Capítulo 4
Sakura corria pelo parque como fazia todas as manhãs. Seus pensamentos voando longe. Estava tão distraída que percebeu tarde o vulto a sua frente, parou de chofre, e já ia voltando quando outro colocou-se às suas costas, e dois de cada lado. Estava cercada.
Colocou as mãos na cintura e encarou seus oponentes.
"Olá rapazes. Belo dia para uma corrida, não?" – tentou brincar para não demonstrar o medo que sentia.
O primeiro golpe veio por trás, atingindo-a nas costas, derrubando-a, rapidamente ela vira-se, bem a tempo de segurar um pé que vinha em sua direção, chutou o agressor fortemente, empurrando-o para trás. Levantou-se com agilidade, caída era um alvo fácil. Um braço veio em sua direção, fazendo-a levantar os dois para bloquear o golpe.
Sakura havia treinado artes marciais, é claro, mas não poderia agüentar esses quatro durante muito tempo. Não gostava muito da idéia, mas teria que fugir. A essa hora o parque ainda estava vazio, mas logo as pessoas que normalmente o freqüentavam, começariam a chegar. Ela pôs ação a seus pensamentos, quando dois de seus atacantes resolveram agir em conjunto, um de cada lado, rapidamente deu um chute potente com o pé nas partes baixas do atacante do lado direito, e quando o outro aproximou-se pelo lado esquerdo seu cotovelo já voava em direção a seu nariz, ouviu-se um som seco de osso quebrando-se. Ela não esperou para ver o que os outros dois fariam, saiu correndo, sabia que eles estavam em seu encalço, mas tinha certeza que não a alcançariam, só não contava com um quinto elemento, que pulando de uma árvore postou-se a sua frente, de espada em punho, ela estacou, pronta para correr para outro lado, mas seus dois perseguidores a barravam, sem, contanto, tocá-la. Virou-se lentamente para aquele que ela podia ver apenas os olhos.
"É uma boa luta, três contra um, eram quatro. Melhorou." – disse ironicamente, colocando-se em posição.
Sakura não viu seu sorriso, pois ele estava mascarado, ela apenas o sentiu, um sorriso irônico que chegou a seus olhos. Com um sinal imperceptível ele mandou os outros dois desaparecerem. Sakura e o estranho encararam-se, ela pronta para a luta, ele pronto para liqüidar com sua missão.
"Hoje você não terá ajuda, seremos só nós dois. Pegue sua espada." – ele ordenou em um tom frio.
"O quê? Você quer uma luta justa? Honra entre assassinos?" – ela diz querendo que ele se irritasse, mas não conseguiu, o cara parecia não ter sentimentos.
"Pegue sua espada." – ele repetiu.
Sakura pegou a chave em seu pescoço, liberou seu báculo, e convocou a Carta Espada, mas antes ela tentaria demover a intenção daquele estranho, que insistia em querer matá-la.
"Escuta, eu não te conheço, mas parece que você não gosta muito de mim. Que tal se eu sumisse da sua frente e ficasse por isso mesmo?" – Sakura tentava contemporizar.
"Covarde." – ele disse quase num sussurro.
Sakura transportou-se para um outro dia, uma outra época, quando outra pessoa a chamou de covarde, seus olhos arregalaram-se, sua boca ficou seca. Mas o que estava acontecendo com ela? Syaoran estava morto, não poderia ser ele, e ainda por cima querendo matá-la.
Ele ergueu a espada pronto para desferir o primeiro ataque, Sakura aparou com firmeza, mas o golpe foi muito violento, fazendo-a colocar um joelho no chão, ela olha para cima, apenas para seus olhos descobertos, olhos castanhos, cheios de raiva, uma raiva que ela não sabia de onde vinha. Ele a encara, duas esmeraldas brilhantes olhando-o confusa, mas ao mesmo tempo firme, ele recua, preparando outro ataque, e perguntando-se por que não acabava logo com aquilo, mas alguma coisa em seu peito segurava-o, aqueles olhos que o encaravam, olhos que penetravam devagar a couraça que ele tinha erguido em volta do coração. Mas a raiva suplantou a dúvida e ele partiu para outro golpe, Sakura defendeu-se como pode daquele ataque furioso, suas mãos tremendo devido a força de seu oponente, os braços feito geléia, não sabia ainda durante quanto tempo conseguiria segurar a espada, ela tinha que usar outra carta, mas qual? O cansaço já roubava seu raciocínio. Pensa Sakura. É isso.
