Parte 12 - ENCONTROS
Marriot Hotel - cidade do Cairo
O dia da chegada - 18h11
Fujitaka se encontrava agora no seu quarto, sentado diante da sacada, da mesma forma como antes de sua pequena visita aos seus familiares. Tinha sido muito bom ver aquelas pessoas tão chegadas, com algumas surpresas... Sakura teria muito que explicar quando se encontrassem novamente. E ele também, pelo visto...
Algo que lhe chamou a atenção foi como todas aquelas pessoas podiam sentir sua presença. Pela segunda vez lhe chamavam de Mago Clow, exceto Sakura, que parece ter sido a única que realmente o viu. Touya conversava com Nadeshiko, como ele! Esse menino era cheio de surpresas, mesmo...
Fez ainda nova descoberta. Não eram eles somente que podiam perceber a magia existente no ambiente e nas pessoas...
— Seja benvindo, Eriol... — agora era Fujitaka quem surpreendia, revelando que já sabia da chegada do enigmático menino.
— Obrigado, Prof. Kinomoto. Vejo que seu aprendizado é rápido. Notável! — Eriol, mesmo com sua tranqüilidade habitual, espantava-se pela velocidade com que Fujitaka se familiarizava com a magia.
— Acho que temos algumas coisas a conversar, não é?
— Para isso eu vim, senhor, para revê-lo... Ou seria melhor dizer, nos conhecermos mais? — sempre enigmático, Eriol não perdia a chance de tentar causar alguma expectativa.
— Isso não vai funcionar comigo, Eriol. Vamos logo ao nosso ponto em comum... — notava-se uma certa impaciência, plenamente justificada.
— Sim, não há muito tempo, desculpe-me. Vamos conversar — Eriol estava envergonhado, algo raro no pequeno mago.
— Somos os dois oriundos de uma única pessoa, um mago muito poderoso chamado Reed Clow. Aparentemente, uma parte dele está comigo, e outra com você, Sr. Fujitaka. — sentado na poltrona em frente à janela, Eriol esperava uma reação de surpresa, que não ocorreu.
— Isso é possível, magicamente falando, Eriol? — da poltrona que estava de costas para a janela, Fujitaka deu seqüência ao diálogo.
— Decerto, mas só magos muito poderosos podem realizar este tipo de encantamento. Hoje somente Sakura poderia fazer isso, mas ela teria que aprender.
— Eu não acredito que tenha sido outra pessoa no passado e não consiga lembrar de nada, ainda mais com magia agora... — essa dúvida não era só de Fuji, mas foi ele quem a verbalizou.
— Eu penso o contrário de você, Prof. Kinomoto. Eu tenho todas as memórias do Clow, como se fosse ele mesmo novamente. Todas as coisas que ele fez, pensou, sentiu, posso me lembrar como se tivessem sido minhas realizações — com palavras um pouco tristes, Eriol completou a antítese.
— Mas porque isso se manifestou só agora? Você sente isso desde bem pequeno, não é?
— Sim, é verdade, senhor. Mas deve haver um motivo, pois não creio em coincidências.
— Somente no inevitável, não é? — um sorriso cúmplice iluminou o rosto dos dois. Fuji completou: — Não posso dizer que fui surpreendido por você não estar mais apaixonado por ela, Eriol.
— Como sabe disso? — agora sim, Eriol estava surpreso, pois nem mesmo Kaho tinha conhecimento disso...
— Parece que estou mesmo melhorando com essa história de magia! — Fujitaka acabara de ler a mente de Eriol sem que ele percebesse, e estava muito contente com mais essa habilidade adquirida. Ou seria relembrada?
— Parece que não sou o único, senhor... — com um sorriso malicioso, Eriol revidava a indiscrição cometida, ao mesmo tempo orgulhoso por consegui-lo e surpreso pelo nível de magia que já podia perceber crescendo cada vez mais rápido em Fujitaka.
