Capítulo 14 – Lúcio e Narcisa
"...em determinado momento de nossa existência, perdemos o controle de nossas vidas, e ela passa a ser governada pelo destino".
-O Alquimista – Paulo Coelho
Draco sentou-se no chão, não importando-se que logo suas calças estariam molhadas com o gelo. Ele só precisava ver se a tonteira, que aquelas duas figuras à sua frente estavam lhe causando, passava.
-Vocês não podem aparecer assim, simplesmente. – Draco falou – Ninguém morre e volta a hora que quer, sem mais nem menos.
-Podemos voltar, graças ao meu encantamento. – ela repetiu – Eu sei que parece estranho nós reaparecermos só agora, mas chegamos no momento exato, já que você nos libertou.
-Ótimo, ótimo... – ele murmurou confuso – Eu os libertei...
-Sim. – falou Lúcio – Você deveria estar contente em nos ver.
Draco levantou-se em um pulo. Ora, se estava mesmo falando com seus falecidos pais, talvez fosse hora de falar algumas coisas, de dizer o que ele não teve oportunidade. Muitas e muitas coisas permaneciam entaladas em sua garganta, e não houve oportunidade nenhuma para libertá-las.
-Contente? – sua voz estava rouca agora e ele parecia muito nervoso – Você – apontou pra Lúcio – me deixou com esta maldita cicatriz e quase me matou! E você – disse para Narcisa – me fez aturar aquela maldita Weasley aqui por semanas! Como eu posso ficar contente com a volta das últimas pessoas que eu gostaria de encontrar novamente?
-Bem, parece que a minha parte não foi tão ruim assim, Draco, pois sabemos que você sofre com a falta dessa "maldita Weasley".
-O quê? - exclamou Lúcio – A garota é uma Weasley? Você não poderia ter escolhido melhor, Narcisa?
-Oras Lúcio, não fui eu que escolhi nada. Simplesmente já era para ser assim.
-Vai começar com essa m**da de assunto sobre destino? – Draco quase berrou – Isso só me trouxe problemas e eu estou cheio disso. Se trazer aquela garota aqui era algo para me deixar melhor, não adiantou nada. Eu ainda estou como uma aberração e ainda mantenho a maldição, por sua culpa! – ele acusou Lúcio novamente.
-Ok, acho melhor irmos para dentro. Você vai acabar ficando doente e...
-Como se isso fosse uma má idéia... – Draco disse enquanto se dirigia pra mansão – Eu bem que poderia cair morto agorinha mesmo! Parece ser divertido ficar invisível como vocês dois, flutuando e assombrando por aí – ele falou, com sarcasmo.
-Parece que enquanto você melhorou, Lúcio, Draco só piorou. – Narcisa sussurrou ao marido.
-Pura ilusão... – ele apenas disse – Pura ilusão...
Agora Draco estava sentado na sala de estar, os dedos batendo impacientemente na poltrona enquanto Narcisa dava uma olhada pela casa e Lúcio visitava seus cômodos subterrâneos. Se no começo, quando os viu, Draco estava espantado, agora ele estava cheio de ira.
Não achava que os pais tinham o direito de manipularem sua vida assim, como estavam fazendo. Primeiro o lançavam uma maldição e um encantamento, fazendo com que ficasse receoso em sair da mansão. Depois traziam uma garota e o faziam apaixonar-se por ela, para logo tirá-la de si. Agora apareciam sem mais nem menos, dizendo que estavam ali para ajudá-lo.
-Tudo continua perfeitamente igual! Você cuidou bem da casa. – Narcisa murmurou.
-Dippy e Kally. – ele simplesmente disse.
-Oh, eu sempre soube que os dois eram de grande valia.
Draco fez uma careta. Achou que Gina se daria bem com a mãe, mas depois se repreendeu por estar pensando na ruiva. Qualquer coisa o fazia lembrar-se dela, desde um simples floco de neve até seu escritório ou a sala de jantar. E odiava-se por sofrer por outra pessoa.
-Fazem alguma coisa certa... – disse sem interesse. Não gostava de falar de elfos.
-Querido, acho que você poderia ser mais compreensivo com seu pai. Ele...
-Compreensivo? – Draco bufou – Ele quis me matar! Será que eu preciso de mais algum motivo para ter achado bom que quando acordei não precisaria mais vê-lo? Oh não, isto já é suficiente para que eu nunca mais tire o ódio que tenho dele.
