Existem pessoas que a gente conhece que são especiais. Mesmo que as encontremos somente uma vez na vida, fazem diferença.

É o caso dessa pessoa a quem dedico este capítulo de minha fic. Eu só tive oportunidade de encontrá-la uma única vez, e guardo isso como um bom momento que tive. Com ótima conversas, dona de uma simpatia ímpar e opiniões firmes ante qualquer argumentação, Samille é uma mulher notável. E muito bonita também, devo dizer... :-P

CHERRY, foi um grande prazer, espero que nos encontremos novamente. Parabéns por tudo de bom que está acontecendo em sua vida e, principalmente, parabéns por ser quem você é: TOSCA SIM, NOJENTA NÃO! Eheheheheheh...

E vamos nessa!


FACE A FACE COM O INIMIGO

Depressão de Qattara

O dia da decisão - 15h09

Suava frio. Tremia dos pés à cabeça. De forma estranha, porém, nunca estivera tão autoconfiante nesta luta quanto agora.

O deus Serpente não hesitou: atacou com tudo o que tinha. O bote certeiro fez um buraco no chão, pois o aventureiro saltou de lado e esquivou-se. Rapidamente, Sebek liberou uma rajada de fogo. Calculou mal, Indy estava muito perto e atacou-o, enrolando seu chicote no pescoço do monstro. A cauda veio rápida em contra ataque, como previra; abaixou-se, e o monstro golpeou o próprio tronco. Num movimento ágil, prendeu a ponta da cauda contra o tronco com o couro do chicote e apertou o máximo que pôde. O inimigo se desesperou, e num urro animal expandiu seus pulmões, libertando-se e jogando o herói para longe.

— Droga, essa peste é muito forte! — balbuciou ele, levantando-se o mais rápido que pôde. Conseguiu se esquivar de um golpe, mas não de um safanão que veio em seguida. Foi arremessado de novo, dessa vez para perto de onde estava caída a guerreira, ainda desacordada. Abraçou-se a ela, tentando arrastá-la consigo. Muito fraco, só avançou alguns metros, onde o inimigo acertou-o com a cauda.

Caiu mais à frente, zonzo por completo. Tentou sentar-se, a companheira ainda ao seu lado... Ouvia melhor do que via, e o oponente se aproximava cada vez mais. Olhou para frente, a vista embaçada, somente borrões e o cheiro fétido das escamas de um réptil gigantesco que não estava a mais de cinco metros dele, com certeza.

Algo rápido passou diante de seus olhos, e o monstro recuou. Ouviu som de golpes e gritos de dor e determinação. Firmou a vista, e viu sua amiga guerreira atacando Sebek furiosamente com a vara de combate, tão rápido que não havia possibilidade de defesa diante destes golpes.

Levantou-se com dificuldade, e de súbito uma idéia que não era original, mas que deveria funcionar bem, veio em sua mente. Conferiu seu equipamento, para certificar-se de que tinha o que precisava. Caminhou até o inimigo, que apanhava sem dó da guerreira felina, num turbilhão de golpes, arranhões e urros produzidos por agressor e agressora.

Sebek ficou até feliz em vê-lo, pois decerto seria mais fácil fazer algo com Indy do que com aquela gata brava. Por isso, atirou-se em direção a ele, já movendo-se de forma mais lenta, e sem deixar de levar pelo menos uma bordoada na cabeça a cada cinco segundos. Mesmo atrapalhado pelos ataques felinos, ergueu seu braço direito para golpeá-lo, e foi este o último movimento lúcido que produziu.

Com muito sangue frio, o arqueólogo esperou o monstro armar seu último bote. No exato momento em que isto aconteceu, sacou rapidamente de seu revólver Magnum calibre .45 e cravou uma bala no olho direito do agressor. O monstro soltou um grito misturado com urro altíssimo e lancinante, acusando a dor e protegendo o órgão ferido. Tentou recuar, mas a vara de combate da guerreira o impediu, golpeando na cabeça novamente e impulsionando-o à frente. Neste movimento, Indy atirou de novo, vazando-lhe o olho esquerdo. Sem os dois olhos, Sebek parou de se mexer, como se estivesse paralisado, por alguns instantes. Tombou finalmente para a frente, vencido e sem vida. O monstro foi se desfazendo em fumaça, retornando à forma humana de Hadek. Em seguida, o mago foi pelo mesmo caminho e desapareceu.

