Nome da Autora: Cindy "Lain-chan"
E-mail: fly2angels@yahoo.com.br
Sinopse: Dois anos após terminarem seus estudos em Hogwarts, o trio formado por Harry, Hermione e Rony faz parte da Ordem da Fênix. A Guerra contra o Lado das Trevas está chegando em seu ponto mais crítico, e um estranho dom que Harry adquiriu, o de premeditar certos atos que os Comensais da Morte iriam fazer, será a peça principal para o cheque-mate de um dos lados. Resta saber se isso será uma vantagem para o Lado de Voldemort ou para o lado de Harry.
Disclaimer: Ok, como diria um conhecido meu, alguém que não saiba sequer o significado de "fanfiction" provavelmente não vai saber me processar por estar fazendo uma inocente fanfic...
Nota da Autora: Eis a minha primeira fic em português no fanfiction.net e, como vocês, que lêem as fics em português do fanfiction.net já devem ter reparado, o público é bem menor do que o da seção em inglês. Portanto, se você conseguir ler essa fic até o final, por favor, deixe seu comentário. ^_^ Flames serão usados para tostar marshmallows, e tenho dito.Segunda Nota da Autora: O nome desse capítulo veio da música "Join Me In Death", do HIM... e por que raios uma banda se chamaria "ele"? Ah, isso vai além do meu conhecimento. XP Muito, muito obrigada mesmo à todas as pessoas que deixaram comentários! Especialmente a Michiru e a Zena, que estão acompanhando a fic desde o início. ^.^ Eu sei, este capítulo está menor do que os outros, mas é que este é quase um capítulo de 'transição' e, como eu geralmente acabo sendo contrária a quaisquer regras, meu capítulo de transição é menor do que os capítulos normais... Mas por que esse é um capítulo de transição? Porque agora nós encerramos o começo da história e começamos a caminhar em direção ao final! E porque o Voldie-chan aparece, YaY! ^.^
E Eu Sonhei Com Campos Onde Choviam Gotas Carmesins
Parte IV: Baby, Join Me In Death...
Voldemort, Tom Riddle, Aquele Que Não Deve Ser Nomeado, o Lorde das Trevas. Não importa o nome, qualquer um deles exigia respeito. E temor. Com exceção, talvez, de seu nome de nascença. Ou talvez não. Agora que a guerra novamente estourara, muitos sabiam sobre seu passado... inclusive sobre seu detestável nome. Tom Marvolo Riddle. Que nome detestável. Ainda bem que possuía poder suficiente para não deixar que absolutamente ninguém o chamasse por tal nome. Aliás, provavelmente possuía poder para fazer qualquer coisa.
Menos, é claro, para ensinar a uma criança daltônica que vermelho e verde não são a mesma coisa.
- Criança, você não pode pintar o coração de verde – murmurou ele, tentando esconder o sotaque ofidioglota que ele sabia que acabaria por assustar a pequena garota. Ela apenas levantou a cabeça para olhar na direção do estranho que falara com ele, e voltou a desenhar, sem prestar atenção no homem que acabara de falar com ela. Muitos teria morrido por menos do que isso, e talvez por estar desabituado a ser ignorado, ele resolveu apenas suspirar – que, aliás, saiu parecido com o som que sua cobra costumava fazer quando ia dormir – e ir sentar-se numa das pontas de uma grande mesa, feita de carvalho e adornada com várias pequenas estatuetas de serpentes por suas quatro pontas. Observou a pequena por algum tempo, mas ela não pareceu se importar. Ao invés disso, continuou a desenhar seus ursinhos e corações como se não fosse uma criança raptada e que estava sendo presa em um lugar cheio de pessoas que a matariam a qualquer momento. Mas, talvez por ter apenas cinco anos de idade, ela provavelmente não fazia muita idéia do que estava acontecendo ao seu redor.
Aliás, o que raios uma criança estava fazendo na mansão das serpentes, antro dos Comensais da Morte e, obviamente, de Lorde Voldemort?
Neste momento, Lúcio Malfoy entrou ruidosamente pela porta do lado oposto da onde Voldemort estava sentado, impedindo-o de continuar pensando no assunto.
