Esse capítulo é dedicado à uma boa amiga, pela qual eu tenho um grande carinho. É a Hannah Rangel.
HANNAH, que tudo esteja bem com você. Continue sendo essa pessoa carinhosa e amiga que cativa a todos que te conhecem. Espero te encontrar em breve novamente.
Parte 11 - DESPERTAR
Marriot Hotel - cidade do Cairo
O dia da chegada - 16h02
Ainda no quarto de hotel, os amigos conversavam com certa animação, relembrando os bons tempos em que conviveram em Londres. Fujitaka vez por outra era tachado de pé redondo, por sua fraca resistência à bebida alcoólica, o que tinha rendido algumas noites de situações tragicômicas para ele e seus amigos. Em outro momento, era a vez de Lara entrar na berlinda, contando como tinha feito correr os rapazes que queriam porque queriam agarrá-la a todo custo num show do U2. Indy não deixava por menos, e também divertia seus amigos dizendo como quebrou a segurança em torno de uma exposição das jóias da Família Real britânica, e ainda recebeu considerável quantia por isso. Em barras de ouro, a propósito.
Mesmo assim, em certos momentos entreolhavam-se e sentiam a tensão crescendo. Sabiam que tinham uma grande tarefa pela frente, perigosa e incerta. O fato de estarem juntos, porém, era um fator positivo, que lhes dava a sensação de que unidos teriam força e competência suficiente para enfrentarem fosse o que fosse. Era algo muito forte em cada um deles.
Pediram suco de tamarindo e cookies americanos, pois somente bem mais tarde jantariam. Estavam combinados de conhecerem o restaurante italiano que o hotel possuía entre suas atrações para os hóspedes estrangeiros. Neste local, somente trajes sociais eram permitidos, o que obrigaria Fuji e Indy a utilizarem smoking.
— E você, o que vai usar, Lara? — perguntou Indy, sabendo que a amiga nunca levava roupa social em suas viagens.
— Aguarde até a hora do jantar e você vai saber... — o olhar malicioso de Lara em direção a Fuji enquanto pronunciava estas palavras era para deixá-lo com muitas expectativas...
Fuji entendeu muito bem o que estava reservado para ele, pois já conhecia o estilo de Lara de muito tempo atrás... Deve ter ficado bem corado, pois Lara se aproximou e, com um beijo no rosto, pediu para que sentasse na poltrona e relaxasse. Depois disso, saiu alegremente na direção da porta, para receber o pedido.
Fuji limpou o suor da testa com um lenço, sem deixar de ouvir a risada de Indy, que se sentou ao seu lado em outra poltrona.
Lara trouxe tudo em uma bandeja, como lhe foi entregue à porta. Colocou-a sobre uma pequena mesa existente no centro do quarto, que tinha sido estrategicamente trazida para perto das poltronas. Sem pensar, Fuji sentou no chão, sobre o tapete e próximo à mesa, levando Indy e Lara a boas risadas novamente. Os amigos costumavam comer assim de vez em quando, e parece que ele se lembrara muito bem deste detalhe.
Em meio a mais conversa e brincadeira, Fuji se deparou com um prospecto do hotel, que tinha vindo junto com os alimentos. Pegou-o com a mão esquerda e começou a ler, constatando como o lugar onde estavam hospedados era muito bem equipado. Possuía um mini hotel para animais domésticos, um cassino, um shopping, um spa, salão de beleza, cofres para pertences de valor, um mini centro para negócios e outro para reuniões e conferências internacionais, com circuito fechado de tv e telefonia exclusivos. Tudo isso distribuído em um total de 20 andares e 1124 quartos.
Impressionante, realmente. Apreciava agora o centro de reuniões, que ocupava quase que de maneira exclusiva o segundo andar do hotel. Várias salas especialmente equipadas, cada uma com um nome relacionado ao Antigo Egito: Radames, Amneris, Mênfis, Tebas, Saqqara...
