Nome da Autora: Cindy "Lain-chan"
E-mail: fly2angels@yahoo.com.br
Sinopse: Dois anos após terminarem seus estudos em Hogwarts, o trio formado por Harry, Hermione e Rony faz parte da Ordem da Fênix. A Guerra contra o Lado das Trevas está chegando em seu ponto mais crítico, e um estranho dom que Harry adquiriu, o de premeditar certos atos que os Comensais da Morte iriam fazer, será a peça principal para o cheque-mate de um dos lados. Resta saber se isso será uma vantagem para o Lado de Voldemort ou para o lado de Harry.
Disclaimer: Ok, como diria um conhecido meu, alguém que não saiba sequer o significado de "fanfiction" provavelmente não vai saber me processar por estar fazendo uma inocente fanfic...
Nota da Autora: Eis a minha primeira fic em português no fanfiction.net e, como vocês, que lêem as fics em português do fanfiction.net já devem ter reparado, o público é bem menor do que o da seção em inglês. Portanto, se você conseguir ler essa fic até o final, por favor, deixe seu comentário. ^_^ Flames serão usados para tostar marshmallows, e tenho dito.
Segunda Nota Da Autora: O nome desse capítulo é o nome de uma música (novidade =op) do Katatonia... muito boa. ^.^ Quem gosta de um rock emo, eu recomendo ^.^ Ah, e por algum milagre, não há Rony-bashing nesse capítulo! UoU! Aproveitem, que isso é raro. =op E vocês não sabem como eu tive de segurar a minha mão para não começar a escrever yaoi... aiai... que droga, eu ainda não posso colocar yaoi nessa fic... (como diriam, a pressa é inimiga da perfeição... XP)
Terceira Nota da Autora: Deixem Comentários se vocês querem que eu poste o capítulo IV aqui! Sim, isso é uma chantagem =op Ameaças comigo não funcionam, Michiru, não adianta tentar... comentários, pelo contrário... se você conseguir atrair algum amigo seu pra deixar um comentário aqui... =op MUITO OBRIGADA, de coração mesmo, à Michiru (eu estou esperando pela continuação do karaokê do Voldemort, não pense que eu me esqueci!), à Zena, à Carol Herzog (hein, eu vou explicar porque a Gina está com o Colin, não se preocupe XP) e à KK-Watson que deixaram comentários! ^.^ (é impressão minha ou só tem garota deixando comentário... @_@) Bom, chega de autora tagarelando e vamos à história! ^.^
E Eu Sonhei Com Campos Onde Choviam Gotas Carmesins
Parte III: I Am Nothing
Cena peculiar, essa. Uma garota amarrada magicamente jazia em uma cama, respirando como se estivesse dormindo. Mas não estava dormindo. Estava magicamente paralisada. Ao seu lado, sentado na borda da cama e a contemplar a garota, estava um garoto de cabelos rubros que parecia estar preocupado com o estado da garota. Mas não estava. Na verdade, imaginava a melhor maneira de torturar aquela mulher de cabelos castanhos que dormia um sono inquieto. E, sentado numa cadeira não muito longe dos dois, estava um segundo garoto, que passava a mão pelos olhos como se perguntasse a si mesmo sobre o estado mental de ambas as pessoas que estavam à sua frente. Mas, na verdade, era sobre sua própria sanidade que ele se indagava.
Nas mãos do garoto, um bilhete. Harry examinava atentamente o bilhete em busca de pistas, inutilmente. Nenhum feitiço para descobrir quem escrevera aquilo funcionava, nada para descobrir a origem daquela misteriosa mensagem. Olhou para Hermione.
...
E se ela fosse mesmo culpada? E se não fosse? Era sua melhor amiga e, no entanto, cá estavam eles, Rony e Harry, prestes a entregar a garota para o restante da Ordem. O que valia mais? Seu sonho, que jamais errara, ou sua melhor amiga, que era humana, frágil, vulnerável? Rony certamente achava que seus sonhos valiam mais. Harry pensou consigo mesmo que deveria ensinar a Rony que se deve confiar um pouco mais em seus melhores amigos, afinal de contas... e se fosse Rony quem tivesse sido acusado por seu sonho? Será que Hermione agiria da mesma forma? Harry pensava que não, mas ele pensaria o mesmo de seu amigo Weasley se não tivesse sido provado o contrário.
Amigos... para sempre?
Rony sempre agira como o melhor amigo de ambos. Ou talvez nem tanto, afinal de contas Harry sabia que Rony achava que O Garoto Que Sobreviveu era um homossexual com problemas psicológicos por causa de uma corrida contra Voldemort, além de ter péssimo gosto para amizades. Draco Malfoy, Severo Snape... imagine! Ao olhar pela primeira vez, alguém poderia se perguntar como Rony ainda era amigo de Harry, pensando tantas coisas negativas a respeito do mesmo, e era isso que tornava a amizade de Rony algo especial para Harry: ele, apesar de pensar um milhão de coisas erradas a respeito de Harry, nunca duvidara de sua amizade. Nunca dera motivos para que duvidassem de sua amizade com o herdeiro dos Potter.
Não pôde evitar um sorriso ao lembrar-se como Rony transformara em um meigo hamster o repórter que publicara algo sobre ele ser amigo de Harry apenas pela fama que isso lhe traria. Afinal de contas, com o passar dos anos Rony acabara por adquirir alguns talentos, embora pouquíssimas pessoas o vissem, já que o brilho de Potter geralmente os inibia.
