Capítulo 6

Sakura acordou lentamente de seu sono povoado de imagens de um Syaoran, de sete anos atrás e do homem em que ele se transformara. Ficou deitada pensando nos últimos acontecimentos, ao longe podia ouvir a voz do irmão falando ao telefone.

De súbito sentiu uma presença, já ia se levantar quando o quarto foi invadido por um vulto vestido de negro, ela ficou estática, ambos encarando-se esperando o outro dar o primeiro movimento. Sakura não agüentou a tensão e rompeu o silêncio.

"Veio terminar o serviço?" – falou em um fio de voz.

Ele não disse nada, apenas ficou olhando-a. Depois do que pareceram horas ele dirigiu-se a ela aproximando-se da cama, abaixou-se ficando com o rosto colado ao seu, Sakura sentiu sua respiração, inalou seu cheiro e arrepiou-se inteira.

"Quem é Syaoran?" – ele perguntou finalmente.

Ela engoliu em seco, quando ele afastou-se sentando-se na beira da cama.

"É você." – disse simplesmente.

"De onde você me conhece?"

"Daqui de Tomoeda."

"Eu nunca estive em Tomoeda." – ele sussurrou bravo levantando-se.

"É claro que esteve, a primeira vez foi a quinze anos, você tinha dez anos de idade."

Ele olhou-a parecendo abismado com aquilo.

"A quinze anos atrás eu vivia em um orfanato."

"Impossível Syaoran, você tem família, mãe, irmãs, prima, e um clã inteiro que o protegeria, nunca iria para um orfanato." – agora ela é que estava surpresa, de onde ele tirara a idéia de que vivera em um orfanato?

"Olha." – continuou levantando-se sem importar-se com a dor no ombro. – "Você me deu esse ursinho antes de ir embora de Tomoeda para continuar seu treinamento em magia e artes marciais." – mostrou o urso cinzento gasto pelo tempo. – "Esse anel você me deu antes de ir resolver os problemas do clã, era para ser uma viagem rápida, mas você não voltou." – ela completou baixinho.

Ele ouvia tudo aquilo perguntando-se, se ela não o confundira com outra pessoa, mas e as lembranças que o perturbavam? Ele estava confuso, não sabia mais em quem acreditar, virou-se de repente e uma foto chamou sua atenção, pegou o porta retrato olhando-o por um longo momento. Virou-se para ela, uma pergunta no olhar.

"Essa foto foi tirada em uma peça teatral da escola, você de príncipe e eu de princesa. Nessa época você voltou a Tomoeda e ajudou-me a capturar a Carta Vácuo...." – ele interrompeu-a.

"Onde?" – ele ficou curioso.

"Em um Parque de diversões." – ela falou sem entender sua agitação.

"Exatamente onde no Parque?"

"Em uma Torre."

"Havia uma escada?"

Ela entusiasmou-se, ele se lembrava.

"Sim, eu estava no alto e você chegou uns degraus mais abaixo, havia um espaço aberto entre nós..."

"...e você pulou em meus braços." – ele completou.

"Sim." – ela sussurrou baixinho, lágrimas enchendo-lhe os olhos, mas segurou-se para não chorar.

Os dois fitaram-se, no olhar de Sakura a esperança, no de Syaoran a dúvida, mas a vontade também de saber o que de fato acontecera em sua vida. Ele virou-se indo em direção à janela.

"Syaoran." – ela aproximou-se, tocando-o no ombro.

Ele parou sentindo aquele toque, suave, uma vontade enorme e inexplicável de aperta-la de encontro ao corpo. Mas conteve-se.

"Eu sinto muito." – disse sem virar-se.

"Por quê?" – ela não entendeu.

Ele finalmente virou em sua direção e tocou levemente o ferimento.

"Não dói." – mentiu ela.

"Mentirosa." – ele disse e o primeiro sorriso sincero desenhou-se em seu rosto.

Ela ficou maravilhada em vê-lo de novo, que sem saber como, aproximou-se mais, até seus lábios tocarem levemente os dele. Ele surpreso com aquele gesto não afastou-se, e sim aproveitou o momento. Mas a realidade o fez cair em si, não era hora para essas coisas. Afastou-se dela e subiu no parapeito da janela, lançou-lhe um último olhar e ficaram extasiados fitando-se, não percebendo um vulto que jogou-se para dentro do quarto empurrando Syaoran e indo em direção a Sakura que soltou um grito de susto, o atacante pegou-a torcendo seu braço para trás fazendo com que desse mais um grito, dessa vez de dor, Syaoran ergueu-se rapidamente empunhando sua espada quando a porta foi aberta com violência, Touya com a arma em punho vinha em defesa da irmã, parou surpreso no umbral, olhando de Syaoran, para Sakura presa pelos braços por um estranho que tinha uma adaga em sua garganta, a irmã estava trêmula, não saberia dizer se de medo ou dor.

