A Minha Garota

Por : Sissi

A/N : Bom, após ler as mensagens de Kiki-chan e Kikyou, decidi continuar esta história. Eu sei que este par é bem diferente, mas após ler vários fics em inglês com este par, acabei gostando. Bom, de qualquer forma, não sei quantos capítulos esta história dará, mas creio que muitos. Estou começando a ter idéias...^^

Capítulo II

Não sei como esta idéia me veio à mente, mas não está de toda errada. Ela realmente parece ser um raio de luz nesta escuridão, uma pequena faísca quebrando o encanto da noite. Ela é a garota do meu livro.

Observo tudo o que ela faz, desde o seu jeito peculiar de arrumar as mesas até o modo com que atende os outros clientes, sempre com um grande sorriso. Será que ela nunca se cansa de sorrir?

Mais uma vez, ouço a voz de Inu Yasha, anunciando mais um prato pronto. Estranho, não me lembro dele saber cozinhar, mas eu nunca liguei muito para ele. Deve ser por isso.

Ela entra pela porta da cozinha e sai rapidamente com um prato enorme na bandeja, juntamente com uma xícara de café. Deve ser o meu pedido.

Ela anda rapidamente na minha direção, seus olhos brilhantes nunca desviando do meu olhar. Colocando o prato na minha frente, noto que ela não tem nenhum anel em seus dedos, nenhum indício de seu relacionamento com Inu Yasha.

- Bom apetite!

Não me atrevo a dizer nada de volta, ou perguntar se está namorando meu irmão, dignando-me apenas a olhar o meu prato de comida. Pego o garfo e a faca e começo a comer rapidamente, meu estômago já cansado de tanto esperar.

Sou uma pessoa prática; levei, talvez, dez minutos para comer. Não há mais nenhuma razão para eu ficar neste pequeno restaurante, mas minhas pernas se recusam a se mover, a se levantar da cadeira e ir embora. Parece que o meu corpo tem um outro plano que eu desconheço.

- Já terminou? Nossa, você come bem rápido!

Algumas mechas de seu cabelo escapam-lhe, tentando-me com sua suposta maciez. Quase ergo minha mão para tocá-las, mas parei a tempo. Não é hora para isso, e além do mais, nunca fui daqueles de cobiçar a mulher dos outros.

- Traga-me a conta.

- Só um instantinho.

Observo o seu corpo sumir atrás do balcão, onde uma garota de longos cabelos escuros está sentada, mexendo na máquina ou algo do gênero. Não consigo ouvir sua voz ao se dirigir à Kagome, só posso discenir um tom amigável. Provavelmente, melhores amigas.

Parece que a minha garota não é apenas pura e gentil, ela também tem vários amigos. Ela deve ter este dom ou maldição de conseguir atrair para si várias pessoas ao seu redor.

Por que eu digo maldição? Sim, eu sei que amizade é importante, principalmente neste mundo vasto e, agora, sem fronteiras, mas isto só é válido para pessoas boas, não para pessoas que têm maldade no coração, como o meu.

Talvez não seja maldade no meu caso, mas eu já sou cínico, só enxergo tudo de errado nas pessoas que conheço, e Kagome não é nenhuma exceção. Esta sua bondade excessiva poderá ainda ser a razão da sua queda.

- Aqui está.

Olho a nota e retiro da minha carteira uma nota de dez reais. É o suficiente.

Saio sem esperar o troco. Provavelmente, ela deve estar me agradecendo. Engraçado, esta idéia me faz sentir bem comigo mesmo, levando-me até a sorrir, um pequeno sorriso de satisfação.

Bom, já encontrei o que eu deveria encontrar, agora devo voltar para o meu quarto, para o meu trabalho. Já sinto uma estranha força emanando de minha mente e de meus dedos. É hora de começar a escrever.

Sinto uma excitação indescritível; é sempre uma emoção escrever, pôr em palavras o que um pensa ou fala. No meu caso, quero escrever o que eu senti hoje, neste restaurante, com certas adaptações, é claro.

Já consigo avistar meu prédio e apresso inconscientemente o passo.

* * * * * * * * *

*~*~*~*~*~*

A rua estava deserta. Apenas poucos transeuntes andavam por ela. Uma garota de longos cabelos negros, com a mochila amarela nas costas, andava sozinha por entre as ruelas, não sendo notada por ninguém. Seus olhos azul- acinzentados observavam tudo ao seu redor.

Ao atravessar a avenida, seu sorriso aumentou. Lá estava ele, seu namorado de longa data, esperando-a com um pequeno buquê de flores. Ela se aproximou dele e lhe deu um leve beijo nos seus lábios. Sorrindo, ela pegou sua mão e assim eles foram caminhando, criando este pequeno, porém agradável imagem para qualquer pessoa que estivesse andando pela cidade àquela hora.

*~*~*~*~*~*

Largo o lápis que estou escrevendo e olho o papel mais uma vez.

Não, eu não gostei deste namorado dela. Ela é boa demais para ele, merece algo que toda garota realmente precisa : casa, filhos e uma vida segura. Ele nunca poderia fornecer tudo isso, só no máximo amor. Nada mais.

Ela precisa de um homem que já tenha um emprego estável, uma casa, talvez. Ela precisa de alguém como...eu.

O que estou dizendo ?!

Meneio a cabeça. Devo estar alucinando, porque eu simplesmente não consigo acreditar no que acabei de pensar. Por um momento, considerei-me como a pessoa perfeita para a heroína da minha história, que é baseada na Kagome.

