Best Match suprema


Sinopse:

Misora nutria sentimentos preciosos por Sento, e nem fazia ideia de que era correspondida. No entanto, quando a vida do gênio corre perigo mais uma vez, Misora abre seu coração de maneira inesperada, sem saber que estava diante de uma terceira pessoa…


Era madrugada avançada. Os pesados pingos de chuva caíam incessantemente, uma chuva que se estendeu por toda a noite, parecendo que não iria cessar tão breve. No porão secreto do Café Nascita, lar e base de operações de Kiryuu Sento, o aludido se encontrava inconsciente, enquanto as várias feridas em seu corpo eram tratadas por Misora. Todo o tronco de Sento estava comprometido. Seu abdômen, seu peito, ombros e braços, cobertos de feridas, que a filha de Souichi trata com delicadeza e muita dedicação.

Sempre foi assim… há mais de um ano, Misora mantinha aquela mesma rotina de cuidados para com o rapaz a quem Evolt definiu como "o escalado para o papel de herói da justiça". Que ironia… sendo o próprio Evolt o responsável por colocar Sento no caminho de Misora, e ela, agradeceria a ele eternamente por isso.

Segundo suas próprias palavras, Sento a salvou, e seria grata a ele por toda a vida. Ele a salvou do conflito interno que sentia em relação a seus poderes, e como ela o ajudava, ao mesmo tempo em que ambos construíram o Build juntos.

A incansável rotina de batalhas e a guerra, não esgotava e angustiava apenas Sento, como Misora também, que sempre se preocupava com a sua segurança como se tratasse de sua própria vida. Eles se ajudavam e cuidavam um do outro ao longo daquele ano, e, posteriormente, no decorrer da guerra. Não soube definir em que momento exatamente percebeu estar apaixonada, mas seu encantamento por Sento se fez presente desde o dia em que o conheceu, e se negava a admitir, pelo menos até que todo o conflito entre as três nações disputando a posse da Caixa de Pandora fosse erradicado. Continuar ao lado dele o apoiando dia após dia já era o suficiente.

Talvez fosse pela convivência próxima, afinal, eles acabaram por morar juntos quando Shouichi acolheu o físico amnésico. Desde então, os dois desenvolveram uma amizade de laços estreitos, onde um sempre dizia ao outro o que era necessário na hora certa.

Embora Misora estivesse acostumada a lidar com a sempre presente preocupação cada vez que Sento corria do Café Nascita para uma batalha, aquela vez estava sendo a pior de todas.

Ryuuga estava sob posse de Evolt, e para resgatá-lo, Sento se viu obrigado a usar um item ainda inacabado, em um plano para liberar Banjou e derrotar Evolt, porém, ele iria se sacrificar no processo. Misora tentou impedi-lo, mas sem sucesso, restando a ela apenas cair em prantos, e rezar pela segurança de seu amado. Ela ainda podia sentir a mão dele pousando suavemente sobre o topo de sua cabeça, e acarinhando-lhe os cabelos antes de partir no dia anterior. Tal gesto fez o corpo da jovem experimentar um calor reconfortante e estremecer de emoção e aflição ao mesmo tempo, pois corria o risco de nunca mais voltar a vê-lo.

Seu desespero tinha fundamento, pois a razão pela qual Sento se encontrava inerte naquela cama era, de fato, o resultado da fatídica batalha de horas atrás. Ele prometeu que voltaria, contudo, ao salvar Banjou, Evolt possuiu o corpo de Sento para escapar da morte, desta vez, invertendo os papéis e obrigando o rebelde Ryuuga a correr em auxílio ao seu amigo. Quando finalmente Sento é libertado do controle do pior de seus inimigos, ele cai inconsciente, sendo trazido para Nascita, onde permanecia até aquele momento sob cuidados e vigilância de Misora.

Faz quase 24 horas que Sento se mantinha desacordado, e tal quadro colocava sua vida em risco a cada minuto que passava. De joelhos e apoiada na cama ao lado do gênio, Misora observa seu harmonioso rosto adormecido sem esboçar qualquer sinal de reação, e movida por um impulso muito mais forte do que ela mesma, envolveu a mão direita de Sento entre as suas, na tentativa desesperada de fazê-lo reagir.

