Nome da Autora: Cindy "Lain-chan"
E-mail: fly2angels@yahoo.com.br
Sinopse: Dois anos após terminarem seus estudos em Hogwarts, o trio formado por Harry, Hermione e Rony faz parte da Ordem da Fênix. A Guerra contra o Lado das Trevas está chegando em seu ponto mais crítico, e um estranho dom que Harry adquiriu, o de premeditar certos atos que os Comensais da Morte iriam fazer, será a peça principal para o cheque-mate de um dos lados. Resta saber se isso será uma vantagem para o Lado de Voldemort ou para o lado de Harry.
Disclaimer: Ok, como diria um conhecido meu, alguém que não saiba sequer o significado de "fanfiction" provavelmente não vai saber me processar por estar fazendo uma inocente fanfic...
Nota da Autora: Eis a minha primeira fic em português no fanfiction.net e, como vocês, que lêem as fics em português do fanfiction.net já devem ter reparado, o público é bem menor do que o da seção em inglês. Portanto, se você conseguir ler essa fic até o final, por favor, deixe seu comentário. ^_^ Flames serão usados para tostar marshmallows, e tenho dito.
Segunda Nota da Autora: O nome desse capítulo é o nome de uma música (vocês não esperavam nada diferente, esperavam?) da trilha sonora de "Corra Lola, Corra": Believe. Variando, desta vez existe um trecho da música, que eu acho que combina bastante com o capítulo. Talvez tenha, talvez não. Eu costumo ter um método absurdo de relacionar coisas...
Terceira Nota da Autora: UoU! Olha, mamãe, minha fic tem um monte de reviews! Hã... eu vou ter que fazer uma seção de agradecimentos especiais! Muito obrigada para a Fernanda e para a Sailor Luz que se deram ao trabalho de mandar um –email para elogiar a fanfic. Ah, pela quantidade de pessoas que falaram que quase não leram a fic por causa do sumário... na próxima fanfic que eu escrever, eu vou tentar fazer um sumário mais chamativo. Com umas luzes de néon, talvez? Okay, agora um 'obrigada' bem grande deve estar se encaminhando na direção da Michiru e da Zena, que estão comentando a fic desde o começo (elas foram as únicas a deixarem reviews pro primeiro capítulo antes de eu postar o segundo! Se a fic chegou até aqui, é por causa delas! XD) Agora, vamos ver quem deixou review pro quarto capítulo... Sylvia Malfoy, Lyra (ok, eu admito. Eu demorei pra colocar o resto da fic. Espero que você não tenha morrido do coração ^^), Rogue (tralalala... tem bastante sobre a herdeira aqui... é claro que não tudo, mas isso deve jogar um pouco de luz ao caso XP), May Malfoy (não necessariamente... no site eles dizem que nem eles tem uma sigla... eles já até disseram que significa 'Hanson is Murder'!), Vanessa (gira? isso é uma gíria portuguesa?), KK-Watson (que bom que eu não decepcionei! Meu maior nervosismo é sempre se eu vou receber algum comentário dizendo que eu decepcionei...), Su-chan (bem, pelo menos você é alguém que quase evitou a fic por causa do cenário pós-Hogwarts... ainda bem que você leu e não se arrependeu! ^^) e Kakau (Hã... ela deu review pro primeiro capítulo, mas como eu li ele depois de postar o quarto capítulo...há! Vocês que reclamam que eu não estou deixando essa fic mais romântica! Oras, se eu fosse deixar essa fic com os pares que eu quero, essa fic seria uma Draco/Harry, para desespero daqueles que são Gina/Draco e Hermione/Harry... ou seja, quase todo mundo que está lendo essa história =op)... muito obrigada a todos vocês! ^.^ Vocês são a razão de nós termos chegado até aqui! Apertem os cintos e vamos à história! Mas antes...
Nota especial: os eventos deste capítulo se passam quinze dias após o quarto capítulo.
Agora sim! Encerramos aqui a maior nota (notas?) da autora dessa fic... XP Boa leitura!
E Eu Sonhei Com Campos Onde Choviam Gotas Carmesins
Parte V: Believe
I don't believe in promise
I don't believe in chance
I don't believe you can resist
the things that make no sense
- Believe, by Franka Potente
- Uma espinha! Uma maldita espinha!
Risos interrompem as reclamações de Crabbe, que agora se encarava em frente a um espelho, cutucando com a ponto do dedo sua nova manchinha vermelha.
- Ah, novidade. Eu não sei porque você se preocupa! – o autor dos risos falou, encostando-se a uma das paredes do quarto onde se encontravam. – Quer dizer, eu pensei que você já tinha problemas suficientes com o seu excesso de gordura ou a sua cara de gárgula!
