Capítulo 15 – O beijo

"But somehow I found my baby that night

I lifted her head; she looked at me and said

'Hold me darling just a litter while'

I held her close I kissed her, our last kiss

I found the love that I knew I have missed"

-Last Kiss – Pearl Jam

11:30 PM

Draco desceu as escadas quase voando, tamanha pressa que tinha. Não pensava em nada, somente na possibilidade de que poderia perder Gina se não fosse rápido o suficiente.

Passou correndo pelo caminho até o portão, mas pode ver claramente a rosa branca. Ela não estava murcha, já que o frio ainda poderia preservá-la por algum tempo; mas suas pétalas começavam a se queimar com o contato da gélida neve e sua beleza se extinguia.

"Ministério. Preciso ir ao Ministério. Eles devem saber onde os Weasley vivem".

-Eu não passaria todo esse frio se pudesse aparatar de casa! – ele resmungou. Por causa do elo que prendeu ele a Gina, Draco precisava passar pelo portão para que o encanto realmente surgisse efeito. "Baboseiras românticas...". Ele também tinha a mesma idéia de Lúcio de que a mãe era uma daquelas eternas sonhadoras.

Estava tão afobado quando atravessou o portão que não ligou para a súbita e passageira tontura que tomou conta de si, e muito menos percebeu a transformação que ocorrera em seu rosto. Ele só pensava em aparatar, e correr, correr...

=*=

11:45 PM

Gina apertava fortemente suas mãos contra o estômago. Uma dor horrível tomava conta dela e a única coisa que conseguia fazer era se contorcer de dor. Seus pensamentos se perdiam, mas de uma forma ou de outra, sempre acabavam em Draco. Por fim, acabou por chamar seu nome.

Harry estava ao lado dela, assim como Molly e Arthur. Rony havia ido levar Hermione para casa, apesar da insistência da garota de querer ficar com Gina. Fred e Jorge tinham partido na manhã anterior para uma viagem de negócios e ainda não sabiam da súbita maldição que atacava a irmã.

-Por que ela chama tanto ao Malfoy? – Sr. Weasley perguntou.

-Talvez porque goste dele. – Harry falou, desolado.

Molly mais uma vez passou a mão sobre a testa de Gina, a ruiva ardia em febre. Ela se levantou da cama e deu um suspiro alto, segurando as lágrimas que vinham em seus olhos.

-Eu preciso falar com você, Arthur. – ela disse puxando-o para fora do quarto. Iria contar tudo.

Harry cruzou os braços. Não havia nada que ele pudesse fazer, para ajudar a pessoa que mais amava naquele momento. Não podia nem ao menos dizer que estaria ao lado dela para lhe amparar, já que não adiantaria muito. Sabia que quem Gina desejava ter ao lado não era ele, e uma dor lhe consumia a cada vez que ela chamava baixinho: "Draco... Draco...". Harry jurava que se visse Malfoy à sua frente era capaz de matá-lo, tamanha a raiva e tormento que sentia, tamanho amor que gostaria de dar a Gina e não poderia, simplesmente porque ela chamava por outro nome.

-Não pode ser! – exclamou Arthur.

-Foi exatamente o que Gina me contou quando chegou aqui. – Molly suspirou.

-Querida, isso é sério. Como vocês duas esconderam isso? E se o elo dos dois já está quebrado, por que Gina parece estar sobre o efeito da maldição?

-Não, sei, Arthur, não sei. Acho que ainda não acabou como Gina pensou. Talvez Draco Malfoy também esteja passando por apuros, como nossa filha.

-Eu vou atrás de Margareth Growed. – disse enquanto se levantava da cama do casal - Devíamos ter invadido aquela mansão naquele dia, teríamos evitado tudo isso. Como eu fui tolo em subjugar uma coisa feita por Lúcio Malfoy! Será que nunca teremos descanso com esses malditos Comensais? Nem mesmo depois de que Você-Sabe-Quem foi derrotado?

