A Minha Garota
Por: Sissi
Disclaimer: IY não é meu.
Capítulo VIII
" (...)
Our lingring Parents, and to
th' Eastern Gate
Let them direct, and down the Cliff as fast
To the subjected Plaine; then disappeer'd.
They looking back, all th' Eastern side beheld
Of Paradise, so late thir happie seat,
Wav'd over by that flaming Brand, the Gate
With dreadful Faces throng'd and fierie Armes:
Som natural tears they drop'd, but wip'd them soon;
The World was all before them, where to choose
Thir place of rest, and Providence thir guide:
They hand in hand with wandring steps and slow,
Through Eden took thir solitarie way."
( Paradise Lost, John Milton )
*~*~*~*~*
Quando você está plenamente feliz, sempre há algo que te incomoda. Nem sempre é um fato; uma pessoa, talvez. Estou sentado na minha poltrona, o telefone sem fio largado sobre meu colo. Olho apreensivamente o objeto, incerto sobre o que ouvi, ou melhor, de quem ouvi.
Coloco o telefone de volta ao seu lugar, e caminho até a cozinha, onde abro os armários e retiro um pote contendo café. Utilizando uma colher de tamanho médio, adiciono duas colheres do pó dentro de uma xícara que está do lado do fogão. Desligo o fogo, e adiciono água. Mexendo com a mesma colher, espero até que o líquido esteja do jeito que eu gosto.
Dois goles, e pronto, já sinto meu corpo quente e acordado. Colocando a xícara sobre a mesa da sala, sento novamente na minha poltrona, onde reclino minha cabeça, e observo a paisagem disposta pela janela.
Suspiro, e passo uma mão pelos meus cabelos, sentindo os longos fios agraciarem meus dedos. Mudo minhas pernas de lugar, para ficar mais confortável. Estico meu corpo para a frente, e seguro a xícara entre minhas mãos, aquecendo-as do frio da tarde. Bebo mais um pouco, sentindo o liquido escorrer dentro de minha garganta.
O som de campainhas me tira do torpor em que eu me encontrava. Levantando com certo desequilíbrio, arrumo minhas roupas, e abro a porta. Que seja o que Deus quiser.
- Inu Yasha, - eu o recebo com um pequeno sorriso. Afasto-me da porta, deixando-lhe um lugar para entrar. Ele me avalia atentamente, seus olhos dourados penetrando sob minha máscara de falsa bondade. Ou de nervosismo.
Ele caminha até o sofá e senta naquele que está mais perto da janela. Sento na frente dele, e espero que ele comece a falar, pois afinal, foi ele quem decidiu me visitar.
Sinto uma certa inquietação dentro de meu ser, como se borboletas estivessem voando dentro de meu estômago, criando um caos dentro de mim. Bebo mais um pouco de café, uma tentativa frustrada de me acalmar. Após anos de treino, como é que não consigo mais me acalmar e permanecer indiferente? Eu nunca disse que era fácil realizar esta proeza, mas creio que todos acreditavam que era uma característica natural minha. Suspiro. Isto não está indo nada bem.
- O que você queria falar comigo? – Viro meu rosto, indicando-lhe o telefone. Ele me olha inquisitivamente por um instante, e logo depois, seu rosto escurece de seriedade. Massageando suas têmporas, e soltando o ar dos seus pulmões, ele me encara desafiadoramente.
Tenho que permanecer calmo, mas ele está me deixando nervoso. Muito nervoso.
- Fale.
- É sobre a Kagome.
Meu corpo reage instintivamente, enrijecendo como ferro, os músculos tensos. Posso até sentir adrenalina fluindo entre meus vasos, diluindo com o sangue, dando-me a agilidade e a força necessária para enfrentar qualquer perigo.
- O que tem ela? – pergunto-lhe, minhas mandíbulas tensas, mesmo com o simples ato de falar. Agarro os braços do sofá com força, meus punhos empalidecendo com a pressão.
- Ela me contou sobre vocês.
Meu coração desacelera da mesma forma que acelerara algum tempo atrás, e a cor vermelha que obscurecia minha visão some rapidamente. Deixo o ar que estava preso em meus pulmões irem embora, e um peso invisível que estava em meus ombros foi removido. Levanto meu rosto, fitando-o com frieza.
