O JULGAMENTO
Harry releu mais uma vez a carta que recebera naquela manhã do Profº Lupin, contando sobre a prisão de Sirius. Esfregou os olhos com força, tentando entender o que estava acontecendo. Era uma longa carta, na qual Remo explicava muito sobre o passado, e as providências que o Ministério estava tomando para proporcionar a Sirius um julgamento justo. Harry porém, duvidava que Fudge iria se preocupar em provar a inocência do seu padrinho. Desde o Torneio Tribuxo, tomara de grande antipatia pelo ministro.
Dobrou a carta , e a enfiou com raiva dentro da gaveta. Aproximou-se da gaiola de Edwiges, e a acariciou com carinho. Naquela casa, a coruja era a única companhia agradável que Harry tinha. O garoto pegou dois pedaços de pergaminho, e escreveu duas breves cartas: uma para Rony, e a outra para Hermione.
- Você leva essas cartas para mim, Edwiges? - a coruja bicou o seu dedo, num gesto de solidariedade com Harry, e deixou o garoto amarrá-las em sua perna.
A coruja levantou vôo, e Harry contemplou-a, sentindo-se um pouco mais leve, dividindo suas preocupações com os amigos. Retirou a carta do Profº Lupin mais uma vez da gaveta, e só então deu-se conta de algo relativamente importante : ele tinha uma madrinha. Era um fato novo e no qual ele nunca parara para pensar. Lupin não entrara em detalhes, apenas dissera que ela se chamava Isabella, e estava de volta da América, onde vivia.
- Harry! - a voz irritante de sua tia o chamava do lado de fora . O garoto suspirou, exasperado, mas saiu do quarto e foi verificar o porquê daquele chamado. Petúnia raramente o incomodava, preferindo ignorar a presença do sobrinho em sua casa.
- Sim?
- A Sra Figg acabou de telefonar, e pediu para que você vá ajudá-la a arrumar o sótão.
Aquele não era o melhor programa para uma tarde quente e monótona como aquela, mas Harry não discutiu. A Sra Figg o tratava relativamente bem, apesar dos gatos que ela criava, e dos bolos que lembravam os feitos por Hagrid. Talvez fosse mesmo melhor se ocupar, assim não precisava se lembrar a toda hora que Sirius fora recapturado.
Atravessou lentamente a rua, e tocou a campainha da casa nº 7 da Rua dos Alfeneiros. A Sra Figg atendeu a porta, sorridente.
- Como vai, Harry? Aproveitando bem as férias?
- Muito.. - mentiu, entediado. - Minha tia me disse que a senhora precisa de ajuda...
- Ah, e preciso mesmo. Mas venha cá, Harry...- Arabella contemplou o olhar assustado e temeroso de Harry. -"É incrível como ele expressa o medo da mesma forma que a mãe..." - pensou - Antes nós vamos ter uma conversa muito séria, mas eu tenho certeza que você já tem idade suficiente para compreender muitas coisas.
Harry encarou a Sra Figg e franziu a testa, sem conseguir compreender o que ela estava querendo dizer com aquilo.
- Creio que você já deva ter recebido a carta do Sr Lupin, não? - sorriu para o garoto, que a olhava assombrado.
- Como a senhora sabe...- Harry não chegou a completar a frase. Lembrou-se daquela fatídica noite, após a final do Torneio Tribuxo. Dumbledore falara numa tal Arabella Figg...seriam a mesma pessoa? - A senhora é bruxa? - o garoto perguntou, surpreso com sua ousadia. A Sra Figg , no entanto não se incomodou com a pergunta.
- Sou, Harry. E conheci seus pais muito bem, principalmente sua mãe...mas venha cá, preciso lhe apresentar uma pessoa. - Arabella conduziu Harry até a sala de estar. Lá dentro, estava uma mulher bonita, aparentando trinta e poucos anos. Ela se levantou e sorriu para o garoto, como se o conhecesse há muito tempo.
- Quero lhe apresentar sua madrinha, Isabella Bianchi.
Harry só voltou para casa ao anoitecer, completamente atordoado com a conversa que tivera na casa da Sra Figg aquela tarde. Era informação demais para absorver em poucas horas, mas não deixava de ser agradável. Era bom saber que havia muito mais pessoas preocupadas com ele, pessoas em quem seus pais confiaram e que a partir daquele dia ele passaria a confiar também. Isabella era uma mulher doce e carinhosa, e falara de Lílian como se fossem irmãs. Fora uma grande surpresa também saber que a Sra Figg era uma bruxa, e ainda por cima funcionária do alto escalão do Ministério da Magia...e que fora chefe da sua mãe durante cinco anos.