- Não é gordura, é músculo – Crabbe disse, voltando sua atenção para a espinha que crescia na ponta de seu nariz. – Céus, uma espinha no nariz! O que eu fiz para merecer isso?
- Além de assassinar alguns trouxas e incendiar outros vilarejos? – o outro rapaz voltou a falar, escorando com uma das pernas contra a parede. – Não sei. Mas, hei, pensar que isso pode ser castigo por alguma coisa que você fez não é exatamente de acordo com a filosofia dos Comensais da Morte!
Crabbe virou-se na direção do outro, o olhar perplexo e vazio. Abriu a boca para falar algo, mas descobriu que não sabia o que dizer e por isso fechou-a novamente. Hesitou, olhou para o outro rapaz por um tempo, as sobrancelhas arqueadas como se pensasse muito sobre o assunto. Por fim, desistiu. – Por que não?
O outro rapaz apenas soltou um suspiro, amaldiçoando o dia em que aceitara trabalhar com Crabbe como assistente. O truculento homem, pelo menos, tinha o dobro de neurônios de sua outra parte, Goyle, afinal de contas, dois continua sendo o dobro de um.
- Suma. Da. Minha. Frente – disse ele, dando um passo na direção de Crabbe para cada palavra que dizia, agitando sua varinha na direção do armário que era o outro homem. Crabbe começou a tremer, mal se dando conta que poderia acabar com o outro com o mínimo esforço de seus braços e mãos.
- C-certo, c-certo, D-draco – disse ele, conseguindo tremer no início de cada palavra. No entanto, não se moveu. Draco arqueou ambas as sobrancelhas.
- Malfoy, Crabbe, Malfoy. Você não possui o direito de me chamar de Draco – disse ele, remexendo com impaciência em seus fios loiros. Apesar de continuar a tremer, Crabbe não se moveu. – Que parte de 'Suma daqui!' você não entendeu?
- Eu sempre chamava... você de Draco na escola. Por que eu não posso chamar você de Draco agora? – ele perguntou, gaguejando um pouco e – Draco desejou não ter visto isso – babando um pouco pelo lado da boca.
- Porque agora eu sou um Comensal da Morte. Agora, suma! – grunhiu ele, e desta vez Crabbe saiu do quarto em seus passos desajeitados e olhando por cima do próprio ombro a cada passo para verificar se Draco ainda estava olhando-o com fúria. Por causa disso, ele bateu sonoramente contra a porta dupla do quarto, deixando-a quase caindo e rangendo. Ao ver isso, Draco bateu com a mão na própria testa, fechando os olhos e balançando a cabeça. Às vezes era simplesmente impossível acreditar que Crabbe ou Goyle poderia ser classificado como espécime 'inteligente'. Esse 'inteligente' seria de acordo com os padrões de quem? Harold, o garoto que levou um balaço na cabeça e até hoje está escrevendo teorias sobre a recém-descoberta inteligência das lesmas?
Mas agora não havia tempo para pensar nisso – afinal de contas, pensar sobre qualquer vestígio de inteligência em Crabbe ou Goyle era uma total perda de tempo mesmo que a outra opção fosse morrer de tédio – e por isso Draco apenas suspirou com desprezo e caminhou até a escrivaninha de carvalho antigo onde o último exemplar d'O Profeta Diário.
Na manchete lia-se em letras garrafais "Harry Potter, O Garoto Que Sobreviveu... Morreu" e, logo abaixo, uma foto que poderia ser confundida com uma foto trouxa, já que não havia movimento algum na mesma. Apenas mostrava, em traços não muito definidos e em cores indevidamente claras – indo contra o próprio tema da foto – a foto de um garoto de cabelos escuros e rebeldes deitado – ou talvez caído fosse adjetivo melhor – sobre um grande montante de flores coloridas. Não era necessário nenhum tipo de averiguação especial para que alguém pudesse dizer com toda a certeza de que aquele era, sem sombra de dúvida, Harry Potter. No entanto, como a legenda dizia, vários médicos foram até o local e fizeram exames para averiguar o caso... inclusive alguns Comensais da Morte – insuspeitos pela mídia, claro.
E assim, médico após médico, laudo após laudo, vinha a confirmação: Harry Potter estava, efetivamente, morto e logo seria enterrado sob sete palmos de terra.
