Este capítulo eu dedico a uma pessoa muito amiga, que me faz uma falta terrível, e não está mais entre nós...
Para minha querida amiga Priscilla, a PRITTY, como a conhecíamos, dedico mais uma vez uma parte do meu trabalho.
Pritty, minha inspiração, você deixou muitas saudades...
Parte 16 - O Enigma da Pirâmide
Marriot Hotel - cidade do Cairo
O dia da procura - 05h22
E a noite de sono chegou ao fim. No despertar, incertezas e temores encontravam alvo fácil em um certo japonês de meia idade. As certezas adquiridas no dia anterior, porém, venceram esta primeira batalha, tirando-o da cama e fazendo-o aprontar-se para um longo dia. Colocou aquela roupa que sempre usava para expedições no Egito, e que havia escolhido após já ter passado muito desconforto: uma camisa clara de tecido leve e mangas curtas, uma calça bem mais resistente em tom areia, botas e um cinto de couro equipado com uma faca, uma pistola semi-automática (que nunca usara) e uma pequena bússola. Com isso, já tinha passado por vários trabalhos arqueológicos ali e em outros lugares do mundo.
Fuji ligou para o quarto de seus amigos, que estavam se trocando e o aguardavam para o desjejum. Dali partiriam após resolverem o que fariam exatamente.
Saiu do quarto e encaminhou-se pelo corredor até as escadas. Deteve-se alguns passos depois. O motivo disso foi somente um olhar.
Ela estava lá, esperando-o já há alguns minutos. Não resistiu a tentação de interpor-se ao seu caminho só pra ver o que ele faria. Vestida com botas, uma bermuda escura que cobria parcialmente suas coxas, um top azul claro mal disfarçado por uma camisa verde escura desabotoada e amarrada na altura do umbigo, com óculos escuros sobre a cabeça e um cordão no pescoço onde algo estava preso. Ele não via o que era porque, o que quer que fosse aquilo, caía exatamente dentro do decote e ficava oculto no meio de seus se...
Corou de imediato ao perceber que estava não mais olhando para os olhos cor de violeta, mas para onde o cordão estava enterrado... E Sonomi não escondeu aquele sorriso malicioso que só as mulheres sabem dar quando a encomenda saiu melhor do que o esperado...
— Bom dia, professor. Resolvi aceitar seu convite. Algo errado? — era a sua hora de se divertir com o envergonhado Fujitaka...
— Não, eu... er... é que... — ele não conseguia tirar os olhos dela, de seu umbigo... Nunca a vira assim nem fazendo cooper. E ela foi chegando mais perto, e ele sem perceber foi se afastando bem devagar, como se quisesse ser alcançado. Logo se deu conta da bandeira que estava dando e tentou se controlar. — É que é inesperado, mas fico feliz! — no meio dessa frase, com muito esforço fechou os olhos e esboçou um sorriso forçado.
— Por quê? Você não me convidou ontem? Resolvi aceitar. Não posso mais, é isso? — o tom de voz de Sonomi quando disse estas palavras era muito engraçado, nada de autoritarismo, mas uma pontinha de decepção, tentando aparentar inocência... Como Fuji poderia agüentar isso impassível?
— Não, não é isso... Só estou surpreso. Pelo que sei, você não costuma voltar atrás em suas decisões... — quase sussurrando, respondeu.
— Sempre há uma primeira vez, professor. E este não é o meu caso. Mudei de idéia, espero que a tempo.
— Claro que sim! Será muito bom, eu prometo! — novamente, exagerou na dose, não teve como ela não rir.
— Eu vou cobrar essa promessa, professor... — depois de encará-lo por um certo tempo completou dessa forma, sorrindo discreta e misteriosamente. "Não poderia ser sempre assim?", pensou Fuji. Ela virou-se de costas, mostrando passos decididos e pernas firmes e claras... Ele começou a suar frio, sem perceber.
— Muito bem. Acompanhe-me então, Sonomi. — disse por fim, após perceber que novamente inspecionava sua cunhada dos pés à cabeça...
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Lara acordou menos desanimada. Todavia, seu silêncio denunciava que algo ainda não estava bem. Com discrição incomum, levantou-se para trocar de roupas. Nem quis atender o telefone para falar com Fuji.
Indy já tinha pedido o café da manhã e terminava de se trocar, assustando a amiga com sua indumentária. Era o seu antigo uniforme, com chapéu de caçador e chicote na cintura. Somente as botas pareciam novas.