Os Dursley mal notaram quando entrou em casa. Melhor assim, pensou. O que tinha a fazer agora era arriscado, e sabia que os tios não hesitariam em castigá-lo, mesmo Harry usando o nome de Sirius para assustá-los.
Durante a conversa com a Sra Figg e Isabella, Harry ficara sabendo do andamento do inquérito de Sirius, e as provas que tinham para afirmar que Rabicho estava vivo. Mas ainda faltava uma prova conclusiva de que Sirius trocara o fiel do segredo dos Potter.
- A Lílian tinha o hábito de escrever tudo o que acontecia num diário, Harry. E na última vez que estive na casa de vocês, umas duas semanas antes...- Isabella hesitara em concluir a frase - Enfim, eu vi o diário sobre a mesa-de-cabeceira, e tenho quase certeza que sua mãe o levou na fuga...
- E Dumbledore já conversou com Hagrid, e ele garantiu que retirou um caderno e algumas fotografias que estavam na sala da casa em Godric's Hollow...e os deixou dentro do embrulho de cobertores que ele fez para lhe acomodar...Harry, há uma grande chance que este diário ainda possa estar na casa dos Dursley, em algum lugar...
- Provavelmente eles jogaram fora, Sra Figg...minha tia não suportava minha mãe...
- Mesmo assim, quero que você procure esse diário...seus tios devem ter algum lugar para guardar velharias, não? Se você o encontrar, me traga imediatamente, tudo bem?
Harry subiu para o sotão lentamente, na ponta dos pés. Levava sua varinha consigo, apenas para garantir. Aquele provavelmente era o lugar mais proibido para ele naquela casa. Havia caixas e mais caixas de tranqueiras velhas, brinquedos velhos e quebrados do seu primo...fuçou em todas as caixas, sem nenhum sucesso. Já estava quase desistindo, quando deparou-se com uma caixa de sapato em cima de um armário velho. Subiu numa cadeira, e a pegou. E quando a abriu, surpreendeu-se. Havia fotos antigas , organizadas por data. Na primeira, uma garotinha loira aparentando no máximo quatro anos, sentada no sofá segurava um bebê ruivo no colo. Harry virou a foto e leu o que estava escrito:
Petúnia e Lílian - Natal de 1958
Pegou as outras fotos, e todas elas mostravam as irmãs Evans em diversas ocasiões, sempre juntas. A última foto fora tirada na praia, e datava do verão de 1969. Harry fez as contas: provavelmente sua mãe recebera a carta de Hogwarts poucos dias depois de ter tirado a foto, o que o levava a crer que as duas irmãs conviviam em paz até Lílian descobrir que era uma bruxa...
Finalmente, por debaixo das fotos, Harry encontrou o que tanto procurava: o diário de sua mãe, encadernado em couro preto, e com suas iniciais gravadas em ouro: L.E.Potter - 1981. Acariciou com cuidado o caderno. Lentamente, o abriu e descobriu mais fotos ali dentro. Essas eram mais recentes, e eram fotos bruxas. Folheou o diário até a última página escrita, e a leu, com um grande peso no coração, o último registro de Lílian Potter em seu diário:
Depois da briga, ele se sentou no chão para brincar com o Harry. Ficou conversando com o bebê, como se ele fosse entender alguma coisa. Na verdade, era comigo que ele estava falando. Ele disse "não se preocupe, meu amor, tudo vai ficar bem. O feitiço foi bem feito, e nós podemos confiar no tio Pedro, não é mesmo? Ele vai guardar nosso segredo pelo tempo que for necessário."
Deixei os dois conversando, e fui arrumar a cozinha. Apenas pensei: "será que podemos confiar mesmo? Será que o plano de Sirius é tão perfeito como ele diz? "
Aquilo era tudo o que importava para Harry. Sua mãe havia deixado registrado, claramente que Pedro era o fiel do segredo, o que condizia exatamente com a versão de Sirius. Guardou de volta as fotografias de sua mãe ao lado da irmã. Um dia qualquer voltaria ao sotão para pegá-las. Por ora, o que importava era entregar o diário à Sra Figg e salvar Sirius.
