Capítulo VII- Preparativos para uma Palestra em Lion
As atividades rotineiras estavam tirando o sossego de Hermione , os exames de Niems estavam chegando, tinha o trabalho final para fazer, os corredores para vigiar! Agora, por exemplo, deveria estar trabalhando em suas coisas, entretanto estava vigiando os corredores. Meio inconscientemente e sem destino, ia caminhando por entre os corredores escuros em busca do nada. Era realmente complicada aquela situação. Tinha tantas tarefas a desempenhar que já cogitara pedir novamente o gira-tempo para a professora Minerva. Além disso, havia toda aquela questão envolvendo Snape. O professor de Poções certamente estava fora de seu normal. Quando em circunstâncias normais ele lhe presentearia com livros e ajudaria os alunos sem querer nada em troca? Ela tentava não pensar daquela maneira, mas somente existiam duas alternativas para essas ações ou ele estava realmente doente ou tinha alguma intenção por trás. Todos aqueles anos sendo aluna de Severo Snape e sabendo de suas atividades como espião lhe faziam não crer, que o professor mudasse da água para o vinho em questão de dias.
Não, deveria ter algo por trás.
Tudo sempre tinha algo por trás.
Porém, numa reunião dele com o professor Dumbledore, que ouvira realmente por acaso, escutara que Voldemort o afastara temporariamente do círculo, achando-o muito abalado e desta maneira, preservando seu talento e "fidelidade" para as mais importantes ações. Obviamente aquilo deveria ser uma mentira. Desde quanto pelo que saiba, lera e estudara a cerca do Lord das trevas, este se importaria com algum de seus seguidores... apenas estava ali para castigá-los das piores maneiras possíveis, quando não executavam o ordenado. Hermione não sabia o que pensar. E quanto mais refletia sobre o assunto, mais sem respostas ficava.
"Alter ego" - engraçado como aquela expressão se fixara em seu ser. Era complicado isso, a pessoa ser um eco de si mesma... Devia ser muito triste, mas talvez ser eco de si mesmo fosse o destino das pessoas que não amavam sua própria vida, e que por isso, não encontravam nenhuma razão para viver. Ou, para ao menos sobreviver. Talvez esse fosse o caso do Snape e talvez algum dia viesse a ser seu caso.
Fora um choque quando, a algumas noites atrás, pela primeira vez conseguira entender o que estava por trás daquele "alter ego". Realmente haviam algumas características que tanto ela quanto o professor Snape tinham. Ambos eram compenetrados em seu trabalho, inteligentes, cultos, mas não possuíam realmente nada a fazer se não tivessem livros a seu lado. Ela, Hermione Granger, por exemplo não conseguia conceber uma vida como a Harry e Rony, onde o quadribol era o delimitador de todas as coisas, sendo o esporte quem na verdade coordenava a vida deles, e por causa do que poderiam até eventualmente morrer. Que exagero!!! E o quadribol não passava de um esporte. Não era algo verdadeiramente importante... mas a importância das coisas está em que as concebe como tal. Quem além dela mesma acharia as coisas a que atribuía monstro valor, como deveres e estudos realmente importantes? Além dela e talvez, relutou um pouco, mas concedeu-se o pensamento, do professor Snape? Talvez mais uma dúzia de pessoas, das quais não tinha a felicidade de conhecer ninguém dentro do mundo mágico.
Neste momento, Hermione estava na direção altura da cozinha tencionando tomar um chá quente, quando foi atraída por vozes amplificadas, ou talvez fosse apenas uma voz, ela não tinha certeza, que vinham das masmorras...
Com curiosidade a garota foi se aproximando e a voz do professor Snape foi se tornando mais e mais clara. Ele parecia estar discursando, e ao que se lembrava, o tema era aquele artigo sobre a minimização da Maldição Império, que o professor escrevera e que fora impresso naquele ultimo livro que Snape lhe dera.
Leve e cuidadosamente ela abriu a porta da masmorra e visualizou uma cena deveras interessante. O quadro negro estava coberto por enormes pergaminhos e em cima da mesa do professor um caldeirão borbulhava. Snape estava falando com entusiasmo para uma sala deserta.
O professor com a sensibilidade aguçada pelos anos de espionagem, percebera que era observando e olhou para a porta onde estava Hermione.
Ele ficou levemente surpreso, mas achou que talvez ali estivesse a resposta a suas suplicas por um, nem que fosse um único ouvinte de seu discurso.
