Disclaimer: "Mauricio" é do Legião, os versos estão fora de ordem, a Lucy pertence a Estelle ^^
A rocha
"Já não sei dizer o que aconteceu"
Lucy observava Gina dormindo. Tinham recebido os convites para o casamento de Harry e Hermione naquela tarde. Draco fora visitar Gina, e ela aparecera logo depois que ele se fora. Imaginara que ela teria ficado perturbada, e a encontrara chorando encolhida. Sua sorte era que tinha as chaves do apartamento, pois a porta, protegida contra feitiços de arrombamento, Gina não se levantara para abrir. Lucy a observava, sabendo que a amava, e que queria seu bem acima de tudo. Certamente aquela era sua melhor amiga, junto com Michelle e Hermione, mas nada como Gina. Havia intimidade entre as duas desde que entraram em Hogwarts e Lucy, na Sonserina, a ajudara em poções. Riu-se internamente, pensando que era normal que nenhum grifinório aprendesse poções com Snape. Ele queria apenas deixá-los sem jeito. Hermione, claro, conseguia, mas ela era uma intragável sabe-tudo. Engraçado. Não havia nada que devesse fazer elas se conhecerem, mas hoje, Gina era a coisa mais preciosa que ela tinha.
"Pra onde é que eu vou?"
Apesar de tudo, ela não sabia dizer o que fazia elas duas serem tão amigas e companheiras. Em pensar, que se conheceram discutindo, na biblioteca. Lucy ouvira Gina aos seus doze anos, falar a Cristine, sua então melhor amiga, que muitas vezes desejava se matar, por conta de tudo que acontecera na câmara secreta, e por conta de que Harry jamais notava nela. Lucy, então em seu terceiro ano, gritara com ela, como se fosse a dona da verdade. Lembrar disso dava vontade de rir. Como tinha sido pretensiosa! Não cabia a ela, uma desconhecida, julgar as atitudes de Gina ou não. Na teoria, nem deveria tomar conhecimento da existência da menina, mas jamais um Weasley passava desapercebido, especialmente um Weasley com fixação em Harry Potter. Aliás, nessa ocasião, Lucy também o conhecera. Ele tinha vindo defender a pequena Weasley do que ele acreditou ser uma Sonserina implicante. Não era.
E aonde tudo aquilo tinha a levado? Quem ela era depois de tudo aquilo? Não sabia. Lucy Nott não sabia o que seria dela mesma se não tivesse conhecido Gina e, como falavam Malfoy e Pansy Parkinson naquele tempo, tinha se juntado a gentinha da Grifinória. Provavelmente seria uma comensal, apesar de ter um espírito mais sereno, mais sonhador e flutuante do que sanguinário. Engraçado. Se não fosse aquela briga naquele dia, nem ela nem Draco teriam se salvado. Teriam morrido... Ninguém sabia, mas ela sim, que Draco chegara a ser um comensal, e até mesmo matar uma pessoa. Não apenas uma pessoa, tinha matado Cristine, bem na sua frente, ela era filha de trouxas. Depois ele sentara no chão e chorara, gritando como um bebê. Ele não queria ter feito aquilo.
"Se meu desejo então já se realizou
O que fazer depois"
Tudo que ela desejara, era um final para aquele polígono. Não agüentava mais aquela história de "Gina amava Harry que amava Hermione que amava Rony que amava Sarender" e assim por diante. Machucava todas elas aquilo, e não menos a ela. A cada decisão idiota de Harry, perante a qual elas desmoronavam um pouco, era ela, Lucy, sempre forte e séria que as segurava. Principalmente Michelle e Gina, pois Hermione tinha mania de ficar calada, ou procurar uma outra grande amiga delas, Marcy Bloom. Dar força aquelas duas era sua maior tarefa, que ela cumpria com alegria, mas ao mesmo tempo a esgotava. Se doava demais às duas.
De certa forma, gostava da idéia daquele casamento. Ele traria muita estabilidade a tudo aquilo. Agora, as coisas não teriam como ser mudadas, logo, as meninas aprenderiam a se conformar e a lidar com aquilo. Era melhor, pois agora, era pouco provável que pudessem contar com ela por muito tempo. Logo Lucy partiria, e queria que elas estivessem bem, em uma situação estável. Morava com Michelle, e quando partisse, já tinha escrito sua carta, pedindo que Michelle fosse morar com Gina. Seria melhor para as duas, e a deixaria mais tranqüila. Já que ela não poderia tomar conta de ambas, que elas ao menos tomassem conta uma da outra.
"O meu coração já não me pertence
Já não quer mais me obedecer
Parece agora estar tão cansado quanto eu."
Tinha ido ao médico havia pouco tempo, e ele tinha confirmado. A doença dos Count estava nela também. Entranhada em suas veias, e a mataria um dia, mais cedo ou mais tarde. Ela estava cansada, e queria repousar para sempre. Mas sabia que se houvesse vida após a morte, ela sentiria falta demais de tudo que tinha viva, especialmente das meninas, e deveriam se passar muitos anos até que uma delas viesse a morrer naturalmente. Lucy não gostava da saudade. Era um sentimento nobre, no entanto aterrador. Dominava, machucava, doía demais. No entanto era aquilo que a esperaria quando morresse. Saudades eternas, até que alguém a viesse fazer compania.