O quê, claro, indicava que algo muito errado estava acontecendo. Porque, convenhamos, para qualquer bruxo, Comensal da Morte ou não, matar o Garoto Que Sobreviveu – Mas Que Agora Estava Morto – era o mesmo que assassinar Mickey Mouse; não era algo possível. Era irreal demais. Mas se era irreal demais para ser verdade, ou simplesmente irreal demais para não ser, Draco não sabia.
Não havia som do lado de fora de seu quarto, como deveria haver para comemorar a queda do grande salvador do outro lado da guerra. Todos estavam quietos, caminhando de um lado para o outro, esperando acordar daquele... sonho? pesadelo? alucinação? Fosse como fosse, nenhum deles agia.
Mas Draco não havia chegado ao círculo íntimo de Voldemort fazendo o que todos os outros faziam, e por isso ele jogou o jornal de volta à escrivaninha com certa raiva. Iria fazer alguma coisa. Ele sabia que tinha de fazer alguma coisa. O grande problema é que ele não sabia o quê.
Encarou a foto de Harry Potter com um canto do olho. Era um dos maiores bruxos que já conhecera, talvez seu poder somente pudesse ser ultrapassado por Dumbledore – que agora não passava de um velho, que deveria ser esquecido e deixado ao pó num canto – e Voldemort. E, no entanto, pensando agora no fato, Harry não pareceria ser tão difícil de ser derrotado... o garoto era simplesmente, como era a palavra mesmo? Confiante? Ingênuo? Estúpido? Seja como for, ele simplesmente confiava demais nas pessoas.
Draco sorriu, lembrando-se de como enganara Harry por um bom tempo... isso lhe valera algumas preciosas informações que Voldemort ficou satisfeitíssimo em ouvir. E mesmo após alguns meses, talvez anos, do ocorrido, Draco ainda lembrava-se com clareza alguns dos gritos desesperados de Harry após o primeiro, num lapso de cuidado, deixar sua Marca à mostra.
- Eu pensei que você tinha amadurecido – disse Harry, mas ainda não gritava. Não parecia furioso de início... apenas... terrivelmente decepcionado. – Eu nunca pensei que você seria tão imaturo a ponto de levar tão longe nossa rivalidade escolar.
- E o que você pretende fazer? Matar-me? – falou Draco, o tom zombeteiro. – Vamos, faça seu serviço, menino perfeito.
- E eu pensei que você era quem deveria fazer isso – replicou Harry, levantando os braços para o ar. – Afinal, faz parte do regulamento de todo o Comensal da Morte, não? Assassinar todos contra o seu time, especialmente se for o Garoto Que Sobreviveu, não é? Provavelmente vocês recebem um folheto ilustrativo sobre isso quando recebem essa marca aí – disse ele, quase gritando e apontando para o braço de Draco. Este apenas abriu um largo sorriso, erguendo o próprio braço no ar e olhando para Harry e para o seu braço.
- Na verdade, não. Lorde Voldemort é bastante cético em relação ao aprendizado sem dor – disse ele, deixando sua marca novamente à mostra, brilhante na pele pálida de Draco. – E panfletos ilustrativos não são exatamente dolorosos.
- Suma daqui – grunhiu Harry, girando sua varinha na direção de Draco, parecendo precisar de todo o seu autocontrole para não assassinar o outro garoto. E ele mal sabia porque estava tentando se controlar, se tudo o que Draco merecia era ser morto por aquelas duas simples palavras. Harry não sabia quanto tempo ele iria demorar até perder o controle, mas aparentemente Draco não se importava muito com isso.
- Ouço e obedeço – disse ele, fazendo uma reverência desmedida em sarcasmo. – Se precisar de alguém para transformar sua vida num inferno, mande uma coruja!
E desaparatou.
Francamente, como Harry poderia sequer pensar que Draco teria a missão de matar? Um trabalho tão inferior, abaixo de seus quesitos... francamente, francamente. Torturar psicologicamente suas vítimas era muitíssimo mais divertido do que simplesmente apontar uma varinha na direção de alguém e dizer duas patéticas palavras. Qual seria a graça disso?
Não... enganar e destruir Harry, mentira após mentira, era muito melhor do que qualquer feitiço. Porque, diferente de qualquer um dos feitiços imperdoáveis, sua vítima sempre tinha como se defender, poderia sempre simplesmente desviar de Draco e suas torturas mentais... mas Harry nunca fez isso, e era justamente esse pequeno detalhe que deixava as coisas muito mais divertidas para Draco: Harry não conseguia enxergar como estava sendo destruído, dia após dia, momento após momento.
Draco não conseguiu evitar a súbita lembrança de certa experiência que fora realizada em seu quinto ano em Hogwarts... o professor de Defesa Contra a Arte das Trevas colocara um sapo em água quente e este imediatamente pulara para fora da água. Em seguida, o professor colocou o mesmo sapo em água fria e foi aumentando a temperatura gradativamente...