Com a morte do oponente, o efeito do veneno dissipou-se, e o bem estar voltou ao aventureiro americano. Massageou o próprio pescoço para relaxar um pouco, a luta não fôra fácil. Mas vencera, com seu bom e velho arsenal de armas antigas, nada de magias e estas besteiras tecnológicas de hoje em dia. Mais um motivo de orgulho para ele.

E sua companheira de lutas? Procurou-a com o olhar, achando-a recostada à parede. Em seguida, a luz que iluminava o ambiente apagou-se, e mergulharam em completa escuridão. Se era obra da magia de Hadek, era compreensível que isto ocorresse.

Procurou um sinalizador, que deveria estar preso em seu cinto. Não estava, certamente caíra pelo chão durante a batalha. E agora, para achar aquilo naquele breu? Súbito, um brilho chamou sua atenção. Um não, dois. Um par de pontos luminosos, bem perto dele. Vaga-lumes? Não, ele sentia familiaridade naquilo. Sim, eram olhos. Olhos de gata...

A felina apoderou-se de seu corpo, envolveu-o em seus braços, e lentamente iniciou um reconhecimento olfativo daquele macho. Sentiu que ela roçava suas unhas carinhosamente em seus braços, colocou uma das mãos por dentro de sua camisa e a deixou lá, acariciando-o lentamente... Pelo jeito havia agradado a fêmea...

Sentiu que lhe entregava algo na mão esquerda. Era o sinalizador. Assim que o recebeu, ela começou a lamber e mordiscar sua orelha esquerda... Quanta afetividade...

Teve impressão de ouvir algo, ela tentava se comunicar de forma verbal, porém incompreensível. Acendeu o sinalizador, e num pulo a guerreira o soltou e colocou-se à sua frente.

Agora que via o seu rosto claramente, confundia-se. Era uma fêmea de belo porte físico e de belas feições. Humanas, sem dúvida. Seu rosto não tinha pêlos, porém a pele em volta dos olhos era mais escura, castanha. Estendeu sua mão a ela, tomando-a de novo e trazendo-a para perto de si.

— Indiana Jones. — disse isto apontando para si próprio. Aqueles olhos felinos hipnotizavam... Ela alisou seu peito novamente...

— Cheetarah... — respondeu a guerreira, esboçando um sorriso, sem parar de acariciá-lo. Seu olhar parecia brilhar ainda mais, começou a inspecioná-lo novamente de alto a baixo...

No instante seguinte, largou a mão dele e guardou a distância de dois passos para trás. Estendeu o braço, dominando novamente a vara de combate, lançando um último olhar ao companheiro de batalha mais interessante que conhecera. Girou o bastão e o jogou para o alto. O símbolo rubronegro de seu peito uniu-se ao círculo improvisado, e num brilho vermelho Cheetarah se foi, tão rápida e silenciosa como chegara.

Em seu lugar, Sonomi caiu de joelhos, cabisbaixa, com o pingente na mão. Ergueu a cabeça, e viu Indy com o sinalizador bem próximo dela.

— Deu certo? — perguntou, meio descrente.

— Muito certo. — confirmou ele, sorrindo. Ajudou-a a levantar-se, após alguns segundos.

— O que aconteceu? — continuou, retirando o pó de suas roupas.

— Você se transformou... — começou a explicar, sem saber como iria terminar.

— Como assim? Não lembro de nada! — coçou a cabeça.

— É melhor assim. Pode deixar que estas lembranças eu guardo sozinho... — completou ele, sorrindo. — O mago foi destruído. Vamos embora.

— Para onde, senhor arqueólogo? — retrucou ela, irritadiça. Ainda estava meio zonza também... Tentou dar dois passos e quase caiu.

— Olhe para trás, Sonomi. — pediu ele. Ela atendeu, e viu uma abertura iluminada a cerca de vinte metros deles. Para lá se dirigiram.

— Isto não estava aqui antes. — observou ela.

— Concordo. Creio que era essa passagem que ele não queria que encontrássemos. — completou ele.

Adentraram o recinto, era uma pequena sala com um pedestal de pedra bem no centro. Nele, algo emanava uma luz clara, brilhante... Era um amuleto, preso a um cordão de prata. Um círculo envolto num "U" estilizado, algo que Sonomi nunca tinha visto.

