Promessa é dívida! Esse capítulo muito especial eu dedico a uma pessoa igualmente especial. Uma amiga muito querida, apesar de conhecê-la há pouco tempo e não como eu gostaria. Não posso falar assim de outra pessoa senão de KATHERINE KLEIN. KATH KLEIN, esse capítulo onde tanta coisa especial acontece dedico a você, talvez porque aqui alguns sonhos se realizam, e outros estão apenas começando. Obrigado pela inspiração, e por ser essa mulher fantástica que me traz coisas tão boas.
Parte 13 - A GRANDE NOITE

Marriot Hotel - cidade do Cairo

O dia da chegada - 19h35

Fazia algum tempo que Fujitaka não usava trajes como aqueles.

Sempre tinha necessidade de algo mais formal quando ministrava palestras ou participava de congressos, simpósios ou exposições. Mas smoking era raro.

Em poucas ocasiões ele precisara utilizá-lo. Uma delas ele lembrava com uma certa tristeza: o casamento de Sonomi.

Este já não era mais o mesmo que vestia naquela ocasião. Mas o tapa que levou ainda estava bem vivo em sua memória, às vezes até lembrava da dor causada. No coração, não no rosto.

Ele não entendera na época o que acontecera. Preferiu pensar que fôra por causa de Nadeshiko que a jovem empresária tomara esta atitude. Após a morte de sua esposa, tristemente reconheceu a verdade: Sonomi o odiava, por mais que quisesse se relacionar de maneira amistosa e agradável.

Por que então o dia em que se conheceram, os momentos em que se encontraram, as conversas mesmo frias que tiveram vinham à sua mente de vez em quando? Já devia se conformar com essa realidade.

"Devo seguir em frente" — pensou, enquanto caminhava pelos corredores do hotel em direção ao elevador. Logo encontraria sua amiga de tantos anos, e que sempre lhe dera abertura para mais do que uma amizade.

Gostava de pensar nisso. Desde que se conheceram, Lara Croft se tornou uma de suas melhores amizades, embora quisesse algo mais do que isso... Ao seu lado, de séria e compenetrada passava à descontração com facilidade. Um bom sinal, sem dúvida.

Estava no elevador. Um sorriso despontou durante estes momentos em que a jovem inglesa povoava seus pensamentos. Ela era belíssima e muito atraente. Se a conhecesse antes de se casar, talvez não resistisse tanto a ela...

Mas não estava mais casado agora, não é mesmo?

De qualquer forma, esta noite seria agradável. Muitas dificuldades viriam pela manhã, e seria bom se pudesse relaxar e aproveitar pelo menos por agora.

Chegara ao quarto de Indy, onde seus amigos esperavam. Bateu na porta e aguardou.

— Entre, Fuji! — era Indy, que estava terminando de se vestir. — Estou quase pronto, é só esperar alguns minutos.

— Certo! Onde est... — já dentro do aposento, Fuji começou a perguntar, mas não terminou. Enquanto falava, procurava Lara pelo quarto, e encontrou. Ao seu lado esquerdo, a menos de dois metros dele. Estava ao lado da porta quando ele entrou, e esperou alguns segundos para se mostrar.

Lara usava um vestido longo, cintilante, da cor vinho. Ombros à mostra, com toda a sua exuberância. Uma abertura do lado esquerdo mostrava suas pernas, envoltas em uma meia calça preta e sapatos pretos de salto. Brincos pequenos, um colar de prata com pedras vermelhas. Maquiagem discreta, a não ser os lábios carnudos com batom da mesma cor do vestido, e com o mesmo brilho.

Sabia que Fuji não gostava de nada espalhafatoso numa mulher. Mas desta vez tinha esmerado. A combinação de sua pele clara com as cores escuras era perfeita e fatal. Sem nenhuma modéstia, Lara sentiu que já tinha conquistado aquela noite que tanto desejava.

Simplesmente, ele não conseguia tirar os olhos dela. E depois de muito tempo, isso lhe parecia muito bom e prazeroso, e não errado e proibido.

Ela se aproximou rápido, em dois passos, e lhe disse:

— Viu um fantasma, Prof. Kinomoto?