-Ele mudou, Draco. – ela falou calma – Sabe, mudamos quando morremos.
-Humf... Oh, será que agora ele sente alguma coisa por você, mamãe? Algo que não seja apenas uma obrigação à convivência por causa de um casamento combinado? – Draco jogou aquilo sem pensar. Estava descontando a frustração de não ter Gina e de rever o pai em sua mãe. Não era justo, ainda mais quando ele notou que a mãe ficara sem jeito; se isto era possível a um espectro. – Desculpe.
-Tudo bem. Sempre soube que seu pai não me amava. Mas eu tinha algumas esperanças de que ele melhorasse. Pena que só aconteceu depois que morreu. – se aquilo era uma piada, Draco não viu graça – Bem, você poderá notar a diferença.
-Ah, claro. Agora ele não irá ficar falando somente sobre Voldemort, pois este está derrotado. Isso já é uma grande mudança em papai, já que só falava neste odioso Mestre das Trevas.
-É, querido, isso foi a ruína de seu pai... – ela deu um suspiro – Mas agora você poderá ver que ele está mais jovial, menos agressivo. Ainda conserva alguns defeitos de antigamente, mas está muito melhor.
-Pode ser.... – Draco disse, meio incrédulo.
Mesmo que o pai estivesse mudado, não daria o braço a torcer. Era difícil esquecer que tudo o que estava passando fora por causa da obsessão do pai por Voldemort. Era doloroso, até para um Malfoy, aceitar que seu próprio pai colocava um bruxo maligno acima de qualquer coisa, acima de sua família.
-Bom... Bom... – falou Lúcio, enquanto se juntava aos dois.
-Vocês pretendem voltar a morar aqui? – Draco perguntou – Pois parece. Estão inspecionando a casa, vendo se eu não mudei nada de lugar.
-Garoto, você deveria ter mais respeito. – falou Lúcio.
-Respeito? – ele o olhou com ódio – Vocês acham que eu sou um bonequinho que podem controlar do jeito que querem? Até quando estão mortos não me deixam em paz!
Lúcio voou até que seu rosto quase colasse com o de Draco e exclamou, entre dentes:
-Se estamos mortos é para que o encanto pudesse te salvar! Então não seja ingrato com sua mãe.
Mas Draco não se intimidou.
-Se você não tivesse me lançado essa maldição, não iria ser preciso fazer nada.
-Você traiu-me, Draco. Traiu ao Mestre.
-Chega? – Narcisa falou baixinho – Eu não fiz tudo isso para apreciar vocês dois brigando por uma coisa que já está acabada. Precisamos nos preocupar com quem ainda vive. E eu espero que não tenha sacrificado a nossa vida à toa.
-Pois eu acho que sim – desdenhou Lúcio – Três vidas gastas só para salvar esse incompetente do Draco. E ele não dá algum valor!
-Três? – Draco falou – Não seriam duas? Vocês dois? – "O que não é tão dispendioso assim...".
Lúcio tomou a frente de Narcisa, parecia ter gosto em falar aquilo.
-Serão três com a Weasley. – falou com um sorriso a meio fio, mostrando seu eterno desgosto por Weasley's de cabelos ruivos e sardas nos rostos.
-O quê? – Draco levantou-se. De repente, a raiva por seu pai se desvaneceu, parecia só importar o que poderia acontecer com Gina; por mais que ele quisesse esquecê-la.
-Acho que seria melhor contarmos tudo desde a hora em que você desmaiou. Desde que recebeu esta cicatriz... – Narcisa disse, a voz calma como sempre.
=*=
Gina estava deitada. Observava sua mãe e um bruxo vestido totalmente de branco conversarem baixinho num canto do quarto. Constantemente Molly levava a mão à boca e arregalava os olhos. E a garota ficava com medo.
Ela prendeu a respiração por alguns segundos, tentando tomar coragem ao ver os dois se aproximarem. Até que um pensamento lhe ocorreu: e se estivesse grávida? Poderia ser possível, e também seria desastroso. "Não, isso seria terrível. Se ao menos estivesse com Draco... Imagine ter um filho de alguém que não aceita o amor que eu posso dar? Seria doloroso demais...". Mas ela sabia que era forte para isso. Se realmente estivesse grávida, aceitaria de bom grado, afinal, sempre gostara de crianças, não?!