Claro, poderia ver sua mãe, que morrera cedo pela mesma doença. Era algo que atingia mais da metade da família dela. E atingira Lucy. Ela sabia que estava morrendo, mas não dissera nada das meninas. Parvati, que era sua amiga de infância, sabia. Marcy também. Mas as proibira de contar qualquer coisa a Hermione, Michelle e Gina, não queria deixá-las preocupadas, pelo contrário. Sentia que fazê-las ficar bem era seu dever.
"Às vezes faço planos
Às vezes quero ir
Para algum país distante e
Voltar a ser feliz."
Estava acostumada com a idéia da morte, não a assustava. Mas ao mesmo tempo odiava saber que morreria sem fazer muitas coisas. O tanto de vida que ela jamais teria para aproveitar, a paixão que jamais sentiria, os filhos que não iria ter, os lugares que não ia visitar, os segredos que não iria conhecer. Vivia cada dia como se fosse o ultimo, mas aquilo não a dava tempo de fazer tudo que queria. Lucy sempre gostara de planejar, imaginar, o dia de amanhã, e aquilo não a permitia fazer isso. A doença a obrigava a viver sempre, com intensidade e sem planos.
Mas ela desejava e planejava mesmo sem saber se conseguiria cumprir seus planos e metas. Era como tentar fazer alguma coisa cronometradamente: mesmo que ela conseguisse fazer aquilo sem o relógio, o relógio a impedia de conseguir fazer as coisas na mesma rapidez. Não a impedia, mas ela acreditava que não daria tempo, no entanto, planejava, pois nada mais tinha para fazer. Planejava, como se por brincadeira.
"Até pensei que era mais por não saber
Que ainda sou capaz de acreditar."
No fundo, no fundo, ela acreditava em tudo, menos nela mesma. Vivia duvidando de si e de seu potencial, com uma insegurança constante. A doença só aumentava isso. Vivia dizendo pra si mesma, que se tivesse se cuidado mais, se tivesse feito as coisas como deveria, ela jamais teria ficado doente. Mas aquilo exigiria sacrifícios demais, e ela acreditara que a cura chegaria antes de sua hora. Não fora bem assim, e ela pagava agora por ter confiado demais nos estudos que tinham. Nada ainda que fosse o suficiente para a salvar da morte certa.
Mirou-se no espelho que estava preso na parede de frente para a cama de Gina. Não gostava de se ver, mas sentia como se estivesse se despedindo de seu próprio corpo. Olhou atentamente para seus cabelos escuros, presos de qualquer jeito, e seus olhos ainda mais escuros que refletiam toda a preocupação que tinha com aquela pequena criaturinha ruiva deitada ao seu lado, com a cabeça em seu colo, aonde ela afagava. Olhou seus braços longos e suas pernas compridas que tinham feito dela a menina mais alta do seu ano quando estavam em Hogwarts.
"Me sinto tão só
E dizem que a solidão até que me cai bem"
Pensar em Hogwarts a fez lembrar de Alvo Dumbledore. Fora ele que contara para ela quando seu pai morrera, em seu sexto ano. Fora ele que contara a ela que a doença que tinha matado sua mãe era hereditária. Fora Dumbledore que a consolara quando por conta de sua falta de coragem, seu melhor amigo, Blaise Zabini, morrera como forma dos comensais a atingirem. Fora ele que a consolara quando ela, descontrolada, caíra no chão para chorar a morte de Lupin e os comensais a pegaram, a fazendo de prisioneira por meses a fio. Ele tinha cuidado dela melhor que seu pai, quase tão bem quanto cuidara de Harry. Confiara nela quando todos desconfiavam dos sonserinos, e a abrigara depois do fim da guerra por mais de seis meses, até ela se mudar para a casa de Michelle.
Era com ele que ela contava quando a barra pesava demais, e o castelo da escola, era sua casa quando ela precisasse fugir ou pensar. Tinha sido isso que o diretor a dissera, e quando ela soubesse que o fim se aproximava, iría para lá. Queria ser enterrada em Hogsmeade, sempre perto do lugar que tinha sido sua casa.
"Já não sei dizer se ainda sei sentir"
Havia pouca esperança dentro dela, no que dizia respeito a ela embora houvesse nela esperança pelas meninas. ..
"Se tudo que sonhei foi mesmo um sonho meu"
Ela amara apenas o mesmo homem que todas as mulheres que ela amava amavam. Mas não poderia competir com elas, e não queria. Não, preferia sofrer com elas, por elas, e não declarar seus sentimentos do que fazê-las sofrer.
"Eu vi você voltar pra mim"
"Eu vi você voltar pra mim"
"Eu vi você voltar pra mim"
Ela só desejava estar junto das meninas o quanto pudesse. As amava, mais que qualquer coisa. E jurara quando Blaise morrera que se dedicaria ao máximo e jamais permitiria ter os mesmo erros que tivera com ele. Assim ela vinha fazendo, e assim faria, agora e na hora de sua morte. Amém.
N/A: A Silvia, meu amorzinho, minha noivinha, hoje e sempre... Por tudo que já fez por mim e pelas minhas maninhas^^