- E?
Levantando-se impacientemente de seu lugar, ele começa a andar de um lado para o outro, suas mãos enfiadas dentro do bolso de sua calça. Observo-o atentamente, um pequeno sorriso aflorando sobre meus lábios. Será que ele está arrependido por ter deixado-a escapar?
Virando bruscamente, e lançando-me fogo pelos olhos, seus dentes semi-cerrados atritam um contra o outro, mal contendo sua raiva. Parece que eu estava certo com a minha suposição.
- Ciúmes?
Isto foi a gota d'água. Lançando-se na minha direção, ele agarra o colarinho da minha camisa, e me empurra contra a parede, derrubando o café sobre o chão. Engulo minha saliva, e fecho meus olhos. O chão está sujo por causa deste idiota, e quem terá que limpá-lo? Respiro e expiro profundamente, tentando evitar fazer algo irresponsável de que sentirei culpado depois, como assassinar este garoto que está na minha frente.
- O que foi agora?
- Eu é que pergunto isso, Sesshoumaru! Pare de brincar com a Kagome! Ela é inocente demais, pura demais para as suas manipulações!
Meu cérebro parou de funcionar, apenas vejo minha mão direita subindo e se conectando com o rosto de Inu Yasha, jogando-o para longe de mim. Quero matá-lo, nada mais, nada menos. Quero esfregar sua boca com sabão pelo o que ele acabou de me dizer, de me acusar.
- O que foi que você disse? – eu murmuro, minha voz bastante baixa, perigosa, como o rosnado de um animal prestes a atacar.
Limpando sua boca com as costas de sua mão, de onde escorria um pequeno filete de sangue, ele se levantou, e me acusou novamente de estar brincando com Kagome.
- Ouse dizer isso novamente, e eu acabo com você.
- Como se você tivesse a ousadia...- Soco-o mais uma vez, lançando seu corpo contra a parede, minha outra mão em volta de seu pescoço, estrangulando-o. Ele tosse, enquanto que seu corpo se contorce com a falta de ar. Meus dedos apertam um pouco mais.
- Eu amo a Kagome, ao contrário de você, que a trocou por uma outra. Encare os fatos, ou melhor, as conseqüências, seu idiota. Ela é minha agora.
Solto minha mão, e ele cai contra o chão, uma mão em volta de seu pescoço, exatamente onde a minha estava. Tossindo como um louco, ele dobra seu corpo para a frente, esperando que o ar se acostume a entrar novamente em seu sistema.
- Eu... – Ele parou subitamente. Gotas de algum líquido cristalino caem sobre meu chão, e eu estanco no meu lugar. Ele está chorando?
- Eu sei que a machuquei, mas ela... a Kikyou...eu não podia deixa-la só...eu prometi... – sua voz ia ficando cada vez mais fraca, até que parou. Levantando seu rosto, pude ver a sinceridade em seus olhos, que me pediam um favor. O quê?
- Eu estraguei tudo com a Kagome, eu sei. Mas eu já tinha prometido a Kikyou que eu sempre iria protegê-la, e promessa é promessa. Mas... – engolindo em seco, ele pausou por um momento, arrumando seus pensamentos.
- Prometa que você vai protegê-la no meu lugar.
Tenho vontade de bater nele. Que espécie de homem eu seria para não ter feito esta promessa antes? Mas, replico, prometendo fazer o que ele me pedia. Levantando com um pouco de trabalho, deixei-o no banheiro, para que tivesse tempo para se recompor. Assim que ele saiu, fitamo-nos por alguns instantes, e sem dizer nada para o outro, ele saiu de meu apartamento, e foi caminhando pelas ruas. Tranquei a porta e sentei na minha poltrona.
Esta tarde foi cheio de surpresas, não? Esperem para ver o que teremos à noite. Prometo, apenas, que será inesquecível.
* * * * *
Kagome será minha. Esta idéia não me parece muito má; na realidade, não consigo parar de sorrir para mim mesmo, até parece que meus músculos faciais adoraram este novo exercício. Estranho, não?