No entanto, enquanto fechava o alçapão, uma voz irritante fez o seu coração saltar:
- O que você pensa que está fazendo aí? - Petúnia estava parada diante do sobrinho, ao pé da escada.
- Não é da sua conta - Harry segurou o diário com uma das mãos. A outra, por dentro do bolso, segurava firmemente sua varinha.
- O que você pegou lá em cima, hein? HEIN? - Petúnia avançou para Harry, tentando tirar o diário das mãos do garoto. Harry foi mais rápido, e empurrou a tia para o lado, aproveitando para descer a escada aos pulos. Petúnia ainda tentou segurá-lo, mas o sobrinho sacou a varinha e a apontou para a tia:
- Esse diário era da minha mãe, e a senhora o escondeu todos esses anos...junto com as fotos dela...
Petúnia estava paralisada de terror, com aquela varinha parada diante de si. E foi com uma voz relativamente suave que tentou convencer Harry a devolver o diário. Mas o garoto não desistiu. Não seria a sua tia que iria impedí-lo de ficar com o caderno de Lílian.
- Eu não vou devolvê-lo para a senhora...meu padrinho pediu esse diário, e ele vai ficar muito chateado se eu não entregá-lo...
Harry dissera as palavras mágicas, deixando Petúnia ainda mais apavorada. Aproveitou aquela vitória, e saiu de casa correndo, atravessou a rua e finalmente o entregou seguro nas mãos da Sra Figg.
- Então estava lá mesmo, na casa dos Dursley?- perguntou, pegando o diário e abrindo-o. Isabella aproximou-se por detrás de Arabella, e leu a última página escrita por Lílian, sorrindo.
- Acho que isso é tudo o que nós precisávamos...- murmurou, emocionada - Você fez um bom trabalho, Harry.
O garoto sorriu para a madrinha, que não resistindo, o abraçou como se fosse seu filho.
- Quando tudo isso terminar, eu e o Sirius vamos te tirar daí...eu te prometo isso.
Lyra e Vívian desembarcaram no aeroporto de Londres numa tarde, na semana seguinte à prisão de Sirius. O telegrama-coruja que Isabella enviara no dia anterior fora curto e incisivo: Sirius foi recapturado, mas está tudo sob controle. Como aquelas palavras não adiantaram muito, Lyra resolvera arrumar as malas às pressas e viajar para a Grã-Bretanha, carregando Vívian consigo. A garota estava entre assustada e excitada, pois nunca havia estado em Londres antes.
Félix Black aguardava ansioso a chegada da filha e da neta no aeroporto, e não pôde deixar de sorrir ao ver as duas se aproximando. Costumava chamá-las de "minhas princesas". E era a pessoa que mais mimava Vívian na família.
- Como foram de viagem?- perguntou.
- Bem, pelo menos o avião não caiu...- Vívian deu risada, olhando para o avô - Foi muito boa, vô...eu adoro voar...
- Principalmente em vassouras...- Lyra sorriu tensa para o pai - cadê a mamãe?
- Está no Ministério ...- Felix pegou as malas, e sairam do aeroporto, em busca de um táxi bruxo. Não foi difícil localizar um deles. Bastou esperarem um trouxa passar reto pelo carro, para perceberem que era aquele mesmo que precisavam.
- Para onde? - um jovem abriu a porta, sorrindo melosamente para Lyra.
- Ministério da Magia - Félix informou, impaciente - E rápido, por favor.
- Pois não...
Os três entraram no carro, e o rapaz acelerou .
- Meu nome é Stanislau Shunpike, mas podem me chamar de Lalau - o motorista se apresentou, apertando a mão de Félix , que se sentou ao seu lado - já fui ajudante no Nôitibus Andante, mas hoje já tenho o meu táxi - o rapazinho olhou para o retrovisor, ainda sorrindo para Lyra - Mas o que vão fazer no Ministério, justamente hoje?
- Negócios ...- Lyra comentou, irritada.
- É...tá o maior tumulto por lá, tudo por causa do homem...vocês ouviram falar, não? Sirius Black recapturado, e tem gente por aí dizendo que ele jamais iria ser pego...sinceramente, eu acho que o homem é completamente louco...nem sei para que essa besteira de julgamento...