-Um dia vai acabar. Mas é bom nos preocuparmos com Gina agora. Poderíamos ver o jovem depois. Você sabe agora, ela nutre um sentimento por ele. Viu como o chama?

-Um Malfoy, um Malfoy... – ele disse enquanto colocava a capa. – Vamos ver. Eu preciso falar primeiro com Beth... Espero que ela não durma cedo...

=*=

11:50 PM

Draco olhou de baixo para cima o alto prédio do Ministério. Ele ficava num lugar escondido para trouxas, mas era muito fácil de ser visto por bruxos, tamanho porte e grandeza. Não sabia por que nunca gostara do pessoal do Ministério. Talvez porque seu pai reclamava de hora em hora sobre todas as cobranças e satisfações que Cornélio Fudge sempre fazia a ele, por ser um empresário bruxo do alto escalão, e também por ser um puro-sangue de família tradicional.

Subiu correndo os degraus da entrada e logo que cruzou a porta pisando num tapete musgo, deu de cara com um recepcionista sentado num sofá muito grande, com um balcão baixo à sua frente. Draco teve que esticar o pescoço para que pudesse ver o funcionário, já que o balcão cobria a vista do sofá.

-Boa noite – o homem de cabelos castanhos disse.

O louro avaliou o semblante do homem à sua frente. Nenhuma hesitação, repugnância ou nojo de sua cicatriz. "Talvez seja um idiota cego..." ele pensou. Agradeceu por não ter sido desprezado pela primeira pessoa, depois de Gina, que o vira com a cicatriz e foi dizendo:

-Weasley. Eu preciso falar com algum Weasley. Há algum aqui no momento?

O jovem olhou distraído para algumas páginas de uma caderneta.

-Arthur Weasley comunicou-se com a Sra. Margareth Growed e os dois virão se encontrar aqui daqui a alguns minutos.

-Não há algum outro aqui? – Draco se lembrava de que Gina havia dito que um irmão trabalhava no Ministério. "Como era o nome daquele Monitor CDF?" tentou se lembrar, mas o nome lhe fugia.

-Há o Sr. Percy Weasley e a Sra. Penélope Clearwater Weasley. Mas eles estão em sua casa, como a maioria dos trabalhadores do Ministério – disse, como se aquilo não fosse óbvio.

Draco se irritou. Não poderia ficar esperando até que o Sr. Weasley chegasse, precisava correr mais do que nunca. "Maldita idéia em ter vindo aqui. Perda de tempo!".

-Você poderia me informar como eu posso chegar até a casa dos Weasley?

-Qual Weasley? Nós temos os Weasley do norte da Inglaterra, ou os do...

-Casa de Virginia Weasley, que provavelmente ainda trabalha aqui – ele o interrompeu nervoso.

-Ah, sim! Você pode entrar aqui nesta sala – ele disse indicando uma porta – e ir via Flú. É só dizer: A Toca.

Draco fez uma careta de desgosto.

-Você não poderia me dizer exatamente o local? Assim eu poderia aparatar. – Draco não gostava muito de usar pó de Flú. Era um modo tão inconveniente ficar todo sujo de fuligem.

-Eu nunca fui até lá aparatando. Nunca pensei nisso! – ele exclamou jovialmente – Só poderei mesmo ajudar nisso. Caso o senhor desejar mesmo ir aparatando, pode esperar o Sr. Arthur. Ele sempre está pronto para ajudar, ainda mais um visitante.

"Oh, claro, eu estou querendo fazer uma visita no meio da noite. Claro, só uma anta com você poderia pensar nisso".

Não restando outra opção, Draco foi até a sala indicada.

No momento em que estava entrando, um senhor com fios vermelhos ralos na cabeça, entrava apressado no saguão. Ele pôde ver o jovem seguindo pela porta da sala de Flú, e teve um lampejo de reconhecimento dos cabelos louros, mas era quase impossível que fosse mesmo quem estava pensando, que hesitou por um segundo.