Mas Indy conhecia muito bem. De repente, todo aquele mistério envolvendo a profecia que encontraram em Saqqara não lhe parecia mais absurdo... Pelo contrário, entendia agora que a possibilidade do Mal Vivo triunfar era real.

Apoderou-se do talismã, e viu que isto não causou nenhum efeito colateral. O deus Serpente Sebek era mesmo a proteção definitiva daquela jóia.

Dirigiam-se para fora da sala, quando uma parede da mesma cedeu, revelando um novo caminho a seguir. Era uma rampa, e levava para o andar de cima, de onde Sonomi caíra.

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Fujitaka ficou zonzo por alguns momentos, não entendeu bem imediatamente. Logo em seguida, percebeu que tinha sido teletransportado para outro lugar. Acreditava estar na mesma pirâmide, mas em outra parte dela. A escuridão não lhe permitia reconhecer nada. Invocou um pequeno globo luminoso, e assim percebeu que ali era a entrada de uma grande sala. Seguiu em frente, adentrando o recinto que, por ser demasiado grande, não era totalmente iluminado. Elevou a altura dele e aumentou sua intensidade, para poder ver melhor onde se encontrava.

A intensidade da luz foi aumentando, e ele podia ver melhor a cada segundo. Reparou que bem no centro da sala havia um objeto no mínimo estranho. Um imenso caldeirão de metal, com pés centrados em uma área circular delimitada no chão. O que aquilo estava fazendo ali, no meio do Egito?

Um brilho diferente o fez olhar para cima, detendo subitamente a ascensão de sua lâmpada improvisada. A sala ia afunilando para o alto, mas o centro não tinha teto. Por isso, percebia-se a precipitação de trovões em tons púrpura e rosa, como vira do lado de fora antes de entrar. Entendeu que havia chegado no topo da pirâmide.

Puxou o globo um pouco para baixo, temendo que o mesmo fosse atraído para fora e que ficasse sem iluminação. Isso o fez encarar sem aviso prévio as faces horrendas de quatro estátuas enormes, com rostos que lembravam animais e de aspecto aterrorizante. O que era aquilo? Fuji nunca tinha visto nada parecido, nem lido sobre alguma divindade com aquela forma naquela região... Uma descoberta totalmente nova, portanto, ou pelo menos inteiramente desconhecida.

Teve medo. Sentiu isso naquele instante, quando percebeu que o ar em volta estava mais pesado do que o costume, e que mesmo com o ambiente iluminado pairava uma atmosfera sombria, gélida, mórbida... Essa impressão acentuava-se a cada segundo.

Ouviu um som arrastado, como se fossem pedras se arrastando sobre pedras. Virou-se para a esquerda, e pareceu ver um sarcófago em pé abrindo-se lentamente, sem ninguém para fazê-lo. Arrepiou-se, enquanto aquele ruído parecia durar uma eternidade.

Uma mão enfaixada surgiu de dentro da escuridão, prenunciando o que viria. Uma figura totalmente envolta em faixas, certamente um pouco menor do que ele, mas com brilhantes e apavorantes olhos vermelhos.

— Você chegou... Finalmente... — com uma voz cansada, a criatura pronunciou-se. Em inglês.

— Sim. Você é o Mal Vivo? — perguntou Fuji, quase não acreditando.

— Este é um de meus nomes... — respondeu. — Você é Fujitaka Kinomoto, o Mago do Conhecimento do Bem. Chegou muito rápido até aqui, estou impressionado. — acrescentou.

— Ainda não terminou. Devo detê-lo agor... — parou a frase no meio. A criatura estendeu os braços, travando sua garganta.

— Tem certeza de que quer realmente fazer isso? Você não está à altura desta tarefa, como pode perceber... — pausadamente, desafiava o mago, que momentaneamente parecia vencido por um poder superior. Fuji colocava as mãos no pescoço, tentava se desvencilhar daquele encantamento, que era muito forte, mal emitia som algum.

A criatura andou até o caldeirão e parou diante dele. Vestia um manto com capuz vermelho, que escondia parcialmente seu corpo decrépito e putrefato. Fuji estava com problemas de respiração, quando sentiu-se atraído por força da magia inimiga. Num instante, estava imóvel ao lado da múmia, que olhava o interior do recipiente.

