"A realidade é que não te amo com meus olhos que descobrem em ti mil falhas. Mas com meu coração que ama o que eles desprezam... E que apesar do que vê, adora se apaixonar".
-Shakespeare
Depois que achou que estava suficientemente calma, Gina se dirigiu para dentro da casa. Sabia que agora teria que enfrentar Draco, só que ela parecia estar com medo desse encontro depois do que Harry havia falado.
-Draco... – ela chamou quando o encontrou ao pé da lareira da sala de estar, onde estavam jogando xadrez.
-Insolentes. Acham que podem entrar em minha casa assim e ainda por cima quererem colocar aqueles imbecis do Ministério? – ele falou, sem voltar o corpo para olhá-la.
-Draco...
-Eu ainda fui muito calmo. Poderia tê-los jogado porta a fora, sem ter proferido nenhuma palavra, mas não fiz isso por serem sua família, por um pouco de respeito que tenho por sangue-puros... Mas aquela sangue-ruim da Granger....
-DRACO MALFOY! – ela gritou o interrompendo, perdendo toda a calma que havia conseguido ter quando estava sentada lá fora – Você pode me deixar falar?
Draco se virou e a encarou. Os olhos de Gina pareciam brilhar de ira e ele nunca pensou que a veria tão brava daquele jeito.
-Potter te deu um fora? – ele ironizou.
-Você tinha que gritar com eles daquele jeito? Estavam apenas querendo me ajudar, facilitando o progresso do encantamento, mas você, que também seria ajudado com isso, simplesmente os expulsou daqui, sem ao menos querer ouvir. Você não tem um pingo de sentimento nesse coração, Draco, pra entender que se eles estavam fazendo aquilo não era pra te afrontar, mas pra te ajudar?
-Você concordou comigo! Disse que estava bem aqui, que não precisávamos de ajuda pra que tudo acabe. – ele resmugou.
-Disse, sim. Mas eu não precisei gritar nem ofender ninguém com isso, precisei?
-Claro que não. A perfeita integrante da família Weasley não magoa ninguém, não ofende ninguém, não faz nada contra uma pessoa. Ela só pensa no bem estar de todos, mas esquece que tem sentimentos também e não os respeita. Sabe por que você não gosta do jeito do Potter de querer sem bom com os outros? Porque você é igual, Gina. Admita.
Ela engoliu a seco. Novamente ele estava a lhe jogar verdades na cara e Gina sabia que era a pura realidade. Ele sempre via o que ela tentava esconder, o que ela negava.
-Se eu nego meus sentimentos... – ela tentou – você também o faz.
-Sim, eu o faço também. Mas eu sou forte, ou arrogante como vocês gostam de dizer, o suficiente pra poder admitir isso. Não nego que fujo de qualquer coisa que possa me fazer vacilar numa hora crucial, não nego que esqueço qualquer sentimento pra não me agarrar demais nas pessoas.
-Então você também não nega que acabou vacilando nesse seu plano de não sentir nada? Já que você sabe que sente algo por mim, já que há um sentimento no seu coração dizendo que eu não sou apenas uma garota a importunar-lhe. Já que eu sei que algo dentro de você diz que as cartas de sua mãe estão certas. – ela falava aquilo tudo sem pensar, mas sabia que era o que sentia e não tinha dúvidas que ele também - Você gosta de mim, Draco. Agora negue isso! Mas me diga, o que eu devo fazer agora que sei disso? Eu, a que foge do que quer pra agradar os outros? Devo lhe agradar?
Faltava ar a Gina. Ela não acreditava que estava conseguindo falar aquilo. Estava jogando verdades na cara de Draco também e isso parecia aterrorizante.
-Não, Weasley. – Draco falou, e aquela foi a primeira vez que Gina o viu se render – Você deve fazer o que agradar a você, não o que agradar a mim ou a ninguém.
Não havia mais nada a se falar, agora apenas alguns movimentos bastariam pra acabar com alguns desentendimentos. Mas Gina não quis atender ao pedido de suas pernas, que queriam correr até Draco e agarrá-lo. Ela aderiu ao medo do novo, e saiu para seu quarto.
Draco ficou ali, por alguns instantes, sem conseguir se mover, apenas admitindo pra si mesmo que o que Gina havia dito era verdade. Ele gostava dela sim, e muito.
Enquanto alguns quando progridem, vão subindo mais e mais, a Draco e Gina parece que ao invés de melhorarem, acabaram regredindo no que já haviam alcançado.
Gina não queria de jeito nenhum ter as refeições com Draco, por mais que Kally insistisse, por mais que seu coração doesse. Ela não estava disposta a continuar uma convivência que não resultaria em nada, enquanto ele não percebesse que controlando seus sentimentos não iria chegar a lugar nenhum. Ela não queria gostar de uma pessoa que se forçava a não gostar de ninguém, que controlava suas emoções.
-A senhorita não pode ficar assim, de cara fechada com o meu senhor. – insistiu Kally no dia seguinte.