-Malfoy? – ele gritou.

Draco virou-se imediatamente. Olhou espantado para a cópia perfeita de Fred e Jorge Weasley mais velhos. Sem dúvida alguma aquele era o famoso patriarca da montanha de irmãos de Gina.

Quando Malfoy se virava, Arthur já esperava ver a cicatriz que Molly comentara distraidamente. Mas ficou surpreso quando não constatou nada no rosto do bruxo, absolutamente nada de anormal. Era o jovem louro que ele se lembrava ver algumas vezes na estação King's Cross, apenas alguns anos mais velho.

-Weasley? – Draco perguntou, indo em direção a ele.

-Arthur Weasley. – ele respondeu – O que você está fazendo aqui?

Draco odiava dar explicações. Ainda mais quando dependia de minutos preciosos para salvar a garota que ele sabia que sentiria muita falta se perdesse. Mas desta vez ele resolveu ser mais camarada, afinal, era o pai de Gina.

-Eu estava tentando descobrir como chegar na sua casa. Preciso ver Gina.

Estivesse em outro dia, a reação do Sr. Weasley seria totalmente diferente, pois ele era famoso por sua paciência e bondade; mas naquele momento ele estava tão irritado com a notícia recebida a pouco de que por causa de um Malfoy sua filha estava sofrendo, que perdeu o controle.

-Escute aqui, garoto, você já não acha que é suficiente o estrago que causou a Gina? Primeiro esta maldição cai sobre ela, e vocês acabam tendo algum relacionamento. Até aí estaria tudo bem se a maldição se extinguisse quando o tal elo foi quebrado. Mas isto não aconteceu e quando ela precisava do seu apoio, você simplesmente a expulsou para fora de sua casa, de sua vida.

-Eu não sou um garoto – ele disse entre dentes – E não foi exatamente assim – Draco disse. "Bom, se não chegar a tempo a culpa será desse velho maldito querendo me dar lição de moral...".

-Não? Draco Malfoy, quando você revelou o esconderijo d'Aquele-que-foi-derrotado, eu pensei sinceramente que você era um bom rapaz. Mas abandonar uma garota com uma maldição não parece algo digno.

Draco estava cheio de raiva. Não se importou se sua cicatriz estava exposta, nem que em algum momento o bruxo à sua frente poderia usá-la contra ele. Só sabia que estava com muita raiva do homem, que já ouvira de Gina, era um poço de bondade. Odiava ser contrariado. Odiava que os outros julgassem erradamente suas convicções e era isso que achava que Arthur estava fazendo.

-Escute, seu procriador de ratos vermelhos, em nenhum momento eu desejei que esta m**da de maldição caísse sobre Gina, afinal, não fui eu que a convidei para minha casa. Estou fazendo o possível para salvá-la e você vem com essa história de que eu só a prejudiquei? Oras... – ele deu de ombros – Eu só gostaria de uma coisa nesse momento: que essa maldição se liberasse de Gina e fosse para todos vocês, para todos os malditos Weasleys de cabelos vermelhos berrantes! Sim, eu desejo a morte para sua família inteira. Que sofram muito. – ele disse entre dente, enquanto se virava e entrava na porta novamente.

Arthur ficou alguns segundos parado. "Se for mesmo verdade que Gina havia se apaixonado por este Malfoy, ela provavelmente perdeu sua sanidade mental..." pensou. Desejou que a filha nunca tivesse se envolvido com ele, seria tão mais fácil se ela tivesse mantido o compromisso com Harry.

Sr. Weasley até tentou alcançar Draco, mas quando entrou na sala só restava poeira causada pelo pó de Flú. Draco se fora. Ele ignorou por completo que o jovem havia dito que estava procurando saber como chegar A Toca e foi procurar a Sra. Growed...

=*=

12:25 AM

-Ei!

