Quando uma simples promessa pode virar o seu pior pesadelo
Capítulo 2 – Más notícias
- O que lhe trouxe de volta à Tomoeda, Li? – indagou, num misto de tristeza e alegria, a voz delicada, tentando não soar depressiva.
- Vocês bem sabem. A única coisa que seria capaz de fazer-me sair de meu mundo. –respondeu a voz grave, suavemente, tentando fazer-se entender.
- Acho que consigo imaginar do que se trata. – a voz paternal comentou, tranqüilamente, um pouco de melancolia no tom usado.
- Então... – ele parecia impaciente com alguma coisa.
Não houve resposta. Nem uma palavra. Nem um gesto. Nem um suspiro. Nada.
Aquilo apenas fez a preocupação no jovem Li crescer. Sua face contraiu-se ainda mais em uma expressão de dor profunda. Era difícil de acreditar, depois de tudo.
Os olhos encheram-se de lágrimas. E pela primeira vez, todos viram que ele era humano. Como nunca pensaram ser.
Os outros dois jovens também juntaram-se a ele, em expressões marcadas pela tristeza. Olhavam-no com compaixão. Sabendo de algo que seria capaz de mudar completamente sua vida. Algo que poderia fazê-lo querer morrer. Não era conveniente que causassem mais dor do que já viam em seu olhar.
- Li... – Tomoyo tentou parecer delicada e compreensiva, muito embora segurasse as próprias emoções com dificuldade.
- Temos muito o que conversar. – Eriol completou a sentença, curto e grosso, tentando acabar logo com o assunto, o mais rápido possível.
Li olhou-os, totalmente abalado. Sentia o cheiro de más notícias no ar. Via a melancolia ser emanada de ambos os corpos. Como se houvesse uma perda. Uma enorme perda. Já temia que fosse algo com Ela. Já tinha quase certeza que era algo com ela.
- O que aconteceu? – ele não esperou que começassem; estava ansioso demais por notícias, por piores que fossem.
- Não sabemos lhe dizer... – a jovem estava prestes a debulhar-se em lágrimas sentidas – Realmente não sabemos...
- Foi tão grave assim? – agora sua voz soava quase morta.
- Talvez não do jeito que você imagina... – corrigiu Eriol, sério como nunca fora. E isso causou ainda mais pânico no outro rapaz.
- Então... – ele mal tinha forças para falar.
- Mas foi extremamente grave, se quer saber... – completou seu pensamento, sua voz morrendo em seus lábios, em um momento pavoroso.
Seguiu-se o silêncio. Um mortal silêncio. Algo enlouquecedor. Que apenas fez despertar mais dor em um coração já ferido. Até sufocar-lhe a alma. Até fazê-lo ter certeza de estar morto. Completamente morto. Antes mesmo de saber o que ocorrera.
- Sabemos que você quer muito saber... E realmente queremos muito lhe contar... Acontece que não sabemos se você está preparado para ouvir o que temos a dizer... – então lágrimas escapuliram de seus belos olhos azuis, e um soluço aflorou em sua boca, triste como o canto do pássaro na gaiola.
Mais silêncio seguiu-se. Mais mortal que antes. Aquilo acabava com todos.
Eriol abraçava Tomoyo, gentilmente, querendo livrá-la de toda a dor do mundo. Muito embora ele também estivesse sendo corroído pela mesma dor. Seus belos olhos estavam fixos em suas feições desesperadas. Era de lhe cortar o coração.
A garota permanecia recostada sobre o peito do jovem rapaz, derramando lágrimas amargas. Lágrimas que por muito tempo evitara derramar. Mas que agora eram dor demais para guardar apenas para si mesma.
E Li...
Olhava o padrão de cores do chão, como se jogasse com os quadrados brancos e negros de lajotas de cerâmica. Na verdade não queria encarar a realidade. Era muita dor. Era como se seu coração fosse esmagado por mil estilhaços. Ele não podia mais suportar mais aquele silêncio aterrorizador.
E ele não suportou.