O seu amigo Weasley podia, por exemplo, guspir a uma distância considerável, embora a maioria das pessoas não se importasse com isso. Ele possuía, também, uma audição respeitável, excelente para perceber a proximidade de algum intruso. Embora, na maioria das vezes, o intruso fosse apenas Bichento atrás de um pouco de comida.
- Harry? – o outro garoto murmurou, mas alto o bastante para que Harry escutasse. – Você já mandou uma coruja para Dumbledore?
- Hã... já, já – seu pensamento estava em algum ponto distante, tentando encaixar peças de um quebra-cabeças e Harry tinha a sincera impressão de que alguém roubara algumas peças de seu brinquedo. – Rony, eu preciso resolver uns assuntos, mas eu não devo demorar.
- Você precisa sair? Agora? – perguntou com a incredulidade estampada em seu rosto.
- Preciso – disse Harry. E desaparatou.
Rony ficou ali, sozinho, primeiro a observar o local onde Harry estivera momentos antes, e logo em seguida voltou-se para Hermione, que permanecia dormindo aquele sono encantado. As cordas translúcidas que a envolviam subiam e desciam, conforme a respiração cansada de Hermione. Parecia realmente respirar com dificuldade, talvez as cordas estivessem apertadas demais. O garoto fez um movimento com a sua varinha para afrouxar as cordas, chegou até a abrir a boca para dizer o feitiço, mas a fechou sem proferir palavra alguma.
Era uma traidora, afinal de contas. Traidores não merecem nenhum tipo de conforto, merecem? Especialmente nesse caso...
Porcaria. Raios. Droga. Sentiu-se tolo como jamais se sentira. Nem quando Fleur o rejeitou ou quando descobriu que Harry e Hermione estavam namorando ele havia se sentido tão mal. E pensar que gostava de Hermione. A única garota em quem podia confiar. Ou ao menos assim ele pensava. Ela estava pronta para joga-lo fora como um tênis velho (aliás, ela provavelmente daria melhor tratamento a um tênis velho, já que ela costumava entrega-los ao pai de Rony, o Ministro da Magia), deixando-o à mercê do Lorde das Trevas. E sem nenhum motivo especial para isso... apenas para torturar Harry.
Harry, Harry, Harry... tudo se resumia ao Garoto Que Sobreviveu. Todas as atenções para ele! Todos os cuidados para ele! Era como se somente ele estivesse na Ordem da Fênix e todos os outros fossem meros coadjuvantes.
Bem, não é como se não houvessem motivos para que pensassem assim. Harry era o mago com um índice bastante alto de vitórias em duelos mágicos... e Rony... ah, claro, um dos Weasley. Todos pensavam que ele era apenas mais um naquela família superpopulosa.
E ele nem ao menos tinha uma chance de provar o contrário. Calma, Weasley, espere o momento adequado... assim eram as palavras de Dumbledore que ecoavam em sua mente. A questão era... quando seria o momento adequado para se revelar?
Olhou novamente para Hermione, o cabelo encaracolado cobrindo-lhe os cantos do rosto. Parecia uma criança, a velha e boa Hermione, fanática por livros...
Criança diabólica.
Maldição. Sentia os olhos arderem e, sem precisar caminhar até um espelho, sabia que seus olhos principiavam-se a perderem a alvura para que raios vermelhos tomassem conta de suas córneas. Raiva, tristeza... não sabia ao certo por qual sentimento sentia que iria explodir no próximo momento.
Olhando Hermione assim, com a aparência de uma garotinha dormindo... Rony perguntou-se se o sonho de Harry não estaria errado, mas balançou a cabeça com veemência ao pensar nisso. Os sonhos eram como visões do futuro... mostravam justamente as intenções dos malditos Comensais da Morte. Mas, para sorte da Ordem da Fênix, e graças à Harry, eles conseguiam impedir a grande maioria dos planos dos Comensais da Morte. E no entanto os desgraçados não desistiam. Era como se achassem que ainda poderiam vencer.
Bobagem. Eles mal sabiam todo o potencial da Ordem. Ao pensar nisso, abriu um sorriso que jamais chegou aos seus olhos. É, o maldito Voldemort (finalmente o chamava assim, após muita insistência de Dumbledore, Hermione e Harry... afinal de contas, ele não poderia tratar um inimigo como alguém superior a ele, poderia?) e seus queridinhos não sabiam de alguns segredos da Ordem. Azar o deles...
...
Mas... e se tivessem descoberto? Seus olhos, mesmo involuntariamente, abriram-se em uma demonstração de horror. Olhou para Hermione. Eles... os malditos... não poderiam ter descoberto sobre ele, não poderiam? Quer dizer... era impossível. Ninguém sabia do seu segredo além dele mesmo e de Dumbledore (Rony planejava contar isso em alguns dias para Hermione e Harry, mas parecia que algo atrapalhara seus planos)... era impossível.
Impossível.
E o que era possível? Descobrir que a garota que amava planejava traí-lo da pior maneira possível? Descobrir que tinha de continuar numa eterna farsa para com seus melhores amigos? Descobrir que o mal havia encarnado em um bruxo chamado Voldemort? Descobrir que provavelmente estava fadado a morrer no final dessa guerra, seus serviços prestados a valerem uma medalha de Honra ao Mérito para sua família?
Ah, droga.
Porcaria de vida.
Suspirou, levantou-se da cama e começou a passear pelo quarto, à espera de algo que ele mesmo não sabia o que era. Provavelmente, a resposta de Dumbledore. Mas alguém havia avisado o velho sobre os últimos acontecimentos? Ah, sim... lembrava-se de Harry ter dito que mandara uma coruja para ele. Bem, logo deveria receber a resposta. Ao menos, era o que esperava. Mas ele tinha a sensação de que esperava algo mais...