Mas para seu alívio, ou desespero, o semblante do rosto de sua mãe e do médico não eram de alguém que daria a notícia da chegada de um bebê. Estavam sérios demais para isso.
-Querida, – começou a Sra. Weasley – como está?
-Bem. Acho que posso sair daqui, não? – ela falou, ansiosa, dirigindo-se ao médico.
-Claro, a senhorita pode hoje mesmo.
-Quer dizer que não tenho nada grave? – perguntou – Não tenho nada? - ainda tinha uma esperança de que pudesse estar grávida, a idéia começava a lhe agradar.
-Todos esses sintomas estão sendo causados, eu sinto dizer, por uma maldição. Conversei com sua mãe e ela pôde me explicar algumas coisas, mas eu não posso fazer nada a não ser lhe dar algumas poções para aliviarem a dor. Aconselho um tratamento especializado.
-Maldição? – Gina se espantou – Como assim maldição?
-Eu acho, querida, que ainda não acabou. – Molly suspirou – Você deve estar envolvida nisso tudo ainda, e parece que agora é que a sua parte começou.
Gina forçou a cabeça para chegar a alguma conclusão racional a tudo aquilo, mas parecia meio impossível. Ele observou enquanto o médico deixava o pequeno quarto.
-Nós vamos até a Sra. Growed. Ela certamente poderá nos ajudar.
-Não! – Gina falou rapidamente – Não vou até ela.
-Criança, você não tem muitas escolhas agora. Sabe-se lá o que pode te acontecer, Gina!
-O doutor disse-lhe, mamãe. Ele me dará algumas poções, eu ficarei bem. Vamos para casa, por favor?
O único motivo para que ela se recusasse a ir para a especialista era o simples fato de que para que fosse curada seria necessário saber a origem de tudo; no caso, saber também sobre Draco. E por mais que Gina ainda se doesse com a arrogância do outro, não o trairia. Sabia do grande medo que ele tinha de ser exposto e não queria lhe trazer aquele mal, mesmo que isso significasse trazer algum malefício a si mesma.
-Logo que seu pai lhe atingiu, ele também caiu desmaiado. Tamanha era a força que aquela maldição exigia de quem a lançasse. – Narcisa começou.
-Era a Maldição Aneratis. – Lúcio falou – Tem esse nome devido ao bruxo que a sofreu primeiro. Foi a primeira vitória que as trevas tiveram sobre um bruxo fraco, que não admitia magia negra. É uma maldição muito antiga. Quando lançada causa um leve corte, que aos poucos vai se abrindo e fazendo com que a vítima perca sangue e sofra lentamente com sua morte. Leva em torno de quatro dias até que a pessoa esteja com o corpo todo cheio de feridas e morra. Mas essa é uma maldição reversível, pode ser parada com um simples feitiço de cicatrização. – ele sorriu – Mas é claro, depois disso a pessoa passa a sangrar por dentro, tendo várias hemorragias internas e morre mais rapidamente.
-É por isso que você tem essa cicatriz, querido. Mas antes que eu estagnasse o corte da maldição, desci até as masmorras nojentas de seu pai – Draco não era o único a detestar o lugar – e o tranquei lá. Pesquisei alguns livros e descobri um modo de impedir o término da maldição: lançando um encantamento sobre ela. – Narcisa sorriu – Demorei algumas longas horas até achar um perfeito. Mas ele era tão forte, já que envolvia linhas de um destino traçado, que tive que sacrificar a vida de seu pai e a minha.
-Não era mais fácil, simplesmente deixar que eu morresse? – Draco perguntou.
-Não querido. Seu pai precisava de uma punição, e eu não poderia ver meu filho ser consumido por uma coisa causada por puro ódio. Não iria deixar de fazer nada, quando podia te salvar.
Draco sentiu um leve remorso por estar tratando sua mãe tão rudemente.
-Eu... Eu sinto muito.
-Acho bom sentir mesmo – Lúcio falou – Pois depois que sua mãe descobriu um modo de te salvar, conseguiu a rosa e colocou nossa essência nela, ou seja, nos matou.
-Simplesmente isso? O que tem a ver meu destino, com o de Weasley, com a volta de vocês?
-Ah, isso são as partes do encantamento. É enfadonho demais ouvir sua mãe contando. Acho que você iria preferir partir para a parte prática. Eu ouvi detalhe por detalhe do que ela fez, cada palavra pronunciada, cada gesto, cada objeto usado. Até a conversa que teve com Dippy, sobre como plantar corretamente a flor, ela contou. E acredite, não é muito divertido, você pode pular tudo isso. – Narcisa lançou um olhar assassino a Lúcio e Draco estranhou esse ar descontraído do pai.