Syaoran encarava o homem nos olhos, frio e determinado.

"Se você solta-la deixarei que morra rapidamente." – falou.

O homem sorriu friamente.

"Então o chefe tinha razão, você deixou-se enfeitiçar pela garota. Sinto muito Lin, mas ela tem que morrer, e como você não completou a missão, será o próximo." – disse apertando o braço de Sakura, o mesmo com o ferimento no ombro, ela soltou um gemido fraco.

Touya apenas observava, sabendo que a irmã corria perigo ao menor gesto involuntário.

"Eu disse para solta-la, e não repetirei." – continuava Syaoran em tom baixo.

O homem encarou-o, sabia que era um guerreiro poderoso, mas ele tinha as cartas na mão, ou melhor, a garota. Lin era um matador, mas por incrível que pareça tinha uma honra acima de todas as coisas, e pelo jeito importava-se com a garota, não a deixaria morrer.

Syaoran desviou seus olhos apenas por um segundo, e encarou Sakura, a comunicação foi rápida e ela entendeu o que ele queria, um instante de distração para atacar o homem. Sempre fora assim, apenas com um olhar os dois entendiam-se. Ela amoleceu o corpo simulando um desmaio nos braços do bandido, foi o suficiente, para Syaoran segurar o braço que o homem mantinha a arma, afastando-a do pescoço de Sakura. Caindo no chão, ela engatinhou para longe dos dois, sendo pega nos braços pelo irmão, que virou seu rosto rapidamente para que não visse Syaoran atravessando o corpo do bandido com a espada. Surpreso com a ação rápida do guerreiro, ele não chegou a soltar um som, caindo no chão. Sakura desvencilhou-se do irmão e ainda viu Syaoran retirar a espada do corpo do bandido, engoliu em seco, mas manteve-se firme encarando-o.

"O que você está fazendo aqui?" – ouviu o irmão perguntar com voz controlada.

"Vim atrás de respostas."

"Ele o seguiu."

"Possivelmente." – disse encarando Sakura.

Ficou surpreso por não ver em seu olhar condenação, mas provavelmente ela estava em choque.

"Você machucou-se?" – perguntou suavemente.

Ela apenas acenou negativamente com a cabeça. Ele ainda olhou-a durante alguns segundos e pegando o corpo do homem pulou para a árvore.

"O que vai fazer?" – ela perguntou, correndo para a janela.

"Vou atrás de respostas." - ele disse olhando para cima, e depois pulando para o chão e desaparecendo às primeiras luzes do alvorecer.

"Eu também Syaoran, eu também." - ela sussurrou para o sol que despontava.

Touya pegou a pasta contendo tudo que sabia sobre a organização. Depois dos acontecimentos no início da manhã, tentara demover a irmã da idéia de irem a China, mas suas tentativas caíram em ouvidos moucos. Ela estava irredutível.

Sakura pegou suas cartas e seu báculo. Yukito ficaria para tentar encontrar mais alguma coisa que pudesse ajudá-los, e estariam em contato constante.

Já dentro do avião, Touya caiu em um sono profundo, afinal não dormira nada na noite anterior, mas Sakura acordada ficou a olhar a noite através da janela do avião. O que será que encontrariam na China? O que tinha acontecido a Syaoran nesses anos para fazê-lo esquecer a família, Sakura e toda uma vida? E ele matara uma pessoa, com uma frieza incrível, nunca imaginara Syaoran assassinando alguém, é certo que fizera isso para protegê-la. Mas e as outras mortes? A quem ele estava protegendo? Ou ele seria mesmo esse assassino frio e cruel chamado Lin? Não, não poderia acreditar nisso, tinha alguma explicação lógica para suas ações do passado, tinha certeza disso. Mas eram tantas as perguntas a lhe passar pela mente, que ela duvidava que conseguiria pregar o olho.

E mal sabia que uma outra pessoa também olhava a noite com quase as mesmas questões a lhe assombrar a mente. Será que ele era esse Syaoran? Que teve uma outra vida além daquela que conhecia? Será que tudo que vivera até hoje era uma farsa? E mais importante, será que o que essa garota tinha lhe dito era a verdade? E por esse motivo queriam a sua morte? Por que ele duvidava que ela algum dia tinha matado alguém. E agora depois desse último ataque suas dúvidas só tinham aumentado. Era óbvio que tentariam livrar-se dele também. Mas por quê?