- Mestre – começou ele, fazendo uma exagerada reverência. – Como está a criança? Posso leva-la para a herdeira?
E nisso foi interrompido por um ruído estranho vindo de Tom Riddle. Nesse momento, deixara de ser Voldemort por um instante, já que ria como uma criança. Embora, é claro, crianças não tenham risadas parecidas com o assobio de uma cobra.
- Vocês falam em herdeira... francamente, herdeira do quê? – e levantou-se para ir caminhar até Lúcio. Notou que o Comensal controlava-se para não tremer, e isso fez um fino sorriso abrir-se em Voldemort. – Eu sou imortal. Eu nunca precisarei de uma herdeira!
- Então, por que você continua a manter essa garota? Não seria mais simples mata-la? – murmurou Lúcio, como se não quisesse que Voldemort escutasse. Mas ele ouviu.
- Porque aquela garota possui mais poder no dedo mindinho do que a maioria de vocês consegue ter mesmo tentando com todas as suas forças? – a ironia em sua voz deixou sua constatação com jeito de pergunta que não deve ser respondida. Em seguida, sorriu. Embora, apesar de ser uma tentativa genuína de um sorriso, tenha ficado apenas uma distorção em seu rosto. – Ela não é minha herdeira, por nada, Lúcio... aquela garota é realmente poderosa.
- Se você assim diz – grunhiu Lúcio, tentou mostrar um respeito que não se revelou em sua voz. – Mas eu não sei como você pode ter tanta certeza disso. A garota passa a maior parte do tempo dormindo e a outra parte devorando criancinhas para o jantar. Com uma cereja por cima.
- Hmmm... – ao invés de continuar a olhar para Lúcio, ele virou-se na direção da criança que desenhava a apenas alguns metros dali. Após um momento de hesitação, no qual Lúcio pensava se seria prudente perguntar o que desejava, ele resolveu falar.
- O que você está olhando? – murmurou ele, como se não desejasse ser escutado, novamente. Mas isso nunca adiantava, e dessa vez não foi exceção, pois Voldemort virou-se para ele com um sorriso malicioso nos lábios. Ou talvez um sorriso. Sei lá. Pareciam meras distorções em seu rosto.
- Do jeito que você fala... eu fico imaginando como a carne dessa criança deve ser saborosa – falou ele, e após isso retornou à sua usual expressão séria. Sem distorções nos lábios. Isso apenas fez com que Lúcio tivesse de reter outro calafrio involuntário.
- Se você assim desejar, nós podemos conseguir outra criança para você – disse ele, após um momento. Voldemort balançou a cabeça.
- Não, não – disse ele, voltando a sentar-se e conjurando um copo de vinho tinto, que apareceu imediatamente à sua frente, feito na hora por um dos duzentos elfos domésticos residentes na mansão. – Eu não troco meu vinho por nada, nem mesmo por essas estranhas refeições da herdeira...
Lúcio deu um suspiro de alívio. Essa história de canibalismo não lhe agradava. Por que tentar comer carne humana quando se pode ter caviar e ostras? Mas seus ouvidos não tiveram perdão quando Voldemort passou com meticuloso cuidado o dedo indicador direito pela borda do copo de cristal, fazendo com que tanto o Comensal da Morte quanto a criança olhassem em sua direção com as mãos nos ouvidos, irritados por aquele som. Ao invés de parar, no entanto, ele apenas continuou a produzir aquele som estridente, com cada vez mais força... girando, girando... o líquido carmesim chegava a tremer em suas mãos. Até que o copo partiu-se, deixando pedacinhos ao lado do copo e várias pontas cortantes que deixavam um pouco do vinho escorrer pela mesa.
- Adoro isso – murmurou Voldemort para si mesmo. – Adoro isso.
- Meu lorde, será que você se importaria em me falar o que nós vamos fazer? – perguntou Lúcio, pigarreando um pouco para disfarçar seu nervosismo. Viera até ali apenas para perguntar isso, mas Voldemort simplesmente não dava espaço para que ele perguntasse algo.
- Sobre? – perguntou ele, olhando nos olhos prateados de Lúcio.