"Tempo." – mas para sua extrema surpresa, a carta não teve o mínimo efeito nele, isso queria dizer que ele possuía magia, mas como ela não sentia sua aura?
Ele para o ataque, e sorri diabolicamente para ela.
"Usando seus poderes? Deixe-me avisar-lhe que contra mim eles não têm o menor efeito, pelo menos, não as cartas que você poderia me pôr a nocaute, como Tempo e Sono, eis uma dica para você."
Sakura estava surpresa por ele saber tanto sobre as cartas, e agora, o que ela poderia usar para não machucá-lo? Ele já estava pronto para outra sucessão de golpes, quando Sakura pulando para trás, invocou a Carta Alada, ela voou para cima fora do alcance dele, e olhando para baixo, pegou outra carta.
"Areia!"
Um redemoinho começou a formar abaixo dos pés de seu agressor, e como se fosse areia movediça puxou-o para baixo. Sakura observou-o lutando durante algum tempo para manter-se na superfície, quando enfim ele largou a espada, ela recolheu a Carta Areia, e voando para baixo, pegou a arma dele.
Ele estava ajoelhado no chão, de costas para ela, cuspindo a areia que entrara em sua boca, a máscara que cobria seu rosto perdida em algum lugar. Sakura observava-o, um pouco afastada, mas ainda em guarda para o caso dele atacá-la de novo. Ele respirou profundamente algumas vezes, e levantou-se lentamente. Ainda de costas começou a falar.
"Você é boa. Melhor do que eu imaginava. Eu a subestimei, mas não farei isso de novo." – diz virando-se para ela.
Sakura encarou-o, a surpresa estampada em seus olhos, enquanto fitava aquele rosto idêntico a Syaoran. Ela ficou estática no mesmo lugar, parecia que estava vendo um filme, tanto que não percebeu sua aproximação, ele agarrou a mão com que ela segurava a espada, arrancando-a, o golpe pegou-a desprevenida, e antes que pudesse defender-se, ele pegou um ofurô.
"Deus do Raio vinde a mim."
Ela não teve a menor reação ao ataque, o Raio pegou-a em cheio jogando-a longe, fazendo-a soltar o báculo, caiu de costas, inconsciente e ficou imóvel. Ele aproxima-se devagar, pega a chave que voltara ao normal, olha durante alguns segundos para ela, e coloca-a no bolso, encara sua oponente, a espada erguida acima de sua cabeça pronto para desferir o golpe mortal, mas alguma coisa segura-o, ele não conseguia matá-la, não desse jeito, tentou convencer-se, com ela desmaiada, sem defesas. Mas no fundo ele sabia que era mais que isso. Quando ela usara a Carta Areia, ele sentiu uma espécie de déjà-vu, aquilo já tinha lhe acontecido. Mas quando? Abaixando a espada ele ficou a contemplá-la por um longo instante. O que estava acontecendo? Ele não era homem de titubear, era um homem de ação, fazia o que tinha que fazer, não importava contra quem. Por que essa dúvida agora? Com um passo atrás lhe deu as costas, não queria mais fitá-la, tirando a chave do bolso, olhou-a durante alguns instantes, e tomando uma decisão que poderia arrepender-se mais tarde jogou-a na direção da moça, e saiu andando lentamente.
Sakura sentiu que alguém lhe chacoalhava gritando seu nome, mas estava tão bom, não queria acordar desse sonho, onde ela vira Syaoran, vivo, inteiro, mas alguma coisa estava errada, ele a olhava como se não a reconhecesse, como se tivesse raiva dela, saindo das brumas da inconsciência ela abriu os olhos, focalizando o rosto preocupado do irmão a centímetros do seu.
