MOTIM EM AZKABAN
Fazia um frio úmido e cortante na base naval do Ministério, localizada na costa da Cornulha. Os ventos gelados, que sopravam do mar fazia com que todos se encolhessem dentro de suas capas, tentando se proteger da friagem.
Ainda era madruga quando cerca de uma centena de bruxos aparatou na base, vindos diretamente de Londres. Fora Sirius Black, Remo Lupin, Arabella Figg e o Ministro, todos os outros eram aurores formados e treinados para enfrentar situações de risco. No entanto, nenhum deles parecia preparado para a arriscada missão que estava por vir: invadir Azkaban e impedir a fuga iminente de centenas de Comensais da Morte e dos terríveis dementadores.
Assim que chegaram, o rapaz que cuidava da vigilância a distância da Ilha de Azkaban correu em direção ao ministro, ofegante.
- Há uma movimentação além do normal na fortaleza, senhor.
- O que há de anormal?
- Fumaça, senhor. E os dementadores nunca me pareceram tão excitados...
Fudge torceu o nariz, contrariado e se apossou do gigantesco binóculo da base, a fim de observar Azkaban. O ministro parecia acreditar que tudo aquilo não passava de uma brincadeira de muito mal gosto de algum de seus adversários políticos. Embora a escuridão não o permitisse uma visão detalhada da ilha, percebeu que realmente algo de estranho acontecia.
- O senhor continua firme em seu propósito de invadir a ilha, Sr Black? - Fudge sorriu, sarcasticamente, imaginando se Sirius realmente teria coragem de pisar em Azkaban novamente.
- Eu já disse e repito, Sr Ministro: só vamos descobrir o que está acontecendo se formos até lá.
Sirius não respondeu. Não gostava de Fudge e seus modos prepotentes, como se fosse o dono da verdade. Achou mais prudente pegar as instruções necessárias com a Sra Figg, que nomeara Danyela McKinnon chefe da expedição.
- Você tem certeza de que não quer que eu os acompanhe até a ilha, Dany?
- Tenho...será mais seguro se a senhora permanecer aqui junto ao Ministro...e depois nos manteremos em contato, ok? - Dany tirou o que parecia ser um antigo relógio do bolso. Na realidade, era um eficiente comunicador. Testou-o, e sorriu satisfeita. Sentia-se tensa, mas tentou pensar no quanto seu pai ficaria orgulhoso, se pudesse vê-la trajando suas vestes prata e azul.
- Srs...- Danyela respirou profundamente - está na hora de partirmos.
Os barcos singravam rapidamente, deixando a Cornulha para trás. A frente, apenas água e a escuridão. Parado à proa, tremendo de frio, Sirius esfregava as mãos. Provavelmente era o mais tenso de todos ali presentes. "Pelo menos", pensou , "eu sei exatamente o que nós vamos encontrar por lá...". Sentiu que era observado por Remo, mas não disse nada.
- Você não acha que isso é uma loucura, Sirius?
- O que é loucura? Ir até Azkaban?
Remo encarou Sirius, incrédulo. Nunca ouvira o amigo falar daquela maneira, como se estivessem simplesmente indo fazer turismo numa ilha tropical.
- Não é loucura, Remo...é questão de necessidade. Há muita gente perigosa lá dentro...
- Sirius, cai na real. Aquela gente provavelmente já está fora de si há muitos anos.
- Nem todos, Remo, nem todos...
- Há alguma coisa que você sabe e não quer nos contar?
- Eu não tenho nada a esconder. Acontece que nem sempre os dementadores afetam todos da mesma maneira. E eu temo que ainda haja gente em Azkaban que tenha forças para se juntar novamente à Voldemort.
Permaneceram em silêncio durante alguns minutos. Ao longe já era possível visualizar os contornos da ilha . De repente raios surgiram no céu, e trovões soaram ameaçadoramente. Em questão de segundos desabou uma tempestade, e ondas gigantescas se formaram no mar, obrigando os marinheiros a lançarem uma série de feitiços anti-naufrágio nos barcos. Durante alguns minutos, aquilo pareceu conter a fúria das ondas, que insistiam em virar as embarcações. Mas a fúria dos ventos fez com que os barcos se desviassem da rota, e ao invés de seguirem na direção do pequeno porto, chocaram-se contra os rochedos submersos.
Quando sentiu a pancada nas rochas, Sirius percebera que era tarde demais para tentar se proteger. Foi arremessado para fora do barco, mergulhando na água gelada. Chocou-se com violência nos rochedos, e sentiu afundar-se cada vez mais, sem esboçar qualquer tipo de reação. E tudo ficou frio e escuro...