- Bom que tenha aparecido. – dissera ele, numa voz clara, pegando a moça pelo braço e postando-a numa cadeira no meio da sala de aula, ao mesmo tempo em que lhe entregava alguns pergaminhos e penas. – Irei recomeçar para a que a senhorita aproveite toda a palestra. – proclamou ele, voltando ao posto em que a aluna o vira segundos antes.
Hermione estava assustada. O jeito com que ele lhe fizera entrar na sala e sentar-se na classe, fora surpreendente até mesmo para ser uma atitude de Severo Snape, o imprevisível. Era algo rude, evidentemente rude, mas era também a expressão aliviada por ver que alguém estava ali.
- Esta é a palestra que irei proferir em Lion semana que vem, sobre aquele livro que lhe dei.
Mesmo que não quisesse, Snape sentiu-se lisonjeado pela expressão de admiração e êxtase que a moça fizera. Aquilo era impressionante. Hermione achara aquilo extremamente grandioso, mas não falara nada.
- Depois lhe darei o programa para ler- dissera ele, ao ver o interesse de Hermione - Odeio admitir, srta. Granger, mas gostaria que escutasse a tudo com a atenção e depois comentasse. Quero que essa minha palestra saia a mais perfeita possível.
"Sim, senhor perfeccionista" – pensou a moça, mas exteriormente, apenas assentiu com a cabeça, preparando-se para escutar tudo com atenção. Poderia ter dito que não, mas jamais em sua vida iria perderia a oportunidade de escutar uma palestra a ser proferida em Lion, em primeira mão.
Foram quase duas horas de palestra, em que Hermione escutava tudo com atenção redobrada e fazia inúmeras anotações nos pergaminhos. Instintivamente Snape descobrira que aquela era a grande prova de sua palestra. Se conseguisse agradar a Sabe-tudo, certamente seria fácil agradar um nível médio de pesquisadores, pessoas que tinham poucos conhecimentos sobre uma área donde pelo que sabia era o único pesquisador. A srta. Granger tinha uma das mentes mais sistemáticas que ele conhecera até então, além de claro, ser inegavelmente inteligente.
Quando Snape proferiu a ultima palavra Hermione teve que se controlar para não aplaudi-lo ou poderia ser escorraçada dali. Ela limitou-se a erguer a mão, buscando a oportunidade para fazer os questionamentos, como numa legítima palestra.
Snape lhe deu a palavra e ela passou a meia hora seguinte tecendo comentários e fazendo perguntas, tudo sob um olhar altamente aprovador do professor, que fizera muitas anotações.
Naquele café da manhã, Hermione recebera um pequeno bilhete que dizia apenas:
Já procedi às modificações na palestra e gostaria que a srta as apreciasse. Esteja as 21:00 em minha masmorra.
Ela apenas olhou para a mesa dos professores e assentiu rapidamente com a cabeça e Snape mostrou com um gesto aparentemente inocente Ter entendido a confirmação, Ao mesmo tempo se questionava intimamente sobre o porquê de estar querendo o auxilio da sabe-tudo, justamente alguém como ele, tão auto-suficiente e senhor de si? Sim, será que aquela não era uma maneira de saber o que ele próprio pensava do que fazia? Era uma temática boa a se pensar. Era obrigado a reconhecer que a srta. Granger fizera uma ou duas observações bastante importantes sobre a palestra e algumas sugestões de cartazes e coisas trouxas que poderiam ser inclusas e dariam uma dinâmica diferente ao seu discurso.
Mas porque queria o auxilio da Granger? Ele não era certamente uma pessoa que tinha amizades e por isso, poucas seriam as pessoas a quem poderia pedir idéias. Granger era metida e achava-se dona do mundo e portanto seria a pessoa perfeita. E talvez pela primeira vez ele formulara o raciocínio de que gostava de impressionar a moça, gostava de ver uma admiração nos olhos dela, algo extasiante. Aquilo lhe fazia ter consciência do quanto às mesmas coisas poderiam ter igual importância para seres tão diferentes quanto ele e a srta. Granger.
Era realmente difícil admitir que em seu atual estágio de vida, preferia Ter a companhia da srta. Granger naquela masmorra do que ficar sozinho. Isso era um dado altamente preocupante. E se tornasse-se amigo da sabe-tudo?
