Nos conhecemos de maneira estranha, é verdade. Mas quando precisei, apesar de sua pouca idade, ela demonstrou ser uma pessoa de um enorme coração e uma excelente amiga. É a ela que dedico este capítulo: minha querida BLACK MOON. LAÍS, que você desfrute de sua vida sendo assim como é excelente amiga, companheira e bondosa, em todas as horas. É o que desejo para você.
Parte 15 - O fim de uma grande noite

Marriot Hotel - cidade do Cairo

O dia da chegada - 23h46

Nem todos que estavam no restaurante eram inimigos. Haviam outras pessoas que presenciaram o começo da confusão e fugiram, chamando as autoridades.

Em dez minutos, a polícia chegou ao local com grande contingente, cerca de quarenta e cinco homens distribuídos em dez viaturas. Um cerco foi feito ao hotel e ninguém entrava e saía sem passar pelos policiais. Esse transtorno durou por uma hora e meia, enfurecendo principalmente quem estava no Harry´s Pub. Afinal, como um dos mais badalados pontos da cidade, a falta de liberdade para locomoção certamente incomodava muita gente...

— Eu falei com alguns colegas meus da polícia local, Fuji. Temos algo interessante aqui. — Indy apresentou uma foto ao amigo, que não entendeu do que se tratava a princípio. — Esse homem foi um dos que enfrentei lá dentro. Veja isso... — apontou então no braço esquerdo do sujeito, que na foto estava à frente do estômago. Era claramente visível uma tatuagem mediana, que ocupava quase toda a largura do membro. Nela, estampava-se um círculo cinzento, com duas serpentes entrelaçadas se encarando.

— Esse símbolo está presente com várias pessoas e locais de crimes relacionados com magia negra e religiões locais antigas, segundo ele me disse... — continuou Indy...

— ... E é conhecido como "O Mal Vivo". — completou Fuji sem, no entanto, surpreender o colega.

— Achamos, Fuji.

— Eles já nos acharam também. Sabe o que isso significa, não é?

— Sim. Temos pouco tempo, talvez só alguns dias.

— Mas, se eles vieram até nós...

— Então, estamos perto de algo importante!

— Exato Indy. Não podemos perder tempo.

— Eu concordo plenamente. Mas precisamos descansar um pouco. Eu e Lara pelo menos precisamos... — ao mencionar a jovem inglesa, Indy fez a mente de Fuji entrar em erupção.

— Lara... — procurando-a por perto, achou-a numa ambulância próxima, sendo medicada por uma enfermeira. Dirigiu-se até ela, e abraçou-a. Lara deu-lhe um beijo no rosto, e encostou-se ao seu ombro.

A enfermeira se foi, e os dois ficaram um pouco juntos, sem nada dizer. Fuji estava preocupado com ela, e mais ainda em explicar porque saiu correndo quando estavam dançando. Lara queria saber desse detalhe também, e muito, mas outros pensamentos tristes e sombrios dominavam sua mente agora.

Enquanto tentava ordenar as idéias para saber o que falar com Lara naquele momento sem causar nenhum impacto negativo, ele a viu novamente. A dez metros dele, em uma outra ambulância.

Embora não tivesse nenhum arranhão, a direção do hotel tinha ali três representantes para garantir que mais nenhuma situação estranha ocorreria com ela. Num único dia, Sonomi tinha sido quase roubada e molestada, esta última vez dentro da área do próprio estabelecimento. Estava sendo difícil para aqueles homens entenderem que ela não queria nenhuma proteção extra (na verdade ela já havia providenciado seus próprios guarda-costas, pois estava desconfiada de tudo naquele lugar desde o malfazejo jantar).

O primeiro impulso dele ao vê-la foi ir até ela, chegou até a esboçar um movimento, mas logo se conteve, e disfarçou, como se fosse se ajeitar melhor pra abraçar Lara, pois também não queria mais nada de ruim a ela nesta noite. Parece que seus esforços foram em vão, pois imediatamente após isso, e mesmo estreitando ele um pouco o abraço, a arqueóloga começou a chorar em silêncio, muito discretamente. Ele percebeu, mesmo assim.