Quando Sirius despertou, não estava mais dentro do mar, nem tampouco sentia frio. Ouvia uma voz de mulher chamando-o, e no meio da sua confusão mental, julgou que Isabella o chamava. Mas ao abrir os olhos, deparou-se com a figura esguia de Lílian parada à sua frente. Durante algum tempo encarou-a, intrigado.
- Líli?- sussurrou, hesitante.
- Sirius, meu amigo...você não devia estar aqui, pelo menos não agora...
Sirius não entendeu o que Lílian queria dizer. Só então percebeu que estava parado em meio à uma espessa névoa...e logo surgiu a figura de Tiago, vindo das brumas.
- Você precisa voltar, Sirius...ainda não chegou a sua hora...
- Vocês não querem dizer que eu estou...bem...morto?
- Ainda não, Sirius...por isso mesmo você deve voltar. Há muito ainda a ser feito, e você sabe muito bem disso...
Era um quadro insólito, que Sirius jamais imaginara. Tentava compreender o que estava acontecendo, quando uma forte opressão tomou conta do seu peito. Deixou-se cair de joelhos, e segurou a cabeça, tentando controlar-se.
- Foi tão difícil...resistir todos esses anos...o remorso me remoendo dia após dia, ano após ano...
- Você não tem mais do que se culpar, Almofadinhas - Tiago sorria serenamente - não foi culpa sua...
- É claro que a culpa foi minha...se eu não tivesse trocado...- Sirius levantou-se, tentando colocar em ordem os seus pensamentos.
- Não adianta você se lamentar pelo que já aconteceu. - A voz de Lílian era serena, mas permanecia firme e inflexível - Você ainda tem todo um futuro pela frente, Sirius.
- Mas será que eu vou ter que passar o resto da minha vida me lamentando, me remoendo? Eu não aguento mais, não aguento mais...
- Você alguma vez desabafou tudo o que sente com alguém, Sirius?
Sirius balançou a cabeça, negativamente.
- Você agora está cercado de pessoas que te querem bem, e que precisam de você...
- Eu sinto muito não ter cuidado do Harry como eu prometi...- sussurrou, como se pedisse desculpas.
- Não foi culpa sua. Mas agora você já está em condições de cumprir o prometido. Volte, Sirius...este ainda não é o seu lugar. Volte para a Isabella, para seus filhos e para o Harry.
Então foi como se um redemoinho o estivesse sugando. Súbitamente, a imagem de Lílian e Tiago sumiram de sua vista. E tudo tornou-se escuro novamente.
- Sirius! Sirius - uma voz, ao mesmo tempo distante e trêmula soava distante nos seus ouvidos. Sentiu um tranco violento em seu corpo, e imediatamente abriu seus olhos. Remo estava parado, olhando-o preocupadamente. Segurava sua varinha, o que levou Sirius a crer que acabara de ser reanimado pelo amigo.
- O que foi que aconteceu? - Sirius tentou levantar-se, mas a cabeça , assim como todo o seu corpo, doía intensamente.
- Nós naufragamos...você teve o azar de ser arremessado contra os rochedos, e as ondas te arrastaram até a praia.
Fazendo um esforço sobre-humano, Sirius conseguiu sentar-se , e percebeu, infeliz, que sua perna direita estava quebrada.
- Onde estão os outros? - perguntou, tentando manter-se o mais lúcido possível.
- Eu não sei...eu consegui nadar até a praia, e saí caminhando pela areia para ver se te achava...mas não vi mais ninguém até agora.
Permaneceram em silêncio durante alguns minutos. Sirius ainda podia ouvir as vozes de Lílian e Tiago em sua mente...havia sido um sonho muito estranho...teria sido mesmo um sonho, ou tudo aquilo acontecera enquanto estivera desacordado? A última cena que se lembrava, antes de cair no mar, fora o olhar de pânico dos outros passageiros ao perceber que o barco iria virar...
Finalmente viram a silhueta de uma pessoa caminhando preocupadamente em sua direção. Remo assumiu uma posição de ataque, mas relaxou ao perceber que era Danyela Mackinnon quem vinha em sua direção.
- Até que enfim encontrei alguém...- ela tentava manter a voz firme, mas era óbvio que estava desesperada.
- Você não viu mais ninguém?
- Vivo, não - o olhar de Danyela era sombrio e angustiante. - Tenho quase certeza de que caímos em uma armadilha...aquela não foi uma tempestade comum...
