Capítulo XIV

            Sakura foi jogada para dentro do coche com força. Olhou em volta tentando achar uma solução para a sua situação.

'Tire tudo dos baús e mate este gordo nojento. Eu vou brincar com a minha nova bonequinha.' O homem falou, entrando no pequeno compartimento. Porém logo foi empurrado para trás com um chute no rosto.  Ele passou a mão na boca que sangrava e encarou Sakura sentada no chão do coche. 'Vai pagar caro por isso garota?

'Não vai tocar em mim, imbecil!' Ela falou com os olhos em chamas.

            Ele pegou a espada que estava no chão e apontou para ela. 'Acho que vou ter que cortar sua roupa, não?' Falou como um sorriso malicioso nos lábios e aproximando-se novamente da entrada do coche.

            Sakura tateou o chão tentando achar alguma coisa para se defender. Ela tinha passado por tudo para não ser deflorada por quem não quisesse, não deixaria que um porco daqueles tocasse no seu corpo.

'Não se preocupe, boneca, garanto que irá gostar.' Falou o bandido com sarcasmo.

            Sua mão tocou em alguma coisa, ela pegou o objeto e constatou que era pesado. Ela não sabia direito o que era e não arriscou olhar para não desviar a atenção do homem. Sorriu de lado e levou a mão livre até o quimono abrindo-o ligeiramente. 'Oras, não precisa usar a espada. Acho que seria muito mais prazeroso tirar meu quimono com as mãos, não acha?' Falou, tremendo por dentro.

            O homem sorriu de leve e largou a arma. 'Tem toda a razão, boneca.' Ele entrou no coche e encarou Sakura que sorria. Ele não poderia negar que mesmo machucada e com o rosto sujo, aquele mulher era linda. Segurou o punho dela e a puxou para perto de si. A garota se controlou para não vomitar, levantou o objeto e com toda força que possuía bateu no rosto dele. O homem gritou de dor e caiu para o lado. Ela levantou-se depressa, passou por cima, tentando fugir, porém suas roupas foram presas e ela foi jogada com força no chão de madeira. Logo sentiu um forte tapa no rosto que a fez sentir a cabeça zunir.

'Vadia!' O homem gritou. 'Vou matá-la assim que me divertir!'

            Ela queria responder, mas estava zonza com o forte golpe. Sentiu o homem arrancando a roupa, machucando assim a sua pele clara.

'Não!' Gritou quando ele a forçou abrir suas pernas. Começou a debater-se como louca e tentando arranhar o rosto dele, mas o bandido tampou sua boca e segurou suas mãos.

'Ou você cala a boca, ou eu a mato agora!' Falou olhando para os olhos verdes de Sakura. Ela parou de se mexer e fechou os olhos para não ver mais aquele homem. Duas lágrimas saíram de seus olhos. Vendo que ela desistia, o homem destampou sua boca e a soltou. 'Agora fica quietinha que eu vou ser bem rápido.' Ele falou voltando sua atenção para tirar a roupa da garota.

'Eu prefiro morrer...' Ela sussurrou dando uma joelhada forte entre as pernas do homem. Ela sabia que aquilo não o deteria, mas o deixaria tão irado que ele não pensaria duas vezes antes de matá-la. E assim ele fez. Pegou-a pelos cabelos e a levantou fazendo Sakura ficar de costas e de joelho à sua frente. Pegou o punhal que estava preso a sua cintura e encostou no pescoço da garota.

'Vou cortá-la aos poucos.' Falou ao ouvido dela. 'Para que sangre até morrer.'

            Sakura apenas fechou os olhos e cessou a respiração. Seu último pensamento foi em Li, sentiu ódio de si mesma por pensar nele naquele momento, nos seus últimos momentos.

'Acho que vou começar cortando cada dedinho seu, o que acha?' Ele falou pegando a mão dela. Sakura gritou de pânico. Seu medo tinha sido sempre este. Ela não temia a morte, mas a dor. Rezava toda noite para que o imperador lhe desse como castigo uma morte rápida.

            De repente a porta do coche se abriu e a claridade invadiu o sinistro ambiente. 'O quê?!' Perguntou o bandido, não entendendo o que estava acontecendo, porém teve pouquíssimo tempo para pensar. Já foi puxado pelas roupas para fora do veiculo e jogado com força no chão. Levantou os olhos e finalmente viu o soldado que o impediu de começar sua seção de tortura.