— Vi algo muito melhor, Dra. Croft — de maneira surpreendente e ousada, ele disse isso e tomou suas mãos, beijando-as uma de cada vez. Reparou então em três anéis que ela usava, um em cada dedo médio e outro no anular esquerdo, o maior deles, que tinha o brasão de sua família. Os outros dois eram de prata cravejada com ametistas e rubi.

Era a vez de Lara não falar nada. Fujitaka estava ótimo com trajes formais, lindo e tímido como sempre. Mas não tão tímido assim, pelo que se percebia.

— Aham... Vamos pombinhos? — decididamente, Indy estava se divertindo muito com essa história toda.

Os dois nada disseram, nem mesmo olharam para o amigo. Fujitaka tomou o braço direito de Lara Croft e a conduziu para fora do quarto, com toda a calma do mundo. Indy ia atrás, fazendo caretas e rindo. Em determinado momento cessou, pois os amigos não tiravam os olhos um do outro, e muito menos pareciam ouvi-lo.

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Sonomi já tinha ido duas vezes ao guarda-roupa e voltado. Não achava nada que a satisfizesse para vestir. Resolveu finalmente utilizar um vestido verde de seda, com um sapato preto de salto e mais nada. Usava brincos e pulseiras dourados, com um anel de ouro na mão direita e um cinto dourado. Um pouco de sombra, rímel e batom, já que não estava trabalhando e ia a um lugar formal, mas de maneira informal. Nada de colares, lenços, meias de seda... Não precisava de mais nada, agora se julgava pronta.

Enquanto ajustava o brinco esquerdo, lembrava-se de como comprara aquele fio de ouro que usava como cinto. Estava em um shopping com vários empresários analisando as vitrines de seus brinquedos, quando avistou Fujitaka, Nadeshiko e Touya passeando.  Alegres, animados, e com o menino ainda pequeno, o casal era mesmo encantador. Sonomi acompanhou-os com o olhar, mas não foi vista por eles.

Touya entrou numa loja de brinquedos adiante, correndo, e Nadeshiko foi atrás dele também correndo. Fujitaka caiu na gargalhada com os faniquitos da esposa, e parou onde estava. Como demoraram um pouco, ficou atento às lojas próximas.  Aproximou-se subitamente de uma delas, de artigos femininos, e entrou. Sonomi foi atrás, e avistou-o diante de uma seção de acessórios. Bolsas, fivelas, carteiras. A maioria em couro ou tecido. Mas ele tinha nas mãos um fio dourado, de tecido. Conversando com uma vendedora, ela lhe trouxe algumas bijouterias. "Certamente está escolhendo um presente para minha prima" — pensou ela. Com surpresa, porém, viu Fujitaka olhar para um fio de ouro que estava preso à cintura de um manequim como criança que encontra um sorvete. — "Ora, ora, quem diria, o nobre professor tem suas preferências..."

A expressão dele quando a vendedora informou o preço do artigo não foi muito animadora, entretanto.

— Touya, volte aqui! — aparentemente com raiva, o grito de Nadeshiko não intimidava ninguém, e o filho seguia correndo e rindo. A mãe não agüentava e ria também. E Sonomi, alertada pelos dois, já voltara para o seu lugar discreto, sem que ninguém percebesse sua breve ausência. Mais tarde retornou à loja e comprou o fio de ouro.

Sonomi agora segurava o pingente que ganhara, e decidiu usá-lo, já que era um acessório aparentemente nativo. Como seu cordão era verde escuro, prendeu-o ao seu pulso esquerdo. Acabou combinando bem com suas roupas e lhe acentuava o exotismo e a informalidade. Pele clara e traços orientais em verde, ouro e madeira.

Sim, estava tudo certo. Que fosse uma noite agradável, enfim.

Seu acompanhante já a aguardava do lado de fora do quarto.

— Boa Noite, Sra. Sonomi, eu serei seu acompanhante esta noite.

— Está certo — olhando para cima, mas com um ar austero, Sonomi concordou. Ele era muito mais alto que ela, de aparência atlética e já estava trajado socialmente, com um terno bege. Deveria ser de outro país africano, como demonstravam suas feições e a cor negra de sua pele. — Como se chama?

— Meu nome é Hadek, senhora. Ao seu dispor.

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"RISTORANTE TUSCANY"

Esse era o nome do restaurante de cozinha internacional do Marriot Hotel, no Cairo. Para chegar até ele, os três amigos passaram pelo Harry´s Pub completamente abarrotado de gente, com mais pessoas ainda querendo entrar. Nem parecia que de tarde não havia ninguém lá... Muita gente jovem e, aparentemente, abastada, tomaram de assalto àquele que é considerado um dos mais populares locais de concentração da juventude urbana.

