A Minha Garota

Por : Sissi

Disclaimer: IY não é meu.

Capítulo VI

"All children, except one, grow up. They soon know that they will grow up, and the way Wendy knew was this. One day when she was two years old she was playing in a garden, and she plucked another flower and ran with it to her mother. I suppose she must have looked rather delightful, for Mrs. Darling put her hand to her heart and cried, "Oh, why can't you remain like this for ever!" This was all that passed between them on the subject, but henceforth Wendy knew that she must grow up. You always know after you are two. Two is the beginning of the end." -James M. Barrie

                                                         *~*~*~*~*

Tudo à minha volta parece ter ganhado uma nova forma, uma nova cor. Já não vejo o mundo como um baralho de cartas, em que eu era o único curinga da história, estando à parte dos outros. Não, sinto que, se eu realmente quiser, posso fazer parte disso tudo. E eu quero isso.

            Tomei o metrô e seguro uma barra de metal, tentando, de alguma forma, manter o meu equilíbrio, o que não é muito fácil. As pessoas me olham como se eu não pertencesse ao mundo deles, olhando-me desconfiados. Não posso culpá-los; olhava a vida tão cinicamente que acho que perdi meu contato humano. Meus livros eram a minha vida. Não mais.

            Kagome, tudo volta a ela, ao modo pela qual ela entrou na minha vida. Tão repentinamente, sem nenhum aviso, mas que me tragou para fora do abismo em que me encontrava, mostrando-me a luz.

            O pior disso tudo, se é que você pode dizer isso, é que eu gostei dessa luz. Gostei do calor, da forma como me senti querido, acariciado, como se minha mãe estivesse do meu lado, dando-me forças. Mas, não era a minha mãe; era a Kagome.

            Às vezes, creio que estou ficando louco, mas já não me importo mais. Se ficar louco é se sentir assim, feliz, então eu quero mais é ficar insano.  

            O metrô, após mais algumas paradas, finalmente parou na minha estação. Noto as várias pessoas do lado de fora, uns empurrando os outros, todos tentando entrar no vagão. Endireito-me e, ao posicionar-me na frente da porta, sei que serei derrubado por esta maré viva.

            A porta se abre e eu me esquivo para o lado, atento para o caso de alguém me empurrar. Rápido como um raio, estou do lado de fora e contemplo o cenário ao meu redor. As paredes, de concreto, dão-me uma sensação de aspereza, de frieza. O chão, de borracha, não faz com que meus sapatos deslizem suavemente. É um lugar bastante diferente do que estou acostumado.

            Não há problema. Ando até a escada rolante e piso num degrau. Espero pacientemente ele me levar até o topo, de onde me dirijo até as catracas. Alguns policiais, vestidos em seus uniformes azuis, estão de pé, observando a agitação dentro da estação de metrô. Nada de diferente parece estar acontecendo, pois levantam uma mão para a boca e bocejam preguiçosamente.

            Há várias saídas esta estação. Olho de um lado e leio a rua em que sairei. Não, não és esta. Viro minha cabeça para a direita e leio o nome da outra. Sim, é este aqui. Começo a andar, e quando estou finalmente do lado de fora, tenho que levantar a mão para proteger meus olhos da luz, que quase me cega.

            Várias pessoas estão do lado de fora esperando seu ônibus. Alguns senhores de idade estão sentados num banco, suas bengalas entre suas mãos enrugadas. Alguns estão sentados lendo o jornal do dia; outros estão apenas olhando as pessoas ao seu redor. Uma boa senhora, com várias sacolas de compras nas mãos, está me encarando com estranheza. Começo a andar mais rapidamente para chegar ao meu destino. Ainda não estou acostumado às pessoas me olhando deste jeito.

            Duraram apenas alguns minutos a minha caminhada. Uns quinze, eu diria, mas isso não importa.  Estou na frente do restaurante, na frente da porta de madeira com vidro no centro. Giro a maçaneta e entro. Olho ao meu redor a noto que há poucas pessoas. Uma garota de longos cabelos negros, com um pouco de maquiagem no rosto, está no caixa. É a única garota que está trabalhando a esta hora. Deve ser a Sango.

            Aproximo-me dela e ela me olha um pouco espantada.

            - Em que posso ajudá-lo?

            Eu gostaria de pedir o telefone da Kagome. Parece estúpido, não?

- A Kagome está?

- Não, hoje é o dia de folga dela.

- Você poderia me dar o telefone dela? Tenho um assunto importante para tratar com ela.

Seus olhos escuros me inspecionam, da cabeça aos pés. Ela não parece confiar muito em mim.

- É sobre o Inu Yasha.

- Aconteceu alguma coisa com ele?! – ela me pergunta nervosamente, as palavras mal saindo de sua boca. Seus olhos estão um pouco arregalados e ela aperta a borda de sua camisa.