- Mas nenhum barco conseguiu chegar intacto à ilha? Estou me lembrando que um deles não virou com a onda.
Danyela engoliu em seco, tentando encontrar palavras para dizer o que havia visto pouco depois de chegar à praia.
- Nós estamos do outro lado da ilha, oposto ao cais...realmente, Remo, um dos barcos conseguiu chegar ao porto...eu estava exausta, mas mesmo assim tentei alcançá-los...- fez uma pausa, completamente enojada - havia dezenas de dementadores aguardando a chegada do barco...- não foi preciso que Danyela concluisse a frase para os dois entenderem o que realmente havia acontecido - e os Comensais da Morte se apoderaram da embarcação e fugiram.
- Não podemos ficar aqui na praia...seriamos facilmente descobertos. Precisamos encontrar o que restou do nosso grupo, e pedir mais reforço à base. - Sirius esquecera a dor, e a desagradável sensação que aquele lugar lhe dava - Remo, por favor, me ajude com essa perna.
- Férula! - Remo imobilizou a perna de Sirius, que finalmente conseguira se levantar. A dor diminuíra consideravelmente, e agora ele poderia caminhar. Deixaram para trás o mar, e seguiram na direção da floresta que circundava a fortaleza.
- Você tem algum plano, Sirius?
- Não. Afinal, você é a chefe da expedição, Danyela e você é auror, está muito mais preparada para enfrentar o perigo.
- Grande auror eu sou...- murmorou, desconsolada - eu não nasci para isso. Só segui essa carreira porque precisava dar continuidade à tradição dos McKinnon...
Sirius encostou-se numa árvore para descansar, e aproveitou para fazer contato com a base.
- Sra Figg...tá na escuta?
A imagem de Arabella Figg surgiu no comunicador, pálida.
- Sirius...ainda bem que não perdemos o contato. Quem está com você?
- A Danyela e o Remo. Alguém mais fez contato?
- Sim...agora me escute atentamente...houve uma grande fuga de prisioneiros. Ao que tudo indica eles estão vindo em nossa direção, mas já temos reforços suficientes por aqui. Agora, precisamos que vocês impeçam que os outros que continuam aí em Azkaban também escapem. Entrem na floresta e com certeza encontrão o restante de nossa equipe. Ok?
- Ok, Sra Figg.
- Você está bem?
- Podemos dizer que sim...posso pedir um favor? Avise minha esposa que não aconteceu nada comigo?
- Pode deixar, Sirius, vou manter Isabella informada. Boa sorte.
- Obrigado. - Sirius desligou o aparelho, colocando-o de volta no bolso.
- Acho melhor seguirmos em frente.
Sirius tomou a dianteira, abrindo caminho por entre as árvores. Remo e Danyela seguiram-no, receosos. Vez ou outra eram obrigados a espantar alguma criatura que cruzava o seu caminho. Não conversaram até chegarem ao centro da floresta, onde finalmente encontraram os outros aurores que haviam sobrevivido ao naufrágio. O reencontro foi um misto de alegria, esperança e um pouco de temor, imaginando o que ainda viria pela frente.
- Há dementadores aqui por perto...- Remo sondou o ar ao seu redor, sentindo o frio característico que aquelas criaturas provocavam.
- Lógico que há dementadores...nós estamos em Azkaban! - comentou, indignado um auror, que não passava de um moleque.
- Eu estou dizendo...- o professor não concluiu a frase - Corram!
Dementadores surgiam aos montes, cercando o grupo. Pareciam ávidos por sugar toda a vida contida naqueles homens e mulheres. Remo afastou-se o mais rapidamente que podia, sendo seguido de perto por Sirius, que mancava dolorosamente. Havia vários dementadores em seu encalço, e ele sabia bem o porquê.
- Sirius, se transforma, rápido que eu cuido deles...e corra o máximo que conseguir.
Um enorme cão negro surgiu no local onde Sirius se encontrava, mas não fugiu dali. Imediatamente, Remo procurou concentrar-se: "isso tem que dar certo".
- Expecto Patronum! - uma luz prateada jorrou de sua varinha, e investiu contra os dementadores. De todos os pontos da floresta surgiam patronos, afastando as criaturas para longe. Lentamente, o grupo tornou-se a se unir.
- Acho melhor voltarmos para a praia, e esperar que nos mandem um barco para voltarmos ao continente - disse um dos aurores, assustado.
- De nada vai nos adiantar voltar para a praia. Vamos nos arriscar demais até o barco chegar.