"Talvez mamãe tenha razão. O que a morte não faz as pessoas..." pensou.
-Bom, - falou Narcisa. Desistiu de contar a história inteira para Draco, já que Lúcio acabara deliberadamente com qualquer entusiasmo que ela tivesse sobre isso – o único modo de livrar-se totalmente da maldição é sobrepondo o ódio com que ela foi lançada.
-Ahn?
-Amor – Lúcio fez uma careta – Sua mãe é daquelas garotinhas românticas.
-Você precisa ir atrás da garota, Draco. É o único jeito de salvar-se. Precisa usar o amor que sente por ela.
-Amor? – ele falou – Quem disse que eu amo aquela Weasley ingrata? Ela saiu daqui sem hesitar nem por um segundo. – mentiu – Por que eu deveria me preocupar com ela? Posso agüentar ficar com essa cicatriz para sempre. Se for preciso ir atrás dela para que eu possa me "salvar", prefiro permanecer assim.
Narcisa iria começar com um de seus argumentos românticos, mas Lúcio interveio.
-E se dissermos, que se você não for até lá, a parte da maldição da Weasley começará a se manifestar?
Draco engoliu a seco.
-Pois então, a pequena morrerá aos poucos, como se estivesse com várias hemorragias. – ele soltou um leve sorriso ao dizer isso. Para Lúcio, nunca era demais perder um Weasley.
-Como? Ela já está longe de mim, nosso elo foi quebrado quando... – ele ficou constrangido – Quando conseguimos quebrá-lo.
Lúcio notou o constrangimento de Draco, que parecia ansioso em pular a parte sobre o elo.
-Como vocês conseguiram quebrar o elo? – ele disse malicioso – Você pegou a jovem Weasley e...
-Lúcio! – repreendeu Narcisa – Draco, você precisa salvá-la. Ela tem parte da maldição desde que tocou na rosa, e quer vocês estejam próximos ou não, ela fará efeito.
Draco ficou em silêncio por alguns instantes. Uma luta interna se travava em sua cabeça. Estava por demais preocupado com Gina, mas a mágoa que sentia ainda permanecia tão grande, que ele pensava se não poderia deixá-la morrer. "Talvez ela mereça... Que faça o maldito Potter salvá-la! Não voltou para ele?".
-Mas o que eu precisaria fazer para salvá-la? – ele perguntou – Matar mais duas pessoas e jogar um encantamento em Gina para que ela tivesse algum elo de união com alguém? Fazer ela passar as mesmas coisas que eu? Deixá-la com uma cicatriz?
-Não, querido, você só precisa demonstrar seu amor.
-Como? – ele falou, incrédulo. Toda vez que ouvia aquela palavra pouco pronunciada por sua mãe no passado, duvidava que estava escutando bem.
-Se não usarmos as ladainhas de sua mãe de demonstrar amor, podemos resumir em: indo até ela e a beijando. – falou, o prático Lúcio.
-Só isso?
-Não, é claro que não. – falou Lúcio – Você terá que sair sem qualquer proteção, com o rosto à mostra.
O rosto de Draco subitamente ficou mais pálido do que já era e um leve brilho de preocupação notou-se em seus olhos. Ele teria que enfrentar o que vinha evitando por mais de um ano: teria que perder seu medo de mostrar seu rosto. Tudo isso para salvar uma pequena que o havia abandonado.
-Eu não sei se valeria à pena mesmo fazer isso por ela. – ele murmurou, tentando soar despreocupado.
-Claro que vale! – Lúcio exclamou – Você ficará... – Narcisa o impediu de falar.
-Você poderá ter uma vida feliz ao lado dela, querido. Ela o ama.
-Como você sabe isso? Não estava aqui para ver como não hesitou em me deixar assim que soube que o elo estava quebrado. Ela não se preocupou nem um pouco em saber como eu me sentia vendo que ela podia sair livre por aí sem nenhuma marca no rosto, enquanto eu ficava trancado aqui dentro. Ela não sente nada por mim. Por que deveria ajudá-la?
-Ela gosta muito de você, Draco. Você bem sabe disso, ou senão o elo não teria se desfeito. – Narcisa disse.