- Sim, ele vai pedir a Kikyou em casamento.

- Essa não...

Ela coloca suas mão sobre a sua boca, tentando evitar fazer qualquer comentário. Porém, pelo próprio jeito com que seu corpo ficou tenso, está mais do que claro que ela está espantada e, talvez, brava com as notícias. 

- Aquele Inu Yasha...

Suas mãos fecham-se na forma de punhos e ela não está mais olhando para mim, mas sim para um ponto distante na parede atrás de mim, como se refletindo sobre algo. Creio que ela está imaginando inúmeras formas de matar meu irmão, o que eu teria um enorme prazer em ajudar.

- Pobre Kagome...Você vai falar com ela sobre isso?

- Sim. É melhor saber do que ficar na ignorância e saber por último.

- Você tem razão. Só que tente ser bem cuidadoso, porque ela vai sofrer muito.

- Eu posso tentar, se você me der o telefone ou o endereço dela.

- Claro.

Até que o Inu Yasha é bastante útil.

Ela pega uma caneta e rabisca alguns números e letras numa folha de papel. Relendo o que ela escrevera, ela me olha uma última vez e me entrega o que eu tanto desejei. Tenho vontade de beijar a folha, mas reprimo este desejo.

- Obrigado.

- Por favor, tome conta dela por mim, sim?

Aceno com a cabeça e saio do restaurante. Por alguns segundos, o rosto desta garota está impresso na minha cabeça, seus olhos negros cheios de tristeza pela má sorte de sua melhor amiga. Eu gostaria de ter um amigo iguala a ela. Paro de repente. Eu já tenho um amigo assim, ou melhor dizendo, uma amiga assim : a Kagome. O problema é que eu quero que ela seja algo mais do que apenas uma amiga. Quero que ela faça parte da minha vida, que esteja sempre do meu lado e que me olhe de um jeito todo especial só para mim.

Quero que ela seja minha namorada, minha amante, a única mulher da minha vida.

                                                    * * * * *

Chego em casa e coloco a espada de meu pai na minha cama. Preciso comprar algumas peças para poder colocá-la junto da Tenseiga na parede, para eu todos possam vê-la. No entanto, o que está ocupando a minha mente neste exato momento é como irei falar com ela. Por telefone, eu sei, mas não era isso a que me referia. Como eu conseguirei contar-lhe que o homem que ela ama está para se casar com outra?

Meu coração parece ter se contraído de dor quando eu afirmei que não sou o homem de que ela ama. É duro dizer isso, mas é a dura realidade. Ela não me ama. O pior disso tudo é que eu sou o irmão deste meu inimigo. Meio irmão, quero dizer. Ultimamente, tenho esquecido que nossas mães eram diferentes, o que é bastante estranho, pois quase nunca esqueço deste fato.

Meneio a cabeça. É por isso que você vai ligar para ela, para tentar fazê-la esquecer dele e talvez, conseguir um lugar especial no coração dela. Isso.

Fixo os meus olhos neste aparelho preto que está na minha frente. O telefone, meu novo inimigo. Toco o aparelho e segurando-o em minha mão, aperto o primeiro botão, o 'Talk'.

Thu...Thu...Thu...

Muito bem. Qual é o primeiro número? Retiro o papel que a Sango havia me dado. Três. Aperto o número. Agora, faltam mais sete números.

Sinto meu suor escorrendo da minha testa para o meu queixo. Limpo o líquido com a minha mão desocupada e olho novamente o papel. Só faltam mais seis.

Cinco. Quatro. Três. Dois e um.

Espero a pessoa do outro lado atender. Enquanto isso, minhas mão tremem segurando o telefone, tanto que tenho que segurá-lo com mais força para que não caia. Meus lábios estão secos, e minhas pupilas estão dilatadas. Olhos para o meu quarto e vejo as espadas de meu pai, as quais me dão um pouco de segurança. Engulo a saliva que estava na minha boca e fecho meus olhos.

Vamos, atenda, por favor. Não agüento mais este suspense. Meu coração parece que vai estourar, e estou inspirando e expirando ar como se tivesse participado de uma maratona. Meu corpo não vai agüentar muito mais tempo.

- Alô?

É ela. Abro minha boca, mas nenhum som sai dela. Desligo o telefone apertando o botão 'Talk'. Junto minhas mão como se fosse rezar e abaixo a minha cabeça, descansando o meu queixo sobre as minhas mãos.

Sou um covarde.

                                   *          *          *          *          *

Não sei como consegui chegar até aqui. Bom, é claro que o meu carro me ajudou, e o endereço que estava escrito na folha. O que eu quis dizer, e tenho certeza de que vocês me entenderam, é que não sei como consegui reunir força o suficiente para chegar até a casa dela.