Draco virou o rosto. "Essa não...". Estava limpando as fuligens negras em sua roupa, sujando o carpete da sala da Sra. Weasley, quando viu Rony entrando pela cozinha.

-O que você quer? – o ruivo chegou mais perto. Até que reconheceu Draco – Malfoy?

"Provavelmente ele vai dizer: 'Seu rosto! Oh, o arrogante Malfoy parece um monstro'".

-O que você acha que eu quero, Weasley? – ele falou ríspido, resolveu atacar primeiro – Pedir esmola é que não é.

-Você não é bem-vindo, Malfoy, dê o fora. Já basta ter trancado minha irmã por um mês na sua mansão suja, agora vai querer perseguí-la?

"Bem, deve estar escuro por aqui...".

-Oh, provavelmente você gostaria de morar na minha "mansão suja", não Weasley? Ela é muito melhor que esse amontoado de paredes, que você vive, com certeza. – Draco estava com pressa, mas não resistiu em tentar o velho inimigo um pouquinho.

-Ora, seu arrogante... Dê o fora, Malfoy! Se não fosse por Gina estar tão doente eu poderia te quebrar a cara agora mesmo, mas...

-Por que não tenta? – chamou.

Mas quando Rony ameaçou avançar, ouviu um grito. Um grito feminino vindo do andar de cima. "Gina..." Draco pensou. Sentiu um aperto em seu peito, pois estava claro que aquele lamento estava carregado de dor, ela estava sofrendo. "Não acredito que estou brigando com este idiota enquanto Gina está morrendo!". Sentiu-se um egoísta por ter se esquecido do motivo de sua ida até lá e torceu para que ainda houvesse tempo. Nunca se perdoaria se algo acontecesse a ela.

-Weasley! – ele chamou.

Rony voltou seu rosto para Draco novamente e a única coisa que pode ver foi um flash de luz amarela vindo em sua direção. Até tentou desviar, mas foi tão perto e rápido, que o tiro fora certeiro.

"Se não fosse a consideração por Gina, você já estaria morto..." pensou Draco, enquanto subia as escadas o mais rápido que podia.

Quando entrou no quarto de Gina se deparou com Harry sentado numa cadeira ao lado da cama e com a Sra. Weasley sentada ao lado das pernas de Gina.

Parecia que uma pedra havia se instalado no estômago de Draco no momento que viu a cena. Odiou estar tão atrasado assim. Não podia ter certeza, mas sabia que o perfeito Potter provavelmente estava ali há muito tempo, amparando a Gina, e ele só chegara naquela hora, depois de insultar e provocar dois integrantes da família. "Talvez ela devesse ficar com Potter..." pensou cabisbaixo.

Mas uma luzinha se acendeu dentro de si, pois ele sabia que somente ele poderia salvar Gina, só ele poderia dar-lhe um beijo e tirar todo o sofrimento da pequena. Só ele. "Não importa se a mereço menos que Potter. Eu posso salvá-la".

Os dois o olharam com uma cara de espanto e isso fez com que Draco hesitasse. "Eles estão vendo meu rosto, minha cicatriz". Aquele era seu maior medo: ser repugnado. Ele fechou os olhos e tentou tomar forças para fazer o que tinha que fazer. "Que te olhem, Draco. Não ligue, não ligue... Por Gina".

-Gina! – gritou e correu até a cama.

Tomados por susto, os dois não fizeram nada ao verem Malfoy se debruçar sobre a figura sonolenta de Gina. Mas assim que a Sra. Weasley tomou consciência de que aquele era Draco Malfoy, levou as mãos à boca. "Ou Gina está completamente louca, ou ele perdeu a cicatriz!" ela pensou.

Harry, após a surpresa, ficou irado. Não poderia dizer qual sentimento estava aflorado naquele momento: se raiva, mágoa, ciúmes ou ódio... Só sabia que não estava gostando nada de ver Draco ali.

-Malfoy, sai de cima! – Harry falou enquanto o puxava para longe.

Draco rangeu os dentes.

