"... Ela ainda não o vira sorrir decentemente antes e foi apanhada desprevenida por sua doçura, pela maneira como esse sorriso alterava todo seu rosto...".
- Sob o signo de Gêmeos - Rosamunde Pilcher
Gina correu para o escritório enquanto deixou o elfo pegando água. Sua cabeça estava por demais ocupada pra poder pensar que Malfoy não iria gostar nada dela mexendo em seu escritório.
Ela foi diretamente a uma estante ao lado da mesa onde sempre via Draco sentado e começou a olhar os livros. Logo achou de o poções e já ia sair correndo novamente quando algo na mesa lhe chamou a atenção.
A carta! A mesma carta, que há algumas horas, Gina tinha deixado toda manchada e ilegível, agora parecia estar limpa e totalmente legível. Ela posou os olhos por alguns segundos, vendo que não eram as mesmas palavras escritas e uma curiosidade a invadiu. Mas não quis interromper o que estava fazendo e deixou a sala, sabendo que a carta continuaria ali pra que ela pudesse lê-la mais tarde.
Com o livro nas mãos, que por sinal não era nada pequeno, dirigiu-se para sala de visitas. Quando chegou, hesitou alguns instantes até que colocou o livro no chão e puxou o tapete para o lado. Como ela esperava a porta de aparência pesada ainda permanecia por lá, trancada e talvez com alguns mistérios escondidos. Gina pegou sua varinha e desta vez, sem ninguém pra interrompê-la, falou:
-Allorromora!
Com um pequeno estalo a porta se destrancou e abriu-se lentamente e Gina viu alguns degraus adentrando a escuridão.
-Lumus - ela disse antes de entrar com passadas hesitantes na escuridão do lugar.
Foi descendo a escada, olhando para todos os lados como se algo terrível pudesse sair de algum lugar e atacá-la. Até que os degraus acabaram e Gina se deparou com três portas e um corredor, que a luz não pode dizer onde terminava.
Com medo de se perder no corredor, resolveu tentar primeiro as portas, por mais que corresse o risco de achar algum ser sinistro dentro delas. Foi até a porta do meio, as mãos tremendo um pouco, talvez pelo frio do aposento ou pelo medo mesmo.
Mas ao abrir a porta e conseguir enxergar os objetos a sua volta, Gina respirou aliviada ao ver que aquele era o laboratório que ela tanto procurava. Acendeu algumas velas que achou por ali e começou a folhear o livro que trouxera.
Ela não sabia exatamente que poção usar, afinal, nunca fora tão boa nessa matéria e, não era nenhuma médica especializada nisso. Depois de pensar um pouco optou pela poção de desinfecção e de cicatrização, assim Malfoy ficaria bom logo, e como Gina conhecia um feitiço fácil para não deixar marcas, ele não teria nenhuma cicatriz na perna, e isso era uma glória pra quem já vivia atormentado com uma.
Começou a separar os ingredientes, às vezes confundindo um com o outro, mas no final conseguindo o que queria. Saiu com dois frascos, um de cor amarelada e outro rosado, fazendo malabarismo, pois estava levando o livro e as poções, além de ter que segurar a varinha à frente para poder enxergar o caminho.
Assim que subiu o último degrau e se viu de volta a sala de visitas, suspirou aliviada. Mesmo não tendo encontrado nada de assombroso lá embaixo, o ar gelado e a escuridão causaram calafrios e temores e ela agradeceu por não ter encontrado nada. Sabia que se não fosse a urgência da situação poderia ter arriscado seguir pelo corredor, pois sua curiosidade de Gina era um pouco aguçada demais; e tinha certeza, se tivesse outra oportunidade, por mais que tivesse medo, tentaria entrar lá de novo.
Mas naquele momento ela só pensou em jogar o livro em um canto qualquer e sair correndo para o quarto de Malfoy para ajudá-lo. Sabia o quanto ele não merecia isso, por tê-la tratado tal mal naqueles últimos dias, mas não era daquelas pessoas vingativas e não pretendia ser tão ruim ao ponto de não ajudar o anfitrião da casa onde se encontrava; apesar dele não ser um bom anfitrião.
E quando ela já estava na porta da sala que se tocou: não sabia o caminho para o quarto de Malfoy, não tinha a mínima idéia. Então correu até a cozinha e agradeceu quando viu Kally saindo com uma chaleira com água fumegante.