- Ela morreu? – indagou, sem que os outros esperassem. Agora parecia realmente morto.
- Não exatamente. – respondeu o outro, olhos fixos em compaixão.
- Então, o que aconteceu? – ele voltou a indagar, por dentro gritando aos céus por não ter perdido sua amada.
- Ela se foi... – balbuciou a garota, mal conseguindo conter o pranto desgostoso – Ela não está mais aqui...
- Ela fugiu? – insistiu, temendo pela demora.
- Ela mudou... – disse, por fim, um melancólico Eriol.
A única reação que o jovem chinês teve naquele momento foi arregalar os olhos e escancarar a boca em surpresa.
O que ele tentava lhe dizer com mudança?
- É uma longa história... Sei que quer entender tudo... E dou graças porque temos um certo tempo antes de tudo... – proclamou o jovem inglês, procurando um lugar calmo o suficiente, e fazendo todos para lá se dirigirem.
- Realmente, vocês não sabem o quanto espero por entender... – confessou Li, olhando para os próprios pés, mal imaginando o que poderia se seguir.
- Nós também queremos... – comentou Tomoyo, sendo amparada por um gentil jovem.
Todos sentaram-se no chão, em um corredor não muito utilizado. Eriol de um lado, amparando uma completamente abalada Tomoyo. E um Li do outro, olhando-os em grande sofrimento.
- Agora, por favor? – praticamente implorou, ávido por notícias.
Tomando um pouco de ar, e de coragem, a história começou a ser narrada.
- Se você a visse agora, neste momento... – a voz agora soou incerta, como se também tivesse medo – Não a reconheceria... Nem nós a reconhecemos depois de tudo...
- Ela... – a moça pareceu ter-se recuperado, e disposta a contar por ela mesma o ocorrido – teve um fim trágico, no final das contas...
- Sinto muito... Mas eu não consigo entender... – ele já perdia a paciência com tanta demora.
- Pouco depois que você foi embora... – Tomoyo pôs-se novamente a falar, com muita dificuldade – ... foi como se ela entrasse em uma crise... Uma crise de dor e sofrimento... O motivo até hoje ninguém sabe. Nem eu, nem Eriol, nem Touya, nem o senhor Fujitaka... Nem mesmo Kero ou Yue... Absolutamente ninguém.
- Nós a vimos definhar dia após dia, mês após mês. Os sorrisos foram diminuindo. A alegria foi minguando. E quando nos demos conta, ela já não era a mesma. – Eriol interrompeu, para logo depois calar-se por um bom tempo.
- Primeiro ela tornou-se triste, como eu nunca pensei que ela poderia ser. Depois... – aí houve uma pequena pausa para que ela pudesse respirar – ... ela fechou-se em um mundo de infelicidade. Ela foi mudando, de acordo com a dor que sentia. E foi tornando-se cada vez mais negra, cada vez mais dominada pela Escuridão.
- Escuridão? – repetiu, quase não entendendo nada do que era dito; apenas percebendo que era realmente grave.
- Depressão. – disse, secamente, enquanto caía mais uma vez em pranto.
- Como? – ele continuava perplexo.
- Não sabemos! – por pouco ela alterou-se, apanhada pela dor, mas logo ela recuperou-se, e novamente pôs-se a narrar – Tudo foi tão rápido!! Questão de 3 anos, ou menos!! Pensávamos que era uma tristeza passageira, até que um dia ela trancou-se no quarto, e só saiu uma semana depois, completamente mudada. E então ela transformou-se no que é hoje. Apenas uma sombra do que ela foi.
- E como ela é hoje? – sua voz falseou perante tudo o que seus ouvidos atônitos puderam escutar.
Eriol abriu a boca para falar. Ela não estava em condições de responder. Inspirou um gole de ar. Não ajudou a criar coragem. Soltou tudo. Olhou a figura que estava em sua frente. Medo. Era o que existia em seus olhos.
Mas ele nunca pode falar nada.
Porque foi nesse momento que o sinal de início soou.
E eles tiveram de voltar.