Com essa última pergunta a lhe martelar a mente ele rapidamente arrumou sua mochila. Sabia onde iria encontrar as respostas.

CHINA

Sakura e Touya chegaram de manhã e rapidamente tomaram um táxi, ele deu o nome de um Hotel e recostou-se no banco fechando os olhos.

"Você dormiu?" – perguntou a ela.

"Não consegui. Mas você parece que tirou o atraso." – falou sorrindo para ele.

"É você que me faz perder o sono." – ele implicou com ela.

Sakura ficou olhando a cidade passar rapidamente, lembrando-se das outras vezes em que estivera na China, a primeira vez ela tinha ganho uma viagem em uma promoção de uma loja em Tomoeda, mas encontrara Syaoran e até dormira em sua casa, apesar de na época ele não ficar muito feliz com isso, ela pensou sorrindo. Depois ela voltara algumas vezes nas férias com Syaoran. Tomoyo sempre acompanhava-a e juntamente com Mei Lin, os quatro faziam passeios por toda a ilha de Hong Kong. Ah Meu Deus! Será que teria que falar com a senhora Yelan? Melhor não, resolveria tudo e depois apareceria com Syaoran a tira colo na mansão Li, já imaginava a cara de todo mundo, primeiro de espanto e depois de alegria por saberem que Syaoran estava vivo.

Eles chegaram a seu destino, um edifício alto onde se lia na frente Eaton Hotel, eles se hospedariam ali. Não entrariam em contato com a divisão da agência, pois o que estavam para fazer não tinha relação alguma com seu trabalho, somente em último caso pediriam ajuda.

Se registraram, e foram para a suíte, onde tinham dois quartos divididos por uma sala, Sakura tomou um banho e sentiu-se mais disposta do que nunca, apesar de não ter dormido nada durante o vôo, ela e o irmão iriam agora fazer os planos para a invasão à organização em que ela tinha certeza teria alguma coisa sobre o passado de Syaoran.

"Vamos a noite, eu entro e você me dá cobertura." – disse Touya.

"De jeito nenhum. Eu entro e você me dá cobertura." – ela nunca que deixaria Touya fazer o seu serviço.

"Não Sakura, eu estou mais bem preparado para uma invasão do que você." – ele teimou.

"Você tem algum escudo para se proteger de alguma bala? Ou pode fazer parar o tempo se estiver vindo alguém? Fazer alguém cair no sono sem nem encostar nele? Pode ficar invisível? Eu posso. Essa você não sabia não é? É uma carta nova." – ela disse com um sorriso atrevido de superioridade. – "Eu estou melhor preparada do que você. E sou eu que vai entrar."

Além de suas cartas tradicionais, Sakura criara novas cartas, a medida que fora tendo necessidade, em suas variadas missões. Invisível era uma delas.

Touya ficou olhando-a durante alguns segundos. Sabia que ela estava com a razão, mas nem por isso ele ficaria tranqüilo em vê-la correndo perigo, enquanto ele ficava do lado de fora aguardando. Mas não houve jeito a não ser concordar com aquilo, ele duvidava que ela ficaria quieta do lado de fora, estando tão perto de saber sobre Syaoran.

"Está bem. Você entra e eu fico do lado de fora te dando cobertura, mas ao menor sinal de perigo você sai, ou então eu entro, correndo o risco de levar uma bala por que não tenho um escudo para me proteger." – ele ironizou.

"Touya, eu não vou me arriscar, fique tranqüilo, OK?"

Continua

N.A.: Gostaria de dizer que os capítulos podem estar pequenos, mas devem ser dessa maneira, as partes são boas separadamente, juntas elas se confundiriam.

E esse é meu método de trabalho. Espero que mesmo assim continuem acompanhando-a, adoro saber a opinião de todos vocês.

A criação da carta Invisível não vi necessidade de colocar aqui. A história apesar de ter magia, não é centralizada nas cartas. Eu já vi Invisível em algumas fics, depois que escrevi esta, só posso dizer que foi uma incrível coincidência.

Agradecimentos:

Miaka, Dark Dragon, Hime, Andréa, Cherry, Fantomas, Lupi e a Kath.

Pessoal eu adoraria comentar cada um dos reviews aqui com vocês, mas essa nota ficaria enorme, agradeço de coração por estarem acompanhando a história. Se por um acaso me esqueci de alguém me perdoem, eu me perdi nos e-mails dessa semana.

Se quiserem escrever fiquem a vontade, meu e-mail está aí em baixo.

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Leiam: Não me deixe ir, da Lally, uma fic do Inuyasha que está muito romântica.

robm@teracom.com.br