— Reconhece esta cena, mago? — quanto mais perto, mais asquerosa era a sua voz. Fuji olhou, e viu aparecer na água a sala onde estivera há pouco, com a moça deitada sobre a cama de pedra. — Esta é a bela deusa da profecia. E hoje, finalmente, eu obterei seu poder! — declarou, com satisfação. Fuji continuou olhando para a cena, e viu Sonomi e Indy entrando ali. — Preste atenção, mago, no que seu amigo traz em suas mãos: a essência da deusa! E ela estará comigo em poucos segundos! — seguiu-se a isso uma risada louca e lúgubre, com Fujitaka ficando cada vez mais apreensivo, na medida em que seus amigos andavam em direção ao mesmo ponto em que fora teletransportado. Nem ao menos poderia falar algo, certamente o Mal Vivo conhecia bem o seu potencial e não permitia que pronunciasse nada. Não tinha nenhuma opção por enquanto. O máximo que poderia fazer é concentrar-se nos acontecimentos.

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Indy e Sonomi chegaram a uma sala que ambos não tinham visitado antes. Certamente estavam acima do corredor onde passaram antes (ele entrou por ali também), o que recomendava cautela. A figura da moça no meio da sala era óbvia e chamativa, o que fez com que Indy começasse a andar de maneira circular até chegar nela, tentando evitar alguma armadilha ou truque.

Achegaram-se à cama de pedra, onde viram que a bela mulher estava viva e respirando. Indy a tocou, e deduziu que estava sem sentidos. Não deveriam deixá-la ali, isto era certo, ainda mais se ela fosse quem ele estava pensando que era... Tomou-a nos braços, permitindo que Sonomi a examinasse. Parecia bem, só estava mesmo desacordada. Levaram-na de volta para a rampa de onde vieram, dali pensariam no que fazer melhor...

Essa seria a atitude mais sensata, sem dúvida. No meio deste trajeto, porém, foram todos envoltos em uma brilhante luz azul e sumiram, reaparecendo novamente numa sala de aspecto sombrio e gélido. Indy ficou tonto com esta transição de ambientes e caiu para trás, com a moça no seu colo e com Sonomi ao seu lado. Esta caiu virada de frente para Fuji, que já estava sentindo falta de ar. Apesar de gostar de reencontrá-lo, assustou-se com o desespero dele, de tal maneira que começou ela mesma a se desesperar.

— Perfeito! Já posso começar! — disse a criatura, esboçando o que seria um sorriso quando os amigos se reuniram estatelados no chão.

— Não... — balbuciou Fuji, sentindo desfazer-se o encantamento que o afligia. — Eu falhei... — pressentiu o que viria. Viu o Mal Vivo dar as costas a eles, olhar para cima e proferir as palavras capazes de aterrorizar o mais valente dos mortais.

— Antigos Espíritos do Mal... — as quatro estátuas emitiram um brilho vermelho e sinistro de seus olhos, para em seguida iluminá-lo. Abriu os braços, como se buscasse receber mais poder: — ... transformem essa forma decadente... — a luz vermelha começou a brilhar em volta dele, enquanto seu corpo parecia crescer. Ele endireitou a coluna, as faixas que o cobriam seu corpo começaram a soltar-se. A cabeça se descobriu, revelando um elmo com duas serpentes no topo, enfrentando-se uma à outra: — ... em MUMM-RA, O DE VIDA ETERNAAAAAA!!! — a voz débil de múmia transformara-se numa voz poderosa, ameaçadora. Um brado de guerra confirmou que agora ele estava repleto de poder, enquanto mais e maiores trovões se ouviam do lado externo da pirâmide. A impressão que se tinha é que ele agora estava com pelo menos dois metros e meio de altura. O corpo tinha uma coloração azulada, revelava-se forte e intimidador...

Transformação completada. Mumm-Ra estava pronto para dar início ao ritual pelo qual elevaria ao máximo seus poderes, e finalmente dominaria sobre a Terra.

Antes daquilo, Fuji fora facilmente vencido. Como poderia enfrentá-lo, agora que sentia que seu inimigo pelo menos triplicara suas forças?


Cheetarah®, Mumm-Ra® e os Antigos Espíritos do Mal® são personagens dos estúdios Rankin/Bass™ e Pacific Animation™. Todos os direitos reservados.

O Mal Vivo está desperto. Conseguirá ele obter todo o poder de que deseja?

Logo saberemos...

Até o próximo capítulo!