- A maldita Ordem da Fênix – grunhiu Lúcio, lembrando-se de quantas vezes a suposta Ordem interrompera seus serviços.
- Ah, isso – era como se ele simplesmente tivesse se esquecido de comer antes de ir dormir. – Eu já tomei minhas providências.
Lúcio arqueou ambas as sobrancelhas, desconfiado. Perderam dez Comensais no último mês para aquela maldita Ordem e seu mestre ousava dizer que já tinha planos quanto a isso? Não era possível. Lúcio não tinha ficado sabendo de nada.
- Que providências? – perguntou ele, dando alguns passos para trás na direção da porta. Só por precaução. Nunca se sabe quando Voldemort poderia querer lançar um "Crucio" contra ele apenas por fazer uma simples pergunta.
- Eu. Já. Tomei. Minhas. Providências – grunhiu Voldemort, deixando expresso que não iria dizer nada além disso. Em seguida, ergueu sua varinha na direção da criança, que voltara a desenhar. Ela parava aqui e ali, como se estivesse a contemplar o próprio trabalho. – A herdeira prefere criança bem passada ou mal passada?
- Hmmm... – murmurou Lúcio, olhando para a criança e para Voldemort. – Não sei. Ela falou que desta vez ela mesma irá preparar o seu jantar.
- E eu tive de bancar a babá por nada? – grunhiu Voldemort, contrariado. – Ela que repense sobre o que quer. Avada Kedavra.
No instante seguinte, a criança já não mais contemplava seu desenho. Ao invés disso, jazia inerte na cadeira, o olhar vazio. Contemplava a própria morte.
Harry abriu os olhos com preguiçosa falta de ânimo. Estava terrivelmente cansado, mas era impossível que conseguisse dormir com aquelas terríveis visões a lhe assombrar cada vez que tentava fechar os olhos. Pensava com saudades nos tempos em que raramente conseguia esse tipo de visão, e ainda assim somente em sonhos. Agora, no entanto, sua cicatriz lhe daria esse tipo de visão nos piores momentos, como agora.
Olhou em volta, surpreso ao perceber que se encontrava de bruços sobre uma mesa prateada, uma velha conhecida sua, já que era a única mesa do local que a Ordem usava para suas reuniões. No entanto, no momento não estavam em reunião, apenas algo vagamente parecido com isso. Sirius Black, Remo Lupin e Alvo Dumbledore discutiam algo enquanto observavam impacientemente para uma das portas do salão oval, e em outra ponta da mesa Neville Longbottom discutia algo com a Murta-Que-Geme, que por sua vez apenas balançava a cabeça e olhava na direção de Nick-Quase-Sem-Cabeça, o qual encontrava-se flutuando sobre a mesa, refletindo sobre algo. Ao lado de Neville, Cho Chang balançava a cabeça, desacreditada.
Não era preciso prestar atenção em suas vozes para perceber o motivo da tensão presente no ar. Hermione. Quando Harry chegou, já se encontravam assim, discutindo. Remo chegou a perguntar uma ou duas coisas para Harry, e logo em seguida retornou à sua discussão com Sirius e Alvo.
Pensou em perguntar o motivo daquelas conversas separadas, mas encontrava-se cansado demais e resolveu sentar-se numa das cadeiras douradas (e feitas de um material estranhamente macio, apesar da aparência metálica) para descansar um pouco.
No entanto, apenas ao tentar fechar seus olhos, sua maldita cicatriz o presenteara com aquela visão doentia. Estava com sono e com fome, mas depois de ter ouvido aquele doentio diálogo travado entre Voldemort e Lúcio Malfoy, sabia que não conseguiria resolver nenhum de seus dois problemas fisiológicos. Ou seja, teria de passar aos seus outros problemas, aqueles de ordem psicológica.
O problema era... que haviam tantos problemas que ele não sabia por onde começar. Olhou em volta, procurando por Rony. Não o encontrou, assim como percebeu que Gina e Snape também não se encontravam ali.
Mas logo percebeu seu erro, pois Gina se encontrava ali, apenas um pouco fora do campo de visão de Harry. Este levantou-se e caminhou até ela, tentando não formular demasiadas teorias sobre porque a garota estaria sentada no chão, distante da mesa e de seus ocupantes, olhando com falso interesse para o piso de mármore que cobria o salão.