Levanto os meus olhos e observo o céu. É uma lindo dia, não parece que vai chover, totalmente diferente de como me sinto. Parece que tem uma tempestade na minha cabeça, não consigo pensar direito.

A casa dela é bonita e simples. Um pequeno jardim na frente e um espaço para estacionar o carro. Noto um gato amarelado descansando sob o sol, olhando-me com olhos cansados. Que gato estranho.

- Miau – olho para o portão e para a campainha. Levanto minha mão e toco-a, mas não a aperto. Respiro profundamente e olho para meu dedo indicador. Vamos um pouco de pressão e estará acabado. Vamos.

Meu corpo não me responde, não faz o que eu mando. Droga! Eu...Estou com medo. Não quero ser rejeitado por ela. Retiro minhas mãos e olho a casa. Tão perto, mas tão longe ao mesmo tempo...

Sinto que fisicamente, apenas alguns metros nos separam, quando metafisicamente, o universo inteiro está entre nós. Abaixo a cabeça e olho a ponta dos meus sapatos. Que interessante...

- Sesshoumaru? – Levanto os olhos e a vejo na porta de sua casa, sua boca parcialmente aberta devido à sua surpresa. Tento sorrir, mas meus músculos não se mexem. 

- Boa tarde. – Ela anda na minha direção e abre o portão.

- Boa tarde. Você...Não quer entrar? Acabei de fazer uns biscoitos.

- Pode ser, estou com um pouco de fome. – É mentira, mas ela não precisa saber disso. Aceno com a cabeça e a sigo para dentro de casa. O interior de seu lar é a cara dela, se é que posso dizer isso. Várias fotografias estão espalhadas pelos cômodos, enquanto que quadros vivazes alegram as paredes beges. As portas são de madeira, da cor do mogno, e a sala de estar é simples, mas encantadora, com dois sofás ao redor da televisão, formando uma espécie de meio círculo. Uma mesinha está na frente da televisão, com um vaso repleto de cravos e rosas em cima. As rosas são vermelhas, algo que eu já esperava dela. Vermelho, a mesma cor da paixão.     

  - Está um pouco desarrumado, espero que não se importe, - meneio a cabeça. Está tudo ótimo. Quem precisa de organização? Eu preciso, mas isso não quer dizer que todo mundo precisa, afinal de contas, a própria tendência das coisas é o caos, certo?

Ela me mostra o sofá e sento, não sem antes me sentir um pouco desconfortável. Parece que estou invadindo um lugar muito especial, um lugar sagrado.

Ela caminha pela cozinha, tirando pratos dos armários, tirando a bandeja com biscoitos do forno e uma jarra de suco da geladeira. Arrumando tudo isso, ela anda até onde estou e coloca tudo na mesinha na minha frente.

- Sirva-se, por favor. Espero que os biscoitos estejam bons, é uma nova receita.

Pego um e coloco-o na boca. A textura é suave, e mal ele toca na minha saliva e ele se desmancha todo. Delicioso!

- Está muito bom, - eu respondo, e seus olhos se arregalam imperceptivelmente e seus lábios formam um pequeno sorriso. Suas mãos se mexem um pouco. Ela está nervosa.

- Mesmo? Que bom! – ela exclama, seu sorriso se ampliando, para o meu deleito. Sorrio de volta.

Seus olhos se arregalam bastante e eu rio um pouco.

- O que foi?

- Você...Sorriu! E riu! Você devia fazer mais isso.

            Percebendo o que ela me disse e o meu olhar de incredulidade, suas bochechas ganharam uma cor rosada e ela abaixou os seus olhos, evitando os meus.  Meu coração começou a acelerar feito um carro de corrida.

            - Eu...Por que você veio aqui?

            Desta vez, é a minha vez de desviar os meus olhos.

            - O Inu Yasha...Vai pedir a Kikyou em casamento.

            -...Então ele decidiu...

            - Decidiu o quê?

            Ela fecha seus olhos e coloca suas mão no seu rosto, suspirando levemente.       

- Ele disse que me amava, mas que também amava a Kikyou. Eu disse que ele tinha que escolher entre nós duas, porque estava cansada de ser sempre a segunda. Parece que...eu sou a segunda opção, - e então ela riu, não aquele riso que faz sua alma pular de alegria e ficar quente como se você tivesse sido bombardeado de alegria; não, foi um riso amargo, de alguém que está derrotado, cansado de tudo. Está não é a Kagome que conheço.

Levanto-me abruptamente e agarro seu braço, levantando-a junto comigo. Ela tenta se desvencilhar, mas não consegue.

- O que você está fazendo?! – ela me pergunta irritada, – me solta!!

- Pare de agir assim. Esta não é você.

- Você não me conhece! 

- Posso não a conhecer totalmente, mas quero conhecê-la, se você deixar.