Resultado: o sapo morreu, sorrindo e feliz, na água fervente.
- Que vocês não sejam como este sapo – disse o professor, e saiu da sala. Definitivamente, aquele fora um dos professores mais estranhos que Draco já conhecera. Bem, quando se deram conta de que não haveria tarefa de casa, ninguém reclamou da curtíssima aula do professor.
E Draco sorriu da ironia: o professor fizera aquilo para ensinar uma coisa tão simples, confiante de que seus alunos conseguiriam entender aquilo. E justamente um de seus alunos mais brilhantes não entendera uma lição tão simples quanto essa... era um mistério como Potter havia conseguido passar por todos os anos em Hogwarts... oh, espere, Crabbe e Goyle também haviam conseguido, então a escola era simplesmente algo fácil demais. Quer dizer, até mesmo aquele total desastrado do Longbottom conseguira passar em Hogwarts! O que os quatro fundadores diriam se descobrissem a decadência de sua escola? Bem, talvez aqueles três tolos não fizessem nada e talvez – pasmem! – até mesmo apoiassem o velho Dumbledore, mas Salazar iria definitivamente por alguma ordem na casa. Ou no castelo, que seja.
Sentiu que estava sorrindo abertamente e voltou sua expressão ao normal, ou algo parecido com um brilho sarcástico em seus olhos e seu sorriso malicioso.
Saiu do quarto, entrando no corredor da mansão. Olhou para os lados, encarando distraidamente os quadros de vários antigos Comensais da Morte, além de várias pinturas de Grindelwald e de Salazar Slytherin... pinturas que olhavam para cada passante com certo desprezo, mesmo que fosse Voldemort. Os antigos malignos não pareciam reconhecer seu sucessor. Dado este fato, era surpreendente que Voldemort ainda deixasse tais quadros expostos. Mas, de certa forma, Voldemort não era exatamente narcisista, e talvez desprezasse os antigos tanto quando eles o desprezavam, e por isso não se importava com tais quadros.
Draco caminhou pelo corredor à sua esquerda, passando por diversas portas duplas que levavam aos quartos de outros Comensais da Morte de alto prestigio como ele. Mas, no momento, ele simplesmente ignorou todas as portas, repletas de detalhes encravados em sua madeira nobre, e caminhou até o fim do corredor com o queixo levantado. Precisava demonstrar a cada ato que merecia estar ali, que estava no lugar certo. Além do mais, Draco era um narcisista e andar de queixo erguido inspirava muitíssimo mais respeito do que se caminhasse olhando para o chão.
Atingindo o fim do corredor, parou em frente a uma porta dupla maior do que as outras – podendo até mesmo ser considerada uma porta tripla, se tal classificação existisse. Aquela porta o levaria até o quarto de Kimiko, e era ali que esperava encontrar Voldemort, já que seu mestre dificilmente parava em lugar algum. Caso Voldemort não estivesse ali, ele ao menos poderia falar com Kimiko, o que já ajudaria bastante. Ela provavelmente poderia esclarecer melhor toda aquela situação absurda.
Bateu à porta duas vezes, apenas para avisar que estava entrando. Como ninguém respondesse, ele simplesmente abriu uma das portas com cuidado, olhando para o lado em busca de Kimiko ou Voldemort. Não vendo ninguém, ele entrou e fechou a porta atrás de si sem ruído. A decoração excessivamente rosada do quarto fazia com que Draco se perguntasse como alguém seria capaz de dormir num ambiente assim. Parecia que todo aquele rosa começaria a brilhar assim que as luzes fossem apagadas!
Mas, ao centro do quarto, Kimiko descansava, e aparentemente sequer percebera a entrada de Draco. Caminhando até a cama, Draco descobriu o porquê: Kimiko se encontrava dormindo, um dos braços sob sua cabeça e o outro descansando sobre sua barriga, enquanto suas pernas estendiam-se preguiçosamente sobre a colcha da cama.
A maioria das pessoas mostra seu lado mais vulnerável quando está dormindo, e talvez por isso Draco tivesse parado por algum tempo para observar Kimiko... esperava encontrar sua fraqueza, sua vulnerabilidade... além do mais, ele sabia muito bem que a maioria das garotas fica com um certo charme quando estão dormindo, como se a vulnerabilidade de seu sono fosse um atrativo a mais.
