Nome da Autora: Cindy "Lain-chan"

E-mail: fly2angels@yahoo.com.br

Sinopse: Dois anos após terminarem seus estudos em Hogwarts, o trio formado por Harry, Hermione e Rony faz parte da Ordem da Fênix. A Guerra contra o Lado das Trevas está chegando em seu ponto mais crítico, e um estranho dom que Harry adquiriu, o de premeditar certos atos que os Comensais da Morte iriam fazer, será a peça principal para o cheque-mate de um dos lados. Resta saber se isso será uma vantagem para o Lado de Voldemort ou para o lado de Harry.

Disclaimer: Ok, como diria um conhecido meu, alguém que não saiba sequer o significado de "fanfiction" provavelmente não vai saber me processar por estar fazendo uma inocente fanfic...

Notas da Autora: Yeah! Epílogo no Ar! Aleluia irmãos, acabou! Agora... se você leu até aqui e gostou... deixe uma review, sim? É o meu alimento favorito. ^^ Eu sei que eu não estou explicando direito para onde o Harry foi... talvez eu faça um especial somente para isso, talvez não. O que importa é que ele sumiu – mas, você também sumiria se você tivesse de passar pelo que ele passou.

E Eu Sonhei Com Campos Onde Choviam Gotas Carmesins

Epílogo: Superman's Dead

Yorkshire, 1º de outubro de mil novecentos e noventa e nove.

         Gina,

Por mais que seu irmão diga o contrário, eu sinto saudades de você – assim como dele. Justamente por isso eu pretendo visitá-los assim que possível. Mas, no momento, eu gostaria de ficar um pouco sozinha. Eu acho... que você pode me entender, não é mesmo?

Eu sei, eu sei, já se passou um mês desde o duelo e eu já deveria ter superado – já deveria ter aceitado que nós não precisamos mais combater Voldemort, e que tanto ele quanto Harry desapareceram. Mas eu acredito que apenas um desses dois tenha, de fato, desaparecido para sempre.

Sim, chame-me de louca, mas eu vou aceitar a palavra de um Comensal da Morte – mesma que seja a palavra de Draco Malfoy, e a palavra dele nunca tenha valido nem o ar que ele respira. Mas... vamos encarar os fatos: você realmente acredita que Malfoy, no momento decidindo-se entre a loucura e a insanidade no St. Mungo, está em condições de mentir sobre coisa alguma? Eu o vi, Gina... e eu nunca pensei que fosse dizer isso algum dia, mas eu senti pena do bastardo. Se ele tivesse dito que havia visto elefantes coloridos, eu teria acreditado, Gina. Eu teria acreditado.

Pois ele não pode mais mentir – talvez um dia ele saia do St. Mungo e volte a viver entre nós, e novamente eu não acreditarei num único murmúrio seu. Mas... as pessoas mentem por algum motivo, mesmo que às vezes nem mesmo elas conheçam essas razões. Por medo, por vergonha, por decência. Às vezes sua mentira se torna um hábito, e é tantas vezes repetida que se torna verdade até mesmo para a pessoa que a contou. Mas nunca por motivo algum. E Malfoy não possui mais nada a perder, mais nada a ganhar... nada, Gina, nada. Disseram-me que o cérebro de Malfoy não fora danificado por magia alguma (antes de vê-lo em seu estado deplorável, cheguei a amaldiçoar que seu cérebro não houvesse sido modificado para sempre... oh, Gina, e agora... !), mas que ele vira e sentira algo que fora forte demais para ele. E agora ele está lá, em choque. Sabe-se lá por quanto tempo. Por ter traído seu próprio líder. Ou assim ele diz – mas após vê-lo, ninguém tem muita energia ou vontade de dizer o contrário.

 Eu tenho apenas dezenove anos, mas eu conheço mentiras e traições pelo cheiro – o modo como elas infectam o ambiente, sufocam as pessoas. E eu não senti isso enquanto estava com Malfoy. Se eu senti algo durante todo o tempo em que passei no hospital tentando falar com ele, esse algo foi pena. Sim, ele cometeu erros terríveis, mas quem não os cometeu nessa guerra? Matamos, torturamos – e não importa se dermos o nome de Justiça ao que fizemos: apenas um nome pomposo para assassinato e crueldade. Pois não importa o porquê de termos feito o que fizemos (por um bem maior! Agora que a guerra acabou, me diga, Gina, que bem era esse?) – o que fizemos foi tão errado quanto o que os malditos fizeram, mesmo que por motivos tão diferentes (será? Pois não desejávamos ambos ganharmos a mesma guerra a qualquer custo?).  Não sejamos hipócritas em pregarmos o maquiavelismo; o fim não pode jamais ser a única justificativa para os meios.