            Sakura virou-se para trás e assustou-se vendo Li em pé com a espada a milímetros do peito do bandido. Ele virou-se rapidamente para ela e arregalou os olhos, descendo pelo quimono aberto da menina. 'Ele tocou em você?' Foi sua pergunta seca e falhada.

            Sakura abaixou os olhos e fechou o quimono com força, abraçando-se. Li voltou-se para o bandido e o encarou agora com os olhos gélidos. 'Levante-se. Não gosto de matar ninguém caído no chão.'

            O bandido tremia como vara verde. Levantou-se e estendeu para frente a pequena adaga que tinha na mão direita e com a qual pretendia matar Sakura. Porém não teve nem um segundo a mais de vida. Li o cortou praticamente ao meio.

            Sakura saiu do coche ainda sentindo as pernas bambas pelo que quase tinha acontecido. No fundo não sabia se agradecia aos céus pela intervenção de Li ou se recomeçava a rezar como antes. Ele caminhou até ela e levantou a mão, a jovem se encolheu toda imaginando que receberia mais uma agressão do general, porém ela não veio. Abriu um dos olhos e encontrou as duas esferas âmbares inflamadas de ódio, mas alguma coisa lhe dizia de que pela primeira vez, esse ódio não era dirigido a ela.

            Ele virou o rosto e tirou a capa de cima dos ombros. Cobriu a pequena mulher a sua frente e a segurou um pouco observando os olhos verdes. 'Você sempre se mete em confusão! Porque tentou fugir novamente?!' Perguntou de forma ríspida segurando o braço da garota.

Sakura ainda o fitava com os olhos arregalados e a respiração acelerada. Ela olhou para os bandidos que foram mortos por ela e por Li e para o casal que ainda estava em estado de choque.

'Quem são vocês?' Li perguntou para o casal.

            O gordo levantou-se e tentou ficar em pé apesar de que tremia sem parar. 'Sou Guang Lin. Um dos conselheiros do nosso imperador Wing. Estava voltando da cidade proibida quando fui atacado por estes bandidos. Esta é minha esposa.' Ele fez um gesto para a mulher jovem e bela que estava um pouco atrás, ela curvou-se graciosamente em direção deles.

'És muito corajosa, pequena dama.' Ela falou sorrindo e observando Sakura.

            O gordo deu uma tossida e olhou a contra gosto para Sakura, mas não pode manter-se indiferente. 'Realmente tem muita garra, garota.'

            Li olhou de relance para a jovem ao seu lado e sorriu de lado, quando chegou no local havia apenas dois homens, um cocho e um rapazinho, o resto estavam todos mortos ou desmaiados. Ele sabia que aquilo tinha sido obra dela, mesmo sendo uma mulher, já tinha visto-a lutando em duas batalhas e contra vários homens nos treinamentos.

'E quem são vocês?' Lin perguntou.

'Sou o general Li Xiaolang'. Respondeu simplesmente, ficando em silêncio depois.

            O homem olhou para sua esposa que também mostrava a mesma curiosidade com relação à jovem ao lado do general.

'Obrigado por sua interferência, general. Se não fosse por ela, estaríamos mortos.' Lin agradeceu inclinando-se para frente. 'E esta menina? É sua esposa?'

            Sakura arregalou os olhos um pouco surpresa e sentiu que Li apertou um pouco mais forte o seu braço. 'Ela... ela é uma prisioneira que estou encarregado de levar até o imperador.' Respondeu de forma ríspida.

            Agora era a vez do casal espantar-se. Sakura encolheu-se instintivamente com aquela resposta. Reparou que o casal a olhava de maneira diferente, com desprezo. Ela sabia rapidamente identificar isso, pois a vida inteira fora olhada desta maneira. A única vez que sentiu algo diferente foi quando era o Capitão Kinomoto.

'Gostaríamos de pedir sua proteção até o vilarejo mais próximo, para que assim possamos contratar novos homens para nossa segurança.' Falou o homem.

Li estava louco para dizer que não, mas seu dever como oficial era proteger os nobres. Concordou com a cabeça e caminhou com Sakura até o coche.

'Se tentar fugir novamente, eu juro que a mato, Kinomoto.' Ele falou ao ouvido dela. 'Não brinque comigo.'

            Ela não falou nada. Subiu na charrete ao lado do lugar do condutor e pegou as rédeas dos cavalos que Li estendeu para ela. O General amarrou seu corcel ao lado do veículo e pediu para que o nobre casal entrasse para assim começar a viagem até o vilarejo mais próximo. Assim que eles entraram, subiu e sentou ao lado de Sakura, pegando as rédeas das mãos da jovem.