Um silêncio constrangedor tomou conta dos Black. Lyra não conseguia ver o rosto do pai, mas imaginava como ele devia estar se sentindo envergonhado, ainda que aquele rapaz não soubesse quem eles eram. Vívian fingia que observava Londres pela janela do carro, mas estava atenta à conversa, e aos gestos do avô e da tia.
- Nós não sabemos nada sobre esse cara...- Vívian interrompeu o silêncio, surpreendendo Lyra e Félix - Nós acabamos de chegar dos EUA.
Quando o táxi parou diante do Ministério, os Black logo perceberam que Lalau tinha razão. Havia muitos jornalistas e curiosos tentando furar o cerco dos guardas diante da porta principal. Félix pagou a corrida do táxi, e começou a subir lentamente as escadas. Observou emocionado o prédio, onde trabalhara praticamente a vida inteira. Respirou fundo, e seguiu em frente, com Vívian e Lyra logo atrás. Conseguiram entrar no saguão principal, mas o acesso para o Departamento de Execução das Leis da Magia estava completamente bloqueado.
Lyra aproximou-se de um rapaz alto, de cabelos ruivos que tentava, por toda lei, colocar um pouco de ordem no tumulto. No entanto, seu esforço parecia ser em vão, porque ninguém o levava a sério.
- Boa tarde, meu nome é Lyra Black...eu mandei um telegrama essa manhã para Danyela McKinnon avisando que viria...
- Desculpe, Srta ...Black? - o rapaz perguntou, hesitante.
- É, é Black mesmo...B-L-A-C-K...será que você podia avisar a Danyela, por favor?
O rapaz continuou hesitante, sem saber como agir. Por sorte ( dos Black ), Danyela tinha acabado de subir as escadas, vinda das masmorras, e entrou no salão.
- Ei, Lyra ! Chamou a atenção da amiga, indo em sua direção. As duas sempre mantinham contato através de cartas, e sempre que podia, Danyela viajava para os EUA. - Weasley, porque você não me avisou que a Lyra e sua família já estavam aqui?
- Não o culpe , Dany - Lyra sorriu curiosa para o rapaz - Acho que eu o assustei...quer dizer que você é mais um Weasley?
- Meu nome é Percy...- empertigou-se, mostrando importância.
- Vem, Lyra...vamos descer logo...Sr Black, Vívian , como vão?
Os Black seguiram Danyela , que ainda olhou feio para Percy, antes de descer de volta para o Departamento de Execução das Leis da Magia.
Danyela estava tensa, devido ao julgamento, mas não deixou transparecer. Porém, após acomodar Félix e Vívian numa sala anexa ao tribunal, chamou Lyra num recinto isolado.
- Então, Dany? Quais as perspectivas?
- São boas, Lyra, nós estamos otimistas...o julgamento começou agora pouco.
- Mas já, Dany? Pensei que ainda iria começar...
- Conseguimos a última prova a favor do Sirius semana passada. A Sra Figg achou melhor antecipar o máximo possível o julgamento, antes que Fudge consiga colocar a opinião pública contra nós.
- Eu posso entrar no tribunal agora? - Lyra pediu, ansiosa à amiga, mas Danyela não cedeu.
- A Sra Figg deu ordens expressas para mais ninguém entrar após o início do julgamento, para não criar tumulto. Acho que vai ser melhor você esperar aqui fora.
- Dany...você não imagina como eu estou me sentindo...completamente perdida, como se eu ainda tivesse dezessete anos, vivendo num país completamente estranho, tendo que fingir que eu era outra pessoa...- Lyra desabafou, com lágrimas nos olhos - Muitas vezes eu me perguntei se o exílio foi mesmo a melhor opção, fugir daqui...
- Se você não tivesse ido embora, não teria tido as oportunidades que teve na América, a carreira que você conseguiu desenvolver, Lyra. Pense no futuro, e tente esquecer o passado. - Danyela sorriu para a amiga - Agora é melhor você voltar para junto do seu pai, e aguardar .
Vívian ficou sentada sozinha na ante-sala do tribunal, enquanto seu avô saíra para "dar um passeio" pelo Ministério. A garota preferiu ficar esperando. Desde que partira dos EUA, não conseguia disfarçar o nervosismo e a ansiedade que tomava conta de si.Durante toda sua vida, ela sonhava, imaginando como seria se um dia ela o encontrasse...Sabia que apenas uma porta agora a separava de seu pai, e isso lhe dava medo.
