Capítulo 12 – O despertar de um sonho

Novamente Gina não queria abrir os olhos. Havia sido a melhor noite que ela podia lembrar que tivera e suspeitava que desta vez havia sido mesmo um sonho. Então antes de abrir os olhos, tocou no peso que estava sobre sua cintura, e sorriu. Ou tinha ganhado mais um braço, ou era Draco que estava ao seu lado.

Abriu os olhos e se deparou com o já conhecido quarto. Forçou a mente para lembrar os momentos que passara na noite anterior. Sussurros, gemidos, toques, sensações e carinhos. Tudo parecia mais maravilhoso, depois que ela tinha certeza de que não era um sonho. Mas não seria mesmo?

Mexeu-se um pouco e começou a alisar os finos cabelos louros de Draco. O rosto continuava o mesmo desde que ela tinha arrancado o capuz. A cicatriz ainda o marcava terrivelmente, mas ela sabia que seus sentimentos, quanto ao dono dela, haviam mudado muito. Ela estava apaixonada.

Não existe uma explicação aplausível para confirmar o sentimento que temos por alguém. Mas Gina podia dizer que estar embalada nos braços de Draco ao som de uma doce melodia ou admirar um luar de inverno, iniciavam uma paixão. Ou pelo menos a deixava maior, muito maior.

Agora ela não tinha mais dúvidas de que gostava de Draco, aliás, nunca sequer imaginou que gostava dele. Não pensou que, o esforço que fizera para socorrê-lo quando se machucou, fora algo mais para acalmar sua alma de algum tormento que ela ainda desconhecia; assim como não imaginou que a dúvida de amar Harry fora causada pela certeza de que já havia encontrado a pessoa certa. Ela nunca ficou imaginando se seria correspondida ou não, porque por mais que as palavras da carta da Sra. Malfoy afirmassem que os dois acabariam juntos, para Gina tudo era fantasioso. Até aquela noite.

Draco fez uma careta, despertando. Não foi preciso abrir os olhos ou tocar em Gina para saber que ela estava ali. Ele simplesmente sentia sua presença, e era suficiente.

Estava acostumado a sempre fugir de qualquer sentimento que o fizesse estar ligado demais a uma pessoa, ser dependente dela. Mas desta vez aconteceu de um modo tão rápido e inesperado, que não pode escapar. Não quis escapar.

Era uma nova experiência aos dois. Eram novas portas que se abriam e indicavam caminhos alternativos, alguns mais fáceis, outros mais difíceis. Mas, de qualquer modo, chegariam ao mesmo lugar, cedo ou tarde. Agora sabiam o quanto eram importante um para o outro, e o elo estava desfeito.

-Gina? – falou com a voz rouca, ainda com sono.

Ela tirou a mão do cabelo dele e soltou um leve sorriso.

-Eu acho que aconteceu. – sussurrou.

-O quê?

-O que sua mãe escreveu. Eu... - Gina hesitou um pouco – eu sei o que você significa para mim.

-O quê?

-Quase tudo que há. Eu acho que agora, eu não poderia estar bem sem tê-lo ao meu lado.– ela respondeu, os olhos fechados.

-Quase? Por que não tudo?

-Draco Malfoy, alguém já lhe disse que o senhor é extremamente egocêntrico?

-Não. – ele falou rápido e rindo.

Ela ficou calada. Esperou que ele falasse o que ela significava para ele, mas Draco também se mantinha quieto, os pensamentos na lua.

"Não espere de Draco o que você esperaria de alguém apaixonado. Você poderá se magoar..." ela disse mentalmente. Não queria criar expectativas sobre nada. Para Gina, o que a fazia sofrer eram suas malditas esperanças de que sempre tudo acabava bem, era seu otimismo. Era terrível sempre esperar que tudo dê certo, que ninguém vai se magoar, porque quando se vê somente o lado positivo, sofre-se muito mais, ao ver que o negativo é maior. E por mais que ela tivesse consciência disso, acabava sempre esperando algo de alguém e acabava sofrendo em dobro. "Mas desta vez não, Gina Weasley. Você tem que ter consciência de que não vive num conto de fadas, ah não".