'Era só o que me faltava, ser chofer desse idiota'. Falou entre os dentes tentando controlar a raiva.

            Sakura olhou para ele de relance, mas voltou a olhar para frente e ficou quieta para evitar uma nova discussão. Li não parecia muito amistoso.

'Tome'. Ele falou estendendo um lenço.

            Ela sorriu e pegou da mão dele. Levou até a boca para limpar o sangue que escorria do canto dos seus lábios.

'Como está o machucado?' Perguntou sem olhar para ela e atiçando os cavalos.

            Ela levou uma das mãos até o abdômen e apertou o ferimento de leve, não podia negar que estava doendo.

'Está doendo um pouco, mas nada demais...' Falou baixinho.

            Ele a olhou por alguns segundos. Levantou a mão e tocou de leve o rosto inchado de Sakura, mas logo retraiu-se voltando a olhar para frente. Sakura o fitava com os olhos arregalados. Aquela tinha sido a primeira demonstração de carinho dele, será que ele seria capaz de perdoá-la?

"Não se iluda, Sakura!" Seus pensamentos a alertaram.

'Aquele homem...' Ele começou a falar guiando os cavalos. 'Ele fez mal a você?'

'Do que tem medo, General?' Ela perguntou em tom irritado. 'Que aquele homem tenha conseguido me deflorar antes do senhor?'

            Li a olhou com raiva. 'Eu nunca tive a intenção de tocar em você, garota!'

            Ela virou o rosto para não encará-lo. 'E não irá tocar mesmo.' Falou entre os dentes. Li a fitava ainda com raiva, mas teve que voltar sua atenção para o caminho. Seu coração ainda batia de forma rápida e forte, talvez a adrenalina e o susto ao ouvir os gritos de Sakura ainda não tivesse passado.

'Você irá morrer Kinomoto, isso já não faz diferença.' Disse tentando se manter indiferente à dor que sentia no peito imaginando que aquele homem havia possuído a pequena garota ao seu lado.

'Sim, eu irei morrer, mas irei morrer sem ter sido divertimento de homem nenhum deste mundo.' Falou com raiva.

            Li arregalou os olhos um pouco e não conseguiu evitar que um pequeno sorriso de satisfação brotasse no canto de seus lábios. Ele tinha chegado a tempo, isso era o que importava. O resto da viagem foi feito em silêncio.

*~*~*

            Sakura observava as pessoas que aos poucos iam parando, ao notar a entrada deles na aldeia. Li puxou as rédeas dos cavalos fazendo-os parar.

'Vamos.' Ele falou pulando da charrete. Sakura estava envergonhada pelo seu estado, no mínimo, lastimável. Seu quimono estava sujo de terra e sangue e o seu rosto, marcado e machucado. Li estendeu a mão para que ela descesse. 'Vamos, Kinomoto.'

            Ela levantou-se e pegou a mão dele para ajudá-la descer, por alguns segundos os dois estavam um a frente do outro, ele ajeitou a manta nos ombros da garota para que cobrisse suas roupas. 'Comprarei outro quimono para você.'

'Obrigada.' Falou, sorrindo em seguida. Li ficou fitando-a por algum tempo em silêncio. Ela sentiu as pernas tremerem, observando-o de tão perto. A porta da coche abriu, fazendo os dois afastarem-se um pouco constrangidos.

'Ah que maravilha! Chegamos!' Falou o gordo, admirando o vilarejo.

'Acho que a partir de agora estarão bem. Contrate bons homens para acompanharem o senhor e sua esposa até seu destino.'

'Farei isso.' O gordo falou, procurando alguma coisa nas suas vestes. Estendeu para Li um saquinho pesado com moedas. 'Gostaria de agradecer por ter nos salvo daquele bando de ladrões e nos acompanhado até aqui.'

'Não é necessário, senhor. É meu dever como soldado.' Falou mostrando nenhum interesse no dinheiro. 'Cuidem-se.' Disse afastando-se para desamarrar o seu corcel.

            A mulher do nobre saiu do coche e observou o marido um pouco, depois seus olhos foram até o General que começava a afastar-se deles com a menina. 'O que será que aquela jovem fez para ser uma criminosa?'

'Ela lutou muito bem contra aqueles bandidos.'

'Sim, mas não é má! Lembre-se que ela rendeu-se assim que eles nos ameaçaram.' Defendeu a mulher.

            O nobre franziu a testa um pouco, observando aquele estranho casal.

'Além disso, o general mostrou um carinho enorme por ela.'