Obviamente, este não era o caso de Kimiko. Apesar de Draco não achar Kimiko uma garota exatamente atraente, ela jamais chegara a estar no campo das 'garotas desprezadas por Draco Malfoy'... e, no entanto, Draco não conseguiu encontrar aquela charmosa vulnerabilidade na garota... se isso era possível, Kimiko parecia ainda mais forte enquanto dormia. Era como se, ao mesmo tempo em que se encontrava no paraíso dos sonhos, ela ainda estivesse conectada ao mundo lúcido dos que estão despertos. Draco arqueou as sobrancelhas, procurando qualquer vestígio de vulnerabilidade, inutilmente. Kimiko parecia, se possível, mais desperta e lúcida do que antes.
Pensando que Voldemort provavelmente concentrava expressão igualmente severa enquanto dormia, Draco refletiu que esta talvez uma maldição para aqueles que vivem e respiram poder... talvez Draco jamais chegasse a ser tão forte quanto Voldemort ou Kimiko – pois, embora jamais tivesse visto Kimiko em uma batalha, Draco sabia que ela deveria ser muito forte ou Voldemort jamais a teria aceito como herdeira – mas ao menos ele concentrava um pouco mais de humanidade em si mesmo do que qualquer um dos dois. Talvez isso não valesse muita coisa entre os Comensais da Morte, mas, como Draco agora descobria, ter um pouco de humanidade em si mesmo era muito importante para que ele mantivesse seu indefectível sex appeal.
- Draco? – uma voz, parecidíssima com o som de um cobra serpenteando pela garganta de alguém, chamou do outro lado do quarto. Draco virou-se com pressa, mas com elegância, na direção de quem lhe chamara.
- Mestre – reverenciou de maneira elegante, como aprendera com seu pai. Um Malfoy, um legitimo Malfoy, mantém sua elegância em qualquer situação. Mas, enfim, um Malfoy provavelmente vestiria roupas de gala mesmo que estivesse sendo levado para a sua execução.
- Deseja algo? – perguntou Voldemort, e provavelmente teria levantado suas sobrancelhas se ainda as tivesse. Draco voltou à sua posição normal, olhando para Voldemort, mas sem encara-lo nos olhos.
- Sim, mestre – repetiu ele, e fez uma pausa. Como Voldemort não tivesse reação alguma, ele prosseguiu. – Harry Potter... eu não entendo... talvez não esteja em meu direito perguntar, mas... o que aconteceu?
- Ou alguém está querendo pregar uma brincadeira de péssimo gosto em nós – começou Voldemort, caminhando até Kimiko, que ainda dormia apesar da conversa ao seu lado. – Ou o Garoto Que Viveu realmente se transformou no Garoto Que Morreu.
- Mas ele não pode estar morto! – gritou Draco, e arrependeu-se de sua exaltação. – Quer dizer... meu mestre está tentando mata-lo a anos e jamais conseguiu. Potter não teria morrido com tamanha facilidade!
- O universo possui um senso de humor bastante abstrato, Draco – disse Voldemort, mas agora ele não olhava para Draco, e sim para Kimiko. – Algumas vezes, os maiores guerreiros são atropelados ao voltarem de uma guerra...
- Mas... – Draco iria dizer que eles não deveriam aceitar tal fato tão facilmente, mas Voldemort sinalizou para que ele se calasse.
- Kimiko? – Voldemort agora olhava para a garota, que ainda estava dormindo. Novamente, Draco iria intervir para disser que ela não poderia conversar com Voldemort enquanto se encontrava dormindo, mas nesse momento Kimiko abriu os olhos, despertando de seu sono.
Talvez devêssemos lembrar aqui que a maioria das pessoas desperta com vários resquícios de sono em si, e demora algum tempo para se adequar à realidade. A maioria das pessoas, também, acorda com relativo bom humor, um sensível e relativo, mas ainda assim bom humor. Draco descobriu que nenhuma dessas afirmações poderia ser atribuída a Kimiko.
Kimiko pulou sobre a cama, colocando-se de pé em menos de dois segundos, e olhou para Draco e Voldemort com um olhar confuso e raivoso. Sua varinha girava entre os dedos de sua mão esquerda como se a garota se controlasse para não lançar nenhum feitiço Imperdoável contra um dos dois bruxos. Ou talvez contra os dois.
- Tem – ela grunhiu, olhando como uma leoa furiosa para os dois bruxos. – Algo errado. Eu não consigo encontrar o Potter.
- Bem, nem todos conseguem a perfeição em Necromancia – disse Draco, dando de ombros. O olhar que Kimiko lançou a ele quase fez com que ele se arrependesse de ter aberto a boca. Quase.