Eu acredito que você saiba porquê Malfoy acabou traindo Voldemort, não é mesmo? Harry contou para nós antes de ir para aquela batalha maldita. Ele amedrontou Malfoy a tal ponto que todas as outras emoções e razões de Malfoy desapareceram – talvez Harry não conseguisse o mesmo efeito com qualquer outro Comensal da Morte, principalmente um que estivesse num círculo tão alto quanto Malfoy, mas desde os tempos de escola nós sabemos que Malfoy não passa de um covarde se escondendo dos males do mundo atrás do poder dos outros. E mesmo agora não gosto de pensar que um passo tão importante para o derrota do outro lado tenha sido dado por pura covardia de um inimigo, e não por habilidades nossas – não que eu queira desmerecer o plano de Harry, claro. Ele é brilhante, e eu sabia que algum dia ele teria de aparecer com um plano igualmente brilhante. Eu apenas não previ que esse plano nos custaria tão caro.

Malfoy, mesmo dizendo tudo o que sabe, não é de grande ajuda enquanto tento reconstruir aquela batalha – ele não viu muita coisa, e parte de sua narrativa se interrompe em alucinações suas. Muito para a nossa única testemunha. Oh, Voldemort não foi sozinho ao campo, então como nenhum de nós se atreveu a seguir Harry? Ele ordenou que não, desafiou Dumbledore. Disse que voltaria daquela batalha vitorioso, e se ele sairia vivo ou não pouco importava. Se ele ficasse vivo, que bom... se morresse... dizia ele que iria sem amargor – já teria vivido dezoito anos a mais do que deveria ter vivido. Tolo! É isso o que ele é: um garotinho tolo! E nós fomos tão tolos quanto ele em não o seguirmos. Nem mesmo Dumbledore... ele poderia ter seguido Harry. Mas os anos que passam devem estar trazendo covardia ao velho. Você se lembra de suas palavras? "Se Voldemort conseguir escapar do plano de Harry... então não haverá mais nada que eu possa fazer, estando lá ou não." Belas palavras para um covarde! Palmas para ele! Ele merecia ganhar mais um prêmio por esse belo e lacônico discurso, não é mesmo? Uma nova Ordem de Merlin, quem sabe? Por que ele não disse simplesmente o que Harry pretendia fazer? Minha fúria se acalmou apenas quando Malfoy narrou a tão esperada magia de Harry... oh, e agora eu compreendo porque ele não quis ser seguido. Se algum de nós estivesse lá, provavelmente estaríamos em St. Mungo, companheiros de quarto de Malfoy. Mas, raios, porque foi necessário que um Malfoy explicasse algo na história? Justamente o garoto mais insuportável que já conheci? O garoto que mais odiava Harry? E, quem sabe, o único que realmente o conhecia? Pois após tudo isso não seria o medo o sentimento mais natural a ser usado em relação a Harry, e não qualquer outro? Oh, agora são tolices que falo, eu sei – nós todos amamos Harry, e não há nada que possa ser feito a respeito.

Oh, semana passada eles ergueram aquela patética estátua para Harry. Como ousam? Ele não está morto! Homenagens deste tipo não deveriam ser permitidas até que o homenageado estivesse decididamente morto! E as patéticas palavras do ministro... oh, desculpe-me Gina, jamais tencionaria ofender seu pai, mas certas coisas não podem ser caladas. O que ele pretendia com linhas como "Um grande herói, que a qualquer momento teria morrido pelo bem dos que amava" e "Um guerreiro da luz, levando embora as trevas que não devem mais voltar"? Não questiono sua veracidade – como poderia? – mas ele se esqueceu do principal! Que Harry é mais do que um guerreiro ou um herói – uma arma contra Voldemort – não! Ele é muito mais do que isso! Como pôde não ter mencionado que Harry é, antes de tudo, humano? Se ele fez o que fez, foi por sua própria teimosia, por sua pura obstinação, seu próprio brilhantismo – características tão próprias ao nosso mais caro... amigo. O herói teve pouca relação com aquela batalha – se Harry pretendia salvar alguém com aquilo tudo, era a ele próprio. Pois ele não agüentava mais a sua própria decepção com o restante do mundo.