-Saber "o que um significa pro outro" não quer dizer que ela gosta de mim. Não quer dizer que eu gosto dela. Que morra! Eu não me importo.
-Você sabe que mente. Você não estaria tão preocupado assim se não se importasse. Não mesmo. – Lúcio disse, divertido com a teimosia do filho.
-Deixem-me! – ele gritou, enquanto saia para o quarto.
=*=
-Harry? – ela murmurou enquanto o via entrar.
Gina estava em casa novamente. Não adiantaria permanecer no hospital, já que contra maldições pouco se podia fazer, ainda mais a que eram desconhecidas. E também se negava a ir até a tal Sra. Growed. Só restava esperar para que aquilo tudo se resolvesse, ou piorasse de vez.
-Eu vou atrás de Malfoy. – Harry falou pegando a mão de Gina – Darei um jeito de trazê-lo aqui e fazê-lo tirar isso de você, Gina.
Gina fechou os olhos por alguns instantes. Era bom saber que poderia contar com Harry, saber que mesmo que ela o tivesse dispensado, ele ainda a amava, ainda se importava com ela e não guardava nenhuma mágoa. De certo modo, ela se sentia do mesmo jeito em relação a Draco. Por mais que se sentisse triste por ele tê-la abandonado, não conseguia deixar de pensar o quanto ele poderia estar sofrendo lá, sozinho. Não conseguia diminuir nenhum pouco o sentimento em seu peito; ao contrário, só aumentava.
-Ele não tem culpa. Nem deve saber que isso está acontecendo, acho que não poderia ajudar...
-Sua mãe se recusa a contar tudo o que sabe. Diga-me, o que aconteceu no tempo que você passou na mansão? Como uma maldição lançada há quase dois anos em Malfoy pode fazer efeito em você?
Ela sorriu.
-Se mamãe contasse tudo o que aconteceu, Draco provavelmente seria massacrado pelos garotos. – um leve desconforto tomou conta de Harry – Mas esta história de maldição é muito complicada para ser explicada. Eu mesma não a entendo completamente.
-Você tem certeza de que Malfoy não sabe como te salvar?
-Não. Ele estava tão cego quanto eu. Aliás, eu acho que ele não se importaria comigo – ela deu um sorriso triste.
-É. Malfoy não se importaria... – Harry não botou tanta confiança no que Gina dizia. Ele via claramente que ela estava magoada dizendo tudo aquilo – Mas você acha que... que pode...
-Morrer? Não sei... – ele a abraçou, e uma súbita tristeza a pegou, fazendo-a chorar. Não sentia mais nenhum incomodo em saber que Harry era aquele jovem que sempre se preocupava em ajudar, em protegê-la. Ela precisava dessa ajuda, dessa proteção – Estou com medo, Harry.
-Eu também... eu também... – ele murmurou enquanto a afagava.
=*=
Draco estava deitado em sua cama. Às vezes ele pensava que a melhor maneira de organizar os pensamentos era fitar o teto negro de seu quarto. E era isso que fazia.
Dentro de si tinha um medo enorme de perder Gina, mesmo sabendo que já não a tinha mais. Mas não a ter ao seu lado e saber que ela está viva era uma coisa; agora não tê-la sabendo que ela está morta era outra totalmente diferente e mais torturante.
Sabia que no fundo queria ir lá e salvar Gina. Sabia que poderia enfrentar a cara de repulsa de todos somente para saber que ela viveria, nem que não vivesse com ele. "Então por que eu hesito?" perguntou-se. "Por que ela não se importou..." veio a resposta no mesmo instante. "Ela simplesmente se foi, simplesmente me abandonou".
No mesmo momento que pensou nisso, se lembrou das semanas de Gina na mansão. Das discussões, dos choros, do jantar, da dança, dos beijos, da poção horrível de se tomar. "Poção? Ah, ela me ajudou naquele dia...". Tentou se lembrar do que ocorrera antes dele se ferir, e recordou-se das palavras rudes que pronunciara quando ela manchou o pergaminho, ou quando ela havia entrado com Potter. "Eu havia tratado-a mal a manhã inteira e ela não hesitou nem por um segundo em me ajudar" refletiu. "E agora, quando ela precisa de mim, eu não quero ajudar... Talvez eu não tenha merecido o sacrifício feito pela minha mãe. Como posso hesitar numa situação dessas?".