- Cale a boca, loirinho – guspiu ela, e virou-se para Voldemort. – Ele está morto, de fato. O que é bastante estranho, de fato. Porque eu deveria estar morta, de fato. Mas, de fato, eu não estou morta.
- De fato, você é bastante repetitiva – disse Draco, dando de ombros. Ele se virou para Voldemort, que agora parecia não prestar muita atenção a Draco ou a Kimiko. Parecia concentrado, pensando em algo. Então, Voldemort olhou para Kimiko por algum tempo, fazendo movimentos positivos com a cabeça.
- Poder – disse Voldemort, por fim. Kimiko e Draco arquearam suas sobrancelhas na direção de Voldemort, que parecia estar tendo alguma crise de insanidade e não estava falando coisa com coisa. – Kimiko, talvez você tenha atingido um nível de poder suficiente para existir sozinha. Talvez você não precise mais de Harry.
- Mas... e como eu posso ser uma Degê sem uma fonte? – perguntou Kimiko, olhando para as próprias mãos numa expressão de terror.
- Degê? – Draco falou mais alto do que pretendia e isso lhe rendeu olhares distraídos de Kimiko e Voldemort.
- Dream Gazer – disse Voldemort, dando de ombros. – Seu pai não lhe ensinou nada sobre Dream Gazers?
- Acredito que não, mestre – murmurou Draco, não se lembrando de jamais ter escutado tal expressão. Talvez Lúcio tivesse comentado algo com ele, mas Draco não parecia disposto a aceitar a alternativa de que ele havia esquecido de algo que seu pai lhe ensinara.
- Ignorante – grunhiu Kimiko, cruzando os braços e olhando com desprezo para Draco.
- É vergonhoso você não conhecer nada sobre Degês, Draco... mas eu não estou com paciência para lhe punir com um Cruciatus. Mas que isso não se repita – disse Voldemort, a voz baixa. Draco assentiu com a cabeça, não compreendendo ao certo porque saber o que eram esses Degês era tão importante. – Na noite em que eu planejava assassinar Potter pela primeira vez – Draco quase sorriu no modo que Voldemort jamais falava sobre a sua Queda, mas não era tolo o suficiente para que deixasse que Voldemort percebesse isso. – Ocorreu uma certa explosão de poder e, como você já deve saber, parte de meu poder passou para o garoto.
- Claro – assentiu Draco, olhando para Kimiko e para Voldemort alternadamente. – E?
- Bem, o fato é que Harry Potter também perdeu parte de seus poderes naquela noite. Mas, ao invés de esses poderes virem para mim, eles foram parar em Kimiko – disse Voldemort, apontando com a cabeça na direção de Kimiko.
- Meus pais haviam resolvido convocar poderes para a filha que pretendiam gerar e, bem... eles conseguiram, de alguma forma, capturar os poderes de Harry Potter para mim – Kimiko interrompeu, ainda de pé sobre a cama.
- Isso – assentiu Voldemort. Se isso era possível, Draco parecia ainda mais confuso.
- E... ? – sequer conseguiu murmurar alguma pergunta inteligível, já que havia coisas demais que ele não entendeu que fazer apenas uma pergunta não era possível.
- Harry Potter era a arma que Lílian e Tiago Potter planejavam preparar contra mim – disse ele, dando de ombros. – Ou contra qualquer outro ser "maligno" que pudesse atrapalhar suas vidas como "bonzinhos" – acrescentou, a voz carregada em sarcasmo. – Pois Harry seria um Dream Gazer feito sob encomenda. E, sendo treinado adequadamente por Tiago Potter, que carregava a tradição dos Dream Gazers em sua família, Harry Potter poderia se tornar um adversário quase invencível. Por isso, eu pretendia liquidar-los, ele e o gerador da família, Tiago Potter, para evitar desvantagens desnecessárias. E no fim quem salvou Harry e o mundo mágico de mim por quase treze anos foi aquela Sangue Ruim, a mãe dele – continuou ele, dando uma ênfase quase exagerada ao termo 'Sangue Ruim'.
- Mas o que seria um Dream Gazer? E, se um desses é tão poderoso, porque eles não prepararam um exército de Dream Gazers em várias famílias para que você não pudesse acabar com todos eles? – perguntou Draco, arqueando ainda mais suas pálidas sobrancelhas. Ele tinha a desagradável sensação de que, se erguesse suas sobrancelhas mais um pouco, elas encostariam em seus cabelos.
