Olá! Eis mais um capítulo de minha saga!

Com ele, eu homenageio o Todo d´Preto, de longe um dos mais talentosos escritores de fics que já encontrei. Se vocês acharem alguma qualidade nos textos que escrevi, grande parte deve ser creditada a ele, que me mostrou erros crassos e gritantes, que eu simplesmente não conseguia enxergar.

Rodrigo, seu talento é nato e impressionante, eu também creio, como várias outras pessoas já te disseram, que você deva considerar seriamente a hipótese de se tornar um escritor. Você é muito bom, continue escrevendo!


O SACERDOTE

EGITO - 2680 a.C.

Areia, areia e mais areia. Era só o que ele contemplava. Sem mudança na paisagem já há muito tempo...

No entanto, deveria prosseguir. O seu destino agora já estava mais próximo...

Sempre fôra um homem determinado. Os tempos em que vivia não permitiam que se portasse de outra maneira. Agradecia por sua progenitora, que lhe dera uma gestação com saúde e os melhores cuidados maternos, desde a mais tenra idade.

Seu pai, contudo, era desconhecido. E não conseguira descobrir nada sobre ele. Sua mãe era impassível a esse respeito... Todos eram...

Entretanto, ele mesmo percebeu que era diferente. Quando criança, aos seis anos, derrubou um pote no chão, quebrando-o. Desejou que aquilo não tivesse acontecido e, surpreso, diante de seus olhos viu o vaso se reconstituir, colar-se, ajuntar-se, até que voltou a ficar como era antes, como se nada tivesse ocorrido.

Isto somente ele presenciara e, apesar de sua pouca idade, começou a testar seus recém-descobertos poderes: descobriu que podia levitar objetos (como fez com um cântaro cheio de água) e pessoas (como fez com ele próprio e com sua mãe, enquanto ela dormia); conseguia também capturar pequenos animais.

Alguns anos mais tarde, começou a ler mentes das pessoas. Logo, elas eram subjugadas apenas por sua vontade. Com somente treze anos, ele já era tido como um homem no corpo de um menino, com inteligência notável.

Desde seus primeiros contatos com os rituais místico-religiosos em que vivia a sociedade da qual fazia parte, julgava ouvir as vozes dos deuses, especialmente a de Amon-Ra, o deus sol. Esse deus sempre lhe prometera riquezas, grandes feitos e vida eterna, sempre com muito poder em suas mãos. Cada vez mais acreditava nestas palavras e traçava seus caminhos de acordo com esta visão.

Também desenvolvera habilidades precisas quanto à engenhosidade das construções e desenvolvimento de monumentos. Os faraós, desde seus quinze anos, consultavam-no sobre as obras que deveriam realizar. Ele ainda não tinha participado pessoalmente de nenhuma, mas a cidade de Mêmphis e algumas das Mastabas* construídas tinham o seu dedo.

Tinha agora cerca de trinta e quatro anos de idade. Todos o conheciam e temiam, como sacerdote-mor do deus Amon-Ra. Entretanto, alguma força que ele não conhecia ainda estava para se manifestar...

Certo dia, acordou e sentiu que deveria ir. Não sabia pra onde. Não sabia por quê. Mas sentia que devia ir e naquele minuto mesmo. Paramentou-se, apanhou um dos cetros cerimoniais que usava, o que tinha um globo com um triângulo em baixo relevo, e foi, sem falar com ninguém.

Saiu de Mêmphis, foi até a região de Saqqara, onde era bastante conhecido e respeitado. Ficou algum tempo, e continuou até chegar no oásis de Faiyoum. Recarregou suas provisões de água e partiu, rumo ao oeste do país, um lugar onde só existia o povo do deserto, escorpiões e areia, muita areia. Usando sua magia, invocou um veículo muito especial:

— ESFERA DE ENERGIA!

Uma esfera de energia o envolveu, dando-lhe uma certa proteção contra o sol escaldante e o calor acentuado do deserto egípcio. Qualquer homem comum levaria de 15 a 20 dias para chegar aonde ele iria, mas faria o caminho em uma tarde, só não sabia exatamente onde estava indo...