Seu olhos negros se arregalaram com a surpresa do pensamento. Dumbledore era seu amigo, mas depois dele, a pessoa a quem poderia classificar como mais próxima disso, era a sabe-tudo.
Talvez estivesse mudando rápido, rápido demais até mesmo para sua compreensão.
Naquela noite ela voltara a assisti-lo, assim como nas três subseqüentes, até a véspera da partida dele para a universidade francesa. Os alunos, quando souberam que o professor Snape passaria uma semana em congressos, e não ministraria as aulas, começaram a conjeturar sobre a partida dele e que talvez não fosse necessária sua volta.
-Ora, Mione, mas você sabe como são importantes essas palestras. –era a voz de Rony, com a boca cheia de creme de chocolate quem falava- quem sabe o Snape não recebe um convite fabuloso e resolve ficar por lá mesmo?
- Seria bom para ambas as partes, nos livraríamos do Snape e ele também se veria livre da gente. – Harry considerou, sob concordância dos demais.
- È bem diferente de se querer simplesmente a morte dele! – explicou Rony- assim como a maioria de nós pensa.
Hermione não sabia porquê, mas sentia uma certa apreensão com essa conversa. E se realmente Severo Snape ficasse na França?
A palestra estava irretocável. Os cartazes demonstrativos estava perfeitos, os ingredientes separados e naquele instante Hermione ajudava o professor Severo Snape a guardá-los numa maleta apropriada. Muitos eram ingredientes raros que não deveriam ser desperdiçados. Snape fizera questões de lhe explicar que aqueles eram ingredientes, obtidos sob determinadas condições e que portanto, era necessário que a lua estivesse de tal maneira, que não houvesse chovido por três semanas antes da colheita, combinando com uma posição solar e estrelar favorável. Aquilo era impressionante e mesmo era uma das abordagens de suas palestras, que enfatizavam que o não crescimento destas pesquisas também se devia ao fato da difícil obtenção das substâncias envolvidas. Hermione insistira para o professor fizesse algumas anotações a parte para serem usadas em painéis de que ele faria parte. Snape não gostara da sugestão, mas por fim acabara acatando- a . Mas isso gerou lhe muitas preocupações. Não poderia se deixar ser persuadido pela sabe-tudo. Na verdade, no assunto específico das anotações para painéis ela tivera razão, e atentara para detalhes dos quais ele tivera completo esquecimento. Mas tinha que Ter cuidado com a moça, ela tinha muita esperteza, e esperteza aliada a inteligência sempre eram comportamentos que deveriam ser minuciosamente examinados.
Os ingredientes estavam guardados, os papeis dispostos e Snape gentilmente dissera a senhorita Granger que ela poderia se recolher a Torre da Grifinória, mas ela permanecera parada no mesmo local, observando a mala dos ingredientes. Depois de alguns instantes, em que observara a atitude da moça Snape quis saber.
- Algum problema, senhorita Granger?
- Não. –ela começou a falar. – Quer dizer... – ela parou, engoliu em seco e continuou – eu sei que fazem muitos anos que o senhor não ministra palestras para um publico desse gênero, e então resolvi... – ela estancou a fala e alcançou ao professor um pequeno pingente em forma de um trevo de quatro folhas- sei que o senhor vai achar isso uma grande bobagem, mas...
Ele pegou o pingente da mão da moça e ficou observando-o . Era um conhecido símbolo da sorte. Lendas trouxas, mas a moça era descendente de trouxas.
- Bem, eu o enfeiticei com um feitiço da sorte, então... – ela olhava insegura para o professor, temendo que ele lhe dissesse alguma coisa desairosa . Snape não sabia o que fazer, poderia Ter muitas reações. Em seus velhos tempo diria que a moça era uma idiota, mas não poderia fazer isso, primeiramente por não ser mais seu eu antigo e depois porque a moça muito o ajudara nos preparativos das palestras e painéis. De alguma forma, aquele pequeno pingente mostrava que ela importava-se com o sucesso dele naquele empreendimentos.
- Obrigado, Srta. Granger. – ele lhe deu um olhar amistoso. – De qualquer forma sorte sempre é bem vinda.
A moça estendeu a mão na direção dele, dizendo.
- Espero que o senhor seja muito bem sucedido, professor.
Ele cumprimentou-a dizendo.
- Serei, senhorita Granger. Ao menos espero ser.