Mas Lara, principalmente, queria algo bem menos agitado.  E conseguira.

O estabelecimento ficava em um casarão anexo ao hotel, de modo que eles deveriam atravessar uma pequena distância, cerca de sessenta metros ornamentados por calçadas em estilo egípcio e um bem iluminado jardim constituído de grama, arbustos, alguns bancos e pequenos canteiros de flores. Passaram pelo meio dele para chegarem à porta principal, onde foram recepcionados e, após a conferência de suas reservas, adentraram o recinto.  Mesas bem espaçadas, clima aconchegante, louça de porcelana, talheres de prata, quase tantos garçons quanto convidados, todos com trajes padronizados em preto e vermelho, devidamente identificados com placas de acrílico na altura da lapela, em árabe e letras ocidentais.

— Srta. Croft, sua mesa está pronta. Por aqui — um homem muito distinto, totalmente vestido de marrom, os guiava por entre as mesas. Ao chegarem à mesa, Lara cumprimentou-o.

— Obrigada. Qual é o seu nome? — perguntou, percebendo que ele não tinha identificação.

— Sou um dos garçons destinados ao atendimento exclusivo de hóspedes VIP. Meu nome é Neftul, e estarei por perto se precisarem de algo.

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A mesa onde estavam ficava num extremo do salão, à direita de quem entra. No centro do salão, um espaço para dançar e um conjunto musical que já tocava algumas canções de forma muito suave, bem no estilo de música ambiente. À esquerda, mais mesas, onde Sonomi acabou ficando.

— Deixarei a senhora à vontade. Chame-me se precisar de algo. — com estas palavras, Hadek afastou-se, com o consentimento dela.

Recebeu do garçom a carta de bebidas, e pediu um suco de tamarindo. Seria ótimo para iniciar uma boa refeição.

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Fujitaka estava sentado de forma que podia ver quem entrava ou saía do salão pela porta principal. E tinha reparado em uma bela mulher vestida de verde, de andar elegante, com um vestido até curto para o local. Porém, ela estava acompanhada, e ele também. Muito bem acompanhado por sinal.

Lara estava radiante e muito bem humorada, de braços dados com Fuji conversava sobre assuntos variados e amenos. Sem levantar a voz um minuto sequer.

Indy começou a tirar sarro, a sussurrar coisas do tipo: "Vocês estão dando vexame", ou "Estão fazendo o quê agarrado desse jeito?", ou ainda "Parem senão eu vou ficar excitado!". Mas os dois nem davam bola. E ele se divertia, e ria, ria...

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As horas foram passando. Sonomi relembrava da filha e de sua sobrinha, Sakura. Como eram amigas, pareciam com as mães quando eram mais jovens... "Ah, Sonomi, como é bom ser criança... Como é bom ter uma grande amiga..." O sorriso discreto fôra agora trocado por uma lágrima solitária... "Parece que todas as coisas me lembram você, Nadeshiko... Nossas filhas... Nossa família... Presentes..." olhava pro pingente, quando pensava isto. "Nossos homens..." As lágrimas começavam a ficar mais indiscretas...

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Do outro lado do salão, Fujitaka tinha sido convidado para dançar, e é claro que aceitara. E lá estavam eles, Lara entre os braços de Fuji, presa ao seu pescoço, enquanto uma mini orquestra se juntara ao conjunto musical e tocava temas antigos de Frank Sinatra, Benny Goodman, Glenn Miller e Ray Conniff.

Lara não tirava os olhos dele, nem por um segundo. O tímido arqueólogo já não estava tão retraído como antes. Pra falar a verdade, Fujitaka estava ficando louco com aquele mulherão tão perto dele. Uma mulher encantadora, mas nesta noite ela estava perfeita. Já não sabia nem porque ainda estava dançando, queria algo mais. Num impulso, trouxe-a para perto de si e sussurrou:

— Até onde você vai, Beep?

— Até onde você quiser, Fuji — Lara soltou o torpedo e sentiu seu objeto de desejo balançar. Faltava pouco...

— Bom saber disso... — o que aquele riso malicioso queria dizer? Decididamente, Fuji não mais reconhecia a si mesmo.

