainda continuava a temer, ele pôde ver por seus olhos inseguros.

Percebeu que foi muito idiota em querer ir buscar chocolate. Ora, se ele conseguiu ir até ali sobre a pressão dos Dementadores, conseguiria muito bem ter ido para passagem sem chocolate nenhum. Aquilo fora perda de tempo total. Mas não disse nada, odiava admitir que estava errado. Ainda mais para uma Weasley.

-Vamos. – murmurou enquanto agarrava a mão de Gina novamente. Não sabia realmente porque estava fazendo aquilo, mas sabia que o impulso fora dado por causa da tristeza que vira nos olhos castanhos da garota. Não queria admitir, mas estava preocupado.

Foram novamente aos tropeços pelos corredores, desta vez praticamente vazios. Aquela não era uma parte muito conhecida de Hogwarts, os aposentos dos elfos, então não houvera nenhuma batalha por ali. Até que finalmente chegaram à passagem para Hogsmead. Draco murmurou a senha rapidamente, e quando a fenda se mostrou, ele entrou, puxando Gina.

Disse a senha para fechar a passagem, e quando ela já estava quase fechada, sentiu a capa deslizar e viu Gina voltando para o castelo.

-Desculpe. – ela murmurou, antes que não pudessem mais se ver – Eu não sairia sem a capa, se fosse você.

Gina viu que Draco iria começar a soltar uma eternidade de palavras nada amigáveis, mas não se importou. Agora já havia feito. Agradeceria pela vida toda por ele tê-la ajudado, mas não poderia de jeito nenhum deixar Rony por aí, não conseguiria. Por mais que soubesse no fundinho, que com Mione e Harry o irmão estaria bem, não tirava da cabeça a preocupação de que poderia acabar se metendo em alguma confusão. E ela, em seus medos e suas ilusões, achava que poderia ajudar o irmão.

Cobriu-se novamente com a capa de Draco, tornando-se invisível. Ainda estava meio desorientada por ter enganado o sonserino, mas estava determinada em seu objetivo, por mais que ele fosse infundável. Tentou olhar o menos possível para alguns corpos que jaziam caídos nos corredores em que passava e concentrou-se no objetivo de encontrar o irmão.

Suas mãos suavam frias, agarradas no gelado tecido da capa. Sentia vontade de voltar correndo para perto de alguém, mas a única pessoa sã que se encontrava ali era Draco, e Gina não voltaria até lá. Já havia avançado bastante.

Até que não agüentou. Alguma coisa estava fazendo com que seu medo ficasse maior, com que suas dores aumentassem e com que ela já não tivesse mais esperança nenhuma. Devagar, apoiou-se na parede e foi escorregando até que suas pernas tocassem o chão. Reflexos do sofrimento das pessoas apareciam em flashes em sua cabeça e ela sofria junto com eles.

Estava quase encolhendo sua cabeça nas pernas, quando notou uma presença: um Dementador. Não estava a mais do que três metros e vinha em sua direção. Leve como uma pena, parecia flutuar ao invés dos passos pesados que qualquer figura daquele tamanho fazia. Gina soube o porquê de sua súbita tristeza e certificou-se com amargura de que ele já a vira. Não tinha certeza se a criatura podia ver realmente, pois ela ainda estava com a capa, apesar de sua cabeça estar descoberta. Mas de algum modo sabia que a criatura podia sentir, e sabia de sua presença.

Lágrimas começaram a brotar espontaneamente pelos olhos de Gina, e ela não sabia se aquilo era por causa das imagens torturantes em sua mente ou se era causada pela certeza de que acabaria. Afinal, o Dementador à sua frente só poderia fazer uma coisa: dar-lhe um beijo. O que significava o fim de sua alma.

Sabia que a única coisa que lhe restava a fazer era lançar um feitiço, lançar um Patrono. Mas onde Gina poderia achar um momento feliz em suas lembranças, se flashes assustadores os embaraçava? "Não é justo..." pensou.

Cada passo dado, cada centímetro mais próximo era tremendamente alucinante para Gina. Ela só conseguia, agora, sentir a profunda depressão que tomava conta de si, de seu corpo e mente. Não havia esperança de salvação.

"Droga!" ele pensou. Seu primeiro patrono havia falhado. Justamente porque a única coisa que ele conseguia ter na cabeça era a vida de Gina, e Draco não sabia se isso era um motivo de felicidade, ou de desespero. Mas na segunda tentativa, quando o Dementador já havia se voltado para ele, e seus efeitos começavam a ficar mais fortes, Draco conseguiu ter um pensamento feliz ao constatar que: seu pai odiaria que ele salvasse uma Weasley; e ele adoraria ver o pai nervoso.