Fuji estava acompanhando a posição das salas no impresso com os dedos. Quando tocou a sala com o nome "SAQQARA", algo aconteceu. Foi rápido e intenso, como se ele começasse a correr em altíssima velocidade, na sua visão tudo ia passando como um borrão. Parecia que ele tinha de alguma forma entrado no folheto e, no instante seguinte, começou a ver o interior da sala que ele inspecionava no impresso.
— O que é isso? O que aconteceu? — assustado a princípio, o controlado professor Fujitaka mais e mais se impressionava com tudo o que via. Percebeu logo que estava como que deitado no teto, pois via tudo e todos diretamente abaixo dele, como se estivesse virado para baixo, flutuando sobre a sala. Mas ele não sentia o seu corpo, pelo menos não o seu peso. Olhou para suas mãos, seus pés... Sim, estava tudo lá, mas essa situação era inédita para ele. As idéias começavam a atinar, o susto ia se dissipando, embora Fuji não acreditasse que fosse ele mesmo o causador dessa situação.
Começou a reparar na sala em que estava a partir de então. E sua curiosidade natural logo se aguçou, quando viu vários homens com antigos trajes de batalha, como se pertencessem aos exércitos egípcios do passado, com lanças e escudos em punho. Cerca de cinqüenta soldados ao todo se concentravam ali, recebendo instruções de dois outros homens muito estranhos. Um deles, de pele negra, porém com vestes brancas. O outro era exatamente o contrário, pois tinha a pele rósea, mas vestia negro da cabeça aos pés.
Conversavam ordenadamente utilizando o dialeto copta, com algumas palavras que Fuji não conseguia compreender. Deduziu que fossem nomes próprios, talvez deles mesmos. Continuou ouvindo e prestando atenção nos detalhes. Ouviu referências aos estrangeiros que haviam chegado, e àquela mulherzinha boa de briga que os havia derrotado no Mar Vermelho...
Nesse momento, os dois homens destacados do grupo pararam de falar. E todos silenciaram com eles.
Fujitaka gelou. Sabia que havia sido descoberto. O que foi confirmado por este breve diálogo:
— Ele já sabe, decerto...
— Sim, ele nos conhece agora...
Olharam os dois juntos para cima, diretamente para o teto. Todos os soldados também o fizeram, mas ficaram procurando algo de anormal, pois nada viam de diferente.
Os dois líderes continuavam encarando Fujitaka, sem se importar com os demais, uma expressão firme e séria em seus rostos. Fujitaka percebeu os olhos estranhos que tinham, de cores exatamente ao contrário da pele. Surpreendendo até a si mesmo, em vez de ficar mais assustado, encarou de volta os dois oponentes, semicerrando as sobrancelhas, numa clara atitude de confronto. Como resposta, ouviu os dois pronunciarem em coro, apontando para ele:
— Você é muito poderoso. Mas desta vez será derrotado, Mago Clow!
Ao ouvir estas palavras, sentiu-se puxado de onde estava, e depois de mais uma breve sessão de borrões e manchas diante de seus olhos estava de volta ao quarto de Indy, alguns andares acima.
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Lara estava abraçada a ele, com a cabeça em seu peito. Que sensação boa...
Fuji afagou-a, o que a fez olhá-lo surpresa, e depois aliviada, sorridente, mas curiosa em última instância.
— Onde é que você foi, senhor Fujitaka? — para ela usar o seu nome completo, boa coisa não tinha acontecido.
— Hã? Como? — Fuji queria saber exatamente o que eles tinham presenciado, para depois se manifestar, portanto se fez de desentendido...
— Você está a cinco minutos aqui sem falar, sem responder nossas perguntas, sem ao menos me olhar... — Lara já começava a se impacientar.
— Tudo bem, amigo? — Indy agora chegava perto, demonstrando certa preocupação.
— Sim! Tudo certo. Eu só estou... Um pouco... Cansado... — e com muito esforço soltou um bocejo meio fraquinho, mas que enganou os dois pelo estilo Fujitaka de ser... — Vou retornar ao meu quarto para descansar um pouco. Nos vemos mais tarde? — abriu um sorriso contido, olhando pra Lara, que fez o mesmo, não sem antes abraçá-lo e dizer em seu ouvido:
— Nem pense em não vir, senhor furão!