— Aonde vamos? Ao túnel do tempo? — finalmente, ela sorria pela primeira vez no dia.
— Se você quiser, por que não? — percebendo que ela começava a se soltar, Indy deu continuidade ao diálogo.
E continuaram assim por alguns minutos, até Fuji chegar.
— Temos companhia para o café da manhã, amigos. Esta é Sonomi Daidouji, ela é prima de minha esposa, e portanto minha também.
— Encantado. — atirado, Indy beijou a mão da bela japonesa, sem receber nenhuma expressão de simpatia em troca.
— Eu sou Lara Croft. — sem estender as mãos, ela se apresentou encarando-a com firmeza, sem mover um músculo sequer também. Ainda não entendera bem essa prima saída do nada e porque ainda ficava agarrada no braço de Fuji desde que chegara.
Para falar a verdade, nem Sonomi tinha percebido isso ainda. Mas soltou-se dele diante da pedante mulher ocidental que ousava fitá-la dessa forma.
— Vamos comer? — interrompeu Indy, já que o serviço de quarto acabara de chegar.
Se pudessem, davam um tiro nele agora mesmo. NADA faria qualquer uma das duas se mover e pararem de se enfrentar silenciosamente antes da outra.
De olhos semicerrados, uma gotinha descendo pelo lado da testa (¬¬'), os dois amigos se entreolharam. Indy pegou Lara pela cintura, Fuji tocou de leve os ombros de Sonomi e foram quase arrastadas até a mesa da pequena copa que o quarto dispunha.
Durante o desjejum, somente os dois amigos falavam entre si. As moças continuavam em estado de alerta máximo uma em relação à outra, como cobras à espera do momento certo para dar o bote.
Mas os dois arqueólogos falavam sobre seu itinerário. De carro iriam até o aeroporto, onde um helicóptero fretado os levaria até o Complexo Mortuário de Saqqara, onde estava localizada a Pirâmide dos Degraus. Eles tinham que descobrir o que havia naquela câmara secreta, ou se ela ao menos existia.
Foi o que fizeram a seguir. Em quarenta minutos, já estavam sobrevoando o Cairo e indo em direção ao monumento antigo.
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Areia, sol escaldante, vento quente... Impossível não transpirar. Os três arqueólogos não se queixavam, já habituados à essas dificuldades naturais. Sonomi também não reclamava, mas estava fazendo um esforço sobre-humano para tal. Apesar de sua boa forma física, ela não estava acostumada à exposição a estas condições por um período prolongado.
Decidida, seguia atrás dos três amigos sem opinar nem falar com ninguém. Já caminhavam a uma hora desde que tinham descido no deserto. E agora estavam diante do Complexo Mortuário de Saqqara, onde sobressaía a figura altaneira e imponente da Pirâmide dos Degraus. A pedido do faraó Djoser, seu arquiteto-mor e sumo-sacerdote Imhotep criou uma estrutura nunca antes vista, e que seria copiada extensivamente ao longo da história.
Pararam, vislumbrando o belo cenário por alguns minutos, e partiram. Atravessaram um caminho ladeado de colunas e enfrentaram mais uma boa caminhada pela areia que os separavam da estrutura principal.
— Temos que dar a volta, a entrada é pelo lado norte. — Fuji indicou o caminho, e foi seguido por todos.
— Está tudo muito quieto... — depois da última noite, Lara estava com a atenção redobrada.
— Esperem um pouco aqui. — dizendo isto, Indy subiu rapidamente na laje de um dos mini-templos existentes no perímetro lateral do Complexo e prosseguiu com uma rápida busca visual por alguém ou algo. Nada encontrou.
— Não há ninguém por aqui, amigos. Deve ser um feriado religioso local. — conhecedor dos costumes muçulmanos, Fuji sabia que mesmo em feriados alguns funcionários do Governo SEMPRE estariam lá. Algo estava errado sim, Lara estava certa. Mas decidiu arriscar, pois sentia o tempo se esvair a cada minuto. — Vamos em frente.
Neste momento, Fuji se deu conta de que continuava admirando Sonomi um pouco além do normal. Ela não queria dar o braço a torcer, embora claramente estivesse muito afetada pelas condições desérticas a que se submetia. Novamente, seguiu atento o cordão verde que ia sumindo entre seu decote... O suor descia pelo seu rosto em pequenas gotas, que umedeciam sua pele e sua roupa... Até nisso ela chamava a atenção...