Foi até a janela, deixando a brisa bater em seu rosto, assim como as cortinas que teve de desviar de seu caminho a fim de contemplar a paisagem lá fora. Não que houvesse muito a ser visto... era uma vista bonita, sem dúvida, mas após olhar para a mesma paisagem estática pela milésima a visão tornava-se... entediante.
Árvores. Muitas árvores. Realmente... muitas árvores. A vista da janela mostrava a floresta que se estendia logo atrás do vilarejo, metros e metros de árvores fechavam a floresta até o começo das montanhas que rodeavam o vale. Era bonito, sim, mas... era mesma coisa desde que estavam ali. Não avistava sequer animais, pessoas, água correndo... apenas árvores em verdes prados até onde sua visão podia se estender.
O sol, logo acima, demonstrava que o meio do dia logo estaria chegando, e Rony simplesmente não sentia fome. Não poderia comer coisa alguma... só de pensar em um antes apetitoso pedaço de picanha (sim, eles conseguiam boa comida ali no vale. Se queriam que eles fossem um trio de membros de uma organização semi-secreta, que pelo menos pudesse se alimentar direito! Embora, é claro, raramente tivessem comida realmente boa. Geralmente comiam iogurte. "É nutritivo", dizia Hermione. E quem se importa com o que ela achava a respeito da alimentação de Rony?), seu estômago remexia-se, o pensamento de que seria entregue como um pedacinho de carne assada para Voldemort estampado em sua mente.
Esperava por algo, sim. Esperava que Harry voltasse ali, dissesse que tudo não passava de uma brincadeira estúpida e que já poderia desamarrar Hermione, que provavelmente estava cansada de ficar ali deitada. Claro que Rony ficaria furioso e teria de usar todas as suas forças para não lançar um Cruciatus nos dois, mas ao menos o problema estaria resolvido. Mas as coisas não eram assim. Por que as coisas sempre tinham de ser tão complicadas?
Olhou novamente para a floresta... queria ir para lá, livrar-se daquele mundo complicado... mas sabia que não poderia fugir. Voltou para dentro, finalmente voltando a fechar a janela. Abrira a mesma um pouco antes, já que provavelmente Hermione a tinha fechado enquanto Harry contava a Rony sobre o acontecido. Geralmente ele preferia aquela maldita janela fechada, mesmo, mas quando finalmente trouxeram Hermione até o quarto Rony abriu a janela em busca de um pouco de ar fresco.
Caminhou novamente até Hermione, e novamente sentado-se ao seu lado, mas desta vez do lado oposto ao que se sentara antes. Mordeu o lábio inferior com força, a aflição deixando-o louco. O que esperar disto? Sua melhor amiga, e também a garota de quem gostava, o havia traído. Maldito mundo.
Apertou com mais força o lábio inferior, fazendo-o sangrar. Sentiu o gosto daquele líquido carmesim com a ponta da língua, enquanto acariciava o cabelo de Hermione.
Ela o usara, o trancara em sua caixinha em forma de coração por uma semana para logo em seguida joga-lo fora como se ele não fosse nada.
Dane-se você, Hermione. Dane-se você.
Ele acreditava mais num sonho de Harry do que na sua melhor amiga, e amada.
Dane-se você, Rony. Dane-se você.
Mas, por maldição, os sonhos de Harry possuíam a precisão e a confiança que jamais seriam encontrados num ser humano. Além do mais, seres humanos são vulneráveis, corruptíveis...
Dane-se esse mundo. Danem-se os malditos seres humanos.
Percebeu que Hermione parecia estar mais agitada em seu sono que não era sono... logo iria acordar. Mas Rony não fez menção de faze-la voltar a dormir. Ao invés disso, deixou-se ali, a esperar pelo despertar da garota. Na verdade, sequer sonhara, pois havia sido paralisada, mas a sensação era bastante parecida.
Danem-se as semelhanças.
E então ela acordou. Piscou lentamente os olhos. Realmente, é como se estivesse dormido. Mas um sono induzido. E contra a vontade dela. Ou seja, fora paralisada. Mas ela não parecia estar pensando nisso enquanto abria os olhos, piscava de forma cada vez mais rápida, até estar devidamente acordada. Olhou para as cordas que a retinham. Quase transparentes, conjuradas com um pouco de magia. Enquanto isso, Rony apenas a observava, tentando decifrar os pensamentos da garota.
Danem-se seus enigmas.
E quando ela finalmente olhou para ele, Rony percebeu que ninguém iria falar nada ali. Olharam-se em silêncio, o garoto a não mais conseguir decifrar coisa alguma através do brilho dos olhos de Hermione, que parecia cada vez mais apagado. Parecia-lhe uma desconhecida. Uma adorável, diabólica desconhecida.
Dane-se sua beleza.
Enquanto deixava-se estar naquele momento melancólico, torcia para que ela, assim como ele, não conseguisse decifrar a expressão no rosto do outro. Rony detestaria que Hermione percebesse toda a aflição pela qual estava passando. Mas não precisava preocupar-se com isso, pois logo Hermione novamente fechou os olhos e virou o rosto para o outro lado, decidida a ignorar Rony. E ele tinha certeza de que ela não queria que o garoto percebesse a lágrima que descia pelo rosto da garota, solitária, melancólica, mas ele percebeu.
Danem-se as lágrimas.