— Parece que estamos perdendo tempo novamente — com um tom sério, Fuji demonstrou que não gostara nem um pouco de como Eriol tinha invadido sua mente. Uma idéia lhe ocorreu, e de repente seus pensamentos ocultaram-se de Eriol, que demonstrou imediatamente.
— Mas, como é que... — nada mais precisava ser dito, Fuji logo viu que sua proteção contra leitura de mente já estava ativa. Contrariado, porém admirado, Eriol completou: — O senhor aprende muito rápido!
— Espero que tudo isso seja de alguma ajuda, pois também sinto que o perigo cresce a cada minuto — o breve contentamento transformara-se em inquietação, compartilhada pelo visitante.
— Senti isso desde meu lar, na Inglaterra, senhor. Por isso também vim para ajudar.
A conversa seguiu, e decidiram que Eriol deveria ficar com os amigos no Japão, pois se precisassem entrar em ação, seria melhor que os poderes mágicos estivessem unidos. Não chegaram a um denominador comum, mas ambos concordaram que Fujitaka tinha uma ligação de algum tipo com os eventos que se desenrolavam no Egito, e que também era o que maior conhecimento tinha do lugar e do cenário que abrigava estes acontecimentos. Portanto, era o mais indicado para permanecer ali.
Eriol demonstrava apreensão, pois julgava que o arqueólogo não possuía experiência na magia para tentar alguma ação mais poderosa e perigosa. Fujitaka relembrou o que tinha feito momentos antes entre eles dois.
— Acho que isso me dá um pouco de credibilidade, não é rapaz?
— É, acho que sim. Eu nunca vi isto antes — Eriol ficava um pouco mais tranqüilo agora.
— Fique alerta, Eriol. Se algo me ocorrer, dependerá de vocês — mesmo racionalizando a situação, Fuji não podia e nem queria esconder que estava temeroso, por ele e por sua família.
— Conte comigo, senhor. É uma promessa — um determinado Eriol selou o pacto, estendendo sua mão direita.
— Ótimo! — um pouco mais aliviado, o professor Fujitaka cumprimentou o jovem mago com um firme aperto de mão.
E então algo inesperado aconteceu.
Fujitaka teve uma visão, onde ele viu, numa sala pouco iluminada, um homem com trajes chineses de alguns séculos atrás. Ele era alto, cabelos negros, longos e presos, e estava usando óculos. Teve a impressão de se mirar em um espelho.
No centro, vários círculos desenhados no chão... Não, desenhados não, surgiam através da magia. E o ouviu claramente dizer, com uma voz muito parecida com a sua:
— Só me resta agora um último detalhe... — e dito isto, pronunciou bem alto e firme algumas palavras num dialeto que Fuji não reconheceu.
Eram palavras poderosas, percebia-se. E causaram um impacto de igual magnitude, pois logo seu corpo começou a brilhar, e a seguir só restava unicamente uma forte luz, que se dividiu em dois raios luminosos e claros, sendo que um deles atingiu-o diretamente, e Eriol foi atingido pelo outro!
"Eriol foi atingido pelo outro? Ele está aqui também?"
No instante seguinte, estavam Fujitaka e Eriol frente a frente, ainda se cumprimentando.
— E-eu nunca tinha visto isso... C-c-como conseguiu, senhor? — não mais perplexo, mas assombrado até o último fio de cabelo, Eriol olhava fixamente para Fuji.
— Eu nada fiz meu jovem, mas lhe afirmo que essa não é a primeira vez que isto acontece...
— Agora sei que realmente é o senhor que deve ficar aqui. Estou pronto para ir agora — estaria Eriol batendo em retirada de tão assustado? Pouco provável, mas com certeza encontrara ali algo que não esperava...
— Não se esqueça. Fique firme, Eriol Hiiragisawa. Até mais.
— Até mais, Prof. Fujitaka — com estas palavras, Eriol desapareceu da sala bem diante de seus olhos.