- Eu não quero! Me solta!!

- Está com medo de ser machucada de novo, como o Inu Yasha fez?

- Pare, por favor...- seus olhos estão cheios de lágrimas, e seus lábios tremem ao falar.

            - Não, eu quero ver a Kagome de verdade.

            - Esta é a Kagome de verdade! Esta garota inútil que não consegue fazer nada! Que ama alguém, mas que sempre será a segunda opção!! Estou farta disso tudo!! Eu não quero mais isso!!

            - Então, o que você quer?

            - ... Ser uma criança de novo. Não ter responsabilidade, ter alguém cuidando de mim. De ter alguém me amando e me protegendo...Quero ser uma criança de novo...

            Suas pernas não conseguem agüentar seu peso e ela cai, suas mãos escondendo seu rosto, contendo suas lágrimas. Ajoelho-me e coloco uma mão no seu ombro.

            - Todos devem crescer, incluindo eu e você.

            - Eu não quero crescer...

            - Isso não depende de você. Você não é Peter Pan.

            - Eu sei...

            - Não tenha medo de crescer. Estarei do seu lado, tudo bem? Só para protegê-la.

            Ela levanta seus olhos para mim, que já estão bastante vermelhos. Suas mãos trêmulas agarram minha camisa, e ela enterra seu rosto no meu peito. Seus soluços fazem com que seu corpo frágil trema a cada segundo, fazendo minha alma chorar.

            Abraço-a e toco gentilmente nas suas costas, enquanto que coloco meu queixo sobre a sua cabeça. Ela tem cheiro de rosas, tão confortante...

            - Eu estou aqui do seu lado. Isso...Isso não é suficiente?

            Seu corpo fica tenso em meus braços e seu choro aumenta de intensidade. Abraço-a com mais força. Tenho medo da resposta.

            - Eu sinto muito...

            Fecho meus olhos e deixo o ar sair dos meus pulmões.  

Notas da Autora : 

Tradução do trecho em inglês:

"Todas as crianças, exceto uma, crescem. Elas rapidamente sabem que elas irão crescer, e a forma que Wendy soube foi assim. Um dia quando ela tinha dois anos ela estava brincando num jardim, e ela arrancou uma outra flor e correu com ela para a sua mãe. Eu suponho que ela parecia uma graça, pois a Sra. Darling pôs a mãe no coração e exclamou, "Oh, por que você não pode ficar assim para sempre!" Isto foi tudo que transcorreu entre elas sobre o assunto, mas desde então, Wendy sabia que ela tinha que crescer. Você sempre sabe depois que você tem dois anos. Dois é o começo do fim."

Muito obrigada pelos reviews, vocês não sabem como eles iluminam meu dia ( ou talvez sim, já que algumas de vocês também são escritoras). Dani ( você é muito fofa! Adorei o poema!), Naru Chan, Kiki-chan, Sayo Amakuza e Samantha. O incrível disseo tudo é poder mudar um poço esta noção do Inuyasha sempre ficar com a Kagome, se bem que eu torço por isso no manga e no anime. No fanfiction, isto é uma outra história...^_^

Ah, Sayo, você não me disse que gostava da Kikyou, mas fico feliz que você gostou dela no capítulo. Particularmente, eu odeio ela ( a 'nova Kikyou', não a que morreu ), mas, como é preciso ser imparcial quando se escreve histórias espero que ela tenha te agradado.

Samantha, eu também amo o Sesshoumaru!! Ele é LINDO!! E você não está se metendo na minha história, pelo contrário; adoraria saber o que você pensa dele e o que eu poderia acrescentar. Conto com você?

Kiki-chan, coloquei alguns assuntos mais profundos para se pensar mesmo. Gosto de filosofar e saber as opiniões dos outros. A idéia do sangue sobre a mortalidade é espelho do que eu sinto quando eu penso sobre isso. Fiquei feliz por saber que deu para fazer você parar para pensar sobre isso. ^_^ Era a minha intenção.

Naru Chan, obrigada pelos elogios, mas o melhor é saber que você está começando a gostar de ver Sesshou e Kagome juntos. ^_^

Dani, acho que já falei tudo o que eu tinha no e-mail que te mandei. Seu review quase me fez chorar de alegria, e ainda mais por você ter compartilhado seu poema comigo. Lindo poema, é tudo o que posso dizer. Sobre minha história, fico extremamente agradecida que você esteja adorando ele, porque esta é uma das razões que eu escrevo, além de acalmar minha mente quando tenho mil idéias na cabeça. Adorei ter te conhecido. Termino de ler todas as suas histórias neste fim-de-semana, ok? ^_^ Quero terminar com o livro que estou lendo antes.

Bom, obrigada garotas, vocês são demais. Beijos e a gente se vê no próximoa capítulo.