Capítulo III – Operação de Bota-Fora
Severo Snape saiu da biblioteca com o pensamento preso naquilo que pretendia fazer. Ele era realmente assim, um pensamento, uma idéia fixa somente naquilo que queria fazer e como iria fazer. Nada além disso. Era mesmo possível que se morresse, não se daria conta ao estar concentrado teriam que lhe avisar. Aquela Masmorra, onde ele morava, ele, seus pesadelos, suas lembranças e centenas de livros, lhe parecia infinitamente gélida. O frio daqueles ambientes poderia ser sentido ao descer o acesso as Masmorras, já no entroncamento para a cozinha. A cozinha sim, era um ambiente quente e acolhedor. Quantos anos fazia que não entrava mais nas cozinhas? Nem ele mesmo sabia precisar. Fazia muito tempo. Ele entrou em seus ambientes particulares, onde durante o dia somente entrava uma réstia de luz e onde parecia que o frio fizera morada. Tudo era escuro, sombrio e gelado... E Severo Snape já não suportava conviver com todo aquele frio. por anos ininterruptos ele fizera do frio, juntamente com a solidão suas companhias inseparáveis, mas agora, por algum motivo, quisera expulsar o frio de lá. A solidão de alguma maneira, muito tortuosa, ele conseguira deixar do outros lado da porta. Não era a simples solidão da falta de uma presença humana a seu lado. Era verdade, casara com Sibila, e em tese poderia Ter tido companhia. Mas ele não buscava mais a companhia de ninguém.. Ele buscava a companhia de si mesmo.
Num instante tocou a campanhia para chamar os Elfos domésticos. Alguns instantes depois, com surpresa dois deles apareceram para a atender ao pedido do professor, que era muito simples. Apenas queria que lhe trouxessem chá quente e ascendessem a lareira.
Em segundos, os elfos fizeram o que lhes fora mandado e saíram de cena, e Snape voltou a ficar sozinho.
A luz do fogo da lareira, refletia nos inúmeros frascos com centenas e centenas de ingredientes coloridos dentro, que faziam parte de seus mais ricos acervos de especiarias. Ele apreciou os reflexos das chamas em cada vidro, em cada substância, em cada pedaço de árvore, em cada folha, em cada animal que estava lá conservados. De alguma maneira, tudo aquilo, a luz das chamas, parecia Ter vida.. mas ele, onde ele estava??? Talvez perdido, trancafiado num remoto espaço de tempo, talvez enchaviado em algum cofre de si mesmo, talvez preso num vidro de suas poções... onde estava seu verdadeiro eu, ele realmente não sabia.. Somente a carapuça de maldade, de sarcasmo, de frieza havia resistido aos anos, mas diferentemente das cobras, ele nunca conseguira trocar sua casca.. Talvez aquela fosse a hora de fazer isso!
Bebericando o chá, ele começou a redigir algumas cartas. Precisava entrar em contato com o mundo, com o seu mundo, o mundo das pesquisas, dos estudos, dos experimentos. Precisava se encontrar, talvez dentro de uma lombada de um livro antigo...
Na manhã seguinte, quando Severo Snape foi se arrumar para o café da manhã, ele resolveu abrir a janela. Num primeiro momento, reclamou consigo mesmo. Que idéia mais desvairada era aquela de começar o dia abrindo as janelas. A luz do sol somente lhe faria mal, afinal era uma criatura das trevas. Por instantes, ele lutou consigo mesmo, até que num repelão, abriu a janela!
Uma brisa quente e suave entrou em sua masmorra, varrendo o ambiente. Algumas folhas voaram com a força do vento.. Não que o vento estivesse forte, mas ali nunca, nenhuma brisa entrara... nenhum vento, nenhum sentimento e nenhum frescor das flores entrava por aquela janela, desde que aquele quarto passara a ser propriedade dele. O homem fechou os olhos ao sentir o vento lhe bater na face, lhe agitar os cabelos... Aquilo lhe fazia tão bem... Lhe fazia sentir, que de alguma maneira ainda estava vivo... que alguma coisa ele ainda tinha que fazer, e que por algum motivo ele ainda estava ali.
Conhecia alguma coisa de espécies de filosofias trouxas, e lembrou-se de um pesquisador trouxa, que dizia que somente os fortes sobrevivem, que somente os fortes resistem, que somente os fortes a despeito de todas as dificuldades, de todas provações conseguem ver o nascer do dia seguinte. E ele, Severo Snape era um forte. Acima de qualquer proporção ele era um forte.
Saiu de sua masmorra particular deixando as janelas abertas. E por onde passava, abria as janelas e portas.. nada deveria estar fechado, nada deveria se manter escondido do nascer do sol, do fluir de cada dia... As masmorras, cujo ar às vezes chegava a ser insalubre recebiam todas as espécies de variações de ventos, e uma correnteza enorme pegara desprevenidos os alunos da Sonserina, que saiam de seu salão Comunal rumo ao salão do café.
Naquele mesmo dia, Severo Snape organizou a maior operação de bota-fora que Hogwarts conhecera até ali. Uma vez que se convencera de que tinha coisas muito importantes para fazer, começara por organizar suas próprias coisas. haviam ingredientes vencidos, papeis inúteis, moveis ocupando espaços preciosos... Tudo ali precisava de uma grande organização. Organização não era o tema exato. Era uma reorganização, distribuição... os elfos passaram todo o Sábado transportando coisas, eliminando papeis, modificando o lugar de móveis. Dumbledore aparecera por lá, no meio da tarde, e ficou surpreso, ao ver Severo Snape, em vestes trouxas, com o rosto suado e os cabelos presos selecionando alguns livros das suas inúmeras estantes. O diretor pensou em fazer diversas observações, mas não conseguira realmente esconder o quanto estava surpreso com aquela situação. Antes que pudesse ir embora Snape o viu emoldurado pela porta e fez sinal para que entrasse.