Kagome...

Eu mal a conheço e de repente, ela já está mexendo com a minha cabeça. Como isso é possível?

Não irei mais escrever por hoje. Eu sei que já saí para respirar, mas estou novamente precisando de mais ar puro para dissipar esta minha loucura temporária.

Levanto-me da minha cadeira e vou em direção à porta.

* * * * * * * * *

Ah...

Este parque perto de casa é realmente um colírio para os meus olhos. Nada de carros, de barulhos, apenas a velha e boa Mãe Natureza. Está começando a anoitecer, e o vento está ficando cada vez mais frio. Fecho o meu casaco e continuo a andar pelo parque, notando a falta de movimento neste lugar.

Aproximo-me de um lago, suas águas escuras impossibilitando-me de encontrar qualquer peixe dentro de seu interior. A sua superfície está calma, apenas ondulando ligeiramente com alguma pequena brisa.

Faz tempo que não ando apenas para me divertir, se bem que isso não é diversão. É apenas um tempo para tomar ar antes de voltar para o meu livro, que já está me dando dores de cabeça.

Pling. Pling.

Que som é este?

Está vindo perto de mim. Deve ser alguma garota de coração partido, cujo namorado a trocou por outra. A velha história de sempre.

Por que amar se você será abandonado um dia? É isso o que eu sempre me pergunto. Talvez não pela decisão da própria pessoa, mas a morte virá um dia, e tirará de seus braços aquela pessoa que você ama. Então, por que amar?

Algumas religiões pregam a vida após a morte, e portanto, seria possível encontrá-la depois. Tudo bem, não as estou criticando. Mas, se a vida após a morte será maravilhosa, sem dor, apenas felicidade e paz, assim como a maioria delas pregam, por que as pessoas têm tanto medo de morrer? Por quê?

Tantas perguntas sem respostas...

Pling. Pling.

Novamente, este mesmo som. De onde ele estará vindo?

Pling. Pling.

Ele está me irritando.

Ando mais alguns metros e páro, meus olhos se abrindo de choque.

Uma cena linda, porém triste, está à minha frente : Kagome está chorando, e são as suas lágrimas caindo no lago que estavam provocando aquele barulho.

Não tenho forças para me mexer; meu corpo está paralisado diante desta cena. Não faço nenhum som, somente a da minha respiração, porém, algo a alerta de minha presença.

Virando vagarosamente sua cabeça, eu vejo mais uma vez seus lindos olhos, agora cheios de um líquido transparente que escorrem sobre suas bochechas rosadas. Ela está mordendo seu lábio inferior, para tentar conter seus soluços. Suas mãos agarram o metal da cerca que envolve o lago com uma tal força que estão quase brancas.

- Sesshoumaru...

Abro minha boca mas a fecho logo em seguida.

- Eu...

Ela não termina a frase, apenas levanta a cabeça e olha o céu, algumas estrelas já aparecendo, iluminando o começo da noite até que a lua decida aparecer e nos presentear com sua luz.

- Eu sou... uma pessoa muito má. Eu sou um monstro.

O quê? Má? Que história é essa? Se ela não tivesse alguns defeitos, como amar meu irmão, eu diria que ela era um anjo vindo do céu.

- Por que você está dizendo isso?

Ela sorri para mim, mais lágrimas escorrendo pelo seu rosto pálido.

- Eu desejei que a Kikyou morresse.

Quem é esta outra garota, Kikyou? Alguma amiga?

- Quem é ela?

Desta vez, ela não consegue se conter. Seus soluços quebram o silêncio da noite, e seus joelhos mal conseguem suportar seu peso. Não foi surpresa nenhuma quando ela começou a cair, suas pernas não agüentando mais.

Corro em sua direção e a pego antes que caia completamente, segurando-a pela cintura enquanto o outro braço, nos seus ombros. Abraço-a contra mim, tentando conter seus soluços que fazem seu corpo tremer violentamente.

Não sei falar palavras confortadoras, apenas abraço-a e deixo o tempo passar. Por mais terrível que seja uma tempestade, ela sempre irá acabar.

- Por que, por que eu me tornei nesta coisa tão horrível?! - ela gritou.

Ela agarra minha camisa, segurando o tecido entre suas mãos. Ela enterra seu rosto no meu peito, tanto que sinto uma coisa molhada tocar em minha pele. Lágrimas.

- Quem é ela? - pergunto mais uma vez, desta vez com uma voz mais baixa.

- A garota de quem... o Inu Yasha... gosta. Ele...a ama. Eu...nunca vou conseguir competir com ela.

Como? Meu irmão prefere alguma outra mulher a esta daqui? Ele está louco por um acaso?!?!

- Eu amo tanto ele...

De alguma forma, senti uma certa dor em meu peito. Não sei o que era, só sei que era uma dor tão intensa que pensei que fosse um enfarte. Não era físico, disso eu sabia. Parecia que algo apertava meu coração, uma mão gelada fechando seus dedos sobre este meu órgão, quebrando-o, transformando- o em pó.

- Eu...Eu o amo tanto ... por que ele não pode me amar?

Ela finalmente levantou seu rosto para mim , e eu pude ver seu rosto mais uma vez. Ela estava tão linda assim, em meus braços, seus lábios tremendo, pedindo um beijo...

Eu não gostava de meu irmão, mas agora, eu o odeio.