Isso não importava mais, entretanto. Já estava curioso em saber que força era aquela que o atraía para o deserto. Sentia que era familiar; sentia também que era mais poderosa que Amon-Ra...

Quando a noite começava a cair, soube que estava próximo. Parou, pois queria ver tudo muito bem. Estava longe de qualquer civilização conhecida, longe dos andarilhos do deserto. Sabia que pouquíssimas pessoas tinham estado onde ele agora pisava, pelo menos até onde conhecia. Nada temia, porém. Só queria prosseguir com a presença da luz do sol, para enxergar melhor tudo em volta. Com já estava escurecendo, decidiu ficar onde estava.

Súbito, ouviu um trovão muito forte, e bem próximo!

Desfez a Esfera de Energia, e colocou seus pés na areia fofa. Invocou então, com seu poder de feiticeiro:

— PROTEÇÃO DA AREIA!

A areia envolveu-o, solidificando-se. Estava protegido de tudo, agora. Apesar disso, os trovões continuaram pela noite toda, assustadores.

Não para ele...

Aos primeiros raios de sol, desfez o casulo e prosseguiu a pé por um pouco. Deparou-se com um mar de escorpiões, milhares e milhares, todos peçonhentos. Sem nenhuma alteração em seu caminhar, andou no meio deles, matando alguns com os pés, ignorando a grande maioria, pois sabia que aqueles insetos só serviam pra uma coisa: servi-lo quando bem quisesse.

Realmente, nenhum escorpião sequer avançou na direção dele, pelo contrário. Afastavam-se, para não morrerem pisados.

E assim foi andando, até chegar na encosta do que parecia ser um grande vale, com uma certa vegetação rasteira podendo ser observada. Era então uma descida que havia de fazer, e assim o faria. Invocou novamente a Esfera de Energia, e começou a prosseguir, descendo vagarosamente a encosta da Depressão de Qattara, o ponto mais baixo do Egito.

Num certo ponto, onde já não havia mais descida, algo aconteceu. A Esfera foi desfeita, e ele viu-se obrigado a ir a pé. Invocou mais uma vez um de seus encantamentos, sem sucesso. Normalmente ficaria apavorado, mas ainda tinha um sentimento muito forte em prosseguir, era quase um transe... E seguiu.

Em dado momento, o sol desapareceu, o céu enegreceu-se, e então teve a visão que mudou sua vida.

Diante dele, a alguns minutos de caminhada, uma estrutura com a qual jamais sonhara. Quatro torres enormes trocavam entre si relâmpagos nas cores púrpura, rosa e lilás, alternadamente. Ele mesmo estava entre duas destas torres. Mas o mais espantoso estava no centro destas torres: uma estrutura da mesma altura das torres com quatro lados iguais que se encontravam no topo em um único ponto. De frente pra ela, via-se um triângulo muito alto! E negro, tão negro como a mais escura noite. Tudo ali era negro, somente iluminado pelos relâmpagos...

Logo percebeu que o som que tinha ouvido noite adentro vinha deles. Mas era-lhe notável como aquilo tudo era invisível a olhos humanos.

Deu alguns passos atrás, e tudo o que via sumiu, inclusive o som! Impressionante!

Quem seria tão poderoso para realizar tudo aquilo?

Sentiu-se impelido a prosseguir. E assim o fez. Não temeu quando o paredão que estava à sua frente pareceu cada vez mais negro e ameaçador. Transcendeu a parede, através de um poder que não era seu, mas da voz que dizia em sua mente:

— Venha, Imhotep... Venha...

Percorreu uma infindável seqüência de corredores, dos quais realmente não se lembraria depois, até chegar no local que parecia ser o centro da construção. Percebeu isso, pois a luz dos relâmpagos entrava pela parte superior, onde aparecia abertura de dimensões consideráveis.

— Você é realmente muito observador, Imhotep.