Às vezes eu ainda vou até St. Mungo visitar Malfoy novamente... agora ele já se acostumou comigo. Não, desde que me vira ali pela primeira vez no hospital, ele não foi tão hostil quanto teria sido em outros tempos – provavelmente outra conseqüência do choque. Mas ele era arredio – precisei dizer que o Ministério da Magia não o mandaria para Azkaban por sua ajuda para derrotar Voldemort, e que por isso ele estaria livre assim que saísse do St. Mungo (o que, segundo os homens do St.Mungo, provavelmente vai demorar bastante – mas eu não tive coragem de contar isso para ele... sim, uma Grifinória com eu, e me falta coragem. Seria patético, não fosse trágico) para que ele se acalmasse e se dispusesse a contar sua história.

Você conhece a versão oficial – fornecida pelo próprio Malfoy. Mas você não conhece a história inteira – tampouco eu a conheço, mas sei um pouco mais do que o restante das pessoas. Por vezes, Draco parece não ligar que eu esteja ali – o mesmo ar esnobe, que nem mesmo o choque conseguiu retirar. Mas, às vezes, ele segura a minha mão num silencioso pedido de socorro, e volta a murmurar "E ele partiu... através do maldito arco-íris. Oh, o maldito arco-íris!" como um louco. O que é o caso, obviamente.

Ele contou sua história, e o Ministério não quis aceita-la – como poderiam acreditar nas palavras de um louco? – e foi necessário que eu e Dumbledore (finalmente o velho volta a ajudar em algo!) testemunhemos como – pasmem! – crentes na história de Malfoy. Sim, eles acreditariam na história se alguém como Dumbledore dissesse acreditar na mesma. É tão irônico!

Sim, era a história de um louco – e, ainda assim, a verdade. Pois os loucos são loucos justamente pelo fato de se negarem a mentir. Eles vêem o mundo como ele o é, e não há nada além disso. E o que Malfoy viu foi um Harry que apareceu no meio do nada, e lutou com Voldemort com uma ferocidade que ele jamais poderia imaginar. Ele viu quando Voldemort virou-se para mata-lo – sim, pois sua traição acabara sendo descoberta – e Harry lançou um feitiço na direção de Voldemort bem a tempo de impedi-lo. E Malfoy viu quando luzes esmeralda saíram das varinhas de ambos os bruxos e algo explodiu, e o velho carvalho virou pó à grama queimada, e Kimiko partiu-se em um milhão de partículas sem razão alguma. E ele se lembra da chuva.

E sempre que Malfoy chega à parte em que Harry lança seu feitiço final, ele fecha os olhos e treme – a mera lembrança faz com que seu corpo inteiro entre em colapso. Sem lembrar-se do que estava sendo dito ao campo de batalha, Malfoy apenas se lembra de cair ao chão quando uma luz negra – que ele jura jamais ter imaginado existir... como poderia existir uma luz negra? Se a negritude é a oposição à luz! Como alguém poderia simplesmente criar um paradoxo como esse? – lança-se em direção a Voldemort. Mas a luz se dissipa ao ar e Malfoy jura não enxergar mais nada quando a escuridão se espalha pelo campo e ele sente a pior dor que jamais sentiu – e ele sempre me diz que já enfrentara a Cruciatus ao menos meia dúzia de vezes – e ele rola pelo chão. Não é como estar próximo a Dementadores, ele diz – não é como ter toda a sua alegria drenada de si, mas como ter todo tipo de sentimento levado para longe; sem tristeza, sem raiva, sem amor... é mais próximo a ser beijado por um Dementador, ter sua alma devolvida, e ter o restante da vida para se lembrar daquela sensação.

E ele se lembra que quando ele voltou a si, havia parado de chover. Novamente, ele murmura "E havia o maldito arco-íris!" e eu tenho de lembra-lo que após a chuva é normal que o arco-íris surja, e ele retruca, dizendo que eu simplesmente não entendo, que eu simplesmente não posso entender. E então eu deixo que ele continue.