-Gina? – ela levantou o rosto com lentidão na direção de Harry, e logo em seguida voltou a tornar-se demasiadamente interessada no piso para continuar a prestar atenção em Harry. Mas este não desistiu. – Algo errado?
Novamente ela se virou para ele, o olhar perdido como o de uma garotinha perdida. E era exatamente assim que se sentia. Perdida. Sozinha. Desesperada. Ainda não falou nada durante alguns momentos, apenas olhou com tristeza para Harry, que se sentou ao seu lado, assentindo com a cabeça para que a garota falasse com ele.
-Harry... – ela começou, abriu a boca para falar mais alguma coisa, fechou-a novamente e tornou a abri-la. – Droga. É claro que as coisas estão erradas. Minha melhor amiga não é uma maldita Comensal da Morte.
E realmente Harry não sonhara com isso. Sonhara com uma traição de Hermione, que em seu sonho afirmava vigorosamente que jamais se tornaria uma Comensal da Morte. Mas então, que maldito motivo Hermione teria para trair a Ordem e seus melhores amigos?
Depois de tanto estudar, através de Sirius e Remo, como era a personalidade de Pedro, Harry poderia afirmar, sem sombras para dúvidas, que Hermione seria o último tipo de pessoa a tornar-se uma traidora.
E aqui estava ele, pensando em como Hermione poderia ser capaz de alto tão desprezível.
-De fato, não – murmurou Harry, lembrando-se vagamente que deveria estar conversando com Gina. – Mas eu sonhei que ela viria a nos trair.
-Ela não faria isso – Gina falou o que Harry vinha pensando desde que sonhara aquilo, mas não tivera coragem de falar. Harry deu de ombros, bufando com cansaço.
-Concordo – disse ele. – Mas...
-Mas seus sonhos nunca erram – grunhiu Gina, num tom mais desapontado do que ofendido. – Eu sei, Harry, eu sei. No entanto, Deus sabe o quanto eu gostaria de não saber. Céus, parece que tudo resolveu dar errado!
- Aconteceu mais alguma coisa que eu não esteja sabendo? – perguntou, sentindo na afirmação de Gina o acúmulo de mais alguma situação desagradável.
- Ah, o de sempre – disse com ar falsamente casual. – Resolveram que eu devo seduzir – e se possível, destruir, - outro maldito Comensal da Morte.
- Eu sou um idiota mesmo – grunhiu Harry, forçando Gina a olhar para ele com um olhar curioso.
- Harry, você não tem culpa... – começou ela, mas Harry balançou a cabeça negativamente.
- Eu sou um idiota por nunca ter notado que você ficava assim toda vez que era designada para esse tipo de tarefa – murmurou ele, segurando o rosto de Gina com a palma da mão. Esta segurou a mão de Harry com delicadeza, e suspirou.
- E não ficava – murmurou. – O problema dessa vez... é o Comensal da Morte para o qual fui designada. Eu não quero ir, Harry. Só dessa vez...
- Você o conhece? – surpresa em sua voz, Harry sabia bem que tanto Cho quanto Gina raramente eram designadas para seduzir alguém que conhecessem. Aquele tipo de coisa já era suficientemente difícil de ser feita com um desconhecido, mas era fato que aquilo se tornaria ainda mais difícil se tivessem e seduzir algum velho conhecido.
- Com certeza, embora eu desejasse jamais tê-lo conhecido – murmurou ela, mergulhando o próprio rosto em suas mãos, descansando ambos os cotovelos entre seus joelhos. – E dessa vez alguns beijos não serão suficientes, Harry. Esse maldito... é muito mais difícil de saciar do que os outros...
- Quem é?
- Você tem certeza de que não sabe? – perguntou Gina, levantando o olhar acima de suas mãos, que continuavam a segurar seu rosto, ainda intacto de lágrimas. – Qual seria o Sonserino que eu jamais gostaria de ver novamente?