"Oi Touya." – ela disse olhando em volta, e não vendo mais ninguém.
"Sakura. O que houve? Você ficou inconsciente durante muito tempo. Quem fez isso?" – o irmão olhava-a, aflito.
Isso é que estava lhe matando por dentro. Seria Syaoran mesmo? Ou apenas um produto de sua imaginação, por que não conseguira tirar os olhos do seu atacante da mente? Mas, espera aí? Ele havia invocado o Deus do Raio, os poderes de Syaoran.
"Syaoran." – sussurra ela baixinho.
"Eu não acredito. Então foi o moleque mesmo? Ele está vivo? Eu vou matar o desgraçado."
Sakura havia falado somente para ela mesma, mas quando percebeu as palavras do irmão, sua confusão mental chegou a um extremo.
"Como que é? Foi o Syaoran mesmo? O que você quer dizer com isso Touya?" – ela se desesperava, não querendo acreditar nas palavras do irmão.
Touya a encarava seriamente, pensando de que maneira iria lhe dizer tudo o que sabia.
"Vamos para casa Sakura. Você está com um hematoma feio no rosto, e provavelmente deve estar dolorida."
"Touya. Por favor." – ela pede suavemente. – "Era o Syaoran mesmo? Você o viu?" – pergunta com esperança no olhar.
"Sakura..." – ele ia insistir que era melhor irem para casa, mas a vê irredutível, não sairia dali enquanto ele não respondesse. – "Era ele."
Sakura não sabe se chora de alegria, ou de desespera por Syaoran ter tentado matá-la.
"Vamos para casa, lá te conto tudo que sei, está bem?"
Ela assente sem forças para continuar a insistir. Tenta se levantar mas não consegue, o irmão a pega em seus braços e a leva em direção ao carro.
Em cima de uma árvore, dois olhos castanhos seguem a garota de olhos verdes que ele de alguma maneira não conseguira matar, ouvira frases espaçadas, e se pergunta quem seria esse tal de Syaoran, por quem ela parecia se preocupar tanto.
Enquanto cuidava do ferimento em seu rosto Touya começou a falar.
"A alguns meses atrás, um de nossos agentes infiltrado na máfia chinesa, nos passou a informação que a cinco anos estávamos atrás, a descrição de Lin, um assassino que já matou no mundo todo, ele trabalha para algum tipo de organização, e quando alguém atravessa o caminho deles ele é ativado para cometer esses assassinatos."
"O que isso tem a ver com Syaoran?" – ela não conseguia entender a ligação.
Touya lhe deu as costas, e suspirou profundamente, abrindo uma pasta tirou um desenho, e entregou a ela.
Sakura a olhou, notando detalhes do rosto tão amado que a 7 anos atrás não estavam ali, as finas linhas a volta da boca e dos olhos, a maturidade presente em cada uma delas, o desenho era em preto e branco, mas na mente dela, os cabelos revoltos e os olhos castanhos estavam gravados como a ferro. Ela olhou para o irmão e disse.
"É o Syaoran, Touya, ele está vivo, era ele não é mesmo?"
"Esse desenho é a descrição que nosso informante passou de Lin."
Ela o encarou, arregalando aos poucos os olhos, dando-se conta do que o irmão estava dizendo. Syaoran, um assassino.
"Não Touya, você está errado, Syaoran nunca mataria ninguém, você o conheceu, pode não gostar dele, mas sabe que ele não faria isso. Meu Deus, ele está vivo, está vivo." – ela ia falando e andando pela sala, os olhos brilhando de lágrimas não derramadas.
"Sakura, para. Olha para mim. Quem a atacou no parque? Foi ele não foi? Ele quase a matou, não uma, mas duas vezes." - ele queria fazer sua irmã raciocinar.
"Mas não matou. Você não entende? Ele não matou. Alguma coisa o deteve. Mas ele também não me reconheceu. Por quê?" – ela se perguntava, como se estivesse falando sozinha, não se dando conta do irmão a segurar seus braços, olhando-a preocupado.