Naquele momento o teto tão negro do quarto parecia muito interessante a Draco. Ele o dava uma visão perfeita do nada, enquanto sua mente vagava em pensamentos tortuosos. Era perceptivo demais para saber que a ruiva ao seu lado estava esperando que ele dissesse algumas palavras românticas como as dela. Mas o que ele poderia dizer mais do que já havia exposto naquela simples pergunta sobre destino, na noite anterior? Gina sabia que ele acreditava em cada palavra que Narcisa havia escrito e aquilo para ele, era como se fosse uma declaração, já que admitindo a certeza de algo, acaba se concordando com os princípios.

A carta dizia claramente sobre a relação que eles teriam, sobre como poderiam se dar bem. Para Draco eram essas as palavras que ele havia dito pra Gina, em apenas uma: destino. Mas agora ele não se contorcia de temores por estar tão ligado a garota. Pois ele precisava estar, e sabia disso.

Estava tão distraído em seus pensamentos, que nem havia reparado em Gina. Ela estava tirando-lhe a coberta, colocando a mão em sua perna. Ele sorriu, malicioso.

-Hum... Está animada, hein?!

-Ah, Draco! – ela fez uma careta. Parecia estar meio brava por ele não ter dito nada. "Se no começo eu reclamava que ele nunca me deixava falar, agora eu poderia aceitar ficar na seção de ajuda comunitária trouxa do Ministério só para que ele me interrompesse. Só para que ele dissesse que gosta só um pouquinho de mim..." pensou – Eu quero ver como ficou seu ferimento.

-Gina, já se passou mais de uma semana. Você não acha que está um pouco atrasada para consulta de retorno?

-Não. Só agora que pude pegar você sem calças de novo! – ela riu, sendo puxada por ele.

Demoraram um tempo até saírem da cama. E quando estavam almoçando, Kally lançou olhares para Gina como se dissessem: "eu sei que a senhorita não dormiu em seu quarto" ou "eu sei o motivo dos sorrisos bobos". Ela ficou extremamente desconfortável e corada enquanto o elfo estava na sala. E quando ela saiu, falou com Draco:

-Você notou como os elfos-domésticos são tão espertos? Eu nunca havia imaginado que eles têm tantas qualidades.

Draco lançou um olhar que fez Gina voltar sua atenção ao seu prato e desistir da conversa sobre elfos. Não importava os sentimentos que ele pudesse ter por ela, haviam coisas nele que nunca mudariam, assim como nela. E por mais que Gina tentasse, o louro nunca libertaria seu elfo, ou teria amizade com algum dos integrantes dos Weasley, ou gostaria de um trouxa. Ele era assim; e ela o aceitaria assim.

-Nós podemos dar uma caminhada lá fora. – ela sugeriu quando terminaram.

-Gina, só um maluco sairia daqui de dentro para se aventurar no frio. Vamos ficar aqui, será bem mais confortável.

-Por favor, Draco. Começou a nevar de madrugada. Deve estar tudo branquinho e lindo. Além do mais, eu gostaria de saber o que aconteceu com a rosa depois dessa neve toda.

O último argumento de Gina foi suficiente para que ele se levantasse e fosse com ela para fora.

Como Gina previra, o chão era uma brancura, a neve fofa e molhada cobrindo tudo, a não ser pelo caminho até o portão, que um dos elfos deveria ter desobstruído no começo da manhã.

-Eu odeio a sensação dos meus pés afundando nessa maldita coisa gelada. – ele murmurou enquanto caminhava até a flor.

Gina ria ao seu lado. Mas no momento que chegaram até a rosa, ela calou-se.

Não havia mais uma flor negra e altiva, espalhando seu brilho e escondendo seus espinhos. Havia um pequeno botão de rosa branca, cercado por pétalas negras caídas no chão. Mas ela parecia continuar saudável e ainda mais bela do que nunca.

Olhou para Draco e viu que o louro fazia descaso. DESCASO. Aquela era uma coisa importante aos olhos dela. Afinal, como Narcisa dissera, ela tinha depositado sua essência e a de Lucio lá. "Narcisa..." ela se lembrou.

-Draco! – falou eufórica – A carta, você lembra da primeira carta?

-Lembro. – ele falou, a histeria de Gina o deixando levemente irritado. Não contando que a mudança da flor para ele era um péssimo sinal.

-Você acha que eu posso sair? – ela sorria.

-Você acha que a mudança da rosa tem a ver com ontem à noite?

-Claro!

-Você acha que sabemos o que significamos um para o outro?

Ela se perguntou por que ele estava sendo tão seco.

-Sei, oras! Claro que sei... – ele a interrompeu e se Gina já não estivesse acostumada com o jeito, às vezes não muito delicado, de Draco, ficaria irritada.