Levantou-se e se aproximou da porta, tentando ouvir alguma coisa lá dentro, quando uma voz grave de homem a assustou.
- Essa porta é bloqueada com feitiços anti-bisbilhoteiros, senhorita...
Vívian virou-se, e deparou-se com um homem alto, narigudo e de cabelos sebosos.
- Quem é o senhor?
- Sou Severo Snape - disse , mal-humorado - o que está fazendo aqui? Isto não é um lugar para crianças.
- Não sou uma criança, Sr Snape - Vívian achou que aquele nome lhe soava levemente familiar - estou esperando minha tia.
O homem não respondeu. Sentou-se em frente à menina, pegou um jornal e começou a lê-lo, sem dar atenção à Vívian, que voltara a se sentar comportadamente.
Lyra entrou novamente na sala, e não deu atenção ao estranho que lia jornal.
- Onde está o meu pai, Vívian?
- Sei lá, Lyra. Disse que ia dar umas voltas por aí...será que esse julgamento ainda vai demorar muito? - perguntou ansiosa.
- Não sei...eu gostaria de saber também. A Dany não me deixou entrar no tribunal.
- Mas você é irmã dele, Lyra. Você tem esse direito...
Snape deixou o jornal de lado e se levantou de repente, surpreendendo Lyra.
- De quem a senhorita é irmã?
A moça o encarou por alguns instantes, tentando reconhecê-lo. Aquele rosto não era totalmente desconhecido.
- Aquela mesa de lá, do outro lado é a da Sonserina, Lyra - A voz distante de Sirius ecoou em seus ouvidos - O idiota narigudo é o tal do Snape... o EX-namorado da Líli.
- Sou irmã de Sirius Black, e você deve ser o Snape...
- É, sou eu mesmo...- respondeu, ríspidamente. A última coisa que queria era encontrar alguém da família Black por ali...só estava naquele local a pedido de Dumbledore. E foi então que algo lhe ocorreu: se aquela mulhre era irmã de Sirius Black e aquela pirralha metida a besta estava esperando sua tia...
- E essa pirralhinha... é sua sobrinha?
- Eu tenho nome, Sr Snape...sou Vívian Black, filha de Sirius Black...
O tribunal estava lotado de personalidades da comunidade mágica, jornalistas e curiosos que acompanhavam com interesse o julgamento do homem mais procurado da Inglaterra. A maioria ainda não acreditava em sua inocência, mas com o desenrolar das provas e depoimentos, a platéia começou a mudar de opinião.
A voz da Sra Figg ecoou pelo salão:
- Chamo agora Amanda Pettigrew, testumunha convocada a depor em favor do Sr Black.
Um murmúrio de surpresa percorreu todos os presentes quando Amanda entrou no tribunal, e se sentou no banco destinado às testemunhas. Não conseguiam entender o que a irmã da vítima de Sirius Black tinha a depor em favor do réu.
Amanda tentou esconder o nervosismo que sentia, e se acomodou da melhor maneira possível, encarando serenamente toda a platéia. A Sra Figg aproximou-se da moça, e lhe entregou um envelope.
- Srta Pettigrew, gostaria que dissesse perante o júri deste tribunal quem a senhorita encontrou em sua casa, na semana passada, vasculhando o seu sótão?
- Meu irmão, Pedro. - disse, em voz alta.
Correu um murmúrio geral na platéia. Achavam, no mínimo que a moça havia enlouquecido.
- Eu vi meu irmão, sim - disse, agora encarando Sirius no banco dos réus - podem achar que eu sou uma louca, mas eu sei o que vi...meu irmão se transformou num monstro, e se fingiu de morto todos esses anos...não achei justo um homem ser condenado por um crime que ele não cometeu. Por isso estou aqui.
- Srta Pettigrew, gostaria agora que abrisse esse envelope, e mostrasse ao júri o que tem aí dentro.
A moça fez o que lhe foi pedido. Dentro, havia a mesma fotografia , recente de Pedro, que vira na sala de Danyela, e uma outra, da época em que seu irmão ainda estava em Hogwarts.
- São duas fotos do meu irmão, uma antiga e outra recente, tirada há poucos dias...
Os membros do júri pegaram as fotos, incrédulos e as compararam.