"Para." – Touya grita para ela. – "Olha para mim. Me escuta ao menos um minuto."
Sakura olha o irmão não entendendo o por que dele estar tão nervoso.
"Aquele pode ser o rosto do Syaoran, mas não é mais ele, Sakura, não é ele. Aquele é Lin, você está me entendendo? Eu não sei o que aconteceu para ele não reconhecê-la. Certo, ele não a matou, dessa vez, mas haverá uma próxima, tenha certeza disso, e ele não hesitará de novo. Você está me ouvindo?" – Touya se desesperava com a ingenuidade da irmã, era perigoso ela crer que aquele garoto que ela conhecera, era o mesmo de agora.
Sakura encarava Touya. Ele não entendia que aquele era o mesmo Syaoran de antes, ele não se lembrava dela, nem imaginava o por que disso, mas ainda estava ali dentro daquele corpo, ela só teria que fazê-lo se lembrar.
"Não se preocupe Touya, eu sei o que fazer." – ela disse tentando demonstrar uma segurança que estava longe de sentir.
"Isso que me dá medo." – Touya tremia imaginando o que Sakura iria aprontar.
Lin não acreditava que não tinha conseguido matar a infeliz da garota. O que dera nele? É certo que não gostava do que fazia, mas toda sua vida tinha sido treinado para isso, e ele acreditava piamente estar livrando o mundo de pessoas más. Essa garota era uma terrorista conhecida no sub mundo do crime, que usava como fachada uma loja de antigüidades. Uma mulher fria e calculista que arquitetava os planos mais sinistros, liquidando pessoas inocentes no mundo todo. Por que então a dúvida? Talvez por que ela não matara nenhum de seus homens, pois tinha poder para tanto, ou por que ela correra do centro do parque numa clara demonstração de preocupação com quem quer que estivesse por ali, ou talvez por que ela não o deixara sufocar no rodamoinho de areia, ou quem sabe ainda por que uma terrorista não teria aquele lindos olhos verdes. Mas o que havia com ele? De onde tinha vindo este pensamento? Olhos verdes? Mas que droga. Ele nunca antes colocara em dúvida suas ordens. A Organização Governamental para a qual trabalhava somente o chamava em últimos casos, para aniquilação total do problema, e ele nunca falhara. Sem saber ainda o que tinha lhe dado na cabeça para não dar cabo de sua missão, ele colocou as dúvidas de lado. A garota que o aguardasse, ela não escaparia da próxima vez. Agora ele estava determinado a eliminá-la, e nada o deteria, ele não se deixaria mais dominar por memórias que ele não tinha idéia de onde vinham, ou por aquele olhos verdes luminosos. Droga, de novo pensando nos olhos dela.
- Continua
NA: E então pessoal? Muitas coisas explicadas, e outras, aposto que ficaram mais confusas ainda, mas não se preocupem que tudo será esclarecido no decorrer da história. Quem chutou nosso assassino como sendo Syaoran, meus parabéns, é gostoso quando acertamos. Muitas teorias foram dadas e posso dizer que temos uma quase acertadora, a Cherry chegou pertinho, errou alguns detalhes, talvez por trocarmos bastante e-mails ela já saiba mais ou menos como penso.
Agradecimentos pelos reviews:- Miaka, Lupi, Yoruki, Dark Dragon, Diana, Cherry e Kath, que já conhece a história e assim mesmo posta review, valeu amiga.
Propaganda: Está para ser postada a nova fic da Andy Gramp, Flor Púrpura, espero que vocês leiam, e acompanhem a história que está ótima, eu a vejo como um suspense, cheia de fatos inusitados.
Pessoal muito obrigada pelos elogios e por todos serem educados na hora de criticar, espero que vocês ajam assim com todos os autores e autoras de fics, a maioria de vocês escrevem e aposto que ninguém gosta de receber e-mails mal educados, uma crítica construtiva é muito bem vinda, somente assim iremos melhorar nossos textos. Continuem escrevendo para criticar, elogiar ou opinar, a opinião de vocês é muito importante.
Um abraço
Rô
robm@teracom.com.br