-Então, se já sabemos, para que você precisa sair?

Ela sentiu a mão dele apertar mais forte e entendeu. Ele tinha medo.

Poderiam se passar mil anos, poderiam todos dizer que não, mas ela conseguiria decifrar aquele simples gesto de qualquer modo, de qualquer jeito. Só pelo fato de saber que ele não era mais o poço de confiança que ela via em Hogwarts, só por saber que ela também tinha medo e levando em conta esses dias atrás, parecia que os dois sentiam as mesmas coisas.

Virou seu rosto e se deparou com os olhos cinzas. Levantou a mão e passou levemente sobre o rosto dele, sobre a cicatriz que tanto o atormentava. Era a primeira vez que fazia isso. Era um passo a ser tomado com cuidado, mas era a certeza de que agora ela o tinha, de que ele abria espaço para que ela invadisse seu ponto mais fraco.

Então o abraçou. Lágrimas começavam a chegar em seus olhos, mas desta vez ela não sabia porque chorava. Lembrava-se que dias atrás seus lamentos eram por saudades de casa, pelos maus-tratos de Draco, pela solidão. Mas agora, era diferente. Continuava a sentir saudade da família sim, mas tinha Draco e agora tudo parecia tão certo com os dois que ela poderia estar muito bem ali, se não tivesse mais nada. "Mas eu tenho. Tenho meus pais, meus irmãos, Mione, Harry, Colin, meu trabalho. Uma vida deixada lá fora, que eu não posso abandonar. Não posso...". Era por isso então? Tinha medo de que se saísse de lá Draco não a quisesse mais, que não pudesse voltar mais. Mas precisava sair, ela não queria ficar ali presa, como Draco fazia.

"Quando tudo começou?" perguntou-se. Draco apertava Gina para junto de si o mais que podia. Não estava nem pensando que poderia machucá-la ou que poderia lhe faltar ar. Só não queria perdê-la. Fechou os olhos enquanto escutava o som dos soluços pausados, enquanto ouvia a música da despedida de qualquer final infeliz: choro.

Ele odiava cabelos vermelhos. Odiava qualquer bruxo, ou até trouxa, que tivesse o sobrenome Weasley. E amaldiçoou todos os dias, depois de ler a carta da mãe, a garota que poderia chegar ali, e tocar na flor. Juntando tudo isso ele tinha Gina. Virginia Weasley. A garota que ele mais odiou, e a que ele mais gostava agora.

"Gosto mesmo?" se perguntou. Não seria apenas um apelo desesperado por alguma afeição? Carência? Talvez, por ter passado tanto tempo sozinho, tenha confundido a necessidade de se ter alguém perto com algum sentimento mais profundo. Ele sentiu seus braços dormentes de tanto apertá-la e suas pernas fraquejando a cada impulso seguido de um soluço que Gina dava. Fechou os olhos e encostou a cabeça nos fios ruivos da jovem.

Se ele realmente não gostasse dela, por que então estaria, assim, tão desesperado em perdê-la? Se ainda fosse o Draco nojento e sem nenhuma vontade de compartilhar seus sentimentos poderia muito bem jogar Gina portão à fora, como desejou várias vezes. Mas não. O que ele mais queria naquela hora era prender Gina junto de si e deixá-la ao alcance de seus olhos; simplesmente para saber que sua chama de luz, agora descoberta, ainda o iluminava. Simplesmente porque ele não queria mais ter que esconder tudo que era; e ela o aceitava com seus defeitos, com suas qualidades, como ele era.

"Sim eu gosto"  respondeu a si mesmo. "Gosto do som de sua risada, do jeito como me enfrenta, dos cabelos ruivos caindo sobre sua face, dos olhos castanhos brilhando como fogo, dos gestos delicados ao movimentar as peças do xadrez, e até mesmo dos malabarismos quando pegava folhas no outono. Mas vejo também sua teimosia, histerismo, ingenuidade, as mentiras sobre seus anseios, sua maldita ligação com Potter por serem tão parecidos...".

-Você não pode ir.

Desta vez ela o apertou forte, segurando as lágrimas.

-Dra... Draco. – disse em um fio de voz – Eu preciso saber pelo menos.