-Eu a amo. – ele sussurrou – Não posso hesitar. E vocês dois – disse alto – poderiam tentar ser mais silenciosos. Eu tenho certeza de que não eram tão barulhentos assim quando eram vivos!
-Era sua mãe que não calava a boca dizendo que você não iria se decidir. – Lúcio falou, ficando visível.
-Oh, não, era seu pai que ficava sussurrando que eu poderia ter escolhido uma tulipa com flor.
-Tulipa? – perguntou Draco. Ele ainda estava estranhando a mudança da personalidade de seus pais, mas estava gostando deles serem tão tagarelas. Isso fazia com que se esquecesse das coisas ruins que guardara sobre eles.
-Sim. – Lúcio falou meio embaraçado – Tulipa é uma flor de aparência simples, mas extremamente forte.
-Você gosta de tulipas? – Draco perguntou, escondendo um sorriso.
-Bem, não... Quer dizer, eu a acho uma bela flor.
Aquele foi o ponto pra que Draco se convencesse de que o pai havia mudado mesmo. O Lúcio Malfoy de antigamente nunca teria se importado com uma flor, aliás, nunca se importava com quase nada que não tivesse relacionado com as trevas.
-Mãe, o que você deu ao papai? Tônico Potter?
-Ora, Draco, que ofensa! Como se algum dia eu fosse ficar parecido com os Potter.
-Mas o que você fará, querido? Já decidiu? – Narcisa falou, ansiosa.
Ele respirou fundo.
-Já. Eu vou atrás dela.
-Oh, querido! – Narcisa soltava sorrisos – Se não fosse um espectro eu te abraçaria!
-Ok, ok... Eu já enrolei demais. Só preciso beijá-la e pronto?
-Você precisa ainda... – Narcisa interrompeu Lúcio novamente.
-Você precisa chegar até ela logo, querido. Desde que fomos libertados a maldição se liberou, então só resta poucas horas para que você a salve. – disse ela, sua calma de sempre reinando. Só que desta vez, um pouco de um humor disfarçado era levemente percebido.
-O quê?
-Você não sabe? – Lúcio falou – Qualquer maldição tem tempo determinado. São doze horas até que esteja terminada. Bem, você nos libertou de manhã.
Draco tentou se lembrar da hora em que havia saído pro jardim. Não era mais que uma da tarde.
-Droga! Vocês poderiam ter me avisado antes. Deveriam ter avisado! Já é noite! Eu tenho pouquíssimo tempo agora e nem ao menos sei onde Gina está!
-Você descobre – disse Lúcio, dando de ombros.
Draco fez menção de sair correndo quarto a fora, mas parou subitamente.
-E vocês? Vão ficar assombrando minha mansão para sempre?
-Ora, ingrato! Você herdou essa mansão de mim! Eu posso muito bem assombrá-la se quiser! Mas nós não somos fantasmas, somos espectros.
-E qual a diferença? De qualquer modo vocês são invisíveis e estão mortos.
-É complicado demais para que um ser vivente entenda, Draco. – Narcisa falou – Mas saiba que nós sairemos assim que tudo acabar, assim que o encantamento se extinguir.
-Quando eu beijar Gina?
-É, garoto!
-OK, adeus! – ele falou alegre demais pra uma despedida – E eu não sou um garoto!
Enquanto observavam Draco correr pelo caminho do jardim até o portão, Lúcio falou:
-Por que você não deixou que eu dissesse que a cicatriz sumiria se ele passasse do portão?
-Porque assim ficaria fácil demais para ele se decidir. Não estaria levando em conta o sentimento que tem pela garota.
-Então se queria uma prova maior, por que não me deixou contar que a maldição passará para ele quando a beijar, que ele vai morrer salvando-a? Ficaria bem claro o amor dele se passasse por essa provação.
-Ele vai saber na hora certa. – ela falou – E se a garota realmente o amar, tudo dará certo...
"N/A: Vocês gostaram dos dois? Não acharam a Narcisa um tanto romântica e dramática? Pois é... ela está bem Yellowred... hauahuhau... E viram como eu fui boazinha? A cicatriz do Draco logo sumirá... e ele ficará bunitinho novamente...=) Ah, obrigadão pelas reviews!!".
"N/A : Afff... eu vou tentar colocar o endereço do 3V aqui, de novo: www.alianca3vassouras.com/fics. Se vcs estiverem realmente interessados em verem a capa, vão até lá e procurem a fic no acervo, OK?".