Desde aquele dia, começamos a sair. Nada muito comprometedor ou muito ousado. Fomos a apenas alguns lugares, como parques, restaurantes, cinemas, tudo às claras, exceto o último. Não fizemos nada de muito especial, nem ao menos nos beijamos. Na boca, é claro.
Suspiro. Eu tenho pensado muito sobre este relacionamento, e sei que será difícil fazê-la esquecer meu irmão. Ela esteve apaixonada por ele por tanto tempo que deve ser estranho passear, ter encontros com outro homem. Não importa; eu conseguirei fazê-la me amar. Caso contrário, não sei o que farei.
Como este é, digamos, um novo período da minha vida, serei otimista e não pensarei sobre o caso. O presente é tudo o que importa. De que adianta programar o futuro se nunca podemos ter certeza de que irá transcorrer como planejado? Às vezes, é difícil não acreditar que exista algum deus que cuida do destino, pois já vivi situações tão frustrantes que parecia que alguém estava brincando comigo.
Já chega de falar nisso. Olho para o meu relógio pendurado na parede, e arregalo um pouco os olhos. Já são quase sete horas e ainda não decidi o que vestir. Ando para o meu quarto, segurando firmemente a toalha enrolada em volta da minha cintura. Abro o armário e procuro algo decente para a noite.
Esta noite, iremos jantar num restaurante sofisticado, com uma bela vista e música de fundo. Eu sei que Kagome irá gostar. Já falei com o gerente, e reservei uma mesa especial. Teremos vinho e os melhores pratos do chef, e estaremos sozinhos, sem ninguém por perto. Quero que seja uma noite inesquecível para ela. Já não agüento mais seus olhares indecisos, com medo de ver alguém que a reconheça comigo, ou de olhar nos meus olhos e virar o rosto rapidamente. Estou cansado disso, quero que ela me veja com ternura, que me olhe com um jeito todo especial.
Sei que é pedir demais, que seu coração ainda está quebrado, que ela não está pronta para um relacionamento, mas foi ela quem propôs em primeiro lugar! Fecho meus olhos e tento me acalmar, sentando na minha cama. Respire fundo e conte até dez...
É melhor parar de pensar nisso, caso contrário, ficarei louco. Primeiro, tenho que escolher minha roupa. Analiso rapidamente os ternos pendurados nos cabides, e escolho um de cor preta com botões de mesma cor. Toco suavemente o tecido, quase o acariciando. Microfibra, uma das maravilhas do mundo moderno.
Retiro-o do armário e coloco-o na cama, jogando a toalha molhada em cima de uma cadeira. Visto rapidamente o terno, não sem antes vestir roupas de baixo. Escolho uma gravata azul-marinho com listras brancas, para dar um certo charme. Penteio o cabelo com uma escova diante do espelho, observando meu reflexo diante de mim.
Nada mal, tenho que admitir. O cabelo está perfeito, sedoso e brilhante. Parece que o novo xampu é tão bom quanto dizem, o que teria de ser verdade por causa do preço, quase sendo considerado um roubo. Ah bem, valeu a pena, não? Pego um pequeno frasco de vidro e retiro a tampa. Colocando um pouco do seu conteúdo na palma de minha mão, aplico um pouco da colônia no meu pescoço.
Sentando na beira da cama, retiro um par de meias do criado-mudo e um par de sapatos novinho em folha do pé da minha cama. Calço rapidamente, olhando uma última vez no relógio. Sete e meia.
Pego minha carteira que estava em cima do meu estéreo e procuro pelos meus cartões de crédito. Estou pronto. Abro a porta de meu apartamento e saio. Coloco uma mão no meu bolso, mas não encontro nada. Existe algo mais vergonhoso que esquecer as chaves?
Dá para notar que eu não estou nem um pouco nervoso.
* * * *
Paro o carro na frente de sua casa. Tiro as chaves e saio, limpando o assento do meu lado. Nenhum livro esparramado, nenhum pacote de bolachas largado sobre o lugar. Excelente.