Harry hesitou por um momento, embora a resposta estivesse saltitando em sua mente. Mas ele ainda não estava disposto a acreditar naquilo. Deveria estar abalado pelo recente encontro com Draco, só poderia ser isso... olhou novamente para Gina, a imagem perfeita do perdão, e ele soube que ela era o tipo de pessoa que perdoaria qualquer Comensal da Morte que se dissesse arrependido. Sim, havia apenas uma pessoa a quem ela odiava.
- Draco...?... – murmurou, desejando que Gina balançasse negativamente a cabeça e risse da tola expressão de Harry. Quando ela fez um leve movimento com a cabeça, Harry chegou a pensar, com alívio, que seu pedido tivesse sido atendido. No entanto, ela abaixou a cabeça e levantou-a novamente, movendo seus lábios numa vã tentativa de sorriso.
- Bingo – disse, tentando rir. Não conseguiu.
- Mas... – procurava por boas palavras, dizer para Gina que aquilo era uma bobagem, que jamais alguém poderia obriga-la a fazer isso. Mas mentir de maneira tão insensata não lhe parecia ser uma boa opção. – Por que Draco?
- Dizem que o tal está numa alta posição lá naquele maldito círculo de Comensais da Morte – ela murmurou, fazendo cachinhos em seus longos cabelos ruivos. Novamente, desviava o olhar de Harry. – Dizem que ele poderá nos entregar alguma informação importante, é isso o que eles dizem.
- Eles quem? – perguntou Harry, tentando manter Gina falando. Era parecido com tentar manter alguém consciente quando a mesma estava sangrando muito... só que Harry não tinha medo que Gina pudesse desmaiar... no entanto, temia que ela pudesse sufocar-se em seus próprios pensamentos. E isso poderia ser bastante doloroso.
- Traidores – guspiu Gina, o desprezo presente em cada nervo de sua face, de sua pálida face. – Estão por toda parte, não estão?
- Sim, estão – concordou, e então resolveu aproveitar o momento para pesquisar algo. – Quem mantém contato com esses traidores?
- Quem mais? Snape – murmurou ela, os cachos entre seus dedos tornando-se cada vez mais densos. – Alguns Comensais mantém um maldito respeito por ele.
- Entendo – murmurou, refletindo por um momento.
Snape já fora um traidor antes, porque não voltaria a sê-lo? Jamais entendera o que levara o antigo professor de poções para o outro lado, nem o que o trouxera de volta. Como poderia ter certeza de que ele não voltaria a faze-lo?
Mas Harry sabia. Severo não faria aquilo.
Harry sabia que ninguém ali seria capaz de cometer algo tão deplorável, e era por isso que aquelas pessoas estavam naquele círculo, como Aspirantes ou como membros da Ordem.
"Que boatos?"
"Que você prefere garotos, Potter."
Olhou novamente para Gina, que o olhava com uma fúria emanante de seus olhos de fogo... uma fúria retraída, no entanto. Era como se ela soubesse que não poderia descontar toda a sua fúria em Harry, mas ele próprio sabia que não deveria brincar com sua sorte por muito tempo. Virginia Weasley não era a mulher mais pacata do mundo, mas algo perdido entre a fúria e a melancolia.
Weasley.
"Que você prefere garotos, Potter."
Ótimo, Harry, logo você estará inspecionando sua própria sombra. Estava desconfiando de seu melhor amigo. Mas... que bobagem. Era seu melhor amigo.
Assim como Hermione.
Mas que bobagem.
Afinal de contas, o traidor poderia ter ouvido as reclamações insensatas de Rony e repassado os tais boatos para os Comensais, não seria necessariamente Rony que seria o traidor.
Embora, é claro, Rony não ficasse fazendo esse tipo de comentário para todo mundo. E, quando o fazia, geralmente era num tom apenas pretensamente sério, o tipo de coisa que fazia alguns dos outros membros da Ordem dar um sorriso malicioso, nada além disso. Quando Rony resolvia ser chato e falar seriamente no assunto, encontrava-se à sós com Harry.
Mas que loucura.
Olhou novamente em volta e, ao notar que o ambiente continuava sua discussão frívola (pois sabia que decisão alguma sairia dali), voltou seu olhar para Gina.