-Senhorita! - ela disse ao ver Gina - Já fui ver meu senhor e ele não parece nada bem. Vou levar água de novo pra que a senhorita posso limpar o ferimento.
Gina assentiu com a cabeça e foi seguindo o elfo, que subiu uma comprida escada e virou em alguns corredores até dar em um com várias portas. Gina reconheceu aquele corredor como sendo o corredor de seu quarto, e reparou que Kally tinha usado outro caminho para chegar até lá, pois ela nunca tinha passado na frente da porta do quarto dele.
As duas entraram em silêncio e enquanto Kally e Dippy preparavam alguns panos, Gina se aproximou da cama onde Malfoy estava. Ele ainda permanecia desacordado e foi a primeira vez que Gina pode ver os cabelos de Draco molhados e desalinhados. O rosto estava contorcido em uma leve expressão de dor, então ela posou sua mão na testa dele, vendo que estava com febre.
Desceu os olhos até a perna e notou que os elfos não haviam começado a limpar, já que Draco ainda vestia a calça, já ensangüentada. Ela puxou a capa, habitual de qualquer bruxo, e parou ao ver que teria que tirar as calças dele. "Bem, por sorte ele não está acordado... Mas eu não posso fazer isso" pensou, mordendo o lábio inferior numa expressão de dúvida.
-Dippy, ahn... Tire a calça do Malfoy, por favor. - disse corando levemente.
Ela deu as costas pra cama ajudando Kally enquanto Dippy retirava a roupa de Draco; e quando se virou, já com alguns panos quentes e sua mão respirou aliviada pelo suéter de Malfoy ser tão comprido ao ponto dela não precisar ver sua roupa íntima.
Mas quando seus olhos se colocaram no ferimento dele, qualquer pensamento cômico que poderia estar passando na cabeça de Gina sumiu. Havia dois cortes profundos que estavam escorrendo sangue como Gina nunca havia visto antes, por mais que ela já tivesse presenciado vários acidentes com seus seis irmãos. Teve uma leve vertigem ao ver o líquido escorrendo em linhas finas pela pele tão branca de Malfoy, mas logo tomou consciência e começou a limpar o ferimento enquanto pediu que Dippy lhe explicasse com tinha ocorrido o acidente.
Assim que o fluxo de sangue pareceu diminuir, Gina passou a poção de desinfecção, murmurou um feitiço simples pra que não ficassem cicatrizes e torceu internamente pra que desse certo e fez dois curativos, um em cada perfuração.
Pediu que Dippy fizesse uma compressa e colocasse na testa de Draco, para que a febre pudesse diminuir um pouco enquanto ela e Kally iam para a cozinha preparar o almoço. Gina poderia simplesmente preparar outra poção pra febre, que ela mesma conhecia, mas não queria entrar tão cedo naquela masmorra e já estava cansada de brincar de médica.
Na verdade não ajudou Kally realmente, ela apenas ficou observando o elfo andar de lá pra cá preparando a comida enquanto Gina ficou sentada na mesa organizando seus pensamentos.
Só em algumas horas ela havia brigado com Malfoy, magoado Harry e o que parecia mais cômico e irreal: ajudado um Malfoy. Mas o que mais a impressionava em todas as suas atitudes não era o fato de ter se debatido com o portão, ou de ter entrado na masmorra ou até de ter visto um Malfoy sem calças, mas sim o fato dela ter falado o que falou a Harry.
Gina gostava de ter Harry ao seu lado, lhe dando carinho, lhe proporcionando a sensação de ser amada, mas agora que ela havia dito aquilo; não conseguia definir se era verdade ou mentira o que sentia por ele. "Talvez eu tenha ficado com ele apenas para não permanecer sozinha" ela pensou "Mas como posso não amá-lo se desde aquele dia, o primeiro que o vi, eu comecei a amá-lo?".
Gina fechou os olhos e colocou a cabeça entre seus braços na mesa. Estava por demais confusa e começou a sentir saudades de sua família: Rony gritando do quarto não sabendo onde estava sua meia, seu pai aprontando com algum objeto trouxa, sua mãe agitando as cortinas para limpar a poeira... A Toca agora só era habitada pelos quatro, e daqui a alguns meses somente por ela e pelos pais, sua grande família diminuíra...
"Família?" ela pensou. "Harry é minha família, como Rony, meu irmão... Todo amor que eu tenho por ele é somente assim, como que tenho por Rony... Eu não posso amá-lo como ele deseja, agora eu sei".
