Este capítulo é dedicado a uma amiga silenciosa, introspectiva, escritora de fics, desenhista de mão cheia e perigosíssima quando está nervosa!!!

É minha querida e misteriosa amiga Érika.

ERIKA, menina que intriga e encanta, que você consiga obter tudo o que desejar. Poucos são os que podem privar de sua amizade, e sei que nestes eu não me incluo. Aceite então este capítulo como um gesto de admiração.


VENENO DO DESERTO

Marriot Hotel - Cairo

O dia da decisão - 05h35

Seu relógio de pulso não falhava. Com um toque contínuo, despertou Sonomi.

Encontrou-se deitada no sofá, com a mão direita enterrada nos macios cabelos de Fujitaka. Mal acordara, já começara a afagá-lo novamente, parece que tinha vida própria.

— Bom dia, Sonomi. — já desperto a algum tempo, Fuji abriu um sorriso ao sentir aquele carinho gostoso no alto de sua cabeça...

— Bom dia, professor... — a voz lânguida e sexy revelava que o momento era tão agradável a ela quanto a ele. Sorriu também. Há anos não sentia-se tão bem perto de um homem, tinha que admitir, pelo menos para si mesma...

— Já temos que... Levantar? — fazendo charme, Fujitaka demorou-se a completar a frase. Meio sem noção e sonolento, posicionou-se muito perto do rosto dela quando proferiu estas palavras. Nesse intervalo, aprumou-se vagarosamente, segurando com carinho a mão dela em sua nuca. Esse era um contato que não queria perder. Não se encabulou e nem se assustou, como em outras vezes, comportou-se como se estivesse diante de uma agradável surpresa. Acordar e já de cara estar dentro do olhar violeta de Sonomi era algo que desejara secretamente por muito tempo...

Sonomi fora surpreendida pela atitude inesperada e sedutora. Um pouco receosa, sorriu de forma comedida, como se não acreditasse. Logo depois, ante ao toque mudo de seus olhares, relaxou um pouco e foi revelando toda sua satisfação de estar ali, com ele, naquele momento. Um belo rosto de uma mulher feliz. Carinho cada vez mais lento, porém intenso...

Até quando resistiriam?

Tomaram um café da manhã silencioso. Feliz a princípio, cheio de cavalheirismo que finalmente era correspondido após muitos anos de indiferença. Os bons momentos, no entanto, transformaram-se logo apreensão. Sabiam os dois que as coisas não seriam tão agradáveis neste dia, o perigo era muito grande... Por vezes se entreolhavam...

— Eu sempre quis saber como era tomar café da manhã junto com você, sem levar um tapa... — começou Fujitaka, tentando melhorar um pouco o clima. Sonomi gostou, mas não respondeu de pronto. Por isso, ele continuou: — Estou gostando muito. — qualquer coisa que dissesse seria arriscado demais. Aguardou e sorriu.

— Não é tão desagradável quanto eu pensei que seria... — por fim respondeu, sem muita seriedade. Era nítido seu tom de brincadeira. Mas em se tratando de Sonomi, Fuji aprendera a tomar todos os cuidados possíveis e imagináveis a custo de muitas dores no rosto. Por isso, curtiu ao máximo o silêncio misterioso e caliente que era a pauta do momento. Olhos se perscrutavam, mentes com fértil imaginação antecipavam cada movimento, cada pausa de respiração de ambos. A pequena distância de uma mesa que os separava era tudo o que os impediam de irem mais fundo...

Antes fosse só isso. A mesa e a responsabilidade de salvar o mundo. Parece que a mesma idéia ocorreu aos dois ao mesmo tempo.

Fuji então levantou-se e dirigiu-se para o outro lado da mesa. Sentou-se ao lado dela, olhando diretamente nos olhos violeta.

— Sonomi, eu... Eu sei que temos algo a acertar entre nós, não temos? — seriedade e esperança se desenhavam em seu rosto.

— Sim, eu concordo. — ela nunca fora mulher de correr de nada. Um calor intenso subiu pelo seu corpo, mas ela continuou firme, serena e impenetrável. E sabia fazer isso com perfeição.

— Não sei se teremos outra chance de conversarmos, e... — com melancolia, ele deixava bem claro a preocupação que tinha no coração.

— Só não teremos outra chance se você não quiser conversar de novo mais tarde... — Ela o interrompeu, e mesmo arriscando-se estendeu sua mão, tocando a dele.

— O que quer dizer? — a curiosidade dele foi aguçada.

— Sei o que te preocupa. Mas vamos vencer o que nos impede agora, aqui. — dito isto, tomou a mão dele, entrelaçando-a com os dedos. Fujitaka emudeceu, segurando-se para não se atirar sobre ela e tomá-la nos braços, mandando tudo às favas de vez. — Eu te prometo que nós vamos passar por este dia, e conversaremos sobre este assunto que deixamos de lado agora, por causa das circunstâncias. E você?