- Sento… por que? Por que não acorda? Você disse… - pausa por uns instantes, se controlando para não chorar - Você prometeu que ia voltar. Então por que? Seu grande idiota! Se você morrer… eu… - sua voz falha por alguns instantes, seu rosto esquenta, e lágrimas dolorosas rolam por seu rosto angelical, já que não suportava mais tamanha dor - Eu te amo, seu imbecil… você tem que viver…

As palavras saíram como um alívio, mesmo que ele não as escutasse, mas ela se sentia sufocada, e precisava dizer de alguma forma, ainda que o mais interessado não a estivesse ouvindo. Mesmo Ryuuga garantindo que Sento não estava mais sob posse de Evolto, pois seus cabelos estavam negros novamente, o insistente estado de inconsciência do físico era o que mais preocupava. Seria ainda algum resquício do veneno de Evolt que Sento recebeu em seu corpo anteriormente que o impedia de despertar? Foi o que Misora pensou quando nem mesmo os poderes de cura de Vernage o fizeram recuperar os sentidos. Infelizmente, o vilão estava certo. Os poderes da rainha de Marte haviam se esgotado. Mesmo triste e derrotada, Misora não fazia outra coisa senão observá-lo, quase em transe por sua beleza, quando ela várias vezes o observava a trabalhar em seu computador, sem que ele percebesse.

- Isso não é justo… Desde que nos conhecemos, você sempre me protegeu, sempre me salvou. E agora, no momento em que mais precisa, como quando foi envenenado, eu não posso fazer nada por você… - chora inconsolável, naquela noite, que, pareceu não mais ter um fim…

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O dia estava prestes a amanhecer, e a chuva intensa da madrugada dava lugar aos brilhantes raios de sol. Depois de passar uma noite inteira de angústia em vigilância ao corpo inerte de Build, Misora abriu os olhos. Em algum momento foi vencida pela exaustão e adormeceu, sendo incapaz de precisar por quanto tempo esteve dormindo. Só o que fez foi concluir desapontada que o herói de Touto ainda estava em igual situação.

Um pouco mais descansada, os pensamentos da morena mudaram de repente no instante em que sentiu uma incontrolável vontade de tocá-lo… de sentir o calor da pele dele com a sua, nem que fosse para confirmar que ele estava bem. E o que a impedia? Foi o segundo pensamento que lhe veio à mente.

Olhando ao redor, viu que ninguém iria transpassar o local, e logo pousou sua mão sobre as bandagens que cobriam o tronco ferido do jovem, deslizando-a suavemente por ele até chegar no pescoço, seguindo até a lateral da face, onde seus melindrosos dedos alcançaram os sedosos cabelos negros. Antes que percebesse, seus lábios estavam a milímetros dos dele, e fechando os olhos, tocou-os com os seus, como há tempos ansiava, embora fosse a primeira vez que ela beijava alguém.

Assim que o beijou, Misora não percebeu que sua pulseira brilhou, ativando assim a habilidade de cura desta, que até então, não mais havia funcionado. Ela sequer poderia imaginar a importância daquele gesto, pois os intensos e sinceros sentimentos por ele demonstrados através daquele beijo foram fortes o bastante para dissipar qualquer resquício de veneno que ainda restava no corpo de Sento. Desta vez, não foi a habilidade de Vernage, e sim a força do maior dos sentimentos: o amor.

Lentamente ela se afasta envergonhada, sentindo como se o estivesse violando, aproveitando-se de sua inconsciência para fazer tal coisa, e em silêncio, sua expressão muda para um semblante surpreso ao notar que Sento estava, por fim, despertando.

O ídolo da internet aguardou enquanto o gênio reagia. Com certa dificuldade para manter seus olhos abertos, a visão embaçada ia tomando forma depois de alguns instantes. A princípio, assimilou apenas o teto branco, porém, foi incapaz de reconhecer onde estava.

- Sento, você está bem? Sento? - questiona apreensiva ao tocar-lhe os ombros, notando que ele ainda estava confuso.

- Foi bastante comovente… Isurugi Misora.