Fuji começou a se desesperar. Tudo o que não queria era causar sofrimento à sua querida amiga, afinal ninguém tinha culpa do que havia acontecido. Mas certamente agora ela o estava incriminando. Como aquela noite perfeita pôde ficar tão ruim assim?

— Eu... Falhei...  — balbuciou ela, para confundir mais ainda o pobre e aflito japonês. Agora ela estava se culpando porque ele a deixou na pista de dança?

Absorto neste ataque de culpa e de confusão momentâneo, Fuji não percebera que Indy se encontrava ao lado deles já há alguns minutos. E foi para o colega americano que Lara se dirigira.

— Desculpe Indy, ele dominou minha mente, eu não queria...  — ao tentar continuar a explicação, Lara começou a chorar realmente, coisa que não queria fazer, mas não pôde segurar mais. Adiantou-se em direção do colega e o abraçou, saindo dos braços de Fuji e enterrou seu rosto molhado de encontro ao peito que agredira há instantes atrás. Indy beijou sua cabeça e confortou a amiga como pôde.

— Eu sei, Lara, eu sei. Não se preocupe. — foi só o que disse, pois sentiu que logo as lágrimas dela seriam suas também. Nunca a vira dessa maneira.

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É claro que nosso amigo oriental já estava alguns metros além, neste momento...

Cerca de vinte pessoas a cercavam, entre representantes do hotel, policiais, assistentes pessoais dela (quatro mulheres novamente, mas não eram suas guarda-costas do Japão...) , jornalistas, repórteres... Mesmo assim, ela brilhava. Resplandecia. Para seus olhos atentos, era uma perfeição em elegância, sorriso, serenidade e seriedade, por vezes. Será que sabia o quanto era fascinante seu jeito de ser?

Alguém a observava, pressentia, e sem aviso o encarou. Diretamente, olhos nos olhos, a três metros de distância. Ele envergonhou-se, ela também, mas não demonstrou. Um leve sorriso esboçou, mas já tinha virado seu rosto para que ele não visse...

Em cinco minutos, a roda se desfez um pouco e encontraram-se frente a frente mais uma vez naquela noite.

— Olá Sonomi. Como está agora?

— Poderia estar melhor... — a resposta seca característica não funcionava mais com o cunhado, mas ela a usava invariavelmente mesmo assim. E é claro que fazia tempo que isso não funcionava mais com ele. — O que quer?

— Só queria saber se você estava bem... — com seu sorriso calmo que a irritava tanto, Fuji já reconhecia a Sonomi de sempre de volta.

— Por quê?

— Por quê? Porque sim, Sonomi. Apesar de tudo, somos parentes, eu e você.

— Ah, claro... — com um certo esforço, escondeu toda a decepção que essa simples declaração a trouxe. Ele nem ao menos fazia esforço para causar isso nela, na verdade nem sabia disso. — Bem, meu parente, estou bem como pode ver.

— Sim, decerto. Mas... Continuará bem? — arqueando uma de suas sobrancelhas, trouxe um ar enigmático ao diálogo. Era divertido, ele tinha que admitir.

— Com tanta gente em volta de mim, você ainda acha que corro algum perigo, professor? — tentava ser irônica, mas ela mesma não se convencia...

— Com tanta gente em volta, você não correu perigo no restaurante, Sonomi? — sem querer, ele agora estava sendo irônico...

— Não preciso de sua ajuda, caro professor.

— Eu sei que não. Mas caso queira, estou à disposição. Sempre. — ele não precisava ter enfatizado tanto esta última palavra, mas assim fez.

Isso fez Sonomi refletir. Apesar de não querer admitir na frente dele, tinha sido ótima sua intervenção no jardim próximo ao restaurante. Sem ele, certamente estaria em maus lençóis, pois o seu agressor era muito forte. Não entendera bem como Fuji conseguira, mas assim foi. Também não entendera ainda o que seu agressor tinha lhe falado e por que fora abordada, apesar de já ter sido alvo de tentativas de seqüestro várias vezes.

— Muito bem, professor. Como posso encontrá-lo? — após certo silêncio, pronunciou-se.

— Estou neste mesmo hotel, é só procurar por mim na recepção.

— Neste hotel? Desde quando?

— Cheguei hoje pela manhã. E você, está hospedada onde?