— Sonomi... É muito perigoso, eu não sei se conseguiremos...

— Prometa-me. Você não tem todos estes poderes por acaso. O que me diz?

— Digo que não suportarei te perder, não mesmo...

— Você quer apanhar de novo? — depois de uma pausa para se recuperar desta declaração, e de pensar que ele era irresistível quando queria ser, Sonomi tomou esta posição ameaçadora. Desta vez não surtiu resultado.

— Faça o que quiser, não vai mudar o que eu sinto...

— Nem o que eu sinto... — falou isso e tomou as duas mãos dele em seguida, para completar: — Eu sei que você vai conseguir. Eu confio em você. — o feitiço sem magia estava completo, ela soube assim que viu o rosto preocupado se tornar um semblante aliviado e determinado. Aproximaram seus rostos...

— Eu prometo. — e dizendo isto, a abraçou. Permitiu-se sentir o aroma de seu corpo, de seus cabelos. Era o primeiro abraço que trocavam desde a morte de Nadeshiko... Mas para ela aquele não valera, este sim é o que queria guardar na memória...

— Assim é que se fala! Vamos nos preparar! — com alegria, ela desfez o abraço para iniciar os preparativos da viagem. Quer dizer, tentou desfazer... Fujitaka a puxou de volta, e continuou olhando diretamente em seus olhos...

Não haviam mais palavras para serem trocadas. Apenas carícias, beijos, prazer... Sonomi instintivamente entreabriu os lábios, revelando de uma vez todo o desejo de possuí-lo para si. Fujitaka enlaçou-a pela cintura, os corpos frente a frente se tocavam, completamente excitados... Ele começou a provocá-la com a pontinha do nariz, fazendo com que ela fechasse os olhos e entreabrisse os lábios mais ainda. Fechou seus olhos então para finalmente consumar o que queria desde a primeira vez que a viu...

Visão. Foi exatamente isso que conseguiu. Uma visão de estrelinhas rodando em volta de sua cabeça. Acabara de levar outro tapa, e ela se desvencilhara do seu abraço.

— Será possível que você não pode deixar de ser pervertido nem agora? — ríspida, Sonomi estava de costas para ele, mentalmente agradecendo aos céus por não ter feito o que seu corpo inteiro agora gritava que queria, e queria, e queria... Logo apresentaria falta de ar, se não se controlasse.

— Mas... Eu pensei que... — aturdido e dolorido, com a mão no rosto, Fujitaka tentava se explicar, embora ele mesmo não entendesse o que tinha feito de errado...

— Quando voltarmos para cumprir nossa promessa, aí nós vamos resolver isso. — após alguns segundos para se recuperar, voltou-se para ele e definiu, tentando não sorrir muito.

— Muito bem. Será assim. — Sonomi era mulher de palavra. Portanto, um pouco contrariado, concordou.

— Ótimo. Nosso helicóptero estará pronto em trinta minutos. Vamos. — dizendo isto, Sonomi saiu e foi para o seu quarto trocar de roupas. Retornou quinze minutos depois, vestindo uma calça jeans bem justa uma blusa com decote em V (e que decote!). Fujitaka sorriu, e ela também. Saíram juntos para o aeroporto do Cairo.

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Seria uma viagem de pouco mais de uma hora até a Depressão de Qattara. Por vezes conversavam alguma coisa, amigavelmente. Sonomi colocou alguns fatos do nascimento de Tomoyo, e Fujitaka fez o mesmo no caso de Sakura. Perceberam que tinham mais coisas em comum, quanto à preocupação sobre a alimentação e os brinquedos das filhas. Ele lembrava um pouco como tinha sido difícil sem a esposa. O mesmo ocorrera com ela, sem o marido, embora isso a aliviasse bastante.

Em certo momento, Fujitaka dirigiu-se a ela desta forma, puxando conversa:

— Sonomi, você tem alguma uma frase que você considera especial, que aprecia?

— Porquê a pergunta? — respondeu ela num sorriso.

— Eu queria saber um pouco do que a poderosa presidente do império industrial Amamiya pensa, apenas isso...

— Hmmmmm... Deixe-me pensar...

— Não pense muito... — sorrindo, Fujitaka alfinetava a cunhada de novo. Cunhada? Essa conversa não tinha nada de parentesco na verdade...

— Você não presta, seu machista... — olhem só aonde esse papo estava levando os dois... Fujitaka riu com gosto.

— É só uma frase, Sonomi, nada mais.

— Tudo bem. Lá vai: "Terra e céu se completam como as dores do silêncio. Não se envolvem, mas sempre estão juntos. Não se tocam, mas não existem um sem o outro".