A frase solta de Sento faz disparar o coração da jovem, que é afugentado por um súbito mau pressentimento.

- Nunca pensei que seria despertado dessa maneira por uma garota bonita, mas… - se senta na cama, encarando uma atônita Misora antes de concluir seu raciocínio - Até que não foi de todo ruim, vindo de alguém a quem considero apenas como mais uma ferramenta em prol do avanço científico.

- Sento… o que aconteceu? Está com febre? Delirando? Por que fala assim comigo? - indaga incrédula, percebendo nele uma expressão diferente da habitual. Seu rosto tinha um ar vazio e até mesmo arrogante, se ela tivesse que definir. Em outras palavras, era como se fosse uma outra pessoa.

- Sento…? - murmura pensativo, levando os dedos à testa enquanto reflete por uns instantes - Quem é Sento? Meu nome… é Katsuragi Takumi.

A hospedeira de Vernage arregalou os olhos devido ao choque daquela notícia. Suas pernas tremeram, e dando alguns passos para trás, sentou-se na cadeira onde estava seu enorme coelho de pelúcia, que fora presente de Sento pouco tempo depois que se conheceram.

- Sim… agora compreendo. - se levanta da cama, indo até o espelho ao lado, onde observa a si mesmo, retirando as bandagens de seu corpo, cujas feridas haviam sido curadas por Misora, ao mesmo tempo em que desliza as mãos por seu tronco, como se estivesse verificando a si mesmo - Esta é a minha aparência agora? - questiona surpreso, atraindo um olhar incrédulo da filha de Isurugi - Estou me lembrando vagamente… Evolt fez isso comigo, mas nesse aspecto, ele até foi generoso. Não tenho do que reclamar. - admira seu reflexo no espelho, abismado, já que o músico Sato Tarou era um belo rapaz.

- É brincadeira, né? - vai até ele, e o pega pelos ombros - Sento, isso é uma piada de muito mau gosto. - sua voz saiu trêmula, pois custava a acreditar que o Sento que ela conheceu e tanto ama não estava mais ali.

- Não se trata de nenhuma brincadeira, garota. - Katsuragi se limita a responder seco

- Não se faça de bobo! Quero saber agora mesmo o que fez com o Sento! Devolva o Sento! - grita desesperada, sacudindo o corpo do cientista pelos braços, enquanto o mesmo parece pouco se importar com o que presenciava, livrando-se do agarre dela, pegando a camisa sobre o espelho da cama, vestindo-se rapidamente - Você é mesmo… aquele Cientista do Diabo?

- "Diabo" é um termo muito rude para se referir a alguém, concorda? - arqueia a sobrancelha, incomodado.

- Quem se importa? - dá de ombros - Uma explicação… eu preciso de uma explicação pra isso… - cai de joelhos, derrotada, sem conseguir assimilar toda aquela situação - Como é possível que o Sento…? - balbucia chorosa, achando que tudo aquilo não poderia ser mais do que um pesadelo terrível, do qual desejava acordar o mais breve possível.

- Ouça, garota, este a quem você chama de Sento, não existe. A propósito, sinto dizer que há pouco não foi bem ele que você beijou... - diz como se não fosse nada, sem demonstrar qualquer emoção.

Misora cerra os punhos de ódio. Definitivamente aquele homem estava longe de ser Kiryuu Sento. Era o mesmo rosto, a mesma voz, mas não passava nem perto de ter o mesmo coração.

- Pois pode ter certeza que eu jamais beijaria alguém tão cruel como você! - se levanta, secando os olhos marejados com as costas das mãos - Como se atreve a dizer que o Sento não existe? - aponta o dedo em direção à face despreocupada de Katsuragi.

- Mas quanta dificuldade para entender. Estou apenas dizendo a verdade. Esse tal Kiryuu Sento é apenas uma personalidade falsa, criada logo após a minha perda de memória. - diz calmamente, observando o ambiente ao redor, voltando a olhar para ela - Não confunda as coisas.

- Pois pra mim é o contrário. Pra mim, você é quem não existe! - grita exasperada e inconformada ao mesmo tempo - Você é um completo estranho, e por tudo o que já vimos e ouvimos falar de você, está claro que o tal cientista genial nunca sequer confiou em seus amigos, em outras palavras, você nem se compara ao Sento, pois ele sim é um verdadeiro herói!