— Aqui mesmo também!

— É mesmo? Em qual andar?

— No sétimo. E você?

— No oitavo andar... — que estranha coincidência, como não tinha se cruzado ainda?

— Bem, parece que será fácil achá-lo então, professor.

— Eu não tenho certeza disso, mas creio que amanhã pela manhã não estarei mais aqui, e não sei quando volto.

— É mesmo?

— Sim, eu estarei visitando um sítio arqueológico a partir de amanhã e não sei quanto tempo isso vai demorar.

— Muito bem. Boa sorte em sua pesquisa, professor. — mais decepcionada do que antes, e ainda impassível, virou-se para ir embora.

— Espere Sonomi. Não vá. — impulsivamente, Fuji a segurou pelo braço. Foi a melhor coisa que poderia ter lhe feito naquele momento, depois de tudo que aconteceu. Ela abriu um sorriso de orelha a orelha, e deteve-se. Mas isso durou apenas dois segundos. Com semblante irado, virou-se e o encarou, liberando seu braço com um safanão.

— Já passei da idade de me segurarem pelo braço, professor. Nunca ninguém me fez isso. E não será você que o fará, está ouvindo? — decididamente, estava se tornando uma atriz cada vez mais convincente.

— Desculpe-me a indelicadeza. É que... Eu queria te convidar para ir comigo. Tenho certeza de que você gostaria... Visitarei lugares exóticos e históricos ao mesmo tempo. O que acha?

Um turbilhão de pensamentos cruzou sua mente em poucos segundos. Como ele pode ser tão cavalheiro e sedutor ao mesmo tempo? E os compromissos comerciais que tinha assumido para os próximos dias? O que o faz pensar que gostaria de estar com ele no meio de escombros e múmias? Quem a protegeria de novos perigos? E POR ACASO ALGUÉM TINHA QUE PROTEGÊ-LA? Qual o lugar melhor para se estar além do lado dele?

Enquanto pensava, desviou um pouco o olhar e avistou a bela moça que ainda chorava em ombro amigo, e logo a reconheceu. Silenciosamente, algo começou a queimar dentro dela, fazendo seu sangue aquecer. Sem demonstrar nada disso, respondeu:

— Creio que não poderei aceitar seu convite, professor.

— Bem, cuide-se então, Sonomi. Devo ir agora. Até mais. — pensava que talvez ela considerasse seu pedido. Não fôra assim, Sonomi ainda continuava com reservas, era bem claro para ele isso agora.

— Até mais, F... Professor... — ele já estava de costas, e quase que ela se traíra na despedida. Mas quando o viu se aproximando daquela mulher novamente, o sangue ferveu. Virou-se contrariada e foi embora rumo ao seu quarto.

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— Eu estou melhor agora, obrigada amigos. — Fuji e Indy seguravam cada um uma mão de Lara. Não tinha como ela ficar mais pra baixo com esse calor humano todo.

— Que bom! — pra tentar animá-la mais, Fuji exagerou na dose e a abraçou forte. Em segundos ele se deu conta de que não queria realmente ter feito aquilo, mas sua amiga não estava reclamando, muito pelo contrário...

— Ah, que gostoso... Você sabe animar mesmo uma mulher, hein, Fuji? — só ela mesmo pra manter o bom humor a essa altura do campeonato...

— Vamos nos recolher, temos muito a fazer logo cedo... — Indy detestava fazer o papel de pai mandão, mas a situação não lhe permitia outra escolha.

— É verdade. Você se sente bem mesmo, Lara?

— Sim, Fuji. Não se preocupe comigo. — tentou dar o seu melhor sorriso possível, mas a boca mal abria. Além de perder a batalha, estava muito cansada mesmo.

— Tudo bem. Vamos colegas. — Fuji foi em frente, levando Lara pelo braço. Indy ia ao lado deles, por vezes abrindo portas e pedindo passagem.

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Logo chegaram no quarto deste último onde acertaram detalhes para o dia seguinte. Novamente, Lara ficou no quarto de Indy, e Fuji seguiu para o seu. Alguns minutos depois o silêncio imperava, pois os dois amigos estavam bastante cansados e doloridos do combate que enfrentaram algumas horas atrás. Lara tentava ficar um pouco mais acordada, mas vencida pela fadiga parou de se martirizar pela derrota que sofrera e pela invasão de sua mente.