Mas não há muito mais para se dizer... antes que Draco desmaie em conseqüência daquela magia negra, Harry se aproxima dele, enquanto Malfoy tem tempo para perceber que Voldemort não está em lugar algum, e diz, bem próximo de seu ouvido para que ele escute com clareza "Avise que Voldemort se foi. E que não vai mais voltar." e o maldito Potter ri (conservo aqui as mesmas palavras usadas por Malfoy) e acrescenta "Espalhe as boas novas".  Enquanto Malfoy está ao chão, ele ainda enxerga Harry indo embora através do arco-íris que surgia ao horizonte antes de desmaiar. E quando ele volta a si, está amarrado em uma cama no St. Mungo. O restante é irrelevante, ao menos por hora.

Você provavelmente já escutou boa parte dessa história, seja de seu pai ou pelo Profeta Diário. Mas... não é o mesmo que escutar tudo isso pelas palavras do próprio Draco – sentir a insanidade de Malfoy enquanto ele cita frases desconexas durante sua narração. Dá um toque surreal à toda essa loucura que imagem ou palavra alguma podem exprimir.

Eu estou passando alguns dias em Yorkshire, na casa de uma tia trouxa. Ela não faz idéia que as diversas atrocidades que ocorreram nesses últimos anos, em boa parte, são por culpa dessa guerra – mas, de alguma maneira, ela parece mais tranqüila agora, embora eu jamais possa dizer porquê. Meus pais sabem alguma coisa, pois Dumbledore teve de esconde-los ou os Comensais poderiam ataca-los, mas mesmo eles não sabem de tudo o que aconteceu. Apenas estão mais felizes agora que qualquer um pode enxergar onde eles moram – sim, nós conseguimos desmanchar o Fidelius. O mundo trouxa parece subitamente tão morbidamente tranqüilo que eu sinto medo de tudo isso.

Eu sei, Gina, que eu sou bem-vinda n'A Toca, mas... dê-me algum tempo. Alguns dias mais! Eu não estou disposta a encarar Rony agora... oh, Gina, eu mal consigo escrever isso nessa carta! Eu precisei terminar com ele de maneira tão abrupta e mal expliquei o motivo e... quer saber? Azar o dele. Acabei de me lembrar dele me acusando de traidora, o primeiro a apontar para mim! Não, eu não vou explicar o motivo de nosso término... ele não merece saber. Eu o adoro, mas não poderia passar disso, não é mesmo? Uma relação de amor não poderia ser construída em tamanha desconfiança. E somos amigos desde os onze anos! Como ele pôde... ? É certo que sentiu medo, é certo que temeu que seu segredo tivesse sido descoberto... mas nada disso justifica ele ter desconfiado de sua melhor amiga – sua namorada! Dane-se que ele é um ilusionista – ilusão alguma pode apagar o que ele fez.

Sim, descarrego toda a minha raiva nele, e não em Harry. Porque enquanto seu irmão me acusava e estava pronto a me matar por um sonho, Harry se dividia entre sua visão e sua amiga. Ele tentou procurar por respostas. Eu via essa incerteza em seu olhar... ele sabia que nenhuma visão sua já havia errado, mas ele também enxergou a sua melhor amiga. E agora ele foi embora, sabe-se lá para onde. Oh, raios.

Todos nós sonhamos com o dia em que tudo isso iria acabar. Você e Cho imaginavam um conto-de-fadas com um final feliz. Rony tentava não pensar nisso. Snape dizia que haveria sangue. Harry dizia que, contanto que Voldemort estivesse destruído, já estaria de bom tamanho. E eu... eu nunca pensei que fosse eu a chegar tão próxima da verdade. E eu... E eu sonhei com campos onde choviam gotas carmesins.

E assim choveu.

O sangue de Kimiko, a alma de Draco, a bestialidade de Voldemort, as minhas saudades. Tudo são gotas carmesins nesta batalha em que todos sangramos.

E para sempre sangraremos.

         Com carinho,

                                                                                                 Hermione.

         p.s.: Desculpe-me por alguns borrões e pelo papel manchado – são apenas as minhas lágrimas secas.