Passa por ele acertando-lhe o ombro, e ao sair, puxa o sobretudo de Sento do espelho da cama, levando-o consigo. Misora deixa o café correndo, enquanto vários sentimentos diferentes tomam conta de sua alma. Era um misto de confusão, raiva, impotência, e, principalmente desespero, um medo quase sufocante de que talvez, aquele Kiryuu Sento gentil e altruísta que conquistou seu coração nunca mais retornasse.

Antes que percebesse, a jovem se encontrava em um parque, o mesmo lugar onde ela e Sento conversavam várias vezes sobre seus medos e angústias. Ela percebia a solidão e tristeza do fardo que ele carregava sozinho, e lamentava não ser capaz de amenizar a dor do rapaz. Cabisbaixa, sentou-se no mesmo banco onde teve sua conversa com o gênio. Ela se lembrava de cada palavra como se fosse naquele preciso instante. A última vez em que conversaram naquele lugar, foi quando Sento recebeu o choque da descoberta de sua verdadeira identidade: o Cientista do Diabo, Katsuragi Takumi. E mesmo que o físico aparentasse sua habitual calma e serenidade, Misora sabia o quanto ele estava destroçado e ferido por dentro, acometido por um devastador sentimento de culpa, forte o bastante, a ponto de fazê-lo perder seu heróico espírito de luta.

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Era quase dez da manhã, e a essa altura, todo o Team Build já estava ciente de que a personalidade de Katsuragi havia retornado, e Sento não estava mais presente, causando desolação e desapontamento em todos os seus amigos. Depois de um leve atrito entre o cientista e Ryuuga, o primeiro se dedicou a trabalhar em uma nova estratégia para a derrota total de Evolt, enquanto o resto achou por bem deixá-lo só. Embora fossem duas pessoas distintas, a maioria de seus hábitos era bastante semelhante.

Enquanto isso, Misora ainda estava no mesmo lugar, abraçada ao sobretudo de Sento, lembrando como perto dali, logo no início da guerra, ele a abraçou quando ela machucava a si mesma na tentativa de retirar sua pulseira. Ela nunca poderia esquecer aquele abraço. Era tão quente e reconfortante, que assim que ele a abraçou, uma paz profunda preencheu sua alma, acalmando-a de imediato, e ela abraçava aquela peça de roupa com devoção, tentando sentir ali o seu suave perfume, desejando do fundo do coração que aquele momento inesquecível pudesse se repetir.

Parou para pensar diante de todo aquele cenário de guerra, a culpa que ela e Sento carregavam. Ele por ter criado o Rider System, e ela por purificar as Garrafas. As forças de Seito ainda ameaçavam os cidadãos de Touto, e não era raro pessoas inocentes serem atacadas por guardas de Seito, e até mesmo por Smashs modificados pelas Indústrias Nanba. Antes mesmo que pudesse concluir seus pensamentos, se viu obrigada a correr. Um Hard Smash a perseguia. Ela corre assustada, na tentativa de salvar a própria vida, e abraçada ao sobretudo do homem que ama, deu um grito exasperado, como se fosse o último de sua existência…

- SENTO!

Enquanto trabalhava no porão de Nascita, Katsuragi levantou-se subitamente, como se não tivesse controle sobre o próprio corpo, tal que a cadeira onde estava, caiu atrás de si. Sentindo uma leve pressão em sua cabeça, o cientista teve um vislumbre de inúmeras lembranças em sua mente. Era tudo o que ele havia vivido como Kiryuu Sento, e logo após isso, ele ouve uma voz arrastada em seu subconsciente…

- Misora… ela precisa de mim… Eu tenho… que ir até ela.

- Então você é… Kiryuu Sento…?

Katsuragi desmaia no porão, no momento em que a consciência de Sento retorna. Uma vez inconsciente para o exterior, Katsuragi e Sento se encontravam frente a frente em sua psique mental. Ambos vestidos com a mesma roupa, em um ambiente de fundo preto, cercado por engrenagens e equações.