Uma lágrima de frustração... quantas vezes ele já não a havia visto chorar assim? Nove anos de convivência ensinavam muitas coisas a respeito do outro... até mesmo coisas que ninguém gostaria que fossem reveladas.
Dane-se o conhecimento.
Frustrada por ter falhado em seu plano para entregar a cabeça de Rony numa bandeja para o Lorde?
Novamente mordeu seu lábio inferior, mais algumas gotas de sangue a escorrerem por seus lábios.
Danem-se seus planos e suas maldades.
Ou frustrada por ter perdido seus melhor amigos?
Mordeu com ainda mais força o lábio, sabendo que logo formaria uma cicatriz ali, mas no momento apenas saboreando o sabor do sangue em seus lábios e logo em sua língua.
Danem-se as suposições.
Qual das duas alternativas era pior?
Oras, não importava. Rony sabia que a primeira estava correta. Quem estava frustrado por ter perdido a melhor amiga era ele. Olhou novamente para Hermione, o rosto resignado, apenas uma lágrima havia caído de seus olhos até então. Sentiu vontade de desamarrar as malditas cordas, mas se conteve.
Dane-se.
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Destruição. Caos. Tudo o que se pudesse pensar a respeito estava resumido naquela paisagem... naquela maldita paisagem. Mais precisamente naquela casa. Ou naquilo que costumava ser uma casa. Atualmente, apenas ruínas podiam ser vistas. Mas, mesmo sendo apenas ruínas, era possível perceber que outrora aquela fora uma mansão... dois andares, no mínimo, e muito mais quartos do que eram necessários para as quatro pessoas que outrora moravam naquela casa. Que morreram junto com aquela casa.
Harry suspirou. Desaparatar para uma casa em ruínas não era exatamente o tipo de coisa que se esperava do Garoto Que Sobreviveu. Parecia que ele estava se escondendo ali, e a verdade não estava muito longe disso. Estava apenas dando um tempo por ali. Encostou-se numa das paredes que ainda não havia sido totalmente destruída, suspirou novamente e fechou os olhos, sentindo o ar frio daquele começo de inverno acariciar seu rosto apesar do sol morno que reinava nos céus, mas que era obstruído por algumas nuvens pálidas que passeavam pelos céus.
A maldita casa... fora por causa dela que resolvera contar seu sonho a Rony. Pensara muito no assunto nas últimas horas, e não é como se ele tivesse qualquer outra alternativa. Dormir era impensável, em seu estado, e sair para tomar um sorvete e se esquecer de seus problemas era algo inconseqüente demais para alguém que logo entraria na maioridade. Logo seria o Homem Que Sobreviveu. Abriu novamente os olhos, perguntando a si mesmo qual era a grande diferença entre o Garoto e o Homem.
Olhou novamente para a casa e encontrou sua resposta. O Homem não deixaria algo assim acontecer novamente, não enquanto ele pudesse impedir.
- Remoendo lembranças novamente, Harry? – chamou uma voz a alguns metros dele. Harry virou-se sem curiosidade na direção da voz, pois reconhecera seu dono no instante em que ele começara a falar. E, para sua não-surpresa, ele deu de cara com Sirius Black, que vinha caminhando com calma na sua direção. Harry apenas assentiu com a cabeça e deu de ombros. Mas, logo em seguida, deu um sorriso.
- Por que é sempre você que me encontra aqui? – perguntou Harry, sentando-se num pedaço de ruína que poderia lembrar um rústico assento.
- Bem, Dumbledore está ficando meio velho para ficar desaparatando por aí e preferiu verificar os detalhes da reunião urgente. O Snape... ah, ele ficou com... medo, de vir até aqui – disse ele, abrindo um sorriso malicioso. Harry ergueu ambas as sobrancelhas, exigindo que Sirius continuasse. – Ele estava testando uma poção polissuco e não achou que vir até aqui com a aparência de um Comensal da Morte seria uma boa idéia – novo sorriso, mas mesmo assim ele logo continuou. – E o Remo... ah, eu não sei, Harry. Você me pegou nessa. Ele tem estado meio nervoso ultimamente, então eu não esperava que ele se fizesse voluntário.
- Lua-cheia? – perguntou Harry.
- Não, não – disse ele, balançando a cabeça. – Faltam duas semanas para a próxima lua-cheia.
- Então? – perguntou novamente.
- Eu não sei! – disse Sirius, parecendo irritado. Mas logo voltou ao normal. – Diga-me, Harry, eu pareço algum tipo de vidente para você?
- Não. Parece o melhor amigo dele – disse Harry, erguendo ambas as sobrancelhas.
- Eu sei. Mas... ele não me falou nada – disse Sirius, balançando a cabeça com certa frustração.
- Ah, vocês ainda vão acabar se separando por causa disso – disse Harry, tentando ao máximo fazer um sorriso irônico, inutilmente. Sirius percebeu isso e botou uma mão no ombro de Harry.
- Harry... – começou ele, mas antes que pudesse continuar, Harry empurrou a mão de Sirius para fora de seu ombro.
- Sabe, eu não estou num bom dia para receber conselhos otimistas – disse, quase cuspindo as palavras na direção de Sirius. Em seguida, balançou a cabeça, grunhiu um pedido de desculpas como se estivesse envergonhado do que acabara de fazer. Mas... era verdade. Estava com tanta raiva e tanta frustração dentro de si que sentia vontade de demolir o que ainda restava daquela casa. Mas, se o fizesse, não mais poderia voltar ali e contemplar seu grande erro... o grande lembrete de que nunca mais deveria subjugar seus sonhos.