-Por que eu não deveria? Ele insultou minha família. Desta vez não foi dizendo isso a mim, foi dizendo a eles, como se ele não tivesse respeito nenhum por mim. Como se não importasse se eu sofreria com isso ou não. – Gina não tinha certeza se o elfo entedia realmente o que ela falava, mas precisava desabafar, e um elfo servia.
-O senhor Malfoy sempre foi assim, senhorita. Rude com todos, gritando e soltando fogo pra todos os lados. Mas eu sei que ele tem um bom coração, por mais que esteja escondido.
-Não me parece que ele tenha um coração.
-Mas tem. A Sra. Malfoy era uma bruxa muito boazinha, muito mesmo. E eu aposto que Draco tem muito mais dela do que tem do Sr. Malfoy – ela falou enquanto esfregava as mãos.
-Oh, Kally, eu fico tão feliz que tenha você e Dippy aqui. Acho que não agüentaria ficar muito tempo se não pudesse ter companhia.
-Eu acho que o Sr. Malfoy seria uma companhia muito melhor pra senhorita do que dois elfos-domésticos. – ela piscou.
"Eu acho que ela entende o que eu estou sentindo, entende do que eu quero fugir... Elfos-domésticos não são tão ignorantes como todos insistem em dizer" ela pensou, fazendo uma anotação mental de que se Hermione estivesse disposta a lutar pelos direitos dos elfos, ela também entrariam na batalha.
-Talvez vocês dois tenham mais sentimento do que Malfoy. – ela falou, colocando a cabeça entre os braços. – Talvez tenham mais do que eu...
Quanto a Draco, ele dava de ombros. Se ela não o procurava, pouco a ele importava. Já havia conseguido conviver muito tempo sem ninguém ao seu lado, sem carinho algum. Não seria agora que uma garota o faria passar por cima do seu orgulho. Não por enquanto.
=*=
Era a primeira noite do inverno que estava começando. A lua estava cheia e parecia uma boa idéia ir observá-la do lado de fora, por mais fria e congelante que a idéia parecesse. Gina pensou nisso e saiu correndo pra fora, carregando um casaco qualquer e aproveitando que ainda não começara a nevar.
Fazia um frio de lascar fora das paredes da mansão, e Gina saiu abraçando o corpo, tentando evitar que o gelado ar penetrasse por suas vestes.
Uma semana. Esse era o tempo exato desde que não olhava pra Draco, desde que não trocava uma palavra com ele. Isso a estava machucando mais do que ela esperava. Fazia mais de três semanas que estava ali, praticamente um mês. E nesse pouco tempo os sentimentos de Gina haviam mudado tanto, que, se ela se olhasse como era antes, não reconheceria a si própria.
E era nisso que pensava, deitada sobre uma manta que trouxera de dentro, cercada pelo brilho prateado da lua. Como sempre, era atraída pela magia da rosa negra, e estava ao seu lado. Sua aparência já não era a mesma que tinha quando Gina a vira pela primeira vez, mas continuava bela. Mesmo que boa parte de suas pétalas estivessem caídas no chão, mesmo que ela já não emanasse brilho nenhum.
-Vai ficar doente deitada aí. – falou uma voz arrastada, vinda de um vulto que agora cobria a visão que Gina tinha da lua.
Ela resistiu. Não podia sorrir a ele assim, sem tentar se segurar. Mas sua boca não conseguiu se manter impassível aos pulos de alegria que seu coração dava, então Gina esboçou um sorriso a Draco e ele se sentou ao seu lado.
-Eu estava pensando que nunca mais ouviria sua voz entediada. – ela murmurou, tentando ainda se manter difícil.
-Está a ouvi-la agora. – disse – Alguma coisa mais a acontecer que você pensou não ser possível?
-Oh, há muitas ainda. – ela disse sorrindo quando ele se deitou ao seu lado – Mas há tempo pra que tudo acabe certo, pra que nada seja precipitado.
-Você ainda está com Potter? – ele perguntou, meio contrariado.
-Não. Nós terminamos, qualquer coisa que podia estar inacabada, naquele dia.
-Ele implorou muito? – ele perguntou, zombando.
-Não, Malfoy. Agora que eu vi que Harry era bem realista, ele me fez enxergar algumas coisas. Mas talvez eu ainda precise de alguma confirmação pra que tudo se encaixe.
-Hum... – ele fez. Estavam falando muito de Potter pra gosto de Draco – Eu sei que poderia ter sido menos grosso...
-Poderia...
-Mas não dá pra aceitar pobr... Quer dizer, sua família invadindo minha casa e chamando pessoas do Ministério pra fuçá-la. Eu odeio pessoas do Ministério, sempre achando que são eficientes.
-Eu sou uma bruxa do Ministério, Draco. E sou muito eficiente se você quer saber.
-Eu não disse? – ele falou – Vocês nunca acham que estão errados, que estão intrometendo-se.
-Ora, quando um certo Sr. Malfoy é chamado várias vezes pra uma reunião e não comparece é necessário que uma correspondente seja chamada pra resolver o problema.
-Uma correspondente xereta.
