Quando uma simples promessa pode virar o seu pior pesadelo.
Capítulo 13 – Conversas...
Os passos arrastados indicavam o quanto ele havia se deteriorado neste tempo.
Parecia mais uma figura assombrada.
Um morto-vivo em meio a multidão.
Com paciência, acabou por chegar ao parque. Olhou o relógio. Estava dentro do horário.
Aos poucos, sua vista aguçada distinguiu uma figura delicada sentada em um dos bancos.
Parecia absorta com a paisagem.
Os cabelos caíam-lhe pelo ombro, e vez ou outra eram sacudidos por uma brisa suave.
Como gostaria que fosse ela.
- Olá, Li! – a pessoa saudou-lhe cordial e simpaticamente, levantando-se e caminhando em sua direção – Como você vai?
- O que você acha? – sua aparência era tão deprimente e o tom de suas palavras era tão melancólico que a expressão da garota fechou-se em tristeza.
- Podemos conversar? – indagou-o, indicando o mesmo banco onde estivera sentada.
- Claro. – ela concordou, fitando o chão.
Ambos caminharam sem pressa alguma, até sentarem-se, lado a lado; ela olhando-o, penalizada, ele observando um grupo de crianças a brincar.
O silêncio seguiu-se. Incômodo.
- Sobre o que você quer conversar? – foi ele quem subitamente o interrompeu.
- Sobre você. – ela foi direto ao ponto, sem nenhum tipo de embolação.
Por um momento, ele exitou em responder.
Mas a dor era tamanha que guardá-la já não mais seria possível.
- Certo... – seus lábios murmuraram, quase um sussurro.
- Li! – aquela resposta alegrou-a tanto que ela pegou suas mãos e apertou-as, em um gesto de cumplicidade – Que bom que você resolveu se abrir! Não faz bem guardar isso dentro do peito! Pode causar até câncer!
Aquele comentário exagerado fez um sorriso tímido surgir. Imperceptível, mas existente.
- Bem... – agora, mais contida, ela continuou – Eu vim aqui porque todos nós, seus amigos, estamos preocupados com seu estado. Tem algo que você queira contar?
O rapaz deixou a expressão um pouco mais alegre murchar. E novamente uma dombra cobriu-lhe o rosto.
- Como anda isto aqui? – e tocou gentilmente seu peito, no lugar onde fica o coração.
- Mal... – ele estava ainda mais depressivo, encarando o gramado a alguns passos de distância – Muito mal...
- Ainda dói, não é mesmo? – a garota parecia consternada.
- E como... Às vezes penso que vou morrer... – de pouco em pouco, ele abria-se.
- Você sabe que tem de ser forte. Por todos nós. Por ela... – os olhos enchiam-se de lágrimas.
Um soluço sentido escapou-lhe, sem querer.
Estava caindo em seu sofrimento.
Outra vez.
- Eu sei o quanto você a ama... – a garota prosseguiu em seu discurso, pronta para ir mais a fundo – Sei que foi capaz de dar a própria vida a ter de vê-la com outro.
Uma lágrima escorreu-lhe, cheia de pesares.
- Mas não acha que sua dor foi longe demais? – enfim finalizou sua idéia, olhando-o com ternura.
Suspirou, desanimado.
- Eu... – ele começou a desabafar, ainda mirando o chão fixamente - ... também acho. Mas... é algo maior que eu...
- Acho que consigo entender... – ela passou a mirar o chão também, pensativa.
Mais silêncio veio.
Avassalador.
Corroendo-lhes como uma fera devora sua presa.
Um choro baixinho cortou o ar.
Como se algo quisesse contê-lo desesperadamente.
Era algo terrível.
A garota voltou-se a ele. Os olhos também rasos de emoção.
Viram-no.
Uma criatura digna de compaixão.
- Eu ... não... agüento... mais... – era difícil falar entre os soluços – Eu... quero... acabar... com... isso... tudo... Mas... eu... não... consigo...
A jovem abraçou-o bem forte, enquanto o pranto finalmente revelava-se.
- Eu lhe chamei aqui... – começou a dizer, não contendo sua mágoa - ... para lhe dizer que, apesar de tudo o que aconteceu, eu ainda confio em você. Ainda acho que você é a escolha certa para ela.
Apenas ouviu-se mais dor em resposta.
- Não quero que ela se envolva com Yue. – prosseguiu – Não que ele não seja uma boa pessoa; ao contrário. Mas ela não pertence a ele. Ela é sua!
- Não mais, Tomoyo... – balbuciou, trêmulo e choroso.
- Claro que é! – ela soltou-o e conteve um pouco as lágrimas; os olhos claros fitavam-no com firmeza, em repreensão – Apesar de não estar claro, eu posso ver!
Os olhos castanhos arregalaram-se, em surpresa.
O que ela estava dizendo?
- Ver o quê? – indagou, enfim mirando-a nos olhos.
- Amor! – exaltou-se, para logo se conter – Eu vejo que ainda há amor naquele coração de pedra! É isso que a está transformando!
- Como uma pessoa daquela maneira pode sentir amor por algo além de si própria? – as lágrimas novamente formaram-se, prontas para caírem.
- Eu não sei... – sua voz tinha uma ponta de desapontamento – Mas ainda há amor... Muito amor...
Tudo mergulhou, então, no silêncio.
Aquela palavra ecoava em sua mente.
Amor...
Não podia mais haver amor.
Ela o odiava, com todas as forças.
Naquele coração não poderia haver tal sentimento.
Muito embora ele por isso rezasse todas as noites.
Implorasse aos céus.
Apenas por um pouco de amor.
- Não desista dela, Li... – murmurou Tomoyo ao ouvido do amigo, abraçando-o fraternalmente – Não desista do amor...
- Eu não desistirei... – confirmou, retribuindo o abraço desesperado.
E o vento carregou mais uma promessa.