'Acha isso, mulher?' Perguntou fitando finalmente a esposa.

            Ela confirmou com a cabeça de leve, ainda observando Li e Sakura. 'Lembra-se como ele ficou desesperado quando ouviu a garota gritar dentro do nosso coche?'

'Talvez ela não seja apenas uma criminosa, mas amante dele.'

'Talvez...' A mulher ponderou.

            O nobre deu de ombros. ' Isso não importa mais. Estamos bem e isso sim é que importa. Vamos comer alguma coisa.'

*~*~*

            Li observava Sakura parada em frente ao espelho.

'Aquele filho da mãe! Não tinha o direito de me bater daquela maneira!' Ela praguejava com raiva. 'Se ele já não estivesse morto, eu o mataria!' Terminou dando um soquinho no ar e com cara de malvada.

            Li respirou fundo e revirou os olhos. Sakura já estava há quase meia hora xingando o infeliz que tinha a machucada.

'Mas você viu só a surra que eu dei naquele bando de bandidos?!' Ela perguntou virando-se para ele com ar de vitoriosa.

'Você podia ter morrido...' Soltou virando o rosto e colocando as pernas por cima da mesa de centro. Os dois estavam num dos quartos de uma pousada. O General resolveu pernoitar no vilarejo do que tentar uma viagem a noite.

'Oras, se eu não morri em duas guerras, não seria um bandidinho que me mataria!' Respondeu com desdém enquanto se olhava no espelho. Abriu um tímido sorriso observando-se com o belo quimono verde que Li havia comprado para ela. 'Eu fico muito bem de verde.'

'Realça os seus olhos.' Ele falou despreocupadamente.

'Você acha?!' Perguntou virando-se para ele e deixando-o completamente sem graça pelo que havia falado. 'Tem razão! Combina com eles!'

'Não acha que está muito pretensiosa?'

            Ela soltou um longo suspiro e deixo-se cair em uma das poltronas do quarto, encarou o General que estava confortavelmente sentado em outra. Estavam um a frente do outro. 'Pelo menos eu valia 300 moedas...'Ela começou a falar, mas depois franziu a testa e colocou delicadamente um dedinho no queixo em posse pensativa. 'Acho que o senhor poderia ter oferecido um pouco mais... uns quinhentos pelo menos.'

'Acho que os tapas fizeram mal a sua cabeça.' Falou de maneira ríspida.

            Ela riu um pouco. 'Pare de ser ranzinza... Eu estou indo para o matadouro e não estou com tanto mau humor como você, general.'

            Li calou-se, inclinou a cabeça para trás e olhou para o teto de madeira, não estava sentindo-se muito bem, mas não daria o braço a torcer. Tossiu um pouco.

'Ainda não melhorou do seu resfriado?'

'Não sou homem de ter resfriado.'

'Está bem, senhor todo poderoso.' Brincou levantando-se. 'Sabe!' Virou-se para ele de repente. 'Aquele senhor Lin poderia ter me oferecido uma recompensa.' Sakura falou de repente, assustando de leve o homem.

'O que disse?' Ele perguntou erguendo uma sobrancelha.

'Que ele poderia ter oferecido o dinheiro para mim!' Ela repetiu, balançando o pedaço de pão na mão. 'Bem ou mal, fui eu que os salvei primeiro, não?

'Você é mulher...'

            Sakura franziu de leve a testa, mostrando nítida irritação pelas palavras dele. 'E daí?' Falou com a voz quase ameaçadora.

'E daí que não se dá dinheiro a uma mulher. Nem para as prostitutas.' Ele respondeu encarando-a e apenas esperando para ver sua reação. No fundo gostava de irritá-la.

            Sakura bufou umas duas vezes, tentando manter a calma. 'Como vocês homens são estúpidos. Têm tanto medo assim do que uma mulher pode fazer com dinheiro nas mãos?'

'Deveria controlar melhor a língua, Kinomoto.'

'Para quê? Eu não vou ser presa mesmo?! Não vou ser chicoteada e decapitada em praça pública?! Pois então tenho o direito de falar tudo que eu quero antes de morrer!' Ela falou, tentando manter o tom de voz baixo apesar de que era quase impossível pela sua irritação.

'Você não tem direito algum.' Li retrucou.

            Ela o fitou com os olhos gélidos, mas achou melhor não responder mais nada. 'O dia que uma mulher chegar ao poder, vocês, homens, vão saber o que é justiça.'

'Está insinuando que o seu imperador não é justo?' Ele falou com o tom sério, não gostava quando alguém falasse de Wing.

