Alguns dias se passaram desde o dia que Gina leu a carta. Ela não encontrou Malfoy em nenhum lugar, nem ao menos nas refeições, pois, como Kally lhe explicou, Malfoy fazia suas refeições na sala de jantar, perto da de visitas. E Gina comia na cozinha, na companhia dos elfos.
Mas ela pouco se irritava com isso. Achava agradável comer junto com os dois elfos, que nunca paravam de enchê-la de comida e mimos. E também porque o ruído das panelas, o arrumar dos pratos, tudo isso a lembrava de sua mãe e a fazia matar um pouco a saudade que tinha de casa.
O restante do tempo ela passava no jardim, admirando as flores e plantas, e às vezes, dando uma olhadela na rosa negra. Aprendera o caminho da cozinha para seu quarto e só. Gina morria de vontade de explorar o castelo, mas não estava muito animada a se deparar com Draco, como aconteceu no dia em que ela descobriu uma passagem debaixo do tapete. Claro, ela tinha muitas perguntas para fazer a ele em relação à carta de sua mãe, mas resolveu esperar mais algum tempo, não sabia porque.
Apesar de não ter pedido permissão a Malfoy, Gina conseguiu alguns pergaminhos e tinta e usou uma coruja que havia atrás da casa, num pequeno corujal. Ela havia mandado cartas para seus pais e para Harry, explicando melhor por que estava ali e pedindo pra que eles não viessem tentar resgatá-la, pois era impossível e só ia criar mais aborrecimentos.
Até que numa manhã, Gina resolveu falar com Malfoy. Estava entediada de continuar ali, sem fazer nada, sem poder ao menos conversar com alguém a não ser elfos. Queria voltar a seu trabalho com o Sr. Richards, andar livremente pela casa sem ter quadros lhe observando, ajudar nos preparativos do casamento de Rony e Mione, e queria muito ficar esperando Harry no jardim ao anoitecer. E para fazer tudo isso era necessário sair dali. Mas primeiramente, falar com Malfoy, o que ela vinha evitando.
Draco havia acabado de tomar café da manhã e começava a mexer em alguns papéis em seu escritório. Ele deveria despachar mais tarde todos eles por coruja, já que não saia paras reuniões.
Notara que Gina não estava mais andando pela casa e ficava contente por não ter que ver sempre aqueles cabelos tão vermelhos! Parecia que eles davam a Draco alguma repulsa, mas ao mesmo tempo ele sabia que não conseguia desgrudar os olhos deles, de tão fascinantes. Mas ignorava isso.
Dois dias atrás, numa manhã mais fria do que as outras, Draco trabalhava entediado no mesmo escritório, até que resolvera tentar se distrair um pouco olhando a janela e dera de cara com Gina. Ela colhia algumas folhas coloridas do chão, perto de uma árvore, e parecia distraída nessa ação. Draco observou enquanto ela olhava contra o sol uma pequena folha amarelada e depois a guardava no bolso, assim como às vezes, as jogava de volta no chão.
Ele continuou a olhá-la nessa procura até que ela voltou para casa pelo caminho da cozinha. Não parecia algo mais animador do que os papéis que lia a pouco, mas Draco achou interessante a caça dela por folhas, o modo delicado como ela as pegava e colocava contra o sol, o jeito como ajeitava os cabelos quando eles iam pra frente, ou até o modo como ela puxava o casaco pra baixo. Ele se perdeu tanto nisso, que assim que viu que ela não voltaria mais, saiu da casa, indo até o jardim e começou a pegar também as folhas coloridas, mas não as guardando no bolso, apenas para matar a curiosidade, querendo ver o que Weasley achara de tão interessante nelas.
Era nisso que Draco pensava quando uma leve batida veio de sua porta, e logo a cabeça de Kally já estava sendo vista.
-Meu senhor, - ela começou – a senhorita Weasley pergunta se pode entrar.
Draco fez uma cara de mau agrado. Não queria fica vendo Weasley tentando evitar seu rosto pra que não sentisse nojo de sua cicatriz, ou então, que ela ficasse argumentando um modo dela sair dali. Mas mesmo assim a chamou para entrar.
-Que entre. – ele apenas disse, sua voz parecendo mais arrastada do que nunca.
Gina foi timidamente em direção à mesa de Draco. Ficou em pé esperando que ele lhe cumprimentasse ou lhe oferecesse a cadeira para sentar, mas o louro parecia não fazer questão dos bons costumes, então ela se sentou assim mesmo, sem que ele tivesse falado.
-Malfoy... – ela começou.
-Soube que você mandou algumas corujas, Weasley.
"Maldito seja! Ele nunca me deixa falar..."