- Aquela garota é tão importante para você quanto você é para ela… e você também é de extrema importância para os seus amigos, certo? Confia neles? - indaga sua contraparte, que com sua sempre tranquila expressão, se limita a responder com um sorriso franco - Entendi… nesse caso, quero que me mostre o futuro que você construirá.

Takumi suspende a mão esquerda e se aproxima de Sento, que a toca com sua mão direita. Ao tocarem as mãos, eles assimilam um ao outro. O apelidado Cientista do Diabo "desaparece" voluntariamente, permitindo que Sento viva somente como Sento, mas ele ainda estaria na psique de Sento para ajudá-lo… sempre que fosse necessário…

Os olhos de Kiryuu se abrem lentamente em seu laboratório quando ele recobra a consciência, e apressado, corre em busca de sua amada, tendo plena certeza do quanto ela precisava dele. Foi o que sentiu ao subir em sua moto, mas ao perceber que não seria fácil achar Misora por terra, resolveu adotar uma abordagem diferente.

TAKA - GATLING

BEST MATCH

ARE YOU READY?

- Henshin!

TENKUU NO ABARENBOU

(O Agitador dos Céus)

HAWK GATLING

YEAH!

Após o anúncio de transformação do Build Driver, as magníficas asas do falcão se abrem, e Sento voa pelos céus, não demorando muito para encontrar o que buscava. Misora estava sendo atacada, e o Smash a pegou pelo pescoço sem piedade, até que de repente, um forte vento toma conta do lugar, e o Smash rola longe pelo chão, atingido por vários tiros de metralhadora, explodindo em seguida.

VORTEX FINISH

Voando com Misora de volta ao parque, ela é posta sentada no mesmo banco onde ela e Sento costumam conversar, e de costas para ela, Build desfaz sua transformação.

A princípio, o ídolo da web recua, e acuada no banco, mira o rapaz à sua frente com desconfiança, pensando se tratar de Katsuragi, até assimilar bem o lugar onde estava, bem como o próprio fato de ter sido salva por ele, algo que, obviamente, o verdadeiro Katsuragi jamais faria.

Sento é capaz de sentir o receio de Misora, já imaginando a desagradável interação que ela deve ter tido com sua outra personalidade. Ainda de costas, o físico decide quebrar aquele incômodo silêncio:

- É perigoso sair sozinha desse jeito diante deste cenário de guerra. Não foi para lutar por amor e paz que nós construímos o Build juntos… Misora? - pronuncia o nome dela ao virar-se, olhando-a diretamente nos olhos, ofertando-lhe o seu melhor sorriso.

No instante em que ouve aquelas palavras, o corpo da jovem estremece. Seus olhos se abrem ao extremo, e ela pisca várias vezes, derretida por aquele olhar. Era o mesmo tom de voz, a serenidade na fala, e, principalmente, o mais belo e sincero sorriso que apenas Kiryuu Sento possuía. Não pôde deixar de notar o semblante tranquilo do gênio. Era admirável a capacidade de Sento se manter calmo diante das piores situações, quando qualquer outra pessoa em seu lugar já teria perdido a razão. Talvez essa fosse a chave para a força inabalável do Kamen Rider Build: a serenidade e a fé em seus preciosos amigos. Misora processou todas aquelas informações. Como aquele imbecil conseguia ser tão lindo? Ela teve vontade de bater em si mesma por tal pensamento, mas as palavras que ele acabara de dizer lhe deram absoluta certeza: o herói da justiça de Touto, o seu herói, havia retornado.

- Sento… - balbucia emocionada, quando seus olhos se enchem de lágrimas - É você mesmo?

- Me perdoe, Misora. Eu sinto muito tê-la preocupado.

O físico lentamente se aproxima, pegando as mãos dela entre as suas para que ela se levantasse, notando seu sobretudo mantido no antebraço dela.

- Está frio. - brinca com um meio sorriso - Me permite?

- Claro… - entrega o casaco dele um tanto sem jeito.

- Eu poderia perguntar porquê meu sobretudo estaria com você, mas acho esse tipo de detalhe irrelevante. - observa ao ajustar a peça de roupa em seu corpo.

