Quando uma simples promessa pode virar seu o pior pesadelo.
Capítulo 14 - ... entre amigos
Na porta, batidas nervosas e impacientes. Já era a sexta vez que tocavam a madeira maciça. Estavam cansadas de tanta espera.
Por fora, tudo parecia vazio e sem vida.
Tudo absolutamente escuro.
Mas ele sabia que aquele ambiente sombrio era seu covil.
Era ali que se escondia.
Deu a volta no sobrado. Tudo fechado.
Dirigiu-se à janela de seu quarto. Inspirou fundo.
- Sakura! – a voz berrou, tentando fazer-se presente – Eu sei que você está aí! Abra essa porta!
Parou.
Apenas o barulho do vento frio.
Ele pôde ouvir alguma coisa sendo trazida. Pareciam palavras.
Esperou um pouco mais.
Nada.
- Se você não abrir essa porta, eu vou dar um escândalo! – ameaçou, perdendo a paciência.
Ouviu-se o barulho de algo se abrindo.
Uma figura surgiu pela abertura de entrada.
Negra.
Obscura.
De dar arrepios.
- O que você quer? – indagou ao rapaz, de modos arrogantes.
- Eu vim aqui tentar falar com você. – ele tentou ser severo.
- Perdeu seu tempo. – foi a resposta, fria, enquanto virava-se e retornava ao seu buraco.
Foi impedida por uma mão, que segurou a porta com firmeza.
- Eu não vou embora antes de você ouvir tudo o que eu tenho a dizer. – ele estava irredutível.
- E você acha que eu quero ouvir? – se ele era cabeça dura, ela era ainda mais.
- Eu não quero saber. – estava sendo rude, mas era o único meio dela escutá-la – Eu vou dizer, você querendo ou não.
- Não me encha o saco! = novamente ela tentou virar-se, mas, assim como da outra vez, foi impedida.
- Olha aqui! – o rapaz começava a exaltar-se – Você está indo longe demais com tudo isso!
- Quem é você para dizer o que eu devo fazer? – devolveu, indiferente;
Por um momento, ele ficou sem reação, olhos arregalados em surpresa. Foi o suficiente para que ela sorrisse. Satisfeita.
Adorava deixar os outros sem saber o que fazer.
Assim como um dia ela também estivera.
Completamente perdida no mundo.
- Seu discurso acabou, não é mesmo? – ela tentava despachá-lo o mais rápido possível – Então pode ir embora.
- Eu não vou embora! – protestou, refazendo-se – Não antes de falar com você!
- Mas nós já conversamos! – o cinismo era irritante demais – Agora você vai embora...
- Não antes de entender o porquê de querer se matar! – subitamente ele jogou, tentando fazê-la escutá-lo desesperadamente.
A garota parou por um momento.
Então seus lábios contraíram-se em um sorriso maléfico.
- Quer dizer que aquele Monte de Estopa esteve aqui e fuçou as minhas coisas? Que coisa feia... Isso não se faz... – o tom irônico fazia-o querer enforcá-la.
- Isso não importa agora! – berrou Eriol, fazendo a conversa voltar ao seu rumo – O que deu na sua cabeça?
- A cabeça é minha! Eu faço o que eu quero! – berrou em resposta, perdendo a paciência – Se eu quiser me matar, eu vou! Não vai ser ninguém que vai me impedir!
- Nem o amor de Li? – indagou; aquele rapaz possuía muitos segredos na manga.
Por um momento, ela vacilou.
A cortina de ferro desapareceu.
Dor.
Muito sofrimento.
Foi o que ele viu.
Apenas por um momento.
Porque logo a máscara negra voltou.
E encobriu a verdadeira Sakura novamente.
- Nem aquele bosta. – foi sua resposta, fria como nunca havia sido.
- Ele te ama! – a argumentação iniciou-se, nervosa.
- Que se dane! – devolveu, o tom tornando-se mais raivoso.
- Você vai negar esse sentimento? – questionou, tentando alfinetá-la.
- Que sentimento? – ela fez-se de desentendida.
- Deixe de ser cínica! – berrou – Admita para si mesma que ainda o ama!
Os olhos verdes brilharam, invadidos pela cólera.
Ela aproximou-se, e encarou-o.
Ele sentiu medo.
- Nunca... – a voz soou fria e raivosa, enquanto ela lhe apontava o dedo - ... Ouviu? Nunca mais diga o que se passa dentro do meu coração. Você não sabe nem metade.
- Eu vou continuar falando até você perceber que está errada! – continuou, mesmo sabendo do risco que corria.
Sentiu que ela podia matá-lo, apenas com o olhar raivoso.
Teve ainda mais medo.
A garota aproximou-se ainda mais, de modo que menos de trinta centímetros separavam seus corpos.
Seu ser tremeu.
Ela iria fazer alguma coisa.
Ele sabia.
Ele tinha certeza.
Quando deu por si, um tapa fez sua face arder e avermelhar-se.
Quase perdeu o equilíbrio.
Levou a mão ao rosto ferido.
Tentou refazer-se.
Ela continuava mirando-o, ainda com ódio no olhar.
Virou-se, de repente.
Bateu a porta na sua cara.
Sem qualquer tiipo de reação, permaneceu parado, encarando a madeira atingida pelo tempo.
Ouviu-a gritar de lá de dentro.
- Vai cuidar da sua namoradinha, vai! – ela parecia mais que irada – Vai, e não se meta mais na minha vida!
Não havia mais nada a ser feito.
Assim ele foi-se embora.
Embrenhou-se na escuridão do começo da noite.