-Mandei para minha família. Desculpe-me não ter avisado, mas eu pensei não ter nenhum problema, já que havia pergaminhos e tinta no quarto, e Kally disse que tudo que estivesse lá poderia ser usado por mim, inclusive as roupas.
-Eu não me preocuparia tanto em manter contato com sua família, Weasley. Talvez você possa não sair viva daqui...
Gina levou a mão à boca.
-O que você quer dizer com isso?
-Que talvez o que minha mãe escreveu possa significar isso, que você vai morrer.
Ela poderia não saber as palavras exatas da carta, mas Gina tinha certeza que em nenhum momento ela previra morte, muito menos a dela.
-Não blefe, Malfoy. A carta não dizia nada disso, eu me lembro. Se você está querendo me assustar vai precisar de muito mais.
-Não estou querendo lhe assustar. Estou dizendo que não sei quanto tempo eu poderei te agüentar andando e fuçando pela minha casa. – Draco fez uma pausa – Afinal, pra que você veio aqui?
-Simplesmente porque alguns não cumprem seus compromissos com o Ministério. Então é preciso que eu vá na casa dessas pessoas e as coloque na linha. Você é chamado há muito tempo pra reuniões e nunca comparece em nenhuma. O que quer com isso, Malfoy?
Naquela hora, Gina já nem mais queria saber se estava gritando com o dono da casa onde ela estava. Ela só queria dar um basta na arrogância insuportável do homem a sua frente.
Malfoy se levantou de sua cadeira, as mãos apoiadas na mesa, o rosto pálido como sempre, mas os olhos brilhando mais do que nunca.
-O que eu quero, Weasley?! Só quero manter afastadas pessoas como você! Que só por me verem com este rosto deformado sentem desprezo, repugnância. Nunca quis afeto das pessoas, mas receber pena agora é humilhante.
Ele se sentou arrependido. Não sabia porque falou aquilo pra Gina. Isto era mostrar um lado seu fraco, era revelar que ele tinha medo, e Malfoy nenhum gostava de admitir suas fraquezas. E quando Gina começou a falar suavemente, ele a odiou mais ainda, pois preferia que ela gritasse mil vezes ao invés de ter dó dele.
-Me dê a carta. Quem sabe lendo-a novamente não podemos tirar alguma coisa positiva dela.
Draco abriu uma gaveta ao seu lado, pegando o pergaminho já conhecido e estendeu a Gina. Ela o abriu e começou a relê-lo. Quando terminou pediu a Draco outro pergaminho e um pouco de tinta pra que pudesse copiá-la e tentar entendê-la mais tarde.
-Não vai adiantar muita coisa. – ele disse enquanto lhe estendia o papel em branco – Está escrito que novas coisas serão ditas, então só nos resta esperar.
-Bom, aqui diz que quando – ela hesitou um pouco – eu chegasse novas coisas iam ser explicadas, mas faz uma semana e meia que eu estou aqui e nada de novas explicações. Devemos então trabalhar com o que temos.
-Essa frase é de seu pai? "Oh, filhos não temos comida hoje, mas eu trouxe um pouco de bolinhos velhos do Ministério. Temos que nos contentar com o que temos!". - ele falou.
-Malfoy, nós nunca passamos fome em casa, nunca.
-Não? Ah, você quis dizer sua mãe nunca passa fome, pois do jeito que ela é gorda e o resto da família magro, deve ser a única que come lá.
Gina ficou com tanta raiva de Malfoy ofendendo sua família que se levantou rapidamente, jogando a pena na mesa, que acabou derrubando o vidro de tinta. Assim, enquanto ela o encarava, vermelha de raiva, e ele nada fazia, a tinta ia se espalhando pelos papéis perto de Gina, inclusive a carta. E quando ela pôs a mão na mesa e sentiu algo molhado, levou um susto.
-Por Merlin! – ela gritou, enquanto tirava a carta da mesa, toda borrada.
Draco, tomando-a da mão dela, pegou sua varinha e tentou fazer algum feitiço pra que o papel limpasse, mas nada parecia funcionar.
-Olhe o que você fez! – ele gritou mostrando o papel.
Gina tinha acabado de limpar o canto da mesa e olhou de Malfoy para a carta, que estava toda manchada e impossível de se ler.
-Eu... Eu não tive intenção... Desculpe-me. – disse abaixando a cabeça.
Draco jogou a carta na mesa.
-Além de ter que agüentar você andando por aí, fazendo amizade com meus empregados, pegando as flores do jardim, comendo, dormindo, ou seja, morando na minha casa, eu ainda tenho que suportar suas trapalhadas, Weasley? Será que você não cresceu ainda? Será que é a mesma idiota que Tom Riddle enganou?