- Tive tanto medo de que você não voltasse… então… - nervosa, não consegue concluir a frase, e apenas se limita a mirá-lo nos olhos.

Eles mantêm o contato visual, até que o gênio a surpreende, abraçando-a com ternura, acariciando seus cabelos, onde ambos fecham os olhos, desfrutando daquele contato reconfortante e único, do qual Misora pensou nunca mais poder desfrutar.

- Isso é terrível… Evolt escapar da morte roubando o meu corpo, foi contra os cálculos de minhas equações, e também não imaginava que minhas memórias como Katsuragi Takumi retornariam depois disso. Mas agora, até me sinto agradecido por ter sido assim… - pausa por uns instantes, aspirando o aroma doce que vinha dos fios lisos de Misora - Eu pude ouvir claramente cada palavra que disse enquanto estava inconsciente. - revela sem filtros, e ela abre os olhos assustada, enquanto sente ele a abraçar ainda mais forte - Senti seus lábios nos meus, ouvi sua voz desesperada gritando meu nome por socorro… e tudo isso foi o que me deu a força necessária para voltar a ser apenas Kiryuu Sento.

- Obrigada… por me salvar de novo, Sento… - queria dizer a ele como se sentia, mas estava tão emocionada, que as palavras simplesmente não saíam. Também se sentia envergonhada, pois não fazia ideia que ele pudesse estar ouvindo o que ela dizia, mesmo estando desacordado. Queria correr para longe, pois era a primeira vez que vivenciava algo assim, mas o simples fato de estar envolta pelos braços de Build a desarmou, e ela sabia que não poderia estar mais segura.

- Eu prometi… jurei que te protegeria com a minha vida, porque você é o mais precioso para mim… Eu te amo. - murmura no ouvido dela, fazendo seu corpo inteiro se arrepiar.

O abraço é lentamente desfeito, mas eles ainda se mantêm próximos. Com a mão esquerda na cintura da famosa da internet, Sento curva os lábios em um discreto sorriso, e seus olhos miram diretamente a boca rosada de Misora, que por sua vez, observa o olhar e a expressão dele. Seus olhos brilhavam radiantes frente à ela, e a jovem apenas pensava no quanto Sento parecia tão… sedutor. Era a primeira vez que ela o via assim, e sua única reação, foi também focar seu olhar nos lábios bem desenhados dele, enquanto desliza as mãos pelo tronco do aludido, até pousar em seus ombros.

Tal como ocorreu na noite passada, Misora apenas desejava se apossar daquela boca, mas no momento, parecia estar hipnotizada, sem conseguir mover seu corpo.

Inclinando-se para frente, a fim de igualar sua altura à da moça, o gênio leva a mão direita à nuca da hospedeira de Vernage, e toma-lhe os lábios com furor e doçura, como se, de fato, soubesse que essa também era a sua vontade.

O corpo de Misora é acometido por um calor fora do comum. Era a primeira vez que era beijada por alguém, e não poderia ser melhor, já que era um beijo do homem que verdadeiramente ama.

Sento não encontrou resistência alguma, invadindo a boca da amada com sua língua, e ela, completamente rendida, corresponde, dando início a uma excitante batalha por espaço dentro de suas bocas.

As mãos de Misora deixam os ombros de Sento, e guiada por uma emoção inexplicável, seus dedos se enveredam por entre os fios lisos da nuca do físico, puxando-os levemente quando ela o traz para ainda mais perto de si.

Essa era a primeira vez, desde que perdeu suas memórias, que Sento se sentiu plenamente feliz. Embora agora as memórias de Katsuragi Takumi estivessem de volta, não havia sequer uma lembrança de ter vivenciado tamanha felicidade.

Os jovens se separam devido à falta de ar, e acariciando o rosto de Sento, o ídolo confessa seus sentimentos como sempre desejou…

- Eu também te amo… Sento.

Ela sorri emocionada, levando as mãos ao coração após sua confissão. O casal sorri um para o outro, e se sentam no banco onde tantas vezes compartilharam suas tristezas e conflitos internos. Sem nenhuma cerimônia, Misora se senta no colo de Sento, que a ampara em seus braços com todo o afeto. Com o rosto vermelho de vergonha, ela o mira enquanto ele sorri.