-Expecto Patronum! – gritou pela segunda vez.

Desta vez um espectro de uma águia saiu de sua varinha, rodeando o Dementador, que confuso, pôs-se a caminhar para trás. Até que sumiu, virando um corredor.

Draco respirou fundo algumas vezes. Se não tivesse conseguido naquela hora, sabia que não poderia ter uma terceira chance, já que notava que seu corpo e mente estavam sucumbindo ao efeito devastador causado pela criatura.

Tentou ignorar, mas sabia que conseguira resistir mais do que o normal por ter  novamente a vida de Gina em suas mãos. Ela havia, sem ao menos saber, quebrado uma camada de proteção nos sentimentos de Draco. Agora ele sabia que se preocupava, pois lutando contra sua vontade de escapar, havia voltado para o castelo para buscá-la. E se Draco Malfoy se preocupava com algo, era porque gostava.

Depois de recuperar o fôlego, caminhou lentamente até Gina, que ainda parecia esperar por algum ataque vindo do Dementador, pois mantinha sua cabeça baixa entre as pernas, e comprimia os braços junto ao corpo. Draco tocou em seu braço, puxando-o, fazendo com que Gina desse um grito de desespero.

-Calma. – falou – Não vou te beijar. Apesar de que do meu beijo você iria gostar. – até num momento como aquele, ele tinha que fazer piadas.

Num impulso, numa busca pela certeza de que ainda permanecia viva, Gina se agarrou a Draco, apertando seu corpo contra o dele, deixando as lágrimas fluírem mais e mais. Ele a havia salvado. Podia se dizer que cada gota de lágrima de Gina era uma passagem da mudança que ocorria em seu coração. Todo o ódio que sentia ou que poderia vir a sentir por Malfoy esvaneceu-se, e sabia que lhe deveria para sempre sua vida.

Draco sentia-se forte ao ter o corpo frágil de Gina soluçando em seu colo. Ele parecia gostar de ser responsável pela garota.

-Obrigada. – ela murmurou, quando conseguiu controlar-se. Alguns tremores ainda percorriam seu corpo, mas agora sua fé num final feliz parecia maior.

-Sabia que é perigoso enganar um Malfoy daquele jeito? – perguntou com a voz descontraída.

-Sabia. – Gina respondeu, entrando no jogo – Sabia que eu lhe devo minha vida agora?

Ele deu um sorriso a meio fio, típico de Draco.

-Sabia. Você me pertence agora.

Gina o encarou com um olhar de "não é bem assim", nada convincente. Poderiam ficar ali e discutir aquilo com muita calma, já que seus corações pareciam curados a todos os sofrimentos que presenciaram anteriormente. Mas estavam cientes de que a guerra ainda continuava, e eles não poderiam fugir dela.

Porém, um juramente fora feito em silêncio ali, no momento em que Draco estendia a mão para Gina, e acontecesse o que acontecesse, estariam unidos para sempre.

I give you my word

Eu te dou minha palavra

I give you my heart

Eu te dou meu coração

This I a battle we've won

Essa é uma batalha que já ganhamos

And with this vow

E com este juramento

Forever has now begun

O eterno tem começo agora

Nenhum beijo ou palavra de carinho trocada. A guerra havia terminado e Draco e Gina não se encontraram mais. Voldemort havia sido derrotado e toda a treva que havia se espalhado pelo mundo mágico ia se extinguindo aos poucos, assim como Hogwarts era reformada.

Para alegria dos alunos, as aulas foram canceladas e todos foram  passados para os anos seguintes, alguns com méritos pela ajuda na guerra, outros com condolências pelos parentes perdidos. Enfim, tudo voltava a ser normal. Quase normal.

Um fato muito incomum surgira. Um dos integrantes dos Malfoy não conseguia tirar da cabeça a pequena garota de cabelos vermelhos que lhe devia a vida. Assim como a jovem Weasley não parava de sonhar com um astuto sonserino. O mundo parecia estar mudando.

E em Hogwarts, onde coisas fantásticas costumam acontecer, é que esse casal vai se encontrar novamente, para darem continuidade aos seus estudos, para cumprirem o juramento de protegerem um ao outro... Pois seus corações agora, já não lhe pertenciam.

"N/A: Capítulo feito especialmente para Lien Li. Por ter escrito comigo o capítulo seguinte e por ser tão paciente na hora de betar minhas fics". =)