Acontecera alguns meses atrás. Um sonho realmente estranho. Fogo, destruição... gritos, crianças chorando... em alguns momentos, lembravam a Harry seu próprio choro quando as lembranças do assassinato de seus pais voltavam a lhe assombrar. Deveria ter avisado Dumbledore imediatamente. Mas não o fez.
Idiota.
Pensara que fosse apenas um pesadelo comum, já que lhe lembrava tanto as lembranças de quando era um bebê. Só poderia ser. Afinal, tratava-se de uma família de Comensais da Morte, e Harry não sabia que eles poderia estar traindo seu mestre. Mas estavam. De que forma, ele jamais descobrira, mas provavelmente estavam, senão Voldemort não teria enviado seus Comensais para assassinarem aquela família.
Talvez não se sentisse tão culpado se o Comensal fosse o único a morrer... ou ele e a mulher, que provavelmente compartilhava dos mesmos ideais do marido. Mas... as duas crianças, um garoto de no máximo cinco anos e uma garota de um ano de idade recém-feitos...
Droga.
- Eu prometo que não vou lhe dar nenhum conselho otimista – disse Sirius, chamando a atenção de Harry para fora de suas lembranças. Este suspirou e deu de ombros, esperando que seu padrinho dissesse o que tinha a dizer. – Uma vez, quando eu estava no sétimo ano em Hogwarts, Remo me contou uma história. E eu acho que deveria contá-la a você, embora eu não me lembre muito bem de todos os detalhes. Você já ouviu falar em Édipo? – perguntou ele, e quando Harry assentiu com a cabeça mas deu de ombros Sirius continuou. – Quando ele nasceu, um oráculo disse ao seu pai, o rei, que seu filho acabaria por mata-lo e desposar sua esposa. Temendo tal profecia, o rei manda seu filho para longe, esperando para longe. Anos mais tarde, o garoto retorna para a sua cidade natal, acaba por assassinar o pai em uma briga e se apaixona pela mãe, vindo a se casar com a mesma.
- E o que você quer dizer com isso? Que existem pessoas que já se sentiram mais miseráveis do que eu estou me sentindo agora? – grunhiu Harry, olhando para o vazio. Estava começando a esquentar, o sol desviando-se daqueles flocos de vapor, e por isso ele deu alguns passos para o lado, ficando novamente à sombra.
- Não. Mas que, no jogo da vida, não se pode trapacear, Harry. Algumas vezes o destino não está aí para ser modificado – disse ele, também dando alguns passos na direção da sombra.
- E? Eu devo esperar para ver se Hermione realmente vai entregar meu melhor amigo para meu pior inimigo? – disse ele, os olhos vermelhos de raiva, tristeza e frustração. Mas não iria chorar. Não era mais uma criança. Não queria voltar a cometer os erros de uma criança.
Sirius hesitou por um momento, abriu e fechou a boca algumas vezes antes de voltar a falar, os olhos com certo espanto estampado. – Eu não sabia que ela iria sacrificar o Rony. Você só escreveu algo parecido com "Eu sonhei com a traição de Hermione. Eu e o Rony já a prendemos e estamos esperando por uma decisão da Ordem. Harry." Eu cheguei a pensar que você apenas nos tinha escrito para perguntar o que devia fazer agora que havia sonhado com Hermione traindo Rony. Eu não pensei que fosse... esse tipo de traição.
- Mas ela traiu Rony. Ou iria trair – disse Harry, angustiado. Sem saber ao certo porquê, o comentário de Sirius o magoara, como se ele fosse um mero adolescente que ele definitivamente não era.
- Talvez fosse – disse Sirius, coçando o queixo com uma das mãos num gesto pensativo. – A questão é... agora que você sonhou com isso, de que forma isso pode mudar?
- Provavelmente ela conseguirá nos trair se nós simplesmente a soltarmos. Ou então ela irá apodrecer em Azkaban – disse Harry, ainda mais angustiado. Olhou com certa melancolia para Sirius, arrependido de ter falado em Azkaban.
- Sabe, eu não gostaria de pensar que nós mandamos um inocente para Azkaban, e eu acho que você pode imaginar porquê – disse o padrinho de Harry, aparentando uma cansada irritação. Harry percebeu que, subitamente, os olhos de Sirius estavam muito longe dali. Provavelmente as lembranças daqueles anos passados entre seus piores pesadelos ainda lhe assombrava.
- Eu sei – murmurou ele, sem saber o que mais poderia falar. Ultimamente, sentia-se um grande tolo, que não sabia o que fazer numa peça. O pior é que todos os outros pareciam estar atuando conforme seu papel.
O problema é que Harry sequer fazia idéia de qual seria seu papel.
- Harry, você costuma ir ao cinema? – perguntou Sirius, novamente verificando o passado cultural de Harry, que ergueu ambas as sobrancelhas. Que tipo de pergunta era aquela? Por acaso ele tencionava levar o Homem Que Sobreviveu (ex-Garoto Que Sobreviveu) para uma sessão de A Bela Adormecida para ver se livrava Harry de seus tormentos ? Teria que tentar algo melhor do que isso, Sr. Mago.
Mesmo com esses pensamentos ridículos – e Harry agora estava decididamente convencido de que logo estaria precisando dos homens de branco -, ele assentiu de leve com a cabeça, hesitante. Esperou que Sirius continuasse.