- E o que você nos sugere então, Sr Black? Invadirmos a fortaleza e ter nossas almas sugadas pelos dementadores?
- Se você está com medo, então vá embora, Allen, e pare de nos perturbar com sua covardia. Honre as vestes que você usa.
- Vocês dois querem parar de discutir como duas crianças? Precisamos decidir o que vamos fazer daqui por diante - Danyela apelou, tentando tomar conta da situção - Acho melhor nos dividirmos em dois grupos: um volta para a praia e espera o reforço do continente. O outro invade a fortaleza para ver a situação real da prisão.
Examinaram com atenção as feições de Danyela. Naquele momento, ela se parecia mais com uma guerreira do que com a moça delicada, preocupada em modificar as antigas leis da magia. Sua idéia deu uma injeção de ânimo nos seus companheiros, que logo se dividiram em dois grupos.
Sirius jamais entenderia sua opção, de permanecer na fortaleza ao invés de ir para a praia, esperar socorro. Estava fraco, ferido e não era mais um garoto em plena forma física. Mas ficou. Os dois grupos despediram-se, e cada um seguiu o seu caminho.
A enorme fortaleza, com suas formas severas e arrepiantes finalmente surgiu, imponente e temida. Iluminada pela luz do sol e sem os dementadores por perto, parecia muito menos terrível. Mesmo assim, Sirius hesitou: suas forças haviam chegado ao fim, e não estava nada disposto a entrar dentro da prisão.
Resolveu montar guarda do lado de fora, pensando na loucura que havia feito. Jamais deveria ter sugerido aquela invasão ou partcipar dela. Sentou-se encostado à uma pedra, tentando arrumar uma posição mais confortável para a perna, que voltara a doer. Ele sabia porque estava ali: queria provar para todos que era forte e calar a boca dos imbecis de plantão, que ainda desconfiavam de sua inocência.
Uma chuva fria começou a cair, mas Sirius não se importou. Havia passado por coisas piores durante os doze anos que passara ali, preso. Acabou perdendo a noção do tempo, deixando-se adormecer. Só acordou quando Remo o chamou:
- Vem pra dentro, Sirius...tá fazendo muito frio aqui.
- Hein? - esfregou os olhos, sonolento
- Nós achamos comida...e já terminamos de fazer o levantamento dos fugitivos...
- Eu...não...vou...entrar!
- Então você prefere ficar aqui fora, e esperar sozinho pelos dementadores? Ok, a opção é sua, Sirius - Remo o encarou da mesma forma que fazia quando eram adolescentes,em Hogwarts - Nós só vamos sair daqui amanhã cedo, a Sra Figg acabou de se comunicar com a Danyela. Vão esperar a tempestade passar.
Sirius não teve outra opção a não ser concordar com Remo. Esticou a mão para o amigo,e este o ajudou a se levantar.
Aquela fora a noite mais longa da sua vida. Sirius simplesmente não pregara os olhos, mesmo estando exausto. Pensava no quanto aquilo tudo era estranho e insólito.
Não havia mais nenhum dementador dentro da fortaleza. As criaturas haviam se espalhado por toda a ilha, esperando a melhor hora de atacarem. E quanto aos prisioneiros...havia algumas dezenas de pessoas que já não se lembravam quem eram, e porque estavam ali. Esses foram colocados de volta em suas celas, trancadas com um fortíssimo feitiço.
- Cerca de cinquenta Comensais fugiram - constatou Danyela, após a contagem dos presos. Consultou a lista dos presos em Azkaban, e sentiu as mãos tremerem - Travers, os Lenstrange, Dolohov...os piores tipos...
- Eles vão ser capturados em breve...- Remo tentou animá-la.
- Você sabe o que é ter seus pais assassinados por um nojento desses? Azkaban é muito pouco para gente desse tipo...
Ao amanhecer, o reforço do Ministério desembarcou na ilha, tomando todas as precauções necessárias para um desembarque seguro. Os dementadores eram agora o único perigo real em Azkaban. Um mal estar generalizado tomava conta de toda a ilha, provocado pela presença daquelas criaturas.
- Não vamos poder deixar Azkaban sob o controle dos dementadores novamente - constatou Sirius, enquanto se preparavam para deixar a fortaleza.
- Eu já pensei nisso...vamos deixar uma guarda especial aqui, até resolvermos o problema dos dementadores. Eu mesma resolvi ficar mais uns dias, até tudo estar sob controle. - Sirus e Remo olharam espantados para Danyela.