-Não, você não entende – murmurou ela, tão baixo que Harry mal pôde escutar todas as palavras com clareza. Embora, é claro, isso não fosse necessário para que ele compreendesse o que Gina queria dizer. – Pode não parecer, mas... – ficou vermelha, o rosto escondendo boa parte de suas sardas, meros pontos que agora se aproximavam de seu tom de pele. – Eu ainda sou virgem... e definitivamente, perde-la com alguém como Draco não é exatamente uma perspectiva animadora.
- Colin? – perguntou, de repente sentindo-se ainda mais confuso. Gina balançou a cabeça, negativamente, e abriu um sorriso. Carregado de melancolia, sim, mas ainda assim um sorriso.
- Muito criança – murmurou, e o sorriso instantaneamente desapareceu. – E esses Comensais... um bando de necessitados, é isso o que são. Alguns beijos, algumas palavras... e eles ficam na palma da sua mão – e fez um gesto indicativo para a própria mão. – Mas com Draco... não vai ser tão fácil. Você se lembra dele na escola? Ele teve ter transado com boa parte das Sonserinas quando estava no sétimo ano...
- Nós precisamos fazer alguma coisa – grunhiu ele, levantando-se. Estendeu uma mão para Gina, que hesitou mas afinal aceitou a ajuda. – Onde estão Rony, Hermione e Snape? – gritou, chamando a atenção do resto do grupo.
- Snape deve estar chegando, aquele poção polissuco deve estar quase parando de fazer efeito. Rony está com Hermione na sala ao lado – falou Sirius, e Harry teve a impressão de que quase poderia perceber um sorriso no rosto de seu padrinho.
- Peça para que Snape se apresse. Traga Rony e Hermione para cá – disse, sentando-se com imponência em sua cadeira. – Eu tenho um palpite. Pode ser maluquice, pode ser suicida, mas eu vou tentar. Voldemort que me espere.
Falando no demônio, Voldemort agora caminhava por um quarto, esperando por alguém. Aliás, ele não estava no próprio quarto, e isso não era algo relativamente difícil de se deduzir pelas paredes brilhantemente pintadas de rosa ou a cama modelo "princesa" ao centro do quarto. Definitivamente, aquilo estava mais para uma câmara de torturas para o Lorde das Trevas, e por isso ele caminhava, passos inquietos, em círculos pelo quarto.
E finalmente chegou aquela por quem ele esperava. A herdeira. Abrindo a porta de maneira não muito delicada, uma garota de aparentemente trinta anos entrou no quarto, os passos mais largos do que suas próprias pernas deveriam permitir. Voldemort teria sorrido se isso fosse algo que gostasse de fazer.
- Olá, mestre – disse ela, os olhos brilhando. De feições tipicamente orientais, piscava de maneira que fazia alguém se perguntar se havia algum cisco em seu olho. – Eu não o esperava tão cedo.
- Nem eu. Esse seu quarto... não combina com você – disse ele, apontando para a cama. A herdeira apenas sorriu, balançando com um de seus esquálidos dedos seu cabelo escuro. O mesmo prendia-se num severo rabo-de-cavalo, o que deixava a garota com uma expressão ainda mais severa. E antiquada.
- Eu gosto da ironia – disse ela, caminhando até a cama e jogando-se na mesma com certo impulso. – Boas novas, espero?
- Creio que sim. Mas o que você me diz? – diz ele, forçando-se a olhar para o teto, na esperança de encontrar algo menos rosado... inútil revela-se seu ato, pois o teto fora decorado com vários corações pintados em tons de rose sobre um fundo esbranquiçado.
- Hmmm... tudo conforme o planejado – após pensar um pouco, resolve deitar-se na cama, o olhar também perdido no céu do quarto. – Draco acabou de me falar que o recado já foi dado a Harry. Ah, logo nosso garoto chegará até nós!
- E você está feliz por que... ? – perguntou Voldemort. – Aliás, eu havia mandado Draco avisar a mim sobre isso, não havia?
- Ah, ele falou para que eu o avisasse – disse com casualidade. Em seguida, sentou-se para olhar para Voldemort e caiu na gargalhada. – E, convenhamos, deve ser mais fácil para ele falar comigo do que com você. Ao menos, eu não tenho cara de cobra envenenada...