— Sonomi... Que frase bela e triste... — após uma pausa, Fujitaka se manifestou. — De quem é a autoria?

— Minha. — respondeu Sonomi, para maior admiração ainda de seu interlocutor.

— Então você é poetisa.

— Não. Apenas verbalizo o que sinto. Nem sempre faço isso. E quando faço, nem sempre dá certo...

— Já que é assim... — novamente, Fuji assumia ares de professor — ... como você verbaliza seus sentimentos por mim?

— Toda vez que eu te vejo tenho vontade de te dar um tapa! — levantando a voz e erguendo a mão, Sonomi se atirou em cima dele. Fuji ficou em dúvida se ela estava brincando ou não, e então a abraçou instintivamente. Ela se deixou confortar pelos braços firmes que a envolviam. Estava difícil sair daquele abraço.

— Vou te dizer uma frase também. "O amor é a estrela que guia o verdadeiro conhecimento".

— De quem é essa frase?

— É atribuída a uma deusa egípcia. Ísis, deusa da magia e da fertilidade.

— Do amor também?

— Acho que todas as mulheres são deusas do amor...

— Momentos de poesia, professor? — Sonomi levantou o rosto e olhou para ele.

— Sim. Eu gosto muito da definição do amor pelos povos antigos... — Fuji não percebera como ela se aproximara dele. Por isso continuou: — Eu sempre achei que eles tinham conceitos mais... — ao dizer isto, virou o rosto para ela, que deveria estar com a cabeça baixa. Sonomi, porém colocara-se a somente um centímetro dele. As palavras sumiram. Ela levantou-se mais ainda, os olhos violeta completamente embevecidos e sedentos...

— Mais profundos? — sussurou ela, quase não se ouvia sua voz. Já fechara os olhos...

— Verdadeiros... — Fujitaka sentiu uma pressão no peito. De maneira confusa, pensou que era algum problema cardíaco. Mas não. Eram as mãos de Sonomi que subiram de suas costas ao plexo peitoral, a mão direita sobre seu coração, que se já batia forte antes agora era descompassado, louco e vigoroso. Eles não podiam mais resistir um ao outro. Fechou os olhos também...

— Olhem! Chegamos! — o piloto gritou tão alto que Sonomi se assustou e deu um pulo, abraçando Fujitaka com força. Ele ficou irado com aquilo, mas pelo menos continuava com ela em seus braços. Seu coração acalmou. E ele sabia que teria que estar pronto para coisas piores.

Não houve tempo para mais reflexões. Fujitaka ouviu as hélices se partindo e o vidro frontal da aeronave estilhaçando-se. Em fração de segundos, ativou um encantamento de proteção para os três ocupantes e pulou fora, trazendo Sonomi e um ferido e desacordado piloto junto com ele.

Enquanto caíam, virou-se para cima a tempo de ver o helicóptero se amassando todo, como se batesse em algo tão sólido quanto aço. Qual um monte de ferro retorcido e prensado, começou a desabar sobre eles rapidamente, já que era mais pesado. Fuji desfez o encanto protetor e conjurou o feixe de energia que usara nos magos inimigos, para tirar o grupo da trajetória da queda dos restos da aeronave. Chegaram suavemente às dunas. O helicóptero já caíra e explodira, ardendo em chamas.

Acudiram o piloto, que sofrera alguns cortes no rosto. O capacete estava aberto ao meio, porém cumprira o seu papel e protegera-o de algo pior. Permanecia desacordado, e não apresentava outros sinais de ferimentos mais graves.

— Estamos próximos... — Fuji observava o local onde ocorrera o acidente. Estavam a cerca de vinte metros do início da depressão, e uma forte barreira mágica impedia o acesso a ela.

— Agora não há mais volta. — Sonomi tentava assimilar aquilo tudo. Passaram-se apenas dois minutos da ocorrência do acidente. Caíra de uma altitude não muito grande, mas bem maior do que a da mastaba em Saqqara. Fuji estava com ela desta vez, porém ainda não acostumara-se com essa coisa nova que era a magia. Sentia medo sim. Mas não desistiria agora.

— Precisamos deixar o piloto em um lugar seguro. — procurou um abrigo natural, mas só vislumbrava areia pra todos os lados.

Fujitaka aproximou-se dos restos ainda incandescentes, estendeu os braços à frente e juntou as duas mãos em direção ao incêndio. Abriu-as, formando assim um pequeno mas concentrado jato de ar. Conforme separava as mãos, o sopro ia se tornando mais potente, tornara-se vento. Em poucos minutos, o fogo extinguiu-se.

— Vamos colocá-lo aqui. — sentenciou ele. Ajeitaram o piloto no banco do co-piloto, que resistira melhor ao acidente. Como a cabine estava retorcida, o sol não incidia diretamente sobre ele. Poderia então suportar bem o calor do deserto até eles voltarem (caso voltassem). Deixaram um cantil com água ao lado dele e seguiram em direção à depressão.