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No quarto de Fuji, nenhum som era ouvido. Ainda bem, pois a mente dele estava a mil, não conseguia parar de pensar em tudo que ocorrera com ele em um único dia. Descobrira a magia dentro dele, que sempre tentara ignorar. Começava a manipular e utilizar poderes que nem sabia que existiam nele. Encarava sua vida com novas possibilidades e sentimentos. Era quase como se fosse novamente adolescente.

Os acontecimentos daquela noite também não o deixavam em paz. A dança com Lara, o beijo entre eles, e...  Como negar? O abraço e o conforto que pôde proporcionar a Sonomi, mesmo por um pouco. O que teria sido melhor e mais importante pra ele?

Será que ele deveria insistir com Lara? Ou tentar acabar de vez com aquele clima ruim entre ele e Sonomi?

Com estas perguntas tentava adormecer, mas custou a pegar no sono.

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E um andar abaixo, uma igualmente irrequieta pessoa não conseguia dormir de jeito nenhum.

De uma manhã calma a uma tarde movimentada... E depois, de uma noite despretensiosa a um turbilhão de emoções. Chorou, desmanchou-se em lágrimas num momento. Noutro, um homem estranho a fez passar mal de uma maneira que ela não entendia muito bem.

Logo depois, estava nos braços de Fujitaka...

Ah... Como ela podia negar que esse tinha sido o melhor momento de sua noite?

Era algo que ela sempre quis desde que o conheceu. Aconteceu de uma forma estranha e inesperada, num lugar exótico e paradisíaco... Só que tudo não passara de uma gentileza de seu impassível cunhado.

Foi um acidente. Ela estava assustada com o que ocorrera, e provavelmente abraçaria quem estivesse mais perto dela, fosse quem fosse. Mas a questão que a incomodava era: teria gostado tanto assim de um abraço, se fosse outro homem qualquer?

Virava para um lado da cama, e lembrava daquele aperto gostoso e carinhoso daquele homem que a dividia por completo.

Virava do outro lado, e lembrava daquele beijo que ela assistira, e começava a ferver novamente o seu sangue. Quem era aquelazinha de nariz empinado que se achava a mais atraente das mulheres, cheia de jóias como uma perua? Se ele preferia ficar com ela é porque tinha muito mau gosto!

Percebeu então que estava ainda com o vestido com o qual fôra jantar. Que desastre! Levantou-se e tirou-o, sem pensar. De repente, se viu nua no centro do quarto, olhando para a sacada.

Chegou mais perto, e começou a reparar em si mesma, em seu corpo refletido no vidro da janela. E até que não estava ruim para ela. O seu biotipo oriental garantira-lhe um perfil esbelto e firme. Sua prática constante de exercícios lhe dera um preparo físico invejável e membros vigorosos, braços delicados e pernas fortes. Suas coxas se mantinham bem definidas como em sua juventude; ainda corria com desenvoltura, como pôde constatar naquela tarde. Sua pele branca, quase intocada pelo sol, conferia um toque clássico e sensual a todo esse conjunto.

Mas seu rosto denunciava uma tristeza que contrastava com toda essa aura sensual... Faltava-lhe amor, paixão... Aquele elemento que faria seu ser vibrar, brilhar gloriosamente, como acontece com toda mulher quando ama.

E aí a última pergunta da noite se abateu sobre ela. Como ele poderia escolher outra pessoa, se ela não lhe dava nenhuma abertura?

Uma lágrima começou a rolar. Novamente as incertezas a assombravam. Seu reflexo, antes imponente e sensual, nem mesmo era visível agora. Recolheu-se assim mesmo em sua cama e novamente virou para o lado, tentando dormir de olhos molhados e abertos...


Será que essa tristeza da Sonomi não acaba? Ela sempre foi uma mulher forte, que não se abate, mas parece que o Egito está mexendo com ela...

Será que é o Egito mesmo? ~_^

Well, vamos acompanhar a seqüência dos acontecimentos. Deixemos nossos heróis descansar (ou pelo menos tentarem descansar), porque o perigo está cada vez mais próximo...

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