- E você pode ser considerada bonita? – foi a vez de Voldemort caminhar até a cama. – Se você está pensando em ter algum tipo de esperança com o garoto veela, eu deveria lhe lembrar que você provavelmente irá morrer antes de conseguir ter seus rituais de fertilidade com Draco, Kimiko...
- E você sempre estraga a festa dos outros, não é? – disse a garota, com descarado sarcasmo. – E o que você quer dizer com 'bonita'? Meus olhos horizontais como os de uma cobra não são atraentes? Nem meus lábios semi-inexistentes? Quem sabe meu pescoço longo que faz as pessoas se lembrarem de uma girafa sem razão aparente? Oh, que decepção.
- Você faz piadas demais para alguém que está prestes a morrer – foi o único comentário de Voldemort. Obviamente perdera seu senso de humor a cerca de cinqüenta anos.
- Eu não irei padecer enquanto você existir – ela retorquiu, levantando-se com pressa e caminhando até Voldemort. Parou à frente do mesmo e colocou ambas as mãos sobre os olhos de Voldemort que, sabendo o que a garota pretendia, não se mexeu. – Você andou assassinando alguém nos últimos minutos?
- Aquela criança que você pediu para o jantar – foi sua resposta. Kimiko deu de ombros e suspirou, afastando-se de Voldemort.
- Assim você irá traumatizar o Garoto Que Sobreviveu... ele teve conexão com suas retinas nos últimos minutos... – ela disse, balançando a cabeça.
- E agora?
- Não, ele não está tendo conexão agora – disse ela.
- É uma pena. Eu tenho certeza de que enxergar você seria o bastante para deixar o garoto suficientemente traumatizado... – disse Voldemort, nem uma pista de expressão em seu rosto. Kimiko acariciou o próprio rosto, alvo como seu esqueleto, demorando-se em suas longas olheiras. Pareceu magoada por um instante, mas logo em seguida sorriu.
- E eu que pensava que você não possuía senso de humor.
- Não é piada – Voldemort continuou. – Você parece terrível para alguém de apenas dezoito anos...
- Talvez seja a sina de uma Degê! – disse ela, um sorriso malicioso em seu rosto.
- Uma Degê – repetiu ele, desta vez segurando o rosto de Kimiko com uma de suas mãos exageradamente longas. – Como eu demorei tanto tempo para encontrar você, minha pequena?
- Oh, eu não gosto de ser encontrada – disse ela, segurando o pulso de Voldemort com força. – Alguma missão para hoje à noite, mestre?
- Sim, Pinky. Nós fazemos fazer o que nós fazemos todas as noites: tentar conquistar o mundo! – disse ele, lembrando-se de ter visto algo do gênero, certa vez quando fora matar algum jovem trouxa. Ah, e era o que um dos jantares de Kimiko vivia repetindo enquanto estava ao lado de Voldemort.
- Pinky?
- Desenho trouxa – disse ele, balançando uma de suas mãos. – Embora combine bastante com você – e olhou em volta, para o quarto terrivelmente decorado de rosa.
- Pinky... gostei. Kimiko Pinky – repetiu ela algumas vezes, antes de voltar sua atenção para Voldemort. – De agora em diante, chamo-me Kimiko Pinky.
- Isso. Abandone o nome de seus pais – concordou Voldemort, e quase sorriu. Quase.
- Meus pais? – incredulidade. – Meu pai é você, meu mestre. Você me originou, lembra?
- E a negligenciei durante dezessete anos... – disse Voldemort, olhando para a pequena que era alguns vários centímetros mais baixa do que ele. – Que péssimo pai sou eu. Mas, se sou seu pai, quem seria sua mãe?
- Harry Potter – a garota disse, sem hesitar. – E... espere. Dois homens? Vocês acabaram de contradizer um monte de regras da natureza!
- Nós adoramos contrariar regras – disse ele, e finalmente sorriu. Kimiko também sorriu. Embora, em ambos os casos, o sorriso poderia ter sido confundido com o barulho de uma serpente logo após agarrar sua presa.