Essa voz... Agora ela estava audível. Estava, portanto, cara a cara com o seu interlocutor, mas apesar do ambiente ser iluminado por tochas, a ninguém viu. Estava numa sala circular, de diâmetro muito grande. Somente no centro, algo que ele conhecia muito bem: um altar. Mas não um altar qualquer, um altar a um deus familiar. Várias coisas escritas nas paredes, que não conseguiu ler, porém sabia que se tratava dos hieróglifos usados normalmente.

— Minha fama me precede, deveras. Quem és?

— Eu sou aquele que te dá todas as coisas. Sou Amon-Ra.

Uma emoção indizível apossou-se dele. Frente a frente com seu deus! Ajoelhou-se serenamente.

— Muito bom! Não perdeste a reverência!

— Em que posso servi-lo, mestre? — sim, essa força que sentia desde pequeno, só podia ser dele, não haviam mais dúvidas.

— Você será meu sacerdote! Farei de você uma lenda viva! Serás lembrado para sempre!

— Sim! Sim! — gratidão e alegria afloravam em seu peito, como nunca sentira antes.

— Lembra-te bem do que viste hoje. Doravante, os túmulos dos faraós e de suas esposas devem ser assim, senão Anúbis não os aceitará. Sofrerão terrivelmente, e você será penalizado!

— Cumprirei suas ordens, mestre. — guardou esse aviso com muita seriedade, pois conhecia bem os terríveis males que o deus da morte poderia realizar...

— Mais uma coisa, importantíssima. Este lugar não é de morte. Depende de você trazer a vida de volta para cá.

— Como farei isto, mestre?

— Deverás escrever na primeira construção deste tipo que fizeres, dentro dos aposentos de faraó, o seguinte: "A BELA DEUSA TRARÁ LIBERDADE AO QUE TEM VIDA ETERNA".

Detalhista, Imhotep inquiriu:

— Quem é a bela deusa, mestre?

Três segundos depois, debatia-se no chão, sem ar e sem forças. Algo muito forte apertava sua garganta. Estava morrendo! Tentava de todas as maneiras conjurar um encantamento de proteção, mas não conseguia sem usar sua voz, e sentia-se totalmente vulnerável, algo que tinha esquecido com o tempo. Era horrível, sentiu-se completamente apavorado! Ouviu bem alto e perto dele:

— Não questione minhas ordens! NUNCA!!!

— P-pp-per-pe-perdo-eee-meee — com um fio de voz, conseguiu emitir algum som.

— Assim está melhor... Levante-se!

Imhotep foi liberto , e com muita dificuldade, apesar de sua virilidade, levantou-se.

— Agora, vou te transportar de volta pra tua cidade. Estarei sempre contigo.

Num segundo, Imhotep estava de volta a Mêmphis, nos seus aposentos. As marcas no pescoço iriam relembrá-lo por mais alguns dias do que acontecera e que mudariam seus atos, projetos, pensamentos, atitudes...

E temores...

Aquela foi a única ocasião em que sentira um medo tão real e profundo até então ...

Na Depressão de Qattara, naquele lugar só visível para poucas pessoas, a coisas voltavam ao normal.

Aquele lugar não tinha mais tochas, nem escritos na parede, nem um altar. O cenário retornava para sua aparência real, que há muito não era vislumbrada por ninguém.

Escuridão total. O silêncio e o cheiro da morte e do medo dominavam o ambiente antes iluminado.

Não mais uma voz , mas um gélido sussurro soprado de um sarcófago semi-aberto se fazia ouvir:

— Como esses humanos são fáceis de serem enganados... HAHAAHHAHAHAHAAHHAHAHA!!!!!!!!


N/A

*MASTABAS – monumentos construídos para servir como túmulos aos faraós, anteriores às pirâmides, que forma construídas cerca de 20 a 30 anos depois da época indicada neste capítulo.

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Intrigante, não? O que isso tem a ver com nossos amigos? Logo saberemos...

Críticas, sugestões, já sabem: Comentários ou e-mail, não esqueçam!

Até o próximo capítulo!!!