Com o rosto colado, dançavam cada vez mais lentamente. Ela sentia que ele estava se acalmando e relaxando cada vez mais. Fuji sentia que queria cada vez mais aspirar o perfume exótico e desconhecido que ela usava, certamente caríssimo.

Não queria mais fugir nem evitar nada. Queria agora o mesmo que ela. Era agora. Ao fundo, a melodia de "Strangers in the Night" fazia o tempo parar. O momento perfeito chegara, e nenhum dos dois queria deixa-lo passar. Não havia mais distância entre seus rostos, nem diferença no bater de seus corações. Olhos nos olhos, como que para acender o pavio de um explosivo, Lara decretou:

— Esta noite, Fuji, você é meu... — e não teve tempo pra mais nada. Enquanto falava, ele não tirava mais os olhos de seus lábios.

E então se beijaram. Lara queria isso há muito tempo, e estava flutuando. Ele mostrava agora porque escondia tanto o jogo das mulheres, pois a enlaçou fortemente pela cintura e não a deixava mover-se nem um milímetro. Queria tudo dela, sua boca, seu rosto, seus cabelos, o calor de seu corpo, seu aroma... Ah, que coisa louca! Nenhum dos dois quis se conter, simplesmente demonstravam todo o desejo que sentiam um pelo outro naquele instante...

Fuji a prendeu pela nuca, e agora Lara sentia que ia ficar quente! Ela é que ficava cada vez mais excitada com as habilidades reveladas pelo amigo... Quem diria, hein? Ela tirou um dos braços do pescoço dele, passou pelas costas e trouxe-o mais para perto, como se isso fôsse possível.

— Fuji... Eu... — Lara tentou uma trégua, mas agora quem segurava aquele homem? Fuji a trouxe de volta, sem resistência alguma, apenas um sorriso malicioso, logo desfeito por outro beijo mais intenso que o primeiro! "Ai meu Deus, isso está ficando cada vez melhor!" E nada dele soltar a nuca dela...

— Calma garanhão! Temos a noite toda para nós... — depois de ser chamado de "garanhão", não tinha como Fuji ficar sério. Começou a rir, e não conseguiu continuar. Lara tinha feito besteira, pois ele não conseguia mais beijar de tanto que ria.

— Está bem, Lara. Você venceu. — e abraçou a amiga, fazendo com que recostasse a cabeça em seu peito, enquanto acalmava seu riso, num misto de alegria e carinho. Ele ainda podia se envolver com outra pessoa, afinal. E que bom que era com alguém que gostava dele, pelo que podia perceber.

Enquanto isso ocorria, dançavam bem devagar e bem agarradinhos. Ele olhava para as pessoas em volta, em suas mesas, algumas dançando também. Poucas perceberam o que acabara de acontecer. Ela estava de olhos fechados, sorriso aberto, podia ouvir agora as batidas do coração de seu querido Fuji. Seu coração batia feliz, ritmado, talvez apaixonado, quem sabe? Apertou-se mais ainda contra o peito dele... Mas alguns instantes depois, algo aconteceu.

Seu coração deu uma batida e parou. Demorou a bater de novo.

Assustada, Lara olhou para seu rosto, e o encontrou olhando num ponto do salão, paralisado. Não mais se movia, e seu coração batia bem baixinho e devagar.

"NÃO!!! NÃO!!! NÃO!!!" Fuji não acreditava no que via. Sentada numa mesa a cerca de dez metros deles, ele avistou aqueles olhos cor de violeta mais uma vez. Não era possível que fôsse... Oh não! Era sim!!!

Sonomi não agüentara, já estava chorando antes, mas avistar Fujitaka aos beijos com uma mulher tão... Tão... Estonteante, era tudo o que não queria ver.

Seu rosto triste foi se transformando, e agora seu olhar era mais furioso do que no dia em que a conhecera, numa metamorfose que ele não queria nunca testemunhar. Ela não sabia, mas olhá-lo daquele jeito o estava matando por dentro.

Do êxtase dos beijos de Lara ao desespero das lágrimas de Sonomi, Fujitaka agora não tinha a menor idéia do que viria a seguir.


Depois de tanto esperar, Fujitaka parecia ter encontrado uma boa noite de romance e carinho... E agora?

Leia o próximo capítulo, não perca!

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