Ele se irritou. Não queria dizer o quanto estava ficando magoado com tudo aquilo. Era estranho. Ele sempre sentia raiva de tudo quando algo não dava certo. Só precisava xingar um pouco e lançar algumas maldições mentalmente que a raiva passava. Mas agora, que Gina estava lhe escapando, por mais que ele fosse grosso e expressasse em palavras ríspidas que não estava satisfeito, o incômodo não sumia. Nunca tinha realmente se importado ou dado grande valor a algo, para que se o perdesse ficasse magoado. Mas Gina lhe falando que precisava saber de algo que os dois já sabiam que era concreto, que precisava confirmar que agora os dois poderiam simplesmente se separar, doía. Era como se algo muito pesado se instalasse no fundo da alma e fosse aumentando a cada palavra que ela soltava.

-Você quer fugir?

-Preciso saber primeiro. – falou enxugando o rosto com a manga fria da capa – Só saber, por enquanto...

Não havia o que dizer mais. Ela queria e iria persistir nisso. O que ele poderia fazer? Trancá-la dentro de casa e não deixar que saísse para o jardim? Que descobrisse logo. Ele sabia que tentar adiar o final era algo que não poderia resultar em nada.

Caminharam de mãos dadas pelo caminho limpo por Dippy. Draco não dizia uma palavra. Gina ficou pensando que talvez seus dedos ficassem dormentes por horas, de tão forte que ele os apertava.

Chegaram aos portões. Estavam abertos e com suas passagens livres para a estrada que seguia fora dos muros da mansão. Era preciso apenas alguns passos e eles poderiam saber se eles estavam conscientes como Narcisa queria.

Ela deu um passo a frente, mas Draco não a acompanhou.

-Vá você. Já é arriscado estar andando pelo jardim sem a capa, não vou arriscar sair.

Ela assentiu e olhou para frente. Dois passos. Mais um e passaria dos limites da propriedade dos Malfoy, mas hesitou. Talvez estivessem errados e então ela poderia voar para trás como da vez anterior. Só que o receio maior de Gina era a dúvida de que se era realmente necessário descobrir aquilo, se ela não podia simplesmente ficar ali com Draco, e fazer isso mais tarde.

"Não, Gina, é melhor agora... você tem que decidir". Decidir. E se ela conseguisse passar? Não tinha certeza do que faria, pois não gostava nem um pouco da idéia de deixar Draco ali sozinho, nem que fosse por alguns dias.

Fechou os olhos. Sempre quando algo nos assusta ou quando não queremos ver alguma coisa que não gostamos, tendemos a obstruir a visão. Isso pode ser tomado como um sinal de fraqueza, mas ninguém poderá discutir que o simples fato de termos nossos olhos fechados por alguns segundos, nos dá coragem maior para enfrentar o que temíamos, já que tornar a abri-los, é um modo de mostrarmos que podemos encarar o que vem a frente.

Suas pernas se movimentaram sem que pudesse perceber e, quando os abriu novamente, não sabia o que fazer. Estava fora.

-Saí! Draco, conseguimos! – dizia enquanto voltava correndo. Mas ele não sorria como ela – O que foi?

-Você não entende? Isso não é apenas a certeza de que cumprimos o que estava escrito, é o fato de que você pode ir embora. Você irá sair daqui dizendo que voltará outro dia, mas logo que encontrar sua família não sentirá falta nenhuma daqui. E então quando encontrar Potter verá que sempre o quis, que Malfoy é só um idiota ridículo, que está condenado a viver confinado.

Gina se apertou mais em sua capa num gesto desesperado de buscar alguma solução, algum tempo para pensar. Acabou dizendo:

-Vamos para dentro. Está frio aqui e precisamos conversar.

Fazia meia hora que estavam ali. Não havia nenhuma lenha na lareira, então o silêncio que se fazia na sala de visitas era desconfortável por demais. Até que ele se mexeu.

-O que vai fazer? – sua voz estava rouca e Draco nem se importou se estava sendo grosso.

-O que você sugere? – ela jogou.

-Nada. Você fará o que está desejando, quer eu escolha B ou C. Eu sei que já optou pelo A.

-Desde quando você entrega os pontos assim, Draco Malfoy?

-Oras, Gina! Eu não estou entregando nada! Se não fosse para você sair, se você realmente quisesse minha opinião antes de decidir alguma coisa, não teria se trocado e colocado as roupas que você vestia quando chegou aqui. Você quer ir embora, então vá! Não precisa de nenhuma autorização minha, você sabe.

-Não é simples assim, você sabe. Ainda não terminou o efeito de toda a maldição e...