Tomou a dianteira do grupo, ou não conseguiria se concentrar adequadamente...
Em mais vinte minutos de muito sol e calor, chegavam à entrada do lado norte.
Ao contrário do que se pensa, as pirâmides não são grandes edifícios, se parecem mais com monumentos. As estruturas internas principais geralmente são subterrâneas. E era justamente o caso ali.
Adentraram por um corredor escuro, muito mal iluminado, apesar de largo.
— Aqui, amigos. Eis o que precisamos. — com essas palavras, Indy acionou um dispositivo iluminador do tipo que é usado em barcos, e que servia muito bem como lanterna ou tocha. Tinha três destes, que ficaram com os arqueólogos. Adivinha com quem Sonomi ficou, pra não se perder no escuro?
Muito silêncio, somente seus passos eram ouvidos. Nem parecia que o local era ponto turístico. Fuji não sentira nenhuma presença mágica até então, e isso o tranqüilizava, por hora.
Após alguns minutos, chegaram a uma sala enorme, escura. Os corredores desembocavam ali.
— Estamos no lugar errado. — a afirmação do arqueólogo japonês surpreendeu os colegas.
— Como assim? Foi aqui que eu vi os vasos, Fuji! — protestou Lara.
— Não foi não. Vamos. — sem maiores argumentações, deu meia volta e retornou pelo corredor. Atônitos, os colegas o seguiram. Sonomi já estava grudada nele de novo, e Lara estava começando a pensar em como fazê-la desmaiar...
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Se os colegas pudessem enxergar um pouco melhor através da escuridão, estariam frente e frente com o numeroso grupo dos soldados egípcios que aguardavam além, a cerca de quarenta metros, escondidos pelas pilastras e pelas sombras da sala.
— Ele é muito esperto. Mas não vai nos escapar agora... — a voz do líder se manifestou, logo que percebeu que os amigos deixaram o local. Com firmeza, comandou: — Vamos assumir a posição 2. Agora!
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— Um detalhe faltou, Lara. O corredor com a passagem secreta, lembra-se? — tentando se justificar, Fuji explicava por que queria sair dali tão rápido. Além das outras presenças na escuridão...
— Hmmmm... Não era aquele? Mas por que você não falou logo?
— Por que eu não tinha certeza sobre os vasos. Sabia que você os avistara ali dentro. Quando chegamos, percebi que não estavam lá.
— Mas como? Os vasos deveriam estar do outro lado da sala, nós só chegamos na entrada...
— Percebi que a entrada da sala não bate com as fotos do livro que vimos. Portanto, o corredor que procuramos não era aquele e não haveria necessidade de perdermos mais tempo lá. — com muita calma, tentava a todo custo evitar transparecer a eles que sabia que não estavam sós. Essa lógica arquitetônica não convenceu Lara, que ficou com a sensação de que estava lhe escondendo algo...
— Eu já entendi, Fuji... — Indy aproximou-se dele alguns minutos depois, enquanto dirigiam-se para a outra localidade. — Quantos acha que são?
— São muitos... Mais do que vocês enfrentaram ontem no restaurante... Se agirmos bem rápido, evitaremos este confronto, afinal estamos em número muito menor e temos uma pessoa que não tem experiência nestas situações... — essa última afirmação era reveladora... Então, Fuji estava pensando em sua convidada? E em Lara, ele não pensava mais?
— Nós estaremos prontos a protegê-la, se for o caso... — mesmo preocupado pela luta anterior, que não fora fácil, e da qual ainda se ressentia de algumas dores, foi assim que Indy se manifestou.
— Acho que não totalmente... — olhando para Lara, externou o que passava em sua mente.
— Só saberemos no momento certo. Nosso tempo se esgota, não teremos outra chance...
— Eu sei... Temos que arriscar... — aquelas palavras de coragem estavam matando Fuji por dentro. Podia arriscar a própria vida se fosse preciso, mas não queria que nada de mal acontecesse com Sonomi, até mesmo o desconforto que ela passava o incomodava. Mas sabia que algo maior estava em jogo, e tudo dependia de acharem rapidamente indícios do que deveria ser feito para impedir o surgimento do Mal Vivo...