Toco a campainha e espero por alguns minutos. Ela está demorando. Estico meu braço e vejo as horas. Não estamos atrasados, mas é sempre bom chegar um pouco antes da hora. Às vezes, gostaria de saber porque as mulheres demoram tanto para se aprontar. Basta escolher uma roupa, vesti-la, colocar alguns acessórios como brincos ou batom, e pronto. Quanto tempo, no máximo, isto levaria? Meia hora? Parece que o relógio feminino é um pouco diferente, pois meia hora é, para elas, duas horas. Einstein estava correto quando disse que o tempo era relativo.
Bom, é melhor parar de reclamar, não devia estar fazendo isso. Passo uma mão pelo meu cabelo, e olho o portão mais uma vez. Olho o meu relógio e vejo que só se passaram cinco minutos.
Estranho, pensei que tinha se passado pelo menos vinte minutos...
- Desculpa! Eu demorei muito?
Sabe aquela expressão de ficar com a boca aberta quando se está terrivelmente surpresa ou chocada? Adivinhem o que estou fazendo neste exato momento. Eu sei, sou terrível com piadas, não liguem o que estou falando, ou neste caso, pensando.
Ela está linda. Não há como explicar ou descrever o que estou vendo, pois a visão mais maravilhosa do mundo está aqui, na minha frente. Ela está vestindo um vestido preto com a saia chegando aos seus joelhos. Dois fios dourados agraciam seus ombros, segurando e prendendo o vestido no seu corpo. Um cinto, também dourado, adorna sua cintura, reforçando esta parte de seu corpo. Quando ela se virou e pude ver suas costas, meus olhos se arregalaram quase que imediatamente. Suas costas estão nuas até bem embaixo, quase sendo conotado como indecente. Pequenas pérolas adornam seus pulsos, enquanto que uma correntinha prateada, o seu tornozelo. Seus pequeninos pés estão presos por sandálias pretas de salto alto, fazendo-a ficar um pouco mais alta. Seus lábios estão um pouco mais rosados que o normal, e em volta de seus olhos, uma linha negra adorna estas janelas da alma.
Ela está pronta para a caça. Meneio um pouco a cabeça. De onde este pensamento veio?
- Sesshoumaru? Você está bem? – ela me pergunta, mas não sinto nenhuma preocupação em sua voz. Sinto, na verdade, que ela está brincando comigo. Agarro seu braço e sussurro em seu ouvido:
- Por que você está vestida assim? – Minha voz não está normal, eu percebo. Está tremendo um pouco, como se estivesse com medo.
Ela levanta uma sobrancelha, encarando-me estranhamente, mesmo com seu rosto todo vermelho.
- Para você.
É possível uma frase fazer com que você sinta vontade de derreter? Talvez ela seja um perigo caso ela vá, um dia, morar no Pólo Norte ou Sul. Seria o fim do mundo, o nível do mar subiria drasticamente, e todos morreríamos afogados.
- Ainda bem. Vamos?
- Claro!
Ofereço meu braço, o qual ela aceita imediatamente. Abro a porta do meu carro para ela, e espero ela entrar. Contornando meu carro, entro no assento do motorista e ligo o motor, sentindo o veículo ganhar vida. Segurando firmemente o volante, e pisando no acelerador, começo a dirigir, prestando atenção na rua, não sem lançar alguns olhares do canto do olho para ela.
Ela está muito silenciosa agora, observando a paisagem com uma mão embaixo do seu queixo. Parece que ela está meditando sobre algo importante, quase nunca ela fica sem falar nada. Já estou sentindo saudades de sua voz.
- Kagome? Algo errado?
- O quê? – ela vira seu rosto, seus olhos demonstrando uma certa confusão em sua mente.
- Não foi nada, estou bem.
Não replico, volto a prestar atenção na rua, não sem apertar o volante com mais força.
Ela não confia em mim. Por que isto está me deixando desapontado?
* * * *
Chegamos. Um jovem rapaz se aproxima, e entrego-lhe as chaves. Acenando e desejando-me uma ótima noite, vejo meu carro desaparecer para dentro de uma enorme garagem. Viro minha cabeça e olho para Kagome. Ela está olhando o restaurante, seus olhos se iluminando com a janela de água, o líquido caindo do alto até uma pequena fonte, formando uma cortina transparente.
Caminho até estar ao seu lado, e seguro suas mãos.
- Vamos?
Ela me olha, sorrindo e, inconscientemente, levantando meu astral. Entramos no estabelecimento, não sem antes falar com a recepcionista para nos levar até nossas mesas reservadas.