- Um Dream Gazer é alguém que pode atravessar os sonhos alheios e, se bem treinado, pode mudar muita coisa no inconsciente dos outros – disse Voldemort, sentando-se na cama como se de repente se sentisse muito cansado. – Se ele crescesse aprendendo a treinar seu dom, Potter logo poderia entrar nos sonhos de todos os Comensais da Morte. Seria o caos. Ele poderia encontrar todas as informações sobre nossos planos secretos nas mentes dos Comensais, assim como implantar falsos desejos, emoções, sonhos e lembranças em meus homens. Eu estaria acabado. E eles não poderiam criar muitos Dream Gazers porque... isso não é tão simples. É necessário ter sangue Dream Gazer, como os Potter possuíam, além da ajuda da sorte ou, no caso de Harry, várias poções e encantamentos.
- Possuíam? – perguntou Draco, começando a entender alguma coisa, mas não muito.
- Bem, Tiago está morto e Harry também, então não existe mais sangue Dream Gazer nos Potter simplesmente porque não existem mais Potter – disse, e fez uma pausa. Kimiko sentou-se ao lado dele, olhando-o com um olhar... preocupado?
Isso era algo definitivamente novo para Draco... um olhar preocupado dirigido para o Lorde das Trevas? Aquele que costumava receber tantos olhares amedrontados, terrificados... agora inspirava quase.... pena de uma garotinha de dezoito anos. Onde aquele ser que costumava inspirar livros sobre mentes malignas havia ido parar? Nesse preciso momento, Voldemort parecia terrivelmente cansado... frustrado, até. Seria a raiva por não ter sido ele a ter dado um fim à vida miserável de Harry Potter?
- Deixe-me ver se eu entendi: você queria assassinar os Potter por causa desse tal poder Dream Gazer, mas o poder passou para Kimiko por algum ritual abstrato – começou Draco e, apesar do olhar assassino que Kimiko lhe dirigiu, ele continuou. – Bem... então porque você não planejou matar Kimiko também? – agora Draco definitivamente estaria morto e enterrado debaixo de sete palmos de terra em tempo recorde se o olhar de Kimiko pudesse matar. Não que ela não tivesse vontade de faze-lo, claro. – Aliás, como que você encontrou a Kimiko?
- Eu não tenciono acabar com Kimiko porque ela está do meu lado, seu garoto tolo, e eu não costumo dizimar meus aliados. Especialmente os mais fiéis e poderosos – grunhiu Voldemort, não se preocupando em afastar a mão que Kimiko agora pousara em seu ombro.
- Certo... – murmurou Draco, pouco convencido. – E o que você pretende fazer agora que o Garoto que Mais Atrapalhou a Sua Vida não está mais aí para lhe incomodar?
- Investigar – o olhar de Voldemort elevou-se da direção de Draco, que sentiu um frio percorrer sua espinha por causa dos olhos flamejantes em fúria de Voldemort. – Eu só estou lhe contando isso, garoto, porque você tem se revelado extremamente eficiente... na medida do possível, claro – apesar de Draco não entender o que ele queria dizer com isso, resolveu que aquele não seria um bom momento para fazer perguntas. – Por isso, eu quero que você vá até esse local onde Potter foi encontrado morto. Procure por pistas sobre quem teria feito o serviço sujo.
- Mas para que isso seria importante... ? – Draco arqueou novamente as sobrancelhas. Agora que o maldito garoto estava morto, por que eles deveriam se preocupar com quem fizera esse favor a eles?
- Quem quer que seja, eu preciso dar a esse alguém um recado... – começou Voldemort, levantando-se com mais forças do que antes. – De que não se deve roubar a presa dos outros. E eu pretendo demonstrar isso de maneira bastante dolorosa.
- Se você assim deseja – disse Draco, e fez nova reverência. – Eu posso partir imediatamente, mas antes, eu gostaria de fazer uma última pergunta...
- Pergunte logo! – guspiu Kimiko. Bem, pensou Draco, pelo menos ela é firme... teria dado uma boa Sonserina caso tivesse freqüentado Hogwarts...
- Como você está usando esses poderes Dream Gazer, Kimiko? – perguntou Draco num tom mais agudo do que gostaria. De certa forma, não sabia se gostaria da resposta. – Isso tem alguma relação com os tais oráculos de Potter? Com o sonho da traição... ?
- Você não é tão burro quanto parece – disse Kimiko, assentindo com a cabeça. – Durante quase dois anos, eu venho sendo um meio de conexão entre Voldemort e Harry... durante um ano inteiro, eu acabava mostrando para Harry tudo o que Voldemort planejava... foi assim que ele descobriu muitos planos importantes no ano passado...
- E por que você faria isso? – perguntou Draco, duvidando da tal 'fidelidade' de Kimiko após tal afirmação.