- Já viu um filme chamado Matrix? - perguntou Sirius, sentando-se de forma desajeitada no chão. Harry abaixou o olhar na direção de Sirius como se ele tivesse perguntado sobre a última moda para elfos domésticos em liberdade (certa vez Harry lera um anúncio numa revista com um catálogo e o local de uma loja especializada em elfos domésticos, mas antes que pudesse acabar de ler em voz alta o anúncio para Hermione e Rony, ela arrancara a revista da sua mão e Harry nunca mais viu aquela revista... desse dia em dia, ele decidira nunca mais falar em moda para elfos domésticos. Não que ele se interessasse pelo assunto, claro). – Eu acho que devo aceitar isso como um não. Bem, também existe um oráculo nessa história, e ele mostra uma coisa importante: quando o personagem principal entra na sala dele, o oráculo fala para ele tomar cuidado com o vaso.
- E?
- Quando o personagem principal se vira para perguntar do que ele está falando, acaba por bater num vaso e deixa-o cair. Quando ele pergunta como o oráculo sabia disso, ele diz que a questão não é como ele sabia disso, mas se o vaso teria caído se o oráculo não tivesse dito nada.
- Hmmm... – hesitou Harry por instante, parecendo pensar no assunto. – Esses oráculos são bem diferentes de mim. Quer dizer... eu nunca pensei dessa forma a respeito do futuro.
- Você apenas ia lá e fazia o máximo para acabar com os planos dos Comensais da Morte – concordou Sirius, assentindo com a cabeça. – Você nunca pensou a respeito das predições em si.
- É – assentiu Harry, com um suspiro abafado.
- Bem, eu poderia citar mais alguns filmes em que essa ligação com o futuro aparece para abalar o personagem principal, como acontece em Minority Report, mas eu acho que você já entendeu o que eu quero dizer – disse Sirius, abanando o mão com certo desprezo.
- Eu prefiro os oráculos das artes – disse Harry, empurrando a própria cabeça para o lado com um impulso. – Sabe, uma vez eu li a respeito de alguns oráculos bruxos que viveram há alguns séculos. Não foi muito animador descobrir que a maioria deles acabou maluco.
- Certamente, mas você não é um oráculo, Harry – murmurou Sirius, mexendo com a terra seca por entre seus dedos.
- O que eu sou? – perguntou Harry, mas desta vez sem encarar Sirius. Era como se subitamente o céu lhe parecesse muito interessante, apesar de ser o mesmo desde o início dos tempos.
- Eu não sei. Mas oráculos possuem um elo com o futuro, como se o próprio futuro fosse um livro aberto para eles... e você não consegue escolher o que deseja ver – em seguida se levantou e caminhou para o lado de Harry. Este pareceu pensar em algo por um instante, e como demorasse a falar, Sirius abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas aí Harry o interrompeu.
- E se oráculos fossem apenas meios que o futuro usasse para mostrar algo ao presente? Aí, eu seria um oráculo – disse ele, por fim, olhando nos olhos de Sirius. Este olhou para o outro lado quando ele fez isso, como se tivesse medo de que aquele nevoeiro que cobria o olhar de Harry o devorasse.
- Tem razão – disse ele, após um momento de hesitação. – Harry, O Garoto Que Sobreviveu, e oráculo nas horas vagas. Preços a combinar.
Harry abriu um pequeno sorriso. Realmente, Sirius conseguia alegra-lo um pouco, nem que fosse só um pouco. Era melhor do que nada, ao menos. Remo simplesmente não agia de forma a diverti-lo e no dia em que Snape fosse considerado alguém divertido provavelmente Harry REALMENTE precisaria dos homens de branco. Rony o fazia rir algumas vezes, mas jamais em momentos como esse. Hermione...
- Hermione – grunhiu Harry. – Hermione...
- É, Harry, você precisa decidir o que fazer a respeito disso – respondeu Sirius, como se entendesse as perguntas que passavam pela cabeça de Harry.
É. Mas o que faria?
Se não soltasse Hermione, estaria realmente dizendo que não confiava mais em sua melhor amiga. E ele não queria acreditar. Ela fora a sua primeira amiga, a terceira pessoa em quem aprendeu a confiar de verdade, depois de Hagrid e Rony (embora a confiança em ambos tenha passado por sérias provas, mas por sorte Harry sobrevivera a todas elas). E, pensando em ambos agora... tivera todos os motivos para pensar que fora Hagrid quem abrira a Câmara Secreta, porém mais tarde ele se provou errado... e com Rony... quantas vezes não brigaram? Por coisas fúteis, coisas pequenas, coisas importantes, coisas grandes... mas no final tudo voltava ao que era antes – algumas vezes até um pouco melhor. Então, por que o mesmo não poderia acontecer com Hermione?
Porque confiava em seus sonhos, e era por isso que não soltava Hermione e fingia que nada havia ocorrido.
Mas...
... até que ponto poderia confiar em seus sonhos? Seus oráculos? Precisos pelos últimos anos, nunca erraram. Mesmo quando Harry resolvia não acreditar nos mesmos.
... até que ponto poderia confiar em sua melhor amiga? Em sua vulnerabilidade... em como poderia ser corrompida... em como o seu passado lhe influenciaria...
Não sabia o que fazer. Não fazia a mínima idéia.
Raios. Por que tudo sempre parecia acontecer com ele? Olhou para o alto, desejando amaldiçoar os céus por seu destino, mas sua indignação reteve-se a apenas olhar para o azul brilhante do céu, pois sabia que provavelmente não seria ouvido mesmo que berrasse para o mundo todo como odiava aquela situação.