— Como é que você faz estas coisas, Fuji?

— Boa pergunta. Ainda estou me acostumando com isto. — essa resposta deixou Sonomi apreensiva. Calou-se, já que também presenciara com ela mesma fatos muito estranhos ocorridos, como o da bolha de proteção em Saqqara. Fuji continuou: — Algumas coisas eu andei praticando. Outras porém eu conheço de longa data, de estudos por curiosidade. Estou testando e vem dando certo. É algo que está me impressionando constantemente.

— Não acha que deveria conhecer mais antes de enfrentar perigos tão grandes pela frente? — ela acabara de colocar em palavras um dos maiores medos que ele tinha.

— Sim, acho. Mas não há tempo. Tenho que dar o melhor de mim agora. Se não for suficiente...

— Será sim. — segurando o braço dele, prosseguiu: — Eu confio em você. — ela parou de andar, interrompendo tanto a frase quanto a caminhada de Fuji. "Essa mulher é incrível. Acaba de me matar e de me reviver em segundos...", pensou, enquanto virava-se para ela.

— Obrigado, Sonomi... — num gesto de pura gratidão, acariciou o rosto da executiva. "Assim eu não agüento, não me provoque...", era o que pensava ao sentir o toque dos dedos na face...

Não perceberam, mas já haviam ultrapassado a barreira mágica, que não lhes impôs resistência. O que não quer dizer que a mesma não estava funcionando...

— Tem algo estranho aqui. — percebeu Fuji.

— O que foi?

— O vento parou. Mudou de direção de repente. Antes estava à nossa frente. Agora está atrás.

— Não entendi.

— Isso só pode significar duas coisas. Ou vem uma tempestade de areia daquelas, com raios e trovões, ou... Ultrapassamos a barreira mágica.

— Será?

— Só pode ser isso. Caso contrário, já teríamos percebido a mudança do vento antes.

— Como a gente não bateu nela?

— É porque queriam-nos dentro da barreira... Como em uma armadilha... Não é, Neftul? — nesta última frase, Fuji rapidamente atirou uma bola de fogo à sua esquerda, atingindo o mago que se mantinha invisível.

— Maldito Mago Clow! — esbravejou ele, caído no chão e atordoado. — Não será bem sucedido desta vez. CÍRCULO DE FOGO! — ao comando de Neftul, Sonomi e Fuji viram-se envoltos num cilindro de fogo que ia do chão até cinco metros de altura, aproximadamente. De maneira ignóbil, o fogo deixava a parte de cima a descoberto, era muito fácil sair por ali. Desconfiado, Fuji tomou Sonomi pela mão e atravessou as chamas no sentido contrário ao do mago inimigo, ficando fora das vistas dele. Mas também não percebeu que este também não queria ser visto momentaneamente. Invocava esta nova magia de ataque: — GUERREIROS SILENCIOSOS, LETAIS E RESISTENTES, LEVANTEM-SE DAS AREIAS DO TEMPO E ATAQUEM MEUS INIMIGOS!

Ao sair do fogo, Fuji pisou em algo estranho, ruidoso, quebradiço. Olhou para baixo e viu escorpiões negros e vermelhos surgindo da areia em grande número. Em segundos não tinha mais para onde andar. Sonomi se agarrou a ele apavorada, de olhos esbugalhados, tinha verdadeiro asco àquele tipo de animal.

Fuji levitou e recebeu uma bola de fogo no rosto, que rebateu com a mão direita. Com o braço esquerdo, mantinha Sonomi firmemente presa a ele. "Tenho que fazer algo... Hmmm... Já sei! Acho que aquele truque do menino chinês pode me ajudar aqui...", decidiu.

— Deus do trovão, vinde a mim! — estendeu o braço direito, mas nada aconteceu. A sua magia falhara! Arregalou os olhos, como isso era possível?

— AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! Finalmente o poderoso Mago Clow está acuado! Agora é uma questão de tempo!

— É o que você pensa... — murmurou ele, tentando convencer-se de que ele podia superar esta dificuldade. Com Sonomi nos braços, ele tinha que cumprir seu próprio juramento de não separar-se mais dela, protegê-la e vencer todo mal que se opusesse a eles. Mas como?


A magia de Fuji FALHOU! Mas como? Porquê? Será que ele não tem mesmo condições de vencer o Mal Vivo e seus seguidores?

Não há mais como voltar atrás. Dessa vez, ou ele vence esta batalha, ou o deserto egípcio fará mais uma vítima.

A partir de agora, a ação não para mais! Não deixe de acompanhar!

E não esqueça de comentar este capítulo!

Até mais!