'Não estou insinuando, estou afirmando.' Ela falou decidida. 'Quando uma mulher provar o que todas são capazes de fazer, vocês vão ver só uma coisa.'

            Li levantou-se e a encarou com os olhos em chama. 'Você não tem a mínima noção do que fala, garota. Minha vontade é arrancar sua língua para que não fale mais besteiras!'

'Duvido.' Falou encarando ele e empinando mais o nariz.

            O rosto de Li contorceu-se de raiva, ele deu um passo em direção a ela. 'Agora chega! Não tem o direito de ofender o imperador.'

'Oras eu salvei a vida dele duas vezes...' Ela falou correndo para um canto do quarto. 'Não teria coragem de me bater, não é general? O senhor é um homem bom! Eu sei que é! Eu já apanhei muito nestes últimos dias...' Tentou convencê-lo enquanto corria para trás de uma das poltronas.

Ele a pegou pelo braço e a encarou de perto. 'Detesto mulheres como você.' Falou entre os dentes.

'Você só gosta de prostitutas.' Respondeu na lata. Parecia incrível, mas quanto mais sentia-se perto do seu destino fatídico, menos  medo sentia de dizer o que queria ou o que pensava.

            Li apertou o braço da garota com força fazendo ela gemer de dor. 'Você não sabe de nada a meu respeito, Kinomoto.'

'Sei o suficiente para saber que gosta de pagar para dormir com mulheres.'

'Sabia que eu poderia fazer você minha mulher agora! Como aquele homem tentou fazer com você?'

            Ela o encarou com fúria. 'Tente e você morre.'

            Li sorriu de lado e a soltou finalmente. 'Vá se cuidar. Está com o rosto horrível.'

            Sakura afastou-se dele e caminhou até o balcão onde havia remédio para seus machucados. Remédios que Li havia comprado para ela.

*~*~*

            Na manhã seguinte, eles partiram novamente em direção à cidade proibida. Li galopava de forma rápida, fazendo com que a viagem ficasse cada vez mais curta e mais próxima do final. Sakura ia sempre à frente, entre os braços de Li que guiava o belo corcel.

Eles pararam numa pequena clareira para descansarem. Li desceu do cavalo e foi até o rio que estava próximo para lavar o rosto, não estava sentindo-se bem e não queria dar o braço a torcer para Sakura. Ele tossiu um pouco chamando a atenção da menina, que estava tentando acertar uma fruta com algumas pedras que pegara do chão.

            Ela virou-se para ele e o viu ajoelhado à margem do rio com uma das mãos no peito e tossindo. Franziu a testa. Largou as pedras que tinha nas mãos e aproximou-se do general.

'O senhor está bem?' Perguntou.

'Deixe-me em paz, Kinomoto.' Respondeu em tom ríspido.

            Ela mostrou a língua. "Grosso", pensou para si. Estava pronta para afastar-se quando o ouviu tossindo com mais força. Mesmo sabendo que ele a rejeitaria foi até ele. Abaixou ao seu lado e tocou de leve na testa do general.

'Já falei para me deixar em paz.' Ele repetiu empurrando-a para longe. Ela caiu sentada ao lado dele e olhou-o, assustada.

'Está com febre.' Falou mostrando nítida preocupação.

            Li levantou-se, tentando ficar em pé, mas era claro que sua condição física não estava boa. Fitou Sakura que ainda estava sentada no chão, olhando para ele.

'Febre vem e vai. Não tenho por que dar importância a isto.' Ele disse caminhando em direção à árvore, onde sentou encostado ao seu tronco. Sakura levantou do chão e foi até ele, pegou novamente algumas pedras e voltou a tentar acertar algumas frutas. Ela tentava mostrar indiferença ao estado dele, com ele doente teria muito mais facilidade para fugir.

            A noite caiu, Sakura montou a fogueira para que os dois se aquecessem. Li estava dormindo com os braços cruzados, na intenção de mostrar que estava bem, mas ainda tossia muito. Ela aproximou-se dele e verificou que estava dormindo, pensou em fugir, poderia até mesmo roubar o corcel que ele não teria nem condições de persegui-la. Fitou por um tempo o rosto sério de Li, tocou de leve a testa dele e verificou que a febre estava mais alta.

'Droga', resmungou, fitando-o enquanto dormia. 'Não posso deixá-lo assim.'

            Ela ajoelhou-se perto dele e o sacudiu um pouco. 'General, general...' Chamou de forma delicada.