À medida que caminhamos, a luz começa a se tornar rarefeito, e nos encontramos andando entre mesas com vários casais, com apenas a luz das velas iluminando o local. Uma suave melodia de violino e piano entra em nossos ouvidos, e aperto sua mão carinhosamente. Ela aperta de volta, o que me faz sentir quente por dentro.
- Espero que vocês tenham uma ótima noite.
A mulher nos deixa sozinhos, e um garçom aparece para nos ajudar a sentar um de frente para o outro. Oferecendo-nos o cardápio, leio rapidamente os pratos, escolhendo a comida mais saborosa para nós. Esta noite tem que ficar perfeita.
Faço um sinal com meus dedos, e o garçom caminha até ficar do meu lado. Anuncio nossas escolhas, e ele acena com a cabeça, seu rosto sério e paciente. Escolho o vinho mais antigo para nós, de uma das melhores safras que conheço. Não sou nenhum conhecedor dessa área, mas sei um pouco do assunto para não ficar perdido.
- Ótima escolha.
Deixando-nos sós, começo a observar Kagome, seu rosto sem expressão fitando os nossos arredores. Suas mãos estão em cima de seu colo, limpando o vestido que já está muito limpo e passado, seus olhos nunca se encontrando com os meus.
- É muito bonito este lugar, - ela começa a falar, sua voz tremendo um pouco. Ela levanta uma de suas mãos e se aproxima da vela, esquentando sua pele, observando sua mão ficar um pouco rosa devido ao calor.
- Cuidado, você vai se queimar.
Ela retira rapidamente a mão, e coloca-o de volta sobre seu colo. Ela está muito estranha esta noite, porque ela estava agindo normalmente no início do encontro. Será que foi algo que eu falei ou fiz?
Suspiro, fechando meus olhos, e massageando minhas têmporas. Estou um pouco frustrado, esta é a verdade. Não está dando muito certo tudo isso, sinto-me sufocado, um certo peso nas minhas costas. Eu só queria que isso desse certo, pelo menos, uma vez na minha vida.
- Kagome... – Eu começo a falar, mas o garçom se aproxima novamente com uma cesta onde está a garrafa de vinho. Reclino sobre minha cadeira, desviando meu olhar de seu rosto. Suspiro novamente, meus dedos tocando ritmadamente a mesa, como se este fosse um piano. Penteio meus cabelos com meus dedos da outra mão, um hábito que desenvolvi desde pequeno.
O garçom coloca duas taças de cristal sobre a mão, e abre a garrafa com todo o cuidado, sem derramar uma única gota sobre a toalha da mesa, branca como as nuvens. Comparação horrorosa, mas estou sem inspiração. Até os gênios podem ficar sem imaginação.
As taças ganham uma nova cor quando o líquido sanguinolento preenche seu interior, ganhando vida. O garçom oferece uma taça para Kagome, e depois, para mim. Levantando-as, brindamos, os vidros batendo de um copo contra o outro, criando um som agudo, porém, harmonioso, como de uma flauta.
Bebo um pouco do vinho, saboreando o delicioso sabor que escorre dentro de minha garganta. Uma doce aroma se infiltra dentro de meu cérebro, e já me sinto um pouco mais relaxado. Meus músculos estão mais soltos, e eu sinto uma vontade enorme de agarrá-la e beijá-la como se o amanhã não existisse.
Minha euforia não dura por muito tempo. O mesmo homem de antes chega na nossa mesa, colocando os pratos na nossa frente. Tudo parece estar delicioso, e a forma com que a comida está disposta me faz desistir de comer, porque o arranjo está de tal forma que sinto pena de desmanchar a obra de arte.
Meu estômago me avisa que está na hora de comer, mesmo que eu relute um pouco. Segurando o garfo com mão esquerda e a faca com a direita, começo a cortar a carne, este tenro material, tão macio sob meus dedos. Colocando um pedaço na minha boca, não posso deixar de fechar meus olhos, e imaginar que fui tragado para um outro mundo. Está delicioso!
Abro meus olhos e observo que Kagome está comendo nervosamente. Ela na está natural, e isso me incomoda. E muito.