- Eu vou entrar em contato com uns conhecidos que eu tenho na Rússia, especialistas em destruir dementadores. - Remo comentou, pensativo - É uma pena que o Profº Kerrigan esteja morto...
Caminhavam lentamente, de volta à praia. Percebiam a presença dos dementadores, mas os monstros não apareceram em todo o caminho...
Finalmente estavam de volta à praia, agora fortemente guardada e uma frota de barcos os esperando. Sirius não podia desejar coisa melhor: tudo o que queria era voltar para casa, e ter Isabella em seus braços, e poder dividir com sua esposa toda a angústia que sentia. O seu encontro ( ou havia sido um sonho? ) com Lílian e Tiago ainda latejava em sua mente. "Eu estou voltando, meus amigos...não se preocupem comigo"...
Agora havia muito com que se preocupar. Poderosos seguidores de Voldemort estavam livres novamente, e ninguém sabia exatamente até quanto os seus poderes haviam sido afetados. Mas o simples fato de terem conseguido fugir indicava que ainda poderiam oferecer perigo...
Era ainda madrugada, e a casa toda estava mergulhada no silêncio. Sirius levantou-se, sem fazer barulho para não despertar Isabella. Não conseguia dormir, as imagens do que passara dois dias antes ainda estavam frescas em sua memória. "Eu vou acabar enlouquecendo", pensou.
Entrou no quarto de Vívian, que dormia profundamente. Suas malas já estavam prontas para o embarque a Hogwarts, na manhã seguinte. Acariciou delicadamente os cabelos da filha, que mexeu-se na cama, sem acordar. Fora os primeiros dias, logo que se conheceram, Vívian raramente dava alguma demonstração de carinho, e dificilmente o chamava de pai...mesmo assim, ele não precisava de palavras para saber que ela o amava. E ele não conseguia mais imaginar sua vida sem aquela garota arisca e desobediente. Sorriu, orgulhoso: não havia dúvidas de que Vívian realmente era uma Black.
Saiu do quarto de Vívian, e entrou no de Harry. O garoto também dormia, e a julgar pelo sorriso em seu rosto, devia estar tendo bons sonhos. Perguntou-se se seria injusto com Tiago se ele assumisse que amava Harry como um filho. Era assim que se sentia em relação ao garoto: meio pai, meio protetor. Não desejava, no entanto ocupar o lugar de Tiago. Harry resmungou qualquer coisa, provavelmente relacionado à uma garota. Sirius tinha visto o afilhado dançar o baile todo com Gina Weasley...era chegada a hora de terem uma conversa de "homem para homem".
Voltou para o seu quarto, e encontrou Isabella desperta, sentada na cama.
- Por que você acordou, Bella?
- Porque estou preocupada...você nunca teve insônia, Sirius...
- Eu sei...mas eu não consegui dormir. Resolvi ver como o Harry e a Vívian estavam...
- Eles estão dormindo, como você também deveria estar...
Sirius encostou a cabeça no colo de Isabella, tentando sentir o bebê se mexer.
- Eu senti tanto medo de não conseguir voltar, Bella, e não conhecer o nosso filho...e deixar você, a Vívian e o Harry novamente... - e desatou a chorar, feito uma criança, como Isabella jamais havia visto. - Eu queria tanto voltar ao passado, e evitar tudo isso...EU deveria ter sido o fiel do segredo...a essa hora, o Harry estaria vivendo com Lílian e Tiago...nós dois teríamos nos casado e eu veria a Vívian crescer, dar seus primeiros passos e dizer "papai" antes de "mamãe"....
- Sirius, por favor...- Isabella pegou a mão do marido, e a conduziu pela sua barriga, até o ponto onde o bebê chutava - está sentindo? - Sirius sorriu, enxugando as lágrimas - Vamos pensar no nosso futuro, e no nosso bebê que em breve vai nos dar muito trabalho...
- Você vai ter que me ensinar a trocar fraldas...
- A única coisa que você não vai poder fazer é dar a luz no meu lugar - fez uma careta, que provocou risos em Sirius - e amamentar. E se esse aqui sair tão chorão quanto a Vívian, vai ser o maior prazer deixar você se levantar de madrugada
Os dois riram, e se beijaram caindo de costas na cama.
- Você tem o poder de me animar mais do que qualquer outra pessoa...e por isso eu te amo tanto...
Dormiu abraçado a Isabella, tentando esquecer o que passara. Ainda havia muito a se fazer, e ele se sentiu grato por não ter morrido...e Lílian e Tiago deviam saber bem disso.
Capítulo 9...
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