            Li abriu um dos olhos. 'O que foi?' Perguntou contrariado.

'Está com muita febre, temos que chegar mais rápido ao próximo vilarejo.'

'Eu estou ótimo.' Respondeu pronto para dormir.

'Não está, não!' Ela gritou com ele. 'Para de ser cabeça dura e vamos logo para Hokaio.'

            Ele abriu os olhos com raiva. 'Cala a boca e me deixe dormir, mulher.'

            Ela pegou um dos braços dele e o puxou para se levantar. 'É muito pesado, se não me ajudar não vou conseguir levá-lo de jeito nenhum para lá.'

            Li já estava perdendo a paciência. Puxou-a com força, fazendo-a cair de joelhos a sua frente. 'Eu estou bem.'

'Não está! Sua febre está muito alta.'

'Eu não sou homem de ter febre.'

'Mas tem! Ou o senhor vai comigo até o próximo vilarejo ou eu vou sozinha.'

            Ele segurou o punho dela com mais força. 'Já falei para não tentar fugir novamente.'

'Do jeito que está, não vai durar muito se não se cuidar, general.' Ela falou encarando-o.

            Li a soltou para tossir forte novamente, por mais que tentasse não conseguia parar. Sakura o cobriu com a manta.

'Por favor General, não seja teimoso, não desta vez.' Pediu ao seu ouvido.

            Li pousou uma das suas mãos na dela que estava sobre o seu ombro. 'Está certo.' Falou por fim.

            Sakura o ajudou a se levantar e caminhar até o corcel. Depois de algumas tentativas, conseguiu fazer com que ele montasse no animal. Ela subiu à sua frente e pegou as rédeas.

'Para onde é o vilarejo mais próximo?'

'Siga a estrada.' Ele respondeu, depois de tossir um pouco.

            Sakura atiçou a montaria em direção à estrada. Depois de algumas horas de viagem, ela começou a avistar alguma luminosidade a sua frente, só poderia ser Hokaio. Devagar entrou pela cidade deserta, procurando algum lugar para pernoitar. Li estava dormindo, debruçado nas suas costas. Depois de andar um pouco pela cidade, achou uma pensão. Parou em frente a ela e desceu junto com Li, que tentou ficar de pé.

            Ela passou um dos braços do general pelos ombros e entrou no estabelecimento.

'Boa noite.' Cumprimentou um senhor que estava atrás de um balcão. 'Por favor quero um quarto.'

            O homem fitou a menina e o homem que tossia a sua frente. 'Dez moedas por noite e...'

'Olha, depois vemos isso. Agora poderia me dar a chave? Quero cuidar dele.'

'Não recebo homens doentes em meu estabelecimento.' Falou o velho de forma rude.

            Sakura ergueu uma sobrancelha.  'Pois este homem doente é um General do imperador, senhor. Se não nos der um quarto agora e meu marido piorar, venho aqui pessoalmente com a guarda do imperador para fechar esta espelunca!'

            Li franziu a testa, ouvindo o que ela disse, mas estava tão mal que não comentou nada. Sakura fitava o homem com raiva. 'E então?'

'Tenho um quarto no segundo andar que está vazio, mas não vou ajudá-la a levá-lo!'

'Não preciso da sua ajudar!' Ela respondeu de forma ríspida. Caminhou com Li ao seu lado e pegou a chave. Devagar e, com muito esforço, conseguiu levá-lo até o segundo andar. Entrou no quarto e colocou Li na cama. Ele estava ardendo de febre.

'Um homem tão metido a poderoso ficar doente desta maneira, é até cômico.' Falou tirando as botas dele.

'Eu ouvi isso, Kinomoto.' Ele respondeu, tentando se ajeitar na cama.

'Era para ouvir mesmo.'

Continua.

N/A: Hahahahaha Agora é o senhor todo poderoso general Li que está dando um de frágil?!! Podem falar, só numa história louca como a minha que isto acontece, não?!

Particularmente gostei muito da Sakura falando um monte de coisas que eu queria falar para o Li neste capítulo! Como estes dois vão se entender, nem eu sei ainda... quer dizer, sei sim, mas não vou contar! Hehehe

Beijocas para minhas super revisoras Andréa e Rô (Ah tem um pedaço que não foi revisado então se tiver alguns errinhos a culpa não é delas e sim desta que vos escreve)

Beijocas para todos que deixam reviews! Muito obrigada! Adoro ler a opinião, chutes, conselhos, palpites e tudo de mais de vocês! Muito obrigada!!!

Kath