Gina quis sair correndo e procurar Harry, pedir desculpas por ter confundido tanto suas emoções, ou por tê-las transformado assim. Mas sabia que era impossível sair dali, impossível quebrar o elo que haviam feito entre ela e Draco Malfoy. "Draco Malfoy..." ela pensou, como um eco em sua cabeça.
-Senhorita? - falou a voz estridente de Kally.
-Hum? - murmurou ela, levantando a cabeça e olhando pro elfo que sorria - Oh, sim, vamos.
Kally carregava uma bandeja com dois pratos cheios de uma fumegante sopa. Gina decidira que iria fazer sua refeição no quarto de Malfoy, por mais inconveniente que parecesse, por mais que ele reclamasse. Ela não sabia por que, mas tinha a necessidade de saber que ele ficaria bem.
Draco sentiu uma dor agonizante em sua perna esquerda. Sonolento ele ainda esfregou os olhos antes de despertar completamente e constatar que aquele não era o lugar que ele se lembrava ter estado nos últimos momentos antes de desmaiar.
Levantou o cobertor que, cobria a parte inferior de seu corpo, e notou os dois curativos, além de perceber irritado, que estava sem calças. Já ia dar um jeito de se levantar dali quando viu que Dippy estava ao seu lado molhando um pedaço de pano.
-Dippy - ele chamou e percebeu que sua voz estava mais arrastada do que o normal.
-Sim, meu senhor! - falou o elfo, segurando apertado o pano em sua mão.
-O que, diabos, aconte... - um clique na porta fez Draco se calar.
Weasley e Kally entraram rapidamente no quarto sem nenhum sinal de hesitação. "Meu quarto agora é sala de visitas?" ele pensou enquanto via que a ruiva não disfarçou a surpresa ao ver que ele estava acordado.
-Como, hum, você está, Malfoy? - ela perguntou, meio sem graça.
-Como você acha que eu poderia estar, vendo que meu quarto agora passou a ser território livre?
Ela se sentiu cansada demais pra poder discutir com Draco naquele momento, então apenas se dirigiu pro lugar onde deixara a poção de cicatrização e pegou o frasco.
-Beba isso, vai ajudar na cicatrização dos ferimentos.
-Desde quando você acha que eu comecei a confiar em você pra chegar a ponto de beber o que você manda, Weasley? Bateu com a cabeça quando ficou se esperneando no portão?
Gina sentiu vontade de lhe dar um tapa na cara por estar sendo tão insolente e presunçoso.
-Malfoy, você permaneceu mais de duas horas desacordado. Não acha que eu tive tempo suficiente para poder te matar? Mas ao contrário do que você pensa, fiquei preparando poções e limpando ferimentos simplesmente pra evitar que você tivesse algum tipo de inflamação por ser tão arrogante!
-Arrogante, Weasley?
-Claro, não fosse o medo que você insiste em pôr em seus elfos, Dippy não teria se assustado a ponto de com um simples chamado seu, dar pulos de susto.
-Weasley, desde quando você acha que pode me dizer como devo tratar meus criados? - ele a encarou nervoso.
Gina já nem se importou se aquela cicatriz a incomodava ou não. Encarava Draco com a mesma intensidade e se ele não estivesse doente poderia até lhe dar mais que alguns tapas.
-Se você tivesse um pouco de consideração poderia perceber o quanto eles gostam de você.
-Por que, Weasley? Será que também não estou tendo consideração com você? Afinal, bastou eu ter perdido a consciência pra que você me tirasse as calças! Assim que você demonstra seu afeto por mim? - disse ele com sarcasmo.
Aproveitando que já estava perto da cama dele, Gina apenas se inclinou um pouco para que pudesse dar um tapa estalado na cara de Draco.
Ele ficou aturdido com sua atitude, mas ficou sem reação com tamanha ousadia. Por mais que quisesse reclamar, não ficou tão ofendido com o tapa. Sabia que tinha merecido, apesar de lutar não querendo admitir.
-Você se acha o máximo mesmo, não Malfoy?! - ela disse largando o frasco na mesinha ao lado da cama e indo pegar a bandeja. Percebeu que os elfos já não estavam no quarto e supôs que eles saíram quando os dois começaram a brigar.
Draco não pronunciou uma palavra enquanto Gina fazia tudo isso, mas depois que ela deixou a bandeja em seu colo e se sentou numa mesa logo a frente da cama, ele murmurou:
-Se pensa que se passando por empregada você vai ganhar alguma coisa pra alimentar sua família pobretona, está enganada, Weasley. Eu não vou lhe pagar nada. - disse erguendo a sobrancelhas, com um gesto de divertimento.