- Eu não sabia. Somente no ano passado eu encontrei Voldemort, com quem eu tanto sonhei durante esses dezoito anos... após nós conseguirmos descobrir tudo isso, eu comecei a manipular melhor os sonhos... por algum motivo, eu só consigo me conectar com Voldemort ou com Harry, por isso nós resolvemos passar a dar falsas seguranças para Harry através de seus sonhos... – disse Kimiko, desviando-se de Voldemort e Draco.
- Brilhante plano... com ele descobrindo tantos planos nossos, sua sensação de segurança não será falsa – disse Draco com sarcasmo.
- Eu estava mostrando apenas planos sem importância... eram sacrifícios necessários para o nosso plano... – disse Kimiko, olhando para Voldemort em busca de apoio, mas este apenas olhava para Kimiko e para Draco. – Estava tudo indo muito bem... foi necessário quase um ano para que eu pudesse criar o pesadelo perfeito, onde aquela garota de cabelo esquisito trairia a Ordem. As coisas estavam indo bem... ele logo começaria a não confiar em mais ninguém... e aí você entrava, para dar ainda mais certeza de que havia um traidor. Outra parte complicada foi fazer alguém entrar na casa... não foi nada fácil conseguir que Harry desse uma permissão inconsciente para que nossa Comensal pudesse dar o seu recado – ela quase sorriu. Certamente, sentia-se orgulhosa de si mesma por ter conseguido fazer algo tão difícil. – Daria tudo certo, se Potter não tivesse morrido antes do tempo. Mais um pouco e toda a Ordem teria caído junto com ele... por causa dele.
- Será que agora você consegue compreender porque eu quero me vingar de quem pode ter interferido em meus planos antes do tempo? – disse Voldemort, finalmente falando. – Não é apenas pessoal... claro que eu gostaria de ter esmagado Potter com as minhas próprias mãos, mas há muito mais em jogo. Nós perdemos uma chance de ouro de acabar com toda a maldita Ordem da Fênix!
- Claro – assentiu Draco. – Bem, então eu estou indo...
- Já vai tarde – grunhiu Kimiko, mas alto o bastante para que Draco a escutasse. Este se virou novamente para ela.
- Antipática – grunhiu ele.
- Cobra – respondeu ela, e tanto Voldemort quanto Draco arquearam as sobrancelhas.
- Obrigado – disse ele, assentindo com a cabeça. E Desaparatou.
Draco conhecia bem o lugar... ficava a apenas alguns metros de Hogsmeade, e era um pequeno monte de grama, além de uma grande árvore. A alguns metros dali, uma caverna, não muito grande. Sirius Black se escondeu ali durante algum tempo enquanto fugia dos Dementadores, mas Draco não tinha como saber disso. Ele apenas caminhou até a caverna e entrou na mesma, agradecendo que a luz do dia ainda o ajudasse a enxergar o lado de dentro. Mas não havia nada ali... nenhum vestígio de feitiços, as paredes se encontravam intactas... Draco tentou alguns feitiços em busca de uma passagem secreta, algum feitiço utilizado... em vão.
Saiu novamente dali, olhando em volta sem saber ao certo o que procurar. Não havia absolutamente nada ali. Mas... por que haveria? Alguém esperto o bastante para assassinar Harry Potter não seria tolo o suficiente para deixar pistas óbvias. Pensou em caminhar até Hogsmeade e perguntar para os habitantes dali se alguém havia visto algo suspeito, mas se lembrou que a polícia já havia feito isso. Os métodos mais ortodoxos já haviam sido percorridos, e agora restava a Draco encontrar outros.
Caminhou até a árvore e deu alguns passos à frente, sentando-se sobre a sombra da mesma e olhando para o vilarejo tão próximo dali. Suspirou, tentando pensar por onde poderia começar.
- Você não deveria deixar suas costas tão desprotegidas, Malfoy – disse uma voz... uma voz! A voz de...! Não, não poderia ser. Draco virou-se num salto, observando o dono daquela voz pular de cima da árvore e parar bem à sua frente. – Alguém pode lhe golpear por trás.
Pela primeira vez em muitos anos, Draco não fazia a mais absoluta idéia do que dizer. Pela primeira vez em anos, Draco sentiu-se um completo idiota com o queixo caído do jeito que estava. E, pela primeira vez em anos, Draco sentia que talvez visitar o St. Mungo não seria tão má idéia, afinal de contas.
- Potter? – foi tudo o que conseguiu dizer, por falta de comentários sarcásticos ou um feitiço eficiente.
..::To Be Continued... (ou senão eu acho que eu vou ser assassinada por alguém...) ::..
