Este capítulo é dedicado a uma grande (ou pequena?) amiga, simpática, bonita, inteligente e sempre de alto astral!
A vida acadêmica a levou para uma cidade distante, mas não vai fazer com que ela saia de nossos corações, pelo contrário!
Estou me referindo à minha queridíssima amiga Awdrey Potter!
AWDREY, sei que você está seguindo seu caminho, e isso é ótimo. Também a distância e os afazeres vão se acumular, como na vida de cada um. Mesmo assim, te agradeço pelo muito e pelo pouco que nossa amizade já rendeu, espero que seja sempre assim entre nós! ^__^
É isso aí! Vamos em frente!
DA AREIA À ESCURIDÃO
Depressão de Qattara
O dia da decisão - 10h12
Aquele jogo de gato e rato não duraria por muito tempo. Fuji deveria encontrar uma alternativa depressa ou seria abatido pelas rajadas de fogo de Neftul e cairia num mar de escorpiões. Voar para longe? Sem chance. A barreira mágica que impediu a passagem do helicóptero fechara-se sobre aquela área de batalha, e não permitia que voasse para fora de um perímetro de quarenta metros. Sonomi percebera a sua apreensão. Por isso recostou-se mais a ele e, engolindo um pouco do medo, disse:
— Concentre-se. Eu sei que você consegue achar a solução.
— Obrigado. Não se preocupe. — essa mulher era mesmo fantástica. Ela estava certa, se não usasse a cabeça muito bem, não venceria nada e nem ninguém.
Primeiro queria decidir como proteger Sonomi de tudo aquilo que estava acontecendo. A melhor opção era no ar, longe dos aracnídeos. Soltou-a de súbito, mantendo-a sob seu poder de levitação.
Neftul atacou-a sem pensar, recebendo de volta seu próprio ataque. Como Fujitaka previra, a magia que a protegera em Saqqara estava bem ativa, e refletiu o ataque flamejante de volta para quem o enviara. Sonomi estava segura.
Não foi só essa magia que analisou. Fixou-se nos escorpiões, e percebeu algo estranho: todos eles tinham um elemento comum... Era um nível mágico diferente, parecia ser o mesmo para todos... O que significava isso?
Olhou para Neftul e constatou que não era atacado. Não visualizou nenhuma relação mágica entre eles, o que queria dizer que o mago inimigo não os controlava. Pelo que podia perceber, havia uma sensibilidade à magia por parte dos peçonhentos animais.
Teria de arriscar um movimento. Avançou, em vez de se esquivar. Rebatia todos os flamejantes ataques. Pousou na areia desértica, e o que esperava aconteceu: como seu poder acentuara-se, os aracnídeos eram afetados, vários deles se desfaziam ao contato com sua aura. O resultado foi que um clarão se abriu para que ele andasse.
Sonomi sorriu. Ele estava cada vez melhor, mais confiante, mais gostoso... Ótimo!
— Será possível que você ainda não aprendeu a lição? Vou ter que derrotá-lo de novo? — arrogância? Isso era novidade em Fujitaka... Na verdade, uma estratégia psicológica para intimidar o oponente. Com más lembranças do último encontro entre os dois, Neftul não desejava aquele confronto direto tão cedo. Portanto, afastou-se a uma distância considerável e começou a realizar a invocação de um encantamento na língua copta, o dialeto egípcio nativo.
Essa atitude deu a Fujitaka uma dica valiosíssima sobre o que ocorrera antes com sua magia. Guardou essa informação naquele momento. Passo a passo, aproximava-se mais uma vez do mago de vestes negras.
Não houve possibilidade disso. Neftul terminou seu feitiço e desapareceu. Em seu lugar, uma esfera cor de chumbo surgiu, levitando a um metro e meio do solo arenoso. Logo após o surgimento dela, Fuji ouviu um barulhaço atrás dele, que o fez olhar para trás. Os escorpiões estavam literalmente voando para cima dele!
Desviou-se deles alçando vôo, quando percebeu que o alvo principal não era ele. Todos os animais presentes ali estavam sendo sugados para a esfera recém criada, e sumiam ao entrarem em contato com ela. O objeto foi crescendo cada vez mais, até que tomou lentamente uma forma estranha, como se fosse uma pequena nuvem de fumaça. Em seguida, porções dela encostaram na areia, formando sulcos arredondados, oito deles ao todo. A fumaça se dissipou, e não havia nem sinal de Neftul, tampouco dos escorpiões. Sumiram todos!
Intrigado, Fuji aproximou-se lentamente do solo. Ao tocar a areia, os sulcos começaram a sumir e reaparecer, um à frente do outro. Um barulho estranho, com se algo raspasse as dunas, fez-se ouvir. Sentiu uma forte presença mágica, estranhamente familiar. Como um raio, uma idéia percorreu sua mente, e utilizando o dialeto egípcio invocou uma magia protetora; no segundo seguinte, essa barreira foi duramente atingida por algo que não podia ver. Sentiu a areia tremendo a sua volta, e logo depois novo impacto, dessa vez mais forte ainda.