- A comida não está boa?
Ela levanta seu rosto e me observa timidamente, parando de cortar sua comida por um instante. Lembrando-se do que estava fazendo, e provavelmente por se sentir mal comigo fitando-na, ela volta ao seu trabalho, murmurando que tudo está ótimo. Sua voz está mais baixa que o normal, e sinto um leve tom de cansaço. Ou de incerteza.
Colocando os talheres sobre o parto, estico meu braço e toco suas mãos, fazendo-os pararem. Ela levanta seus olhos, e eu tento acariciar seu rosto. Ela está tão bonita hoje...
- Algo está errado, me diga o que é, sim? – eu peço, tentando mostrar o quanto isto está me afetando. Ela morde seu beiço, não sabendo direito o que fazer. Ela vira seu rosto e olha ao seu redor, como se procurasse alguém para salvá-la de mim. Sinto uma leve dor em meu peito, mas nem dou atenção a isto.
- Kagome?
- Eu não estou me sentindo muito bem. Vamos embora? – ela me pede, apertando levemente minha mão. Chamo o garçom e explico os acontecimentos, pedindo desculpas. Ela acena com a cabeça, mas posso notar que ele está um pouco frustrado com isso.
Pago o jantar, e saímos, esperando, do lado de fora, o meu carro. Um rapaz aparece dirigindo-o, e abrindo a porta, ele cede seu lugar para mim, com o automóvel ainda ligado. Sento no volante, e espero Kagome entrar. Ligo o rádio, e começo a dirigir pelas ruas, agradecido pela falta de outros carros nas estradas.
Rapidamente, após uns cinco ou seis semáforos, estamos diante de sua casa.Saio do meu carro e abro a porta para ela. Ela sai, e abre sua bolsa, retirando um par de chaves. Enfiando uma delas na fechadura, reclino meu corpo sobre as grades do portão.
- Sesshoumaru, me desculpe por tudo. Eu...
Antes que ela possa continuar, silencio-a com um beijo, encostando meus lábios sobre os seus, os quais estão quentes. Afasto-me um pouco e observo suas feições. Uma gota transparente está escorrendo sobre seu rosto, e limpando sua pele com meus dedos, acaricio seus cabelos.
Ela levanta suas pálpebras, e vejo que seus olhos estão um pouco mais escuros que o normal, um certo sentimento dançando dentro deles. Estou com medo do que ela possa fazer comigo.
- Acho que isto não vai dar certo... – ela começa, e sinto aquela dor de antes no meu peito, só que desta vez, ela é muito mais forte. Mil vezes mais forte. Abaixo minha cabeça, e noto que suas mãos estão brincando com sua bolsa, abrindo e fechando o zíper.
- Não diga isso...- eu tento reconciliar, mas ela coloca dois dedos sobre meus lábios. Abraçando-me com ternura, os dois braços segurando-me pelas costas, posso notar quão rápida está a sua respiração, e como está quente seu corpo, como se estivesse em chamas.
- Eu percebi, hoje à noite, que eu não pareço muito com você. Este mundo luxuoso foi feito para você, mas não para mim. Não ia dar certo. Para ficar do seu lado, eu teria que fingir, e eu não gosto disso, de ser uma outra pessoa. Me desculpe.
Seus braços afrouxam e sinto-os caíram para o meu lado. Ela beija minha bochecha, e entra pelo portão. Estou paralisado, não consigo pensar direito. Foi por isso que ela estava agindo estranhamente? Ela estava tentando se encaixar no meu mundo?
- Kagome! – Eu grito com toda a minha força. Ela pára de andar, mas não se vira, evitando-me, provavelmente, para não me machucar ainda mais. Ou talvez, e isso, eu espero que sejam as suas verdadeiras intenções, ela está com medo de voltar atrás. Ela me ama. Por favor, tem que ser isso...
- Eu também não sou assim! Eu não gosto desse mundo luxuoso, eu só pensei que você gostaria disso! Por favor, me dê uma outra chance!
- Você também... – ela me fita com olhos cheios de lágrimas. Correndo com uma velocidade inimaginável, ela cruza o jardim e cai em meus braços, sorrindo como nunca. Abraço-a forte contra mim, com medo de deixá-la escapar por meus dedos novamente. Nunca, nunca mais deixarei isso acontecer, nem que eu tenha que inventar uma coleira humana. Ela é minha.