-Potter!

-Por favor, garotos! – a Sra. Weasley pediu, vendo que Draco tinha a varinha na mão e que Harry já procurava pela sua – Temos uma garota em um estado grave aqui e eu tenho certeza que é do interesse dos dois que ela fique bem.

Draco correu novamente para o lado de Gina e desta vez Harry não fez nada, censurado pelo olhar de Molly.

-Gina – ele chamou suavemente – Acorde, Gina.  – Até mesmo naquele momento, Draco tentava não demonstrar o que estava sentido. Mas era claro, a quem quer que ouvisse o seu desespero ao ver a garota naquele estado.

-Ela desmaiou há pouco. Talvez tenha sido melhor, já que acordada sofria muito mais com as dores. – murmurou a senhora.

Draco estava muito nervoso. Queria que Gina acordasse logo, já que sabia que lhe restava pouco tempo, e também queria quebrar a cara de Potter, pois estava consciente de que o outro o fuzilava com os olhos. Mas ele ignorou os sentimentos raivosos que sentia pelo bruxo dos olhos verdes e concentrou-se em Gina, chamando-a insistentemente, até que ela acabou por se mexer e abrir os olhos, dando de cara com Draco.

-Draco? – falou num fio de voz – Eu... Eu sinto muito... Você sabe que... – ela começou a chorar.

-Não se preocupe, vai dar tudo certo. Eu... – Gina o interrompeu.

-Seu rosto! – ela levou a mão até o rosto dele – A cicatriz sumiu, você está bem! Oh, eu fico tão feliz.

Ele passou a mão sobre o rosto, não sentindo marca nenhuma. Soltou um sorriso tímido. Várias emoções tomaram conta de si. O reencontro com Gina, o desaparecimento da cicatriz, a responsabilidade de ajudá-la... Tudo isso o fazia ter vontade de chorar, de derramar tudo o que estava sentindo e pesando por dentro. Mas ele se segurou. Iria ser muito humilhante chorar na frente de Potter, logo Potter.

-Eu falei com meus pais, Gina. Eles me disseram como te ajudar, disseram como eu posso te livrar da maldição – ele falou rápido, atropelando as palavras.

-Oh, Draco. Eu pensei que nunca mais te veria, estava preocupada. – ela soltou um gemido de dor. – Eu te amo...

Harry, ao lado, ficou enojado e deu as costas para os dois.

Em resposta, Draco abaixou-se, levantando a cabeça de Gina com sua mão e a beijou, o beijo que a salvaria. Sentia as lágrimas da ruiva escorrerem por seu rosto, ao mesmo tempo em que uma sensação de felicidade passava por seu coração, e ele sabia que poderia morrer naquele exato momento. Sabia que não precisava viver mais nada, só bastava saber que salvara Gina. Apenas isto.

Aos poucos, enquanto se agarrava mais forte em Draco, Gina sentia que as dores por todo o corpo iam diminuindo, se extinguindo, até que quando suas lágrimas pararam de escorrer, Draco a soltou e caiu de joelhos no chão. Ela olhou espantada.

-Draco?

Ele sentiu seu corpo mole e sua cabeça pesada. Em questão de segundos a sensação era de como milhões de facas estivessem dentro de si rasgando suas veias, ossos e carne. Então entendeu que a tal da "hemorragia interna" não era só um simples vazamento de sangue por dentro, mas sim, uma autêntica e eficiente parte da maldição, que o fazia querer morrer de tanta dor e sofrimento. Viu que o rosto de Gina já não estava mais tão pálido e que ela não gemia de dor. Poderia até sorrir por vê-la bem, mas a dor era demais.

-A... A maldição passou para mim... – ele conseguiu murmurar, agachando de dor no chão, ao lado da cama de Gina.

Agora estava feito. Perguntou-se, enquanto sabia que ainda conseguia raciocinar, se beijaria Gina se soubesse que tudo passaria a ele. Se soubesse que ele que morreria. "Do que adianta pensar agora? Já está feito, ela está bem. Não importa mais. Pelo menos morro com meu rosto sem deformações...".