- Alvo, não repare essa bagunça... – começou ele, passando as mãos empoeiradas pelo rosto, com uma expressão muito constrangida – Já deveria Ter feito isso a mais tempo. Desculpe por estar tirando os elfos domésticos de suas atribuições normais.
Naquele instante, alguns elfos saíram do quarto do professor, com expressões extenuadas no rosto. Mesmo para elfos domésticos, acostumados a trabalhar sem descanso, aquele fora realmente um dia muito trabalhoso.
- Severo, você esta bem? – perguntou o diretor com uma evidente apreensão em sua face.
- Estou Alvo. Claro que estou. – enfatizou o mestre de Poções.
- Mas então porque tudo isso agora? – quis saber o velho mago.- Porque essas arrumações, porque...
- Alvo, eu apenas quis modernizar o ambiente. – respondeu ele, olhando para uma pilha de livros que tinha a seu lado. Eram livros duplos, que ele tinha, ou edições mais novas, ou mais antigas. Livros com que fora presenteado no passado, por professores e amigos, incapazes que lhe dar qualquer outro tipo de presente. Livros duplicados, muitos extremamente recentes. E ele já tinha destino certo para tudo aquilo.
O diretor olhou para o amigo com preocupação. Desde quando alguém totalmente tradicional como Severo, que abominava o moderno, o modernista e mais especialmente o modernoso, se daria ao trabalho de promover uma verdadeira reforma em seus aposentos pessoais e em sua sala de trabalho? Algo de muito estranho estava acontecendo. poderia até hipnotizar o amigo e descobrir qual eram as razões para ele estar fazendo algo que até a menos de uma semana atrás, considerava um desvario. Quantas vezes o próprio Alvo lhe chamara atenção a esse respeito, dizendo que ele precisava organizar os livros, desfazer-se de tudo aquilo que não tinha mais uso, mas Severo sempre se opunha? Era real, infelizmente era real, que o Severo Snape que saíra para se casar naquela manha de Domingo, não fora o mesmo que retornara na Segunda feira, cedo. Severo Snape mudara e muito depois dos recentes acontecimentos, mas Alvo ainda não conseguia definir se fora uma boa, ou uma má mudança.
Hermione se surpreendeu quando Dobby o elfo doméstico, viera lhe chamar na biblioteca, interrompendo seus estudos. Era o final de um sábado em que todos os alunos a partir do terceiro ano tinham permissão para irem a Hogsmeade. A biblioteca, estava deserta, todos queriam aproveitar o belo Sábado de sol, bem longe do castelo, Harry e Rony insistiram muito para que ela os acompanhasse, mas Hermione achou mais prudente se dedicar as provas de admissão para os NIEMs.
- O professor Snape, lhe chama com urgência. – dizia pequeno elfo, puxando Hermione pela capa.
Hermione mirrou o pequeno elfo com descrença, franzindo as sobrancelhas. Snape a chamando? Isso seria improvável, mas com urgência, isso era impossível. Hermione tentou dissuadir o Elfo Dobby de todas as maneiras que lhe pareceram possíveis, mas por fim acabou capitulando com a insistência dele.
- O professor Dumbledore mandou que a senhorita viesse.
O diretor?? O que o diretor teria ver com aquilo??? Era realmente melhor se apressar, ou aquela hora já teria perdido ao menos uns 20 pontos para a Grifinória. Com pressa ela seguiu o elfo em direção as Masmorras.
A primeira impressão que Hermione teve foi de que a masmorra grande, onde tinha aula de Poções, havia rejuvenescido ao menos 20 anos. Tudo reorganizados, os moveis polidos, brilhantes, o chão com uma textura diferente, mais apropriada para feitiços de limpeza, no caso das Poções que dessem errados. As três janelas da sala, habitualmente cerradas e com cortinas por cima, para escondê-las totalmente, estavam escancaradas, e deixavam entrar o pálido sol da tarde.
Ninguém estava por ali. Mas ao mesmo tempo, parecia que uma revolução ali estivera. Os armários que continham os ingredientes dos alunos, passaram por uma arrumação completa, e uma catalogação muito bem feita de ingredientes. Os postos onde ficavam os caldeirões durante as aulas, haviam sido todos polidos. Os fogareiros, alguns até desativados por estarem com problemas tinha sido consertados e estavam prontos para novas maratonas de trabalho. As paredes haviam sido lavadas e esfregadas, as cortinas das janelas trocaram de cor. Do habitual preto, passaram a Ter a cor a verde escura da Sonserina. os caldeirões que Snape deixava ali apenas para atrapalhar a circulação haviam sido removidos, e só restara um, grande e polido, talvez o dele próprio. Diversas balanças estavam regiamente ajeitadas numa prateleira, e pareciam terem sido adquiridas naquele instante. Uma delas, como demonstração pesava com exatidão 10 gramas de chifres de unicórnios. Um grande arrepio lhe perpassou pela espinha e ela pensou preocupada que ali, algo de muito errado deveria estar acontecendo.