-Eu...
-Você o quê?! – Draco parou para tomar ar. O silencio que fazia ali dava calafrios em Gina – Não entende que essa era a única coisa que eu tinha pra tentar reverter essa maldita cicatriz? A única coisa que minha mãe deixou que não foi tocada pelas mãos sujas do meu pai? Você não sabe de NADA, Weasley!
-Malfoy, eu não...
Draco não estava preocupado se Gina estava tentando se desculpar, ou se ela simplesmente queria xingá-lo. Naquele momento ele só queria machucá-la, e muito.
-Criada na sua família de aparência feliz. O que você sabe sobre sofrer? Vive em seu mundinho perfeito, com sua família nojenta e seu namorado idiota. Por acaso você é feliz? Não! Sabe por que eu sei? Porque está escrito na carta, nós temos um futuro juntos, você entende isso? Você só será completamente feliz junto comigo. Mas eu não vou deixar você ser feliz, vou destruir cada momento alegre que você tiver, assim como você destruiu a única coisa que importava pra mim.
-Malfoy – ela ainda tentou – você não sabe nada sobre...
-Não sei e não me interesso. Você vive de aparências, eu sei. Eu também vivo assim e quer você goste ou não, tudo ao seu redor é uma farsa.
-Não! – ela gritou – Eu amo meus pais e Harry, isso não é mentira, Malfoy, não tente jogar a sua vida na minha, não as compare.
-Por que essas lágrimas? Para tentar esconder a verdade? Oh, você ama seus pais e Potter. Claro, eu sei que você deve amar seus pais, mas Potter? Ah, como pude me esquecer, você nutre uma paixão por ele desde sua infância, não é?! Mas será que ele ama você? Será que se amasse realmente não viria até aqui e passaria por mil feitiços? Se vocês dois realmente se amassem estaria predestinado o que estava na carta e que você destruiu?
-Eu não quero o que está nessa maldita carta, Malfoy! Eu não suporto você, nem sua casa! Preferiria morrer antes de ter que passar minha vida ao seu lado. Prefiro uma vida sem amor ao lado do Harry, do que uma vida de amor ao seu lado.
-Então suma daqui, Weasley! – ele se sentou calmamente na cadeira, como se nada daquilo o tivesse abalado – Se você puder.
Gina correu para fora, ainda chorando.
Assim que ela saiu, Draco se sentiu exausto. Era fácil insultar as pessoas, deixá-las com raiva, fazê-las perder a calma. Mas toda vez que fazia isso com Gina Draco se sentia cansado, melhor dizendo atormentado. Era como se uma parte da tristeza que ela sentia no momento fosse passada pra ele. Como se eles tivessem as mesmas emoções...
Gina correu. Ela não olhava pra onde ia, nem ao menos sabia onde pararia. Só viu que estava em frente a uma porta e a abriu, ficando aliviada ao ver que era a porta da frente que dava ao jardim. Desceu as escadas e correu até o portão. Viu que eles estavam fechados e agradeceu por isso, porque ela precisava fazer algo.
Assim que chegou perto das grades começou a chutá-las batendo também suas mãos. Lágrimas caiam de seus olhos e agora ela não sabia mais se era por causa da raiva e angústia que sentia, ou se era porque as grades machucavam seus braços.
Até que se cansou e sentou pesadamente no chão, as mãos entre as grades, como se pedisse socorro a alguém de fora.
Pensava sobre o que Malfoy falara, pois suas palavras ecoavam em sua cabeça. Ela não admitia ter uma vida de mentiras, amava tudo o que tinha ao seu redor, gostava demais de sua vida pra que pudesse achar que tudo que tinha eram aparências. Mas e se Malfoy estivesse certo, e se a família dela não fosse perfeita como ela sempre pensou ser e, se seu romance com Harry não fosse verdadeiro?
Só lhe restaria uma opção se tudo ao seu redor desmoronasse: aceitar o que a carta dizia. Mas de nenhuma maneira entrava na cabeça de Gina que algum dia ela poderia ter algum sentimento por Draco que não fosse de raiva e ódio. Ele não deixava.
Mas como se um pedido que ela nem sabia que desejava fosse concedido, uma mão apertou a sua. Gina olhou assustada pra fora do portão e nunca se sentiu mais aliviada na vida.
-Harry...
"N/A: Quem odeia o Sr.Corno (como diz a Carol...rs!) não deve ter gostado muito do final desse capítulo, né?! Mas logo, logo, eu dou jeito nas coisas... então não se desesperem, aguardem o final da fic pra isso. =)"
"N/A2:OBRIGADA pelas reviews de sempre! Eu estou tentando respondê-las, ah, estou...".