- É uma pena que já está tarde...
Meneio a cabeça, e brinco com seus cabelos, enrolando-os entre meus dedos. A noite é uma criança, e ainda podemos fazer muitas coisas.
- Venha, - eu seguro sua mão e entramos novamente no carro. Ela me olha curiosamente, não conseguindo ler meus pensamentos. Vou levá-la para um lugar muito especial para mim, um santuário que eu descobri após a morte de minha mãe. Quero que este seja o nosso santuário, o nosso refúgio deste mundo, em que só nós dois existiremos, um para o outro.
* * * * *
- Este lugar é lindo! - Ela exclama do meu lado. Sorrio um pouco, e levo-a para os vestiários, onde se encontram os patins. Calçando-os rapidamente, entramos no ringue, onde não há ninguém. Deixo-a um pouco sozinha lá, e entro numa cabine onde se encontram as máquinas responsáveis pela luz. Ligo o estéreo, e escolho, entre uma pilha de CDs, o meu favorito. Inserindo-o dentro da máquina, e apertando o botão para começar a tocar, noto que Kagome está parada no centro do ringue, observando o espaço.
Desço da cabine e patino até ficar do seu lado. Enlaçando-a em meus braços, posso ouvir sua respiração e os batimentos de seu pequenino coração, que a mantém viva para mim, meu tesouro.
- Que música é esta? – ela me pergunta, fechando seus olhos, e movendo seu corpo de acordo com o ritmo. Patinamos sobre o gelo, dando voltas pelo lugar, nossos corpos pressionados um contra o outro. Rodopio-a um pouco, fazendo-a rir com desenvoltura. Sorrio. Esta é a minha Kagome. A minha garota.
Estamos sós neste mundo, mas isso não me importa, pois ela está do meu lado. À medida que dançamos sobre o gelo, posso sentir meu espírito mais vivo do que nunca, as notas da música tocando meu coração. Beijo seu rosto, e depois, seus lábios, e ela sorri, mais uma vez, para mim.
- Eu sempre gostei de dançar sobre o gelo, porque me sinto livre. Nós estamos livres, Sesshoumaru...
Nós estamos livres, para amar, para viver, não importa. Nós estamos livres.
Notas da Autora:
Tradução do trecho em inglês:
"(...)
Pela mão nossos pais que se demoram.
Do oriente até à porta assim os leva;
E, chegando à planície que se alonga
Fora do Éden, deixou-os e sumiu-se.
Olhando para trás então observam
Do Éden ( há pouco seu ditoso asilo)
A porção oriental em flamas toda
Debaixo da ígnea espada, e à porta horríveis
Bastos espectros ferozmente armados.
De pena algumas lágrimas verteram,
Mas resignados logo as enxugaram.
Diante deles estava inteiro o Mundo
Para a seu gosto habitação tomarem,
E tinham por seu guia a Providência.
Dando-se a mão, os pais da humana prole,
Vagarosos lá vão com passo errante
Afastando-se do Éden solitários."
Bom, será que eu coloquei romance o suficiente neste capítulo? Eu adoro cenas melosas, mas conseguir escrever uma é difícil, especialmente com este casal. De qualquer forma, este foi o resultado final, então espero que tenha agradado a maioria de vocês. Obrigada Tomoyo-chan D., Kagome-chan FOFA ( por falar nisso, quero muito ler o seu fic – é um Sess/Kag/IY !!! Que alegria!! ), Sayo Amakuza e Samantha, que está me ajudando com uma nova fic ^_^. Muito obrigada!! E Sayo, sabia que você vai acabar me mimando com os seus elogios? É sério! ^_^ Mas não, eu nunca pensei em escrever um livro, eu escrevo mais por hobby e por gostar de animes/mangás.
Um pequeno preview do epílogo : não teremos poema, mas em compensação, coloquei uma música, que eu simplesmente adorei a letra!!! Espero que vocês também gostem. É do anime "A Viagem de Chihiro", que eu sugiro que assistam. É maravilhoso!! Nota dez!!