Com aquela idéia ainda pululando na mente, Fuji tomou uma atitude inusitada: começou a abrir caminho por baixo da areia, com pequenas rajadas de energia. Foi cavando até achar um terreno mais consistente, para depois aprumar-se no sentido horizontal e continuar abrindo caminho lentamente. O mesmo ruído que ouvira na superfície o acompanhava, cada vez mais forte... Olhou para trás, e viu então o que suspeitava... Fôra seguido por um enorme escorpião, que ficava invisível diante da luz do dia. Embaixo da terra, porém, era perfeitamente visível o seu corpo encouraçado e suas garras venenosas.
Esperou o bicho chegar perto e subiu, abrindo caminho pelo solo em alta velocidade, até chegar ao ar novamente. Ali, invocando o poder dos deuses egípcios, conjurou uma pequena rajada de água dentro do buraco que havia acabado de fazer.
Logo em seguida, o escorpião apareceu, molhado e coberto de areia como se fosse um bife à milanesa. Finalmente, podia ser visto. Enorme, medindo cerca de cinco metros no corpo e mais uns sete metros de cauda. O ferrão era quase do tamanho de uma pessoa adulta, e suas garras mediam o dobro disso, ameaçadoras. Com suas oito patas, era muito veloz, Fuji agora se dava conta do perigo que corria. Não se alterou, porém.
Sonomi arrepiou-se toda, já detestava aquilo pequenininho, imagina em versão king size?
Como que sentindo o medo dela, o escorpião dirigiu-se para onde estava, escalando com suas patas a barreira mágica, uma propriedade até então surpreendente. Como ele era muito veloz, ficou em cima de Sonomi em questão de segundos e pulou sobre ela. Apavorada, viu aquele bicho enorme caindo em cima de si, e foi arregalando os olhos e gritando o mais alto que podia.
No segundo seguinte, porém, estava bem aninhada nos braços de Fujitaka, novamente. Ele a atraíra para perto de si e para bem longe do perigo.
— Calma, eu estou aqui, Sonomi. Nada vai te acontecer, eu prometo. — Fuji colou seus lábios no ouvido esquerdo dela, para dizer isto. O coração, antes disparado pelo medo, agora acalmava-se. Abraçou-o forte, beijando-lhe o rosto agradecida.
— O que faremos agora? Não podemos escapar? — perguntou, sem obter resposta... Começou a preocupar-se com esse silêncio súbito...
— Vou ter que fazer algo que eu não gostaria... Mas é necessário... — olhos fixos na areia, Fuji decidira-se naquele instante tomar medidas drásticas. Foi para o chão, ciente que em poucos segundos o animal estaria sobre eles. — Não olhe Sonomi, não será muito agradável...
— Tudo bem. — colocou o rosto em seu peito e, abraçada a ele, esperou.
Fujitaka já percebera que também Neftul estava invisível. Pensava que estivesse montado sobre o escorpião ou algo parecido. Entretanto, enquanto saía da areia e soltava a rajada de água, deu-se conta de mais uma presença mágica próximo a ele. O mago inimigo ocultara-se para não se percebido por eles e pelo animal, e o estimulava por meio da magia a atacar qualquer ser vivo que encontrasse pela frente.
Era ele ou os dois. Fuji escolheu os dois, óbvio. Usando da mesma técnica anterior, criou um pequeno acúmulo de água sobre si. Em seguida, disparou isso sobre o mago, que aguardava a tudo imóvel e invisível a dez metros dele, na direção leste. A água atingiu-o em cheio, molhando-o por completo e derrubando-o sobre a areia. A conseqüência imediata é que o inimigo agora era visível.
Rapidamente, Fuji pegou Sonomi no colo e voou na direção do mago, fazendo o animal segui-lo. Parou ao lado do atordoado Neftul, ainda caído, e esperou. O escorpião deu o bote quando julgou-se próximo, e no segundo seguinte, em vez de abocanhar o casal, destroçava o corpo do mago, que nem teve tempo para gritar. Enquanto isso emitia ruídos horrendos e nojentos, como se estivesse apreciando aquela tarefa. O sangue espirrou por sobre ele, o que não o fez diminuir a intensidade de suas ações, pelo contrário, acelerou-as.
Assim que o inimigo foi abatido, puderam ver o escorpião, pois a magia de invisibilidade havia sido desfeita. Ele era negro, totalmente negro, um dos mais perigosos e venenosos. O animal, após perceber que sua presa já não tinha vida, arrastou-o para uma duna próxima e enterrou-se na areia junto com ele. Era a chance de partirem dali.