- Posso afirmar aos senhores que não há a menor fraude nessas fotografias...- a Sra Figg informou aos jurados, surpresos. - Srta Pettigrew, a senhorita está dispensada. Chamo agora o réu, Sirius Black para depor.
Os guardas soltaram as algemas de Sirius, e o conduziram até o banco dos réus. Dali, ele tinha a visão completa da platéia, completamente silenciosa. Na primeira fileira se encontravam Dumbledore, Remo, Isabella e Mellyssa Black.
- Sr Black, gostaria que o senhor nos contasse sua versão dos fatos que culminaram no assassinato de Lílian e Tiago Potter e na suposta morte de Pedro Pettigrew.
Sirius respirou fundo. Sabia que era sua chance, e começou a depor, voltando anos antes da morte dos Potter, contando como ele, Pedro e Tiago se transformaram em animagos clandestinos. Em seguida falou com detalhes sobre o feitiço Fidelius, como ele convencera Lílian e Tiago a usarem Pedro como o fiel do segredo, e que depois os traíra...nesse ponto, Sirius sentiu a voz embargar e achou que não ia conseguir continuar...encarou Isabella na platéia, que lhe sorria emocionada. Sentiu um novo ânimo, e finalmente terminou o seu depoimento.
A platéia ficou em silêncio por alguns minutos, ainda tentando assimilar toda aquela história. Por fim, a Sra Figg pegou o diário de Lílian, e o mostrou aos jurados.
- Esse é o diário de Lílian Potter, a prova que faltava. Já ficou claro neste tribunal que Pedro Pettigrew está vivo...agora, vou ler a última página desse diário, e depois o entregarei aos senhores, para que tirem suas próprias conclusões. - E Arabella leu emocionada o último registro de Lílian, no qual ela afirmava que Pedro era o fiel do segredo. Por fim, o entregou ao júri.
- As provas já foram apresentadas, e os senhores já ouviram todos os depoimentos. Chegou agora a hora de votarem pela absolvição ou condenação de Sirius Black.
Cornélio Fudge esperava nervoso pelo veredito do júri. Não conseguia acreditar em tudo o que ouvira durante todo o julgamento, o que ia diretamente contra tudo o que afirmava como verdade naqueles anos todos. Se fosse menos orgulhoso, teria admitido que estivera enganado e não quisera enxergar a verdade. Agora, não podia fazer mais nada além de aceitar o que o júri decidisse como certo.
Os membros do júri voltaram para o tribunal, e entregaram um envelope com o veredito dentro para o ministro. Fudge pegou o pergaminho, leu silenciosamente o que estava escrito e suspirou, resignado.
- Por unânimidade, este tribunal absolve Sirius Black de todos os crimes pelos quais foi preso e acusado. E está liberado de pagar a multa de mil galeões por ser um animago clandestino, devido ao fato de ter ficado doze anos em Azkaban...
Sirius não esperou Fudge terminar de falar. Uma multidão se levantara na platéia, aplaudindo-o. Levantou-se e correu para os braços de Isabella, que furara o cerco, agora inútil, dos guardas. Os jornalistas ali presentes não perderam tempo em fotografar o longo beijo do casal. Em seguida, abraçou sua mãe, Remo, Dumbledore, Sra Figg...
Logo, as portas se abriram, e Sirius finalmente saiu para a liberdade. Do lado de fora do tribunal, não teve nem tempo de respirar. Lyra literalmente se jogara em seus braços, num abraço forte e apertado e pela primeira vez, em muito tempo chorou feito um bebê.
- Ei, ei...agora você chora na frente dos outros? - Sirius enxugou as lágrimas da irmã - estou de volta, Lyra...estou livre...
Felix Black se aproximou por detrás do filho, e segurou em seu ombro, chamando sua atenção. Sirius virou-se e encarou o rosto envelhecido de seu pai, e o abraçou como nunca havia feito antes . E foi então que Sirius prestou atenção na garota parada pouco atrás de seu pai, parecendo acuada por toda aquela movimentação. Era uma menina linda, com belos olhos azuis...soltou-se do abraço do pai, e foi em sua direção. Ele sabia quem ela era...e desde que soubera da existência da filha, não conseguiu tirá-la um só minuto de seus pensamentos.
- Vívian...
Vívian não conseguiu falar nada. Mas agora, que encontrava Sirius pela primeira vez, teve certeza absoluta que aquele homem era seu pai.
Capítulo 4...
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