-Pois eu não sou sua empregada, Malfoy. Apenas não sou dessas pessoas que não ajudam as outras por elas serem arrogantes e pretensiosas.
-Não imaginava que a pequena e indefesa Weasley pudesse ser tão boa nas respostas assim... - falou enquanto tomava a contra gosto a sopa - Você sempre me pareceu idiota.
Ela lhe lançou um olhar nervoso, enquanto ele continuava com sua expressão divertida, mas ignorou o último comentário.
-Nunca me deram realmente chance de mostrar que eu não era só a pequena dos Weasley, em Hogwarts. - falou como se desabafasse.
-Isso me dá lágrimas aos olhos, Weasley. Devo chorar agora ou esperar pra uma cena mais comovente?
-Malfoy, você...
Gina se levantou tão bruscamente que acabou esbarrando sua mão em seu prato de sopa e o derramando todo em sua calça. Foi até perto de Draco e pegou uns dos panos que Dippy usava e começou a limpar. Foi aí que percebeu que Draco, ao seu lado, estava rindo dela.
Virou o rosto em sua direção, pronta pra começar a brigar com ele por gostar tanto da desgraça alheira, mas assim que postou os olhos em Malfoy, Gina se desarmou. Os olhos dele continham um brilho tão intenso e sincero e sua boca formava um desenho perfeito ao invés da habitual cara fechada que ela se derreteu. Apesar da cicatriz a lhe contornar o rosto, não pode deixar de ver como Malfoy ficava bonito ao sorrir, bonito de um jeito tão encantador que Gina nem reparou quando deixou o pano cair de sua mão.
-Que foi, Weasley? - ele falou ainda sorrindo - Eu também derramei sopa pra você me olhar desse jeito?
Gina balançou a cabeça, como se quisesse acordar e olhou sem graça pra Draco. Os olhos dele ainda tinham um pouco do brilho adorado, mas sua boca já estava fechada e contorcida num sorriso debochado, nada parecido com o que ela havia visto antes.
-Você deveria... - começou enquanto apanhava o pano do chão.
-Oh, Weasley, será que você tirou o dia para me atormentar? Quer me ensinar como tratar meus criados, quer me obrigar a beber coisas estranhas, não citando a ousadia de estar no meu quarto enquanto eu estou sem calças! Agora, me diga, o que mais eu deveria fazer?
Ela o olhou divertida com tamanha revolta dele.
-Só ia dizer que você deveria sorrir mais, Malfoy. Talvez isso amenizasse as palavras rudes que você solta, de vez em quando - disse enfatizando as últimas plavras e saindo do quarto com as coisas que havia trazido - Ah! Tome a poção depois que acabar de comer!
Draco a viu saindo e esvoaçando seus longos cabelos vermelhos flamejantes pela porta. Ele não queria admitir, mas acabou reconhecendo que ela tinha algum poder sobre ele, nem que fosse para deixá-lo ironicamente mais bem humorado.
Gina, encontrou Dippy esperando ao lado da porta, assim que saiu do quarto de Draco.
-Meu senhor está bem, senhorita Weasley?
-Está Dippy, não se preocupe .
O elfo abaixou os olhos e falou baixinho:
-Dippy vai ser castigado. Dippy foi mal machucando senhor Malfoy.
-Oh, Dippy, foi um acidente. O Sr. Malfoy não irá te castigar, eu pedirei a ele. - "Não faça promessas que sabe não poder cumprir, Gina Weasley!" falou pra si mesma.
-Obrigada, srta. Mas Dippy merece.
Gina se irritou com a submissão exagerada dos elfos e quis que Hermione tivesse tomado uma providência na época de Hogwarts pra que eles não fossem tão dedicados e bobos assim.
-Esqueça, Dippy. Agora entre no quarto e ajude o Malfoy a colocar uma calça. - ela acrescentou baixinha pra si mesma - Ele fica menos rude sem ela e talvez isso o perturbe um pouco. - e saiu rindo.
"N/A: O trecho no começo foi tirado do livro 'Sob o signo de gêmeos', que é um livro de romance muito fofis e de uma leitura tão simples, que quando você vê, já acabou de ler! Recomendo a qualquer um que goste de historinhas de amor de encher os olhos de lágrimas por ter cenas cutes! Ah, ele não fala sobre astrologia, se é isso que vocês pensaram... rs!".