-Uma correspondente eficiente, você quis dizer. – ela riu.
Ficaram algum tempo em silêncio. Até que devagar, ele tirou sua mão do bolso e foi até a dela, e a apertou. "Estamos de mãos dadas..." foi a única coisa que ocorreu a Gina, já que tentava não sentir os espasmos de calor que o toque com Draco dava. Ainda tentava resistir.
-Você sabia que a lua é uma farsa? – ele perguntou, nuvens de ar quente saindo de sua boca enquanto falava.
-Oh, Draco, você sempre acha imperfeição em tudo, nada parece realmente perfeito ou satisfatório pra você. – ela falou, começando a ficar emburrada. Ele sempre gostava disso.
-Eu não digo que ela seja insatisfatória, mas não é perfeita. Nada pode ser perfeito.
-Por que não seria perfeita? – Gina perguntou – Ela tem um ciclo encantador e constante, que a esconde e a revela aos poucos. E nas noites como essa, de lua cheia, nos faz sonhar com seu luar. Esse é um dos astros mais belos, e talvez o mais perfeito.
-Você se engana, Srta. Weasley. Se realmente a olharmos de perto, muito perto, veremos suas imperfeições, notaremos que ela não é tão simetricamente redonda como parece, nem que reflete esse brilho encantador, já que ele não lhe pertence. Além de que ela tenta, por seu egoísmo, tirar a atenção de qualquer um para seu luar disfarçado e fazer-nos esquecer a beleza das estrelas.
-Egoísmo?
-Sim. Assim como age da mesma forma essa rosa. – ele disse apontando pra flor negra ao seu lado – Ela rouba toda a atenção do jardim, querendo que apenas ela seja notada. Mas quem admira sua beleza, não vê os maus que ela esconde por trás de suas pétalas, não vê o sofrimento que ela trás ao que tocam em seus espinhos. É de uma beleza exótica e jamais vista, mas esconde imperfeições que fingimos não ver, que não queremos enxergar.
-Elas têm a beleza dos imperfeitos. – Gina sussurrou.
- A beleza dos imperfeitos... – ele repetiu – Você entendeu, então?
-Entendi... Depois de você falar tantas vezes eu resolvi parar de querer tudo certo, tudo perfeito. Entendi que eu sou como essa rosa ou como a lua, que tentam passar a imagem de perfeição para esconderem seus defeitos. Agora eu sei que fazendo isso elas não enganam somente quem as vê, elas enganam a si mesmas. Eu vou parar de me enganar. Você já parou? – ela perguntou, marota.
-Estou tentando. – ele suspirou, sentando-se novamente – Mas receio que vou precisar de ajuda.
Ela levantou o corpo e sentou-se também.
-Do mesmo modo que eu sei que as estrelas estarão sempre ao lado da lua e que a rosa nunca abandonará os espinhos, mesmo sabendo que eles são sua imperfeição, eu estarei aqui quando você precisar. E isso não é um meio de agradá-lo, Draco, é algo que eu desejo muito: estar sempre ao seu lado.
Ele não esperou nem um segundo pra abraçá-la e juntar seus lábios num beijo. E naquele momento aquilo parecia a coisa mais correta a se fazer, o meio mais óbvio de se estarem unidos, de se amarem; e eles não queriam perder nenhum segundo.
Draco pedia tanto pela boca de Gina, por um contato maior, que acabara por empurrá-la de volta a manta, e agora os dois estavam deitados. Ela enlaçava os dedos por entre os cabelos platinados dele e o puxava mais pra junto de si, enlaçando também suas pernas.
Uma das mãos de Draco já se encontravam por dentro das várias vestes quentes de Gina. Ela sentia arrepiada, a mão dele subindo e apertando sua pele, causando-lhe sensações inimagináveis. Desceu a boca até o seu pescoço, enquanto ele ainda continuava a explorar por dentro de suas roupas, fazendo-a agora soltar alguns suspiros.
Até que Draco acabou tocando sua outra mão livre na terra úmida e fria e deu conta de onde estavam. Tirou a mão de dentro das vestes de Gina e a encarou, notando que ela sempre ficava encantadora quando estava sem ar.
-Agora você acredita em destino? – ele repetiu a pergunta que havia feito nos primeiros dias dela na mansão.
-Oh, eu acredito... – ela falou quase sem ar.
Então Draco a colocou nos braços, não se importando com os gritos que ela soltava com medo que ele a derrubasse, e a levou para dentro, para um lugar mais quente. Como seu quarto.
E enquanto os dois entravam na mansão, sorrisos e desejos aflorados, a rosa já esquecida parecia estar mudando. Duas pétalas se desgrudaram no instante em que Draco e Gina começaram a se beijar. E quando eles já haviam ido, ela parecia estar perdendo sua cor negra, se tornando branca...
"N/A: Primeiramente, obrigada pelas reviews de sempre! Eu adorei escrever esse capítulo. Ele dá sentido ao título da fic. Espero que tenham aproveitado bem, porque daqui para frente, as coisas não serão mais tão favoráveis ao casal...".