Os dois caíram na risada, com o que Indy mais uma vez concluiu: "Estes dois não tem jeito mesmo...".
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Chegando no seu quarto, Fujitaka começou a repassar o que tinha acontecido. Se o que tinha sentido, visto e ouvido era verdade, ele acabara de fazer uma viagem no plano astral.
Fujitaka teve que pensar seriamente no que havia ocorrido minutos atrás. Não se julgava possuidor de magia, mas seu ceticismo quanto a esse assunto tinha cedido um pouco por causa de Sakura. Já testemunhara provas dos poderes que sua filha detinha. Não imaginava que ele também pudesse manifestar algo nesse sentido, pois nunca tivera nenhuma experiência relacionada com magia até onde se lembrava. Sempre teve que ter os pés no chão, muito suor e esforço com as coisas mais comuns que todos conheciam: trabalho, compromisso, responsabilidade. E sem a ajuda de poderes mágicos.
Porém não achava tão ruim o ocorrido, apesar do confronto com aquelas duas criaturas esquisitas. Sentia-se diferente, mais disposto, como se pudesse correr uma maratona inteira em tempo recorde. Suas mãos e pernas pulsavam num ritmo aparentemente mais forte, como uma leve taquicardia. Logo a sensação mudou, e parecia que sua pressão sangüínea estava um pouco elevada. Sentia o corpo vibrar, pulsar mais forte, porém com serenidade, sem perder o ritmo.
Olhou para suas mãos, nada viu de diferente. Talvez estivesse imaginando coisas, impactado com algo que nunca tinha experimentado antes...
Súbito, um pensamento cruzou sua mente. E se quisesse testar isso? Algo que realmente desejasse fazer? Lembrou-se de alguns textos que tinha lido sobre o assunto. E julgou que algo simples seria tentar a levitação de alguns objetos.
Olhou do outro lado do quarto, sobre a cama, uma almofada pequena, leve, mais para enfeitar do que para confortar. Se estivesse certo o que tinha lido, era só desejar que o objeto levitasse, que assim ocorreria, se ele tivesse realmente poder.
Estendeu então sua mão, e com surpresa constatou que tinha feito a almofada voar de um lado a outro do quarto, segurando-a um segundo depois. Percebeu que um fluxo estranho se manifestava em seu corpo durante esse ato, com uma leve intensidade, é verdade, mas perceptível. Seria a energia mágica fluindo?
Não contente com isso, queria saber mais, testar mais, descobrir até onde poderia ir. Em alguns minutos, não só levantou como moveu todos os objetos que quis dentro do seu quarto. Cama, cadeira, armário, poltrona... Parecia que não tinha limites esse novo poder, pois levantou os quatro maiores objetos existentes ali juntos, sem maiores esforços. Ao final destes pequenos testes, nenhum tipo de cansaço ou estorvo.
Abriu o chuveiro do banheiro anexo ao quarto, estando ele na sacada. Foi tão bem sucedido que até regulou a temperatura da água.
Tentou algumas coisas que aprendera quando era criança. Descobriu que não era tão simples transmutar objetos em ouro ou prata, tampouco fazer aparecer animais onde não existia nada. Neste último caso, pensou um pouco, foi até a janela e conseguiu trazer um pássaro que voava fora do quarto para dentro dele, sem maiores problemas.
Não mais assustado ou surpreso, um até animado Fujitaka abriu um sorriso e constatou: realmente, estava descobrindo que podia utilizar magia. Se soubesse que era assim, não teria sido tão cético durante tanto tempo...
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Fuji sentou-se diante da sacada e ficou a admirar o horizonte através da janela. Não podia ver o sol, mas sabia que o entardecer se aproximava. Logo estaria no jantar com Lara e Indy, e teria que enfrentar todos estes novos acontecimentos. Sentia que tudo o que passara até então se relacionava com o que tinham descoberto. E aqueles dois homens que conhecera pareciam ser oponentes perigosos...
