Sara estava aliviada de ter terminado aquele maldito caso, não aguentava mais lidar com lixo e coisas em decomposição, mesmo que aquele fosse o seu trabalho algumas vezes ela queria fugir dele. Jogou sua bolsa no chão assim que atravessou a porta e os seus sapatos foram deixados para trás no caminho até o seu banheiro, assim como algumas peças de roupa. Foi um banho quente e relaxante, a sua pele parecia renovada. Ela se enrolou em seu roupão felpudo e colocou uma toalha na cabeça, ela caminhava para a cozinha mas antes ligou o som em uma rádio qualquer, iria preparar um café reforçado para se entregar ao sono. Ela estava mexendo uma massa de panquecas quando algumas notas que ela conhecia bem começaram a tocar, era One way or another. Ela se lembrou de quando Nick a pegou cantando e a timidez tomou conta completamente dela, depois desse dia nunca mais se deixou cantarolar pelo laboratório, mas agora era sua casa, ninguém podia impedi-la. Seu corpo começou a se mover discretamente, só o seu pescoço acompanhava o ritmo, ela sentia o resto do seu corpo se entregando, passou para os seus ombros e quando deu por si já estava em seus quadris, que iam e vinham acompanhando a batida. Em seguida foi sua voz que se entregou, ela estava se mantendo só no murmúrio, mas a espátula que ela estava usando para virar as panquecas já havia virado microfone e seu corpo balançava de um lado para o outro.

- One way or another. - Seu corpo balançou pra um lado da cozinha separando os pratos. - I'm gonna getcha. - Mais um movimento de quadris e ela estava de volta ao fogão. - I'll getcha, I'll getcha, getcha, getcha, getcha!

Ela ergueu as mãos com sinal de rock n' roll no final da música e foi quando o ritmo mudou que ela ouviu um pequeno bufado. Seu corpo, que antes estava mole com a música, endureceu com vergonha, ela tinha esquecido aquele detalhe enorme. Um detalhe de cabelos grisalhos e olhos azuis, que ela sabia que assim que virasse estaria lhe olhando com aquele sorriso moleque de que "havia me pegado". Ela se virou devagar, sentindo a cor subir por todo o seu rosto e colo.

- Você deveria cantar mais vezes.

- Gil.

- Estou falando sério, querida. - Ele descruzou os braços e começou a se aproximar dela, parando com os dedos presos no laço do roupão dela. - Na verdade, eu não poderia afirmar qual a melhor parte, sua voz, ou - A mão dele subiu para o rosto dela e ele diminuiu a distância entre eles dando-lhe um beijo suave. - a sua interpretação de dança.

- Eu espero que não aconteça mais casos de surpresa, mas a verdade é que ainda não estou acostumada com você chegando assim.

Ela encostou a testa no ombro dele, mesmo que estivesse sentindo todos os seus sentidos comprometidos pela vergonha, não conseguiu evitar de aproveitar o cheiro que vinha do pós barba dele. O cheiro de queimado começou a tomar conta da cozinha e Sara se soltou Grissom rápido para desligar o fogo de suas panquecas, que agora pareciam tudo, menos café da manhã. Ela voltou seu olhar para ele, os olhos marejados e os lábios comprimidos. Ele achou que ela não poderia ficar mais linda, a puxou para os seus braços e começou a fazer carinho em suas costas.

- Eu posso cuidar daqui e fazer nosso café da manhã, mas se você me responder uma coisa.

- O que?

- Você tem o CD com essa música que estava cantando?

- Tenho, - ela olhou pra ele sem entender. - por quê?

- Eu cuido de tudo, se você se apresentar pra mim de novo.

- GIL.

Ele soltou uma risada sonora e ela teve certeza que por esse momento ela dançaria e cantaria qualquer coisa que ele quisesse. Ela o amava e de alguma forma sabia que ele a amava também.