Fujitaka avançou para dentro da Depressão de Qattara com Sonomi no colo, e com mais experiência para os próximos perigos que enfrentaria. Agora sabia, por exemplo, que só com os dialetos egípcios poderia utilizar magia. Certamente, novas dificuldades o aguardavam adiante, precisava se acostumar com a idéia.
Sonomi ainda estava tentando se recuperar do que vira. Ela tinha visto toda a cena de extermínio, apesar da recomendação. Estava em choque, não emitia nenhuma palavra, mal se movia.
— Você está bem? — perguntou ele. Como ela não respondeu, apelou : — Já que é assim, vou aproveitar e tirar uma casquinha... — colocou-a diante de si, e, mesmo no ar, enlaçou-a pela cintura com os braços... Como supunha, logo veio um tapa.
— O QUE É QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO?
— Deu certo, você já melhorou! — quase gargalhando, viu Sonomi fechar a cara para ele. Aparentemente, o transe passara. Era o que queria no momento, mas só nesse momento...
— Não brinque assim comigo, professor! — envergonhada e ainda abalada, Sonomi ralhou com ele. No fundo, ainda tentava digerir o que presenciara. Sim, Fujitaka fora responsável por uma morte de verdade, era capaz disso...
— Tudo bem, desculpe... — ainda exibindo ares de felicidade, Fuji seguiu adiante. Em dez minutos, estava defronte à Pirâmide Negra.
Curiosa construção essa. Mal dava para divisar os blocos de pedra que a constituíam. Quatro torres negras estavam fincadas na direção dos vértices dela. Imediatamente, Fuji lembrou-se das fotos tiradas via satélite que Indy lhe mostrara. Agora faziam sentido...
Não haviam entradas visíveis, portanto teria que improvisar alguma coisa. Carregava algumas bananas de dinamite que Indy lhe emprestara, mas achava que isso não iria funcionar, dada a enorme força mágica que já detectara a quilômetros, e que agora apresentava-se com uma gigantesca intensidade, assustadora. Explosivos não adiantariam, certamente.
Descobrira, entretanto, um lugar na pirâmide que parecia ter uma força menos intensa, próxima da torre norte. Dirigiu-se para lá, e constatou uma pequena entrada, onde dava pra passarem agachados. Não gostou, parecia uma armadilha. Portanto, conjurou os deuses egípcios para criar uma bola de fogo, semelhante a que tinha sido usada contra Lara e Sonomi em Saqqara. Com isso, alargou a pequena abertura, permitindo que os dois passassem por ali com folga.
Enquanto entravam, nuvens negras cercavam a região, não permitindo que a luz do sol chegasse naquele lugar. Apenas relâmpagos de cor púrpura surgiam ocasionalmente entre os topos das torres e o da pirâmide. Encontravam-se portanto numa completa escuridão, sem enxergar nada, nem um palmo adiante do nariz.
Fujitaka segurava com força a mão de Sonomi, e levava adiante de si uma pequena bola de energia luminosa. Reparava bem nas paredes do corredor, constatando de forma surpreendente que não haviam gravuras, nem hieróglifos, nem qualquer outro sinal gráfico marcado nelas. Somente a cor negra, e nada mais. Tocou a parede, sentiu calafrios lhe percorrendo a espinha. Aquilo era para infundir o medo nos corações. A parede estava úmida, parecia pulsar, como se estivesse viva.
Olhou para Sonomi, que ao seu lado também tocava a parede. Ela também teve a mesma impressão, este lugar não era comum. Nunca se sentira daquela forma, como se estivesse acuada, sem saída...
Certamente, isso fazia parte da magia daquele local. Perversa, maligna, intimidadora...
Fujitaka olhou em volta, procurando alternativas, e resolveu continuar. Voltou-se para procurar Sonomi, e não achou. Chamou-a várias vezes, quase gritando. Andou vários metros à frente e retrocedeu mais alguns, em vão. O medo de perdê-la agora tomava conta de seu interior.
Súbito, percebeu que isso era mais um efeito mágico. Concentrou-se, e descobriu Sonomi embaixo dele, no piso inferior. Ela caíra num alçapão. A estranha força protetora que a seguia manifestara-se mais uma vez, evitando ferimentos na queda.
Preparava-se para ir até ela, quando sentiu uma presença mágica diferente. Foi só um segundo, mas o padrão daquela presença não era maligno, muito pelo contrário. Procurou encontrá-la, e localizou-a em algum lugar acima dele. Seguindo em frente, acharia uma rampa que dava acesso ao piso superior. Como mariposa atraída pela luz Fuji seguiu, deixando Sonomi para trás.
A primeira batalha foi vencida.
Mas agora eles estão no centro de todo o mal. E de cara, já estão separados. Que força é essa que pode afastá-los?
O que acontecerá agora?
Novas emoções, cada vez mais fortes, nos próximos capítulos. Preparem-se para batalhas cada vez mais emocionantes.
E mais convidados especiais aparecerão em breve...
Não deixe de postar um review. E até o próximo capítulo!