Agora que não havia mais nada que a impedisse realmente de entender tudo, Gina pôde perceber. Draco havia ido ali apenas para lhe salvar. Estivesse ou não com a cicatriz quando saiu, Draco só saíra por causa dela. Saíra para morrer. "Ele está se sacrificando por mim" ela pensou, aos prantos. Se algum dia teve dúvida do que ele sentia por ela, não teve mais. Mas sabia que era um grande preço a se pagar. "Não pode ser assim...".

Gina colocou um pé para fora, querendo ajudá-lo, fazer alguma coisa, mas Harry a segurou.

-Como passou para você? – ela gritou, os braços de Harry envolvidos em volta de si, mantendo-a longe de Draco. – Me solte, Harry!

-O beijo... – ele conseguiu falar, batendo a cabeça no chão.

-Você sabe o que podemos fazer? – Molly falou desesperada, vendo Draco se contorcer.

-Nada... Eu vou... Eu vou morrer.

-Não! – Gina gritou, começando a chorar novamente – Me solte, Harry, eu preciso... Draco! – um fino filete de sangue escorreu pelo nariz de Draco – Venha aqui, você não pode... Não pode ficar com a maldição. Harry... – ela se debatia tentando se soltar de Harry, mas nada conseguia.

Ela havia entendido. Talvez então, se beijasse Draco, a maldição voltasse a ela. Não era necessário pensar para que Gina tivesse a certeza de que o beijaria para lhe salvar. Afinal, ela sabia muito bem o que Draco significava para ela, não tinha dúvida nenhuma. E se ele não estivesse bem, provavelmente ela não estaria. Precisava fazer algo, nem que tivesse que sacrificar sua vida.

O jovem dos olhos verdes sabia o que Gina faria se a soltasse: ela beijaria Malfoy e isso significaria a sua morte. Não, ele não deixaria que a garota se entregasse assim por causa de um Malfoy. A amava demais para vê-la se condenar à morte. Mas o que mais lhe atormentava naquela hora era a dúvida de que se fosse ele que estivesse nesta situação, Gina seria tão ávida em tentar lhe salvar a vida, sacrificando a sua.

E Draco pedia para que tudo acabasse logo. Sabia que faltava pouco tempo para que a maldição finalmente terminasse e ele perdesse a vida, mas parecia que os segundos não passavam e não ajudava em nada ouvir Gina gritando desesperada.

De repente, como uma brisa suave, Gina ouviu: "Um outro beijo extinguirá a maldição" como se alguém sussurrasse algo dentro de sua cabeça. Esta frase ecoava dentro de sua cabeça, e ela sabia agora que tinha mesmo que fazer aquilo. Começou a se debater mais ainda tentando se soltar de Harry, tentando alcançar Draco. Tentando salvar a pessoa que aprendera a amar. Não se importava que talvez tivesse que perder sua vida, não se importava que estava fazendo sua mãe e Harry sofrerem ao verem que ela queria se sacrificar. Só não queria ver a pessoa, que sabia que mais amava no mundo, morrer bem à sua frente, sem fazer nada.

Draco forçou-se a abrir os olhos uma última vez e viu Gina, os braços presos por Harry, as lágrimas molhando o rosto, a boca apelando por seu salvamento. Mas ele sabia que não adiantava. Estava feliz por saber que Gina sobreviveria e, que ironia, feliz por saber que ela teria Harry pra lhe amparar.

-Me solte, Harry! Me solte! – ela gritava entre soluços – Eu posso salvá-lo… Me solte…

Os gritos desesperados de Gina ecoavam por toda a casa. Mas não havia nada que pudesse se fazer, o tempo estava terminado. E Draco só tinha uma certeza: "Eu a beijaria, mesmo sabendo que iria morrer, eu a beijaria...".