- Eu tenho de decidir isso agora? – murmurou Harry, ainda olhando para o céu. Esperou por uma resposta imediata que não veio, e por isso olhou para o lado onde Sirius estava. Estava também olhava para os céus. Hesitou, suspirou, movimentou as mãos de maneira preocupada e finalmente olhou para Harry.
- Não – disse ele por fim. – Porque agora nós temos de ir para a reunião. Todos os membros da Ordem provavelmente estão lhe esperando, assim como Os Aspirantes. Talvez você queira ouvir a opinião deles, ou talvez não. O fato é que nós temos de ir para lá agora.
- A reunião é no lugar de sempre? – foi tudo o que Harry conseguiu murmurar, entrando na maneira mais prática de dissipar os piores problemas da cabeça de alguém: ocupando-se com detalhes frívolos. Mas o fato de estar perguntando sobre o local de uma reunião onde teria de decidir o destino de sua melhor amiga não ajudava muito. Sirius assentiu afirmativamente com a cabeça, mas apenas parte da cabeça de Harry assimilou o fato, pois boa parte dele estava perdida em algumas memórias, lembranças... nada em especial, mas tudo o que sempre vinha a sua mente em momentos como aquele...
Péssimas lembranças. Qualquer coisa relacionada à morte, caos, destruição...
Sim, sim... Harry bem que tentava barrar esse tipo de lembrança, mas parecia que ele não era forte o bastante para isso... acabava por cair naquele poço do qual nunca saía por completo.
Certa vez, em uma daquelas ridículas entrevistas que Dumbledore dizia que eram necessárias para despistas o público que lia O Profeta Diário sobre qualquer operação secreta que estivesse sendo executada pela Ordem da Fênix, Harry fora perguntado sobre o que era ser Harry Potter.
Hoje, ele teria a resposta. Significa estar eternamente preso numa roda de acontecimentos que nunca atendia aos seus pedidos para que parassem tudo. Significa estar eternamente em depressão. Significa... ser o Homem Que Sobreviveu Mas Que Não Tem Certeza Se Gostava de Ser Um Sobrevivente.
Mas aquele não era um momento muito apropriado para se deixar afundar em seus pensamentos pessimistas e depressivos. Na realidade, nenhum momento era adequado para esse tipo de coisa, mas esse momento parecia ser ainda pior.
Virou-se para o lado para falar algo a Sirius, mas percebeu que este não estava mais ali. Provavelmente, já tinha desaparatado para o local das reuniões da Ordem – e das quais os Aspirantes raramente participavam... realmente, era uma situação crítica.
Após olhar para uma última vez para a casa em ruínas, apontou a varinha para si mesmo e abriu a boca para dizer o feitiço de desaparatar, mas fechou-a logo em seguida. Apesar do semblante calmo, ele estava pronto para um duelo que ele sentia ser iminente.
Olhou em volta. Sabia que havia alguém ali. Após tantos duelos e batalhas contra Voldemort e seus aliados, Harry se acostumara a ser um soldado de guerra. E como soldado, pressentia o perigo ao seu redor. Havia alguém ali. Alguém que não queria ser visto. Logo, era um mago das trevas. Porcaria. Os malditos sempre apareciam nas piores horas.
Mas ele não conseguia enxergar ninguém ali. Ah, claro. Capas da invisibilidade, apesar de serem artigos de luxo, não eram tão raras em tempos assim. Ficou parado, encostado em uma das ruínas. Seus ouvidos bem treinados ficaram à espreita de qualquer ruído.
...
Nada, apenas o som dos pássaros.
Ou talvez não. Num instante, Harry pulou numa direção aparentemente vazia, mas acabou encostando em algo sólido e invisível. E humano. Apesar de não conseguir enxergar seu inimigo, Harry o lançou ao chão, dando um jeito de prender ambas as mãos do inimigo e arrancando a varinha do mesmo com um movimento rápido. Em seguida, já com a varinha do inimigo fora do alcance do mesmo, Harry deu um jeito de agarrar o pescoço daquele ser, deixando-o quase sem ar.
- Quem é você? – grunhiu Harry, quase cuspindo na superfície invisível abaixo de si. Sentia as mãos do outro tentando tirar suas mãos de seu pescoço, inutilmente. Por fim, derrotado, nosso desconhecido desviou a capa da invisibilidade de seu rosto, revelando sua identidade para O Garoto Que Sobreviveu. Harry sentiu que seu coração esquecera-se de bater por alguns instantes. – Draco...?
Bolas de neve sendo jogadas... dois amigos brincando.. traição, dor, sangue... uma confusão de imagens misturou-se na visão de Harry antes de se lembrar que deveria afrouxar um pouco o pescoço do garoto se não queria mata-lo. E ainda hesitou por uns instantes. Será que realmente não desejava mata-lo?
- Você melhorou, Potter – disse o rapaz. Harry sentiu-se estúpido por não tê-lo chamado de Malfoy como deveria, mas agora era tarde para esse tipo de arrependimento. Ao invés disso, prendeu ambos os braços de Draco o melhor que pôde e esforçou-se para esboçar um sorriso cínico.
- Você está num bom dia para morrer, Malfoy – grunhiu ele, com raiva. Draco balançou a cabeça negativamente e deu um sorriso cínico que fez o de Harry parecer um nada.
- Eu acho que não – disse ele. – Eu acho que você deve ter assuntos mais importantes a resolver... por exemplo, o que você fará com sua sangue ruim traidora...
- Você não deveria ficar escutando a conversa dos outros – grunhiu novamente Harry, ainda mais irritado pelo fato de Draco aparentar estar muito calmo.