Sonomi a tudo examinava, de maneira atenta e surpresa, por que não dizê-lo? Muitas coisas que só sabia de ouvir falar agora via, testemunhava. Até então, o ambiente de coisas mortas, passadas, há muito esquecidas, lhe trazia uma sensação boa, confortável, apesar do calor excessivo e do ar seco. E Fuji demonstrava todo seu espírito de liderança, algo difícil de perceber no professor sério e sisudo na faculdade, apesar dele ser bem calmo e até alegre em sua casa. Lembrou-se da festa de Natal, onde conversaram um pouco mais e sem muitas agressões (da parte dele, claro, pois nunca fazia nada contra ela, nem um ai sequer...)... Sim, tinha sido injusta, sabia-o, só não queria reconhecer... Resolveu parar de olhá-lo tanto, antes que percebesse algo... Mas só por um pouco...
Nunca se pode fugir dos olhos atentos de uma mulher. Lara já percebera o andamento dos fatos, e se não fizesse nada com rapidez ia ficar a ver navios, ou melhor, camelos... Olhava Sonomi novamente, inspecionara-a já quatro vezes de alto a baixo e não via nada naquela magrela e branquela japonesa em que não fosse muito melhor. A única coisa que Lara achava de positivo é que a executiva transbordava autocontrole e elegância em seus movimentos, não era afobada nem desastrada, um certo traço de nobreza. Sempre esperava os outros para dar o seu próximo passo, e não discutia com ninguém, embora já tivesse cruzado com ela olhares nada amistosos por duas vezes ali no deserto...
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O outro monumento era dedicado ao filho do Faraó Djoser, Sekhemkhet, seu sucessor. Estava inacabado, somente montes de areia e algumas pedras indicavam sua existência. A parte subterrânea, porém, estava completa, e se estendia por vários metros debaixo do solo.
De cara, teriam que descer um corredor mais longo que o anterior para chegarem à sala principal. E lá se foram, Indy e Fuji à frente, Lara e Sonomi o mais distante possível uma da outra. E olhe lá.
Novamente utilizando os iluminadores, passaram por um umbral, que dava para um corredor perpendicular ao que estavam, mas prosseguiram. Depois de cerca de quinze a vinte minutos de caminhada, chegaram onde queriam. A câmara mortuária principal.
Realmente, não haviam muitas coisas ali. Vários artefatos dispostos de maneira a facilitar a apreciação de turistas. Era diferente do que tinham visto nas fotos, portanto o que procuravam não deveriam estar lá. Curiosamente, o local estava totalmente apagado, mesmo havendo lâmpadas instaladas. Os três colegas perceberam tudo isto quase de imediato, como de costume.
Dividiram-se em duplas, para inspecionar mais rapidamente o local. Fuji tinha pressa, e Indy também. Após alguma procura, o aventureiro americano os encontrou, escondidos atrás de um sarcófago, como na foto que viram.
Fuji aproximou-se e, iluminando os dois vasos, tentava decifrar o que estava gravado neles. Não haviam hieróglifos, mas uma escrita muito diferente e... absolutamente surpreendente!
— É a escrita cuneiforme fenícia? — adiantou-se Lara.
— Sem dúvida. Mas... o que objetos siro-fenícios fazem dentro de uma pirâmide egípcia? — completou Indy. — Alguma idéia, amigo?
— Eu não sei... Algo não está certo... Eles parecem diferentes de alguma forma... — desconfiadíssimo, Fuji esquadrinhava os mesmos sem parar. Nas fotos, pareciam ser de uma cor diferente, eram vermelhos os que tinha em mãos.
Enquanto os três amigos inspecionavam com atenção o item, Sonomi pegou o outro e começou a olhá-lo também, mais de curiosidade de saber o que eles tanto procuravam do que para entender sobre as gravuras e estranhas marcas que se aglomeravam ali. Virou, revirou... Lembrou-se de quando decorava seu apartamento na época em que Tomoyo tinha nascido, quando escolhera também alguns vasos para mudar o ambiente, o clima carregado que restara da presença de seu ex-marido.
Foi por isso que, ao examinar o artefato, teve a mesma sensação de que algo não estava certo, mas por outro motivo bem diferente...
Mistério...
O que significarão estes artefatos estranhos em lugar tão fora de mão?
O que há de errado neles?
E o que será que está escrito?
O perigo se aproxima, e os arqueólogos sabem disso...
Não percam o próximo capítulo, a coisa vai ficar mais perigosa ainda!
E por favor, comentem este capítulo! Postem um review!