Imerso nestes pensamentos, lembrou-se de sua família, que deveria estar lá no Japão, na pequena Tomoeda. Seus dois filhos queridos... Saudades... Gostava de viajar, o que era um fato comum para sua atividade profissional, mas amava aquela família que o destino lhe trouxera. Já se sentia assim quando eram só ele e Nadeshiko, e com seus filhos aumentava a necessidade de estar com eles.
— Hmmm... Por que não tentar? — murmurou para si, numa idéia que já rondava sua cabeça há alguns minutos... Conseguiria repetir o que fizera no quarto de seus amigos?
A resposta veio rápida. Desta vez, percebeu que se afastava de seu quarto em direção ao horizonte. Os borrões foram trocados por nuvens, diante de seus olhos paisagens se alternavam vertiginosamente. Não sentia o vento, o que depois o fez acreditar que tinha provocado mais uma projeção astral. Mas desta vez sabia bem aonde queria chegar. Em segundos, o entardecer virou noite estrelada, e se encontrou diante da porta de uma casa amarela que conhecia muito bem...
Logo depois já estava dentro da casa, e viu sua menina descendo as escadas, com seu jeito sapeca. Um rapaz de cabelos castanhos e revoltos na sala, e um jovem alto e mal humorado completavam o quadro familiar mais querido do mundo para ele...
Uma mulher de cabelos longos e negros estava no canto da cozinha, sorrindo ao ver filho e filha brigando por causa do preparo do jantar para um convidado ao mesmo tempo desejado e indesejado. Fuji sorriu para ela, mas como esta parecia não vê-lo, já começava a desconfiar que era tudo um sonho.
Foi então que um pequeno animalzinho amarelo chegou voando, para sua surpresa. Sua presença ali o fez sentir estranho. O ser alado emanava uma espécie de energia, percebia isso com facilidade.
— Eriol está aqui? — perguntou Kero, atônito, de costas para Fujitaka.
— Não, ele está na Inglaterra! De onde veio essa idéia, Kero? — respondeu Sakura, sem olhar para ele.
Shaoran levantou-se, rapidamente, e começou a olhar para todos os lados, assustado, e sacou a espada, a pele arrepiada, como se estivesse com medo.
Fuji percebeu que ele agora emanava também energia. Magia?
Touya começou a fazer o mesmo tipo de inspeção, mas perguntou para a mãe, pra surpresa de Sakura:
— Está vendo alguma coisa, mamãe? — ao que Nadeshiko sorriu, e olhou diretamente para um surpreso Fujitaka.
— Ele está aqui... Essa presença... — Shaoran parou a dois metros dele, como se estivesse ali de verdade. E sim, agora estava com medo. Aquela presença era familiar, mas não poderia ser do Eriol.
Fujitaka agora sentia três fontes de energia, todas distintas: Kero, Shaoran e Touya, e conseguia divisar muito bem de quem era cada magia. Sentiu então um quarto poder mágico se aproximando, cada vez mais intenso...
Yue entrou pela porta da frente como um raio e invadiu a sala, enquanto Kero se transformava em sua forma original. Ambos cercaram Fujitaka, gritando:
— MAGO CLOW!
Confuso com as reações que provocava nos presentes, Fuji não percebeu quando Nadeshiko se colocou ao seu lado. Ao vê-la sorrindo, acalmou-se um pouco, e percebeu sua querida filha bem pertinho dele, um pouco confusa, num misto de alegria, apreensão e curiosidade. A magia dela era notável, enorme! Porém, não era ameaçadora, pelo contrário, era tão bom quando ela se aproximava...
Dela foram as suas últimas palavras, antes de retornar ao seu quarto no hotel em Cairo:
Papai, o que está fazendo aqui?Os poderes de Fujitaka começam a se manifestar... Mas será ele mesmo tão poderoso como dizem seus opositores?
E o que o Mago Clow tem a ver com isso?
Enquanto isso, o tempo está correndo, e o perigo aumentando...
Não percam o próximo capítulo! E comentem esse, por favor!