- Ah, eu acho que me esqueci desse detalhe – disse ele, com voz de falsete. – Mas eu acho que você deveria me ouvir, Potter.
- Por quê?
- Porque você não tem outra escolha – e após dizer isso, Harry sentiu como se Draco houvesse adquirido a força de um dragão e virou as posições de ambos. Agora era Harry quem estava preso, mas ele não parecia assustado com isso. A raiva que sentia era cada vez maior.
- Dê o seu recado, maldito – grunhiu Harry, no mesmo tom que usara quando ainda estava em vantagem sobre Draco. Ao perceber isso, Malfoy sorriu um largo sorriso.
- Para que a pressa, Potter? Você não quer aproveitar a minha companhia por mais algum tempo? – sorriu-se ele, aproximando seu rosto do de Harry, de maneira que um poderia sentir a respiração do outro.
- Por quê? Talvez porque você logo será morto? – grunhiu novamente Harry, sem ceder a Draco. Sabia que o outro queria que ele agisse como uma presa em uma armadilha, mas ele não faria isso.
- Você me magoa falando assim – e novamente fez voz de falsete, a qual Harry surpreendeu-se achando-a surpreendentemente convincente. – Quem o ouve falar assim, mal pensaria nos boatos que correm entre os Comensais da Morte.
- Que boatos? – por maldição, deixara-se levar pela sua curiosidade.
Draco aproximou-se ainda mais de Harry, suspirando algo em seu ouvido. – Que você prefere garotos, Potter.
Controle-se, pensou Harry. Controle-se. Ele sabia que o que Draco queria era que ele se agitasse e tentasse se afastar de Draco o mais rápido possível. Mas, sentindo a força até então escondida de Draco, Harry sabia que seria inútil tentar mover-se e por isso continuou como estava, pensando no que deveria dizer. Algo que surpreendesse e calasse a boca do maldito Malfoy, de preferência.
- Talvez digam isso porque não sabiam de Hermione e eu – falou Harry, tentando devolver o cinismo de Draco. Não era exatamente aquilo que ele queria dizer, mas teria de servir. Mas Draco sequer hesitou.
- Claro que sabemos – respondeu ele, afastando um pouco o rosto de Harry – E temos nossas próprias teorias sobre porquê ela te deixou para ficar com o Weasley...
Sem conseguir controlar-se dessa vez, impulsionou-se com a intenção de jogar Draco longe, sem sucesso. Este apenas apertou ainda mais ambos os pulsos de Harry. Antes que pudesse dar ouvidos a mais algum comentário de Draco, ele se concentrou no que deveria fazer.
E então tudo ficou mais claro. Ao menos tão claro quanto as coisas poderiam ficar no momento, o que não era muito.
- Quem é? – perguntou Harry, ficando novamente calmo.
- O quê? – disse Draco, apesar de estar bastante óbvio em seu sorriso que ele sabia do que Harry estava falando e como se fosse naquele assunto que ele desejasse chegar desde o início.
- O traidor – murmurou Harry, mais para si do que para Draco. – Ninguém de fora de nosso círculo sabia sobre Hermione e eu ou Hermione e Rony.
- Dez pontos para a Grifinória pela brilhante dedução, Potter – disse Draco, tentando imitar um professor de Defesa Contra a Arte das Trevas que dera aulas para ambos no sétimo ano. Um tal de Hillbert, de acordo com as lembranças de Harry. Ele morrera no final do ano, vítima de um singelo ataque do coração. É, o posto de professor de Defesa Contra a Arte das Trevas não era um bom lugar para se trabalhar. Nenhum durava mais do que um ano. – Mas não teria graça de eu dissesse quem é, não é?
Após dizer isso, soltou ambos os braços de Harry e ficou de pé ao lado do mesmo, ajuntando sua varinha que estava a alguns metros dali. Harry ficou sentando no chão, a varinha apontada na direção de Draco o tempo todo. Mas ele não fez menção de lançar algum feitiço, tampouco Malfoy.
- Quem é? – perguntou novamente Harry, mas com uma calma quase constrangedora. Malfoy virou-se na direção dele com um novo sorriso no rosto.
- Menos dez pontos para a Grifinória por fazer a mesma estúpida pergunta duas vezes – imitou novamente Hillbert, e Harry teve de admitir, embora só para si mesmo, que Draco era realmente bom em imitar outras pessoas. – Isso você vai ter de descobrir sozinho... a menos, é claro, que você deseje amanhecer nos próximos dias cheirando tão bem quanto a torta que os Comensais da Morte tiveram a gentileza de enviar para a sua casa.
- Hermione? Rony? – perguntou Harry, mas para si mesmo. As únicas pessoas que poderiam ter livre e total acesso à mansão.
- Não sei – disse Draco, dando de ombros. – Isso é você quem vai ter de descobrir.
E desaparatou.
Mentalmente, Harry fez sua lista de suspeitos: Hermione, Rony, Dumbledore, Snape, Sirius, Remo, Gina, Cho Chang, Neville, Nick Quase-sem-Cabeça e Murta-Que-Geme. Teria de ser um desses. Agora que tinha certeza de que havia um traidor, as coisas pareciam ainda piores. Bem, tinha de ir logo para aquela tal reunião. Seria um bom lugar para começar suas investigações. Embora Harry se considerasse um péssimo detetive.
Olhou mais uma vez para as ruínas e finalmente desaparatou.
Seria um longo dia. E Harry tinha certeza de que não gostaria nada dele. Um dia que começara tão mal não poderia acabar melhor.
Ah, droga.