-É por isso que você continua aqui, Weasley? Só por que está com medo que, de algum modo, você esteja amaldiçoada também? – ele se levantou – Pois então não se preocupe. Pode apostar que no momento que você sair daquele portão, nada vai lhe acontecer. Você estará longe de mim, longe do perigo. – Draco estava quase gritando, a todo o momento apontando para Gina.

-Não, Draco. Eu não estou preocupada comigo, mas com você, conosco. Eu não vou fugir, eu apenas quero ver meus pais, ajudar Hermione, procurar algum vestido, falar melhor com Harry. Depois quero voltar... Se eu puder voltar. E é isso que eu preciso saber, se posso voltar.

Draco virou-se, impossibilitando a visão de seu rosto a Gina. Ele não sabia o que dizia. A todo momento tinha certeza de que queria Gina ao seu lado, de que precisava dela por perto, então por que agora hesitava em dar uma resposta que era tão certa?

Seus pensamentos se embaralhavam e seus sentimentos pareciam estar lutando entre si para conseguirem a atenção de Draco. Ele tinha que seguir o amor que tinha por Gina ou o orgulho que tinha por si mesmo? Tudo parecia estar rodando e sua vista estava embaçada, até que num vislumbre ele a viu.

Gina estava a sua frente agora e pousou suavemente as mãos sobre os ombros de Draco, que ainda parecia confuso. Apesar de terem o sol da tarde, a sala estava levemente escura, possibilitando um efeito ofuscante do fogo da lareira nos cabelos vermelhos da jovem. Draco se lembrou do jantar e da noite passada junto dela, e a achou mais linda do que nunca.

Então ela fechou os olhos, a boca levemente entreaberta, esperando que Draco a beijasse, esperando um sim. Mas ele se manteve imóvel e não levou muito tempo até que Gina percebesse que ele não a beijaria. Um brilho de tristeza passou por seus olhos, e ela se afastou dele. Aquilo era um não, o negar de um beijo.

Demorou mais meio segundo até que Draco percebesse o que estava fazendo. Ele estava deixando-a ir embora, sem beijos, sem abraços, sem despedida. Não podia ser assim, não tão fácil.

-Gina. – ele chamou.

Logo a mão de Draco envolveu o braço de Gina e a puxou para si, contrariando o modo de Gina de ser delicada ao pedir um beijo. Ele não pediu, simplesmente a envolveu em um abraço e juntou seus lábios com os dela, num gesto desesperado, que ela correspondeu com a mesma intensidade.

Naquele momento tudo parecia perfeito. Não existia maldição, nem barreiras. Havia só Gina, e Draco podia tê-la toda para si, para sempre. Mas ela interrompeu o sonho, a voz denunciando a falta de ar:

-Isso é um sim? Eu posso voltar? – falou.

Pode-se dizer que se dando um beijo dá-se uma resposta positiva a pergunta feita anteriormente, já que este é um gesto de extremo carinho, já que colocamos nele toda a emoção que estamos sentindo no momento. Mas quem disse que um Malfoy seguia convenções?

-Gina... Não vá.

Ela ignorou o pedido.

-Posso voltar, Draco?

Draco deu um suspiro que pareceu durar uma eternidade a Gina.

-Quando se quebra uma corrente, não há meio de uni-la mais. Você será um elo perdido quando sair.

Ela piscou. Sua cabeça parecia estar rodando e ela se esforçava para entender o que ele estava dizendo.

-Você quer dizer que eu não posso? – ela sussurrou.

-Exatamente, Weasley. Volte para o Potter.

Gina quis subir em cima de Draco e lhe dar umas boas chacoalhadas para ver se ele perdia o maldito orgulho Malfoy. Ele estava a mandado embora, pior, estava mandando-a para Harry. Ela poderia dar-lhe também uns bons tapas na cara, por ele estar ignorando tudo o que os dois haviam passado, tudo o que estavam sentindo; mas algumas lágrimas começavam a embaçar seus olhos, e Gina saiu correndo antes que não conseguisse mais ver, antes que lágrimas começassem a escorrer.

Enquanto isso, Draco apertava seus olhos e mordia seus lábios até sangrar. Ele desejava que a dor e o gosto doce do sangue o fizessem parar de sentir a agonia interna que começava a surgir em seu peito.

"N/A: Muito obrigada pelas reviews do último capítulo. Eu fico radiante quando vocês gostam de um capítulo que eu amei escrever! Bom, eu espero que este capítulo aqui não tenha decepcionado muito... =b".