— Teleporte? Hmmmmm... — novas idéias surgiam na mente do arqueólogo, mas a visão recente que presenciara e o horário do jantar que se aproximava o fizeram pensar em compromissos mais imediatos. Se deixasse Lara esperando, sabia das conseqüências...
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Não, não tinha sido cansativo, e nem tampouco estafante. Mas sim cheio de surpresas.
O fato de ter que correr atrás de um assaltante não tinha deixado em Sonomi nenhum problema físico. Porém, o estranho presente que ela tinha recebido estava agora em suas mãos.
E olhava, analisando o pingente de madeira que estava entre seus dedos. Era semelhante a um palito, mais grosso e cilíndrico, parecendo uma miniatura de alguma viga ou coluna de madeira num tom escuro. Não tinha mais que cinco centímetros de comprimento. E nada de mais estranho percebeu a não ser que o cordão que prendia o pingente não passava em nenhum furo, mas era habilmente amarrado em volta de um de seus extremos. Parecia até que fazia parte dele.
Mas tudo isso era mero detalhe. O que não saía de sua cabeça era a mulher misteriosa que lhe dera aquilo. Os olhos, a forma física, a altura, a forma graciosa como se movia e agia, tudo isso lembrava a querida prima. O último olhar, antes de perdê-la de vista... Podia jurar que era de Nadeshiko...
O único problema é que não era a primeira vez que isso acontecia. Em outras ocasiões também julgara ter visto a prima já falecida. Sempre em ocasiões especiais, como no aniversário de oito anos de Tomoyo, quando pela primeira vez percebeu realmente a semelhança das duas, ou quando discursou na ONU ao aceitar o convite para integrar o grupo de pessoas ilustres que voluntariamente auxiliava as crianças pobres do mundo.
O telefone tocou, e Sonomi teve que deixar seus pensamentos para depois...
— Alô?
— Sra. Daidouji, aqui é o gerente do hotel. Eu estou incumbido de me desculpar pelo lamentável incidente desta tarde.
— Muito bem.
— Como forma de desagravo ao ocorrido, e salientando a importância de sua estadia em nosso estabelecimento, oferecemos um jantar em nosso restaurante italiano de cozinha internacional. Cremos que será de seu interesse. Todas as despesas são por conta da administração da nossa cadeia de hotéis.
— Proposta interessante. Eu aceito — após avaliar por um breve período, Sonomi decidiu aproveitar a oferta.
— A senhora desejaria um acompanhante?
— Depois de hoje à tarde, é melhor que eu esteja acompanhada, você não acha?
— Sem dúvida. Fique tranqüila, Sra. Sonomi. Avise-nos quando estiver pronta, ele irá ao seu encontro.
— Está certo. Até mais.
Parece que a noite não seria tão enfadonha, pelo jeito. Que a noite no Cairo fosse menos agitada que a tarde. Pelo menos estaria acompanhada, não precisava se preocupar com sua segurança.
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— Acho que ele não merece tudo isto, sinceramente... — lá vinha Indy provocar a amiga de novo.
— Você não tem que achar nada, Prof. Jones. — e com que sorriso Lara respondeu, ao mesmo tempo agradecendo o elogio e debochando da provocação.
Indy não era cego, dessa vez a amiga tinha caprichado bastante. Ele já acompanhara a jovem inglesa o suficiente para chegar nesta conclusão.
E Lara não era mais uma garotinha. Estava decidida a fisgar o arqueólogo japonês a qualquer custo. E de preferência nesta noite, num lugar que ele gostava, o faria gostar dela também!
Lara estava irresistível, e sabia disso. Pobre Fujitaka...
As coisas estão se tornando mais claras pouco a pouco...
Realmente, Eriol e Fujtaka têm mais em comum do que se supunha...
Por outro lado, a noite de nossos amigos no Cairo promete, não é mesmo?
Confira o que vai acontecer no próximo capítulo.
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