- O que houve? - ele questiona curioso.

- Que vergonha. - esconde o rosto com as mãos, abrindo os dedos para olhar para ele, ao que o rapaz considera um gesto muito fofo - Você sabe que eu passei boa parte da minha vida dormindo, e não tive a chance de conhecer nenhum rapaz, então eu nunca… tinha beijado ninguém. Mas isso foi…

- Isso foi o melhor. - completa a frase solta dela com um de seus bordões, e ela sorri surpresa - Não se preocupe. Eu te conheço muito bem, e agora que já tenho todas as minhas memórias, devo te confessar que eu também nunca tive uma namorada.

- Tá brincando?! - exclama espantada - Mas nem mesmo na escola, no ensino médio…?

- Não. Até onde me lembro, eu era um prodígio, sempre focado na ciência, matemática e equações físicas. Nunca prestei atenção nas garotas, até… conhecer você.

O coração da conhecida como Mii-tan aquece com aquelas palavras, e ela se vê obrigada a fazer uma pergunta:

- Sento… quando foi que…?

- Quer saber quando eu percebi que te amava?

- Então agora além de gênio, você também está lendo pensamentos?

- Talvez uma habilidade extra da Genius Bottle? - brinca divertido, acarinhando as madeixas de sua adorada, confortavelmente aninhada em seu colo.

- Seu bobo! Eu vou ficar mal acostumada com tanto carinho. Mas você ainda não respondeu a minha pergunta.

- Não sei te dizer, ao certo. Acho que fui me apaixonando durante toda a minha trajetória como Build. A forma como você sempre cuidava de mim quando eu voltava ferido de uma batalha, as brincadeiras que fazia comigo, e até mesmo as broncas, foram me encantando, semencionar… que eu também sempre te achei tão linda. - suspira enquanto disserta suas razões, apenas aumentando a euforia de Misora. Minha confiança em você se fortalecia a cada dia, e com a eclosão da guerra, meus sentimentos cresceram a tal ponto, que coloquei minha vida em suas mãos sem hesitar, para que você detivesse o poder devastador do Hazard Trigger naquela batalha por procuração.

- Eu não quero me lembrar dessa parte. Você foi terrível, sabia? - seus olhos marejam pela remota lembrança, e o gênio lamenta tê-la deixado triste - Aquilo iria te matar. Como você acha que eu poderia usar? Não poderia… ser capaz…

- Eu sinto muito… - baixa o olhar, mas ela volta a encará-lo com um sorriso, a fim de dissipar o clima triste da lembrança anterior.

- Quer saber como me apaixonei por você?

- Seria uma honra.

- Eu acho… que gostei de você à primeira vista. - dispara de uma vez, para o espanto do outrora Takumi.

- Eh? Está… falando sério?

- Muito sério. No mesmo dia em que meu pai o trouxe para Nascita e te entregou o Build Driver… eu senti algo especial quando te vi. Você foi a pessoa mais nobre e gentil que eu conheci. Mesmo sem suas memórias, nos ajudou, arriscando sua vida ao lutar sem pedir nada em troca, e mesmo depois de saber que meu pai o enganava, estando sob posse de Evolt, você nunca culpou a mim nem outra pessoa por sua desgraça, ao contrário… - se senta ao lado dele, dando-lhe as mãos - Você me salvou tantas e tantas vezes, que o meu fascínio inicial foi se transformando em amor.

- Misora… - beija-lhe a testa, emocionado com as palavras de sua amada - Você sempre foi a minha maior força. Agora que sei que meu amor por você é correspondido, reforçarei minha promessa… e usarei até a última gota de energia que me restar para derrotar Evolt, e construir um futuro pacífico para todos, onde enfim poderemos ser felizes.

- Eu sei. Sempre vou acreditar em você… meu Sento.

Misora se debruça sobre Sento e o beija apaixonada, sendo prontamente correspondida. Quando ambos experimentam uma vez mais o doce sabor um do outro, a promessa de estarem sempre juntos é renovada em seus corações, e a descoberta do imenso e inabalável sentimento que os une, trará um amanhã cheio de esperança, para o novo